Gênesis 49

Série expositiva no Livro de Gênesis  •  Sermon  •  Submitted
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O autor exibe o quadro da benção futura de Israel, cumprindo mediante a grandeza da revelação messiância, exortando também o povo de Deus quanto a dinâmica redentiva que une responsabilidade pactual e benção soberana.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 49
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Tal como visto no capítulo anterior, a introdução da progressão da benção patriarcal sobre os filhos de Israel segue-se na presente seção, contemplando os filhos diretos de Jacó. A adoção de Efraim e Manassés como fator elucidativo da compreensão de Jacó quanto a sua chegada no Egito, a partir da providência divina que assegura o avanço dos planos redentivos anunciados no pacto abraâmico, dá lugar ao anúncio de uma palavra profética que clarifica o fluxo histórico em curso da ação soberana do Criador na salvação e restauração de seu povo.
Se ao longo da história dos patriarcas, o momento de pronunciamento da benção demarcava o ponto de avanço da saga redentiva através daquele que estava sendo abençoado, agora essa compreensão é expandida ao ponto de contemplar a descendência abraâmica, gerada por meio de Jacó. Os doze filhos do patriarca são convocados a comparecer à presença do portador da benção divina e representante do pacto abraâmico, para que ouçam as palavras que lhes mostrarão o futuro da história da redenção.
Naturalmente, essa revelação profética não pode ser equiparada às ocorrências proféticas posteriores, em que o ofício ganha contornos mais jurídicos do que propriamente preditivos. O olhar de Jacó alcança o horizonte histórico tanto passado, donde retira a razão para alguns de seus pronunciamentos, quanto futuro, entendendo o caminho providente a ser percorrido por Deus, a fim de preparar o cenário para a chegada da sua salvação, como é interpretado através da benção sobre Judá e José.
Outra faceta do caráter profético da benção de Jacó é a implicação exortativa que carrega: a história dos patriarcas anteriores encarregou-se de expor a fidelidade divina de cumprir sua palavra dita ao anterior, cumprida no posterior, isto é, o que fora confiado a Abraão como promessa, foi estabelecido em Isaque, e o que foi dito a respeito da salvação para Isaque, foi cumprido em Jacó. Por meio disso, o caráter fiel das palavras do SENHOR já era conhecido, sendo necessário que, mediante a bênção de Jacó, o povo de Deus agora aguarde e confie no Deus de Abraão, Isaque e Jacó, de que o pacto será mantido em vigor, até que o teor da benção seja alcançado plenamente, efetivando a redenção.
Tal como no capítulo anterior, a ênfase temática da presente passagem é a continuidade da benção pactual como penhor do cumprimento da promessa redentiva (pt2).
Elucidação
O contexto de anúncio da benção divina sobre filhos remete aos capítulos anteriores, e compondo conclusão do livro, a perícope em destaque serve também como um rememoramento dos termos da aliança, tal como estabelecida com Abraão. Os doze filhos de Jacó são a prova de que o SENHOR é fiel ao que prometera: uma vasta e numerosa descendência encerrou a promessa feita por Deus ao primeiro patriarca, e agora, o filho de seu filho, encaminha os herdeiros do pacto à compreensão de que aquela obra será continuada em cada um deles.
Como introduzido, as palavras de Israel devem ser vistas como predição: Jacó, ao abençoar seus filhos, está realmente demonstrando "o que vos há de acontecer nos dias vindouros" (v. 1). Naturalmente, as palavras do patriarca não são uma descrição detalhada de eventos específicos da história, que deverão ocorrer na trajetória das tribos que surgirão a partir dos doze filhos que recebem a benção (ou anti-benção, nos casos de Rúbem, Simão, Levi e Issacar). A profecia de Jacó apresenta a sorte que cairá sobre cada um dos personagens, baseada em suas participações na história redentiva desenvolvida até aquele ponto, tendo em vista alguma postura ou comportamento dos mesmos, ou de acordo com a vontade decretiva do SENHOR.
Levando isso em consideração, à princípio, não parece justo que Rúbem, Simeão e Levi, sejam alvos de uma anti-benção por causa de seus pecados, enquanto que Judá seja favorecido com uma benção tão excelente, mesmo após também ter pecado de maneira tão ímpia em tempos idos (cf Gn 38). Entretanto, a interpretação da benção que recai sobre as doze tribos de Israel deve levar em consideração os aspecto particular e corporativo de tais bençãos, explicando assim essa aparente "disparidade" entre as bençãos que recaem sobre os filhos de Jacó.
Como explica Waltke:
Coletivamente, os decendentes partilham do louvor e do opróbrio juntamente com seus pais. Sua solidariedade corporativa se assemelha à identificação de toda a raça humana com o pecado original de Adão e Eva (WALTKE, 2010, p.768).
Após o relato da benção, Moisés tece um comentário que demonstra esse caráter duplo do pronunciamento de Jacó: "São estas as doze tribos de Israel" (v.28). Nesse ponto, a consideração do redator não é a de ver os personagens listados como blocos individuais, mas como peças sobrepostas e unidas de tal forma a traçarem um esquema histórico exortativo e preditivo acerca da salvação.
Os pecados dos filhos de Jacó, que demandaram algum juízo da parte do patriarca, foram condenados e receberam a devida sentença (cf. v.28 "[... segundo a benção que lhe cabia.]) porém, como fazem parte do povo eleito, gozam dos privilégios referenciados nas bençãos anunciadas aos cabeças destacados para representaram o plano redentivo em seu cumprimento messiânico, quais sejam: Judá e José. O excesso na benção destes dois filhos de Israel abrange com benefícios todos os outros.
Essa dinâmica exorta o povo de Israel a contemplar o fluxo providencial redentivo a ser executado futuramente: a advertência de que pecadores seriam efetivamente disciplinados está em vigor, como termos do pacto firmado por Deus como os patriarcas. Porém, da mesma forma, salvação e redenção mediante o Messias (encenado e representado na benção sobre Judá e José) proporcionarão que estes mesmos pecadores permaneçam anexados ao número dos filhos de Abraão, fazendo parte do povo de Deus.
A síntese da benção de Jacó, enfatiza os seguintes desdobramentos na história do povo de Israel:
- Rúbem perde oficialmente seu posto de primogênito e líder da casa de Jacó.
- Simeão e Levi serão reconhecidos por sua violência, embora no caso de Levi, a redenção lhe alcançará mediante sua consagração ao sacerdócio(cf. Nm 3.5).
- Judá recebe o anúncio de que será o portador do cetro real da casa de Israel, sendo a tribo escolhida como portadora da honra de gerar o Messias; o Rei prometido para conquistar para o povo a salvação.
- Zebulom recebe como honraia a prosperidade, assim como Aser e Naftali.
- Dã é exaltado pela força, e ao longo dos tempos, isso se prova fato (cf. Jz 18.26-27).
- José emparelha a maior parte da benção, ao lado de Judá, e completa a imagem próspera do futuro Rei de Israel, sobre quem repousam a benção e a supremacia sobre os inimigos.
- Benjamim encerra a fala de Jacó, sendo abençoado como aquele que desfrutará dos despojos da caça, menção que está ligada ao futuro da nação como um todo, isto é, lhe coloca como participante das bençãos anteriormente citadas.
Transição
A abrangente benção de Jacó sobre seus filhos, forma um quadro majestoso em que a própria história é recontada e progredida: os altos e baixos da trajetória dos personagens através dos quais Deus movimentou seu planos salvador, pavimentam a saga messiânica-redentiva por vir. Enquanto que por um lado, anti-bençãos aparecem como sendo "sentenciamentos" contra aqueles que, em sua participação na história da salvação, pecaram e agiram dolosamente contra Deus, os tais recebem como consolo e esperança o sinal vistoso do Messias, prefigurado pelas tribos responsáveis por expor a grandeza de sua chegada (Judá e José).
Olhando para si mesmo, o povo de Deus encontrará falhas que certamente o desqualifica como receptor da benção salvadora, assim como Rúben, Levi, Simeão e Issacar. Mas, mediante a menção honrosa de salvação através do Próspero Monarca da casa de Israel (i.e. Jesus Cristo) a convicção de que receberão a herança dos patriarcas torna-se a base para a fé que o guiará ao desfecho determinado.
Essa considerações formam o pano de fundo que direciona o leitor/ouvinte aos princípios exortativos a serem experienciados pela igreja de Deus. Quais sejam:
Aplicação
O balanço histórico-progressivo de "queda-redenção" acompanhará o povo de Deus, como marca da própria trajetória salvadora empreendida pelo Criador.
Judá, José, Rúben, Simeão e Levi demonstram a dinâmica redentiva iniciada desde o capítulo 3 do livro de Gênesis. A entrada do pecado no mundo não foi um episódio catastrófico fora dos planos do SENHOR, mas um evento determinado para acontecer a fim de que todo o grandioso quadro que exibe completa e perfeitamente toda as facetas do plano salvador fosse exposto.
O fracasso de Rúben como filho primogênito, tendo seu posto tirado, e o estigma de Simeão e Levi, ao terem se insurgido maliciosamente dando vazão à violência, demonstram claramente as fraquezas do povo de Deus por causa de sua natureza caída. Porém, tais lapsos não podem manchar o trajeto histórico redentivo anunciado pela majestade do Messias, prefigurado pela excelência de Judá e prosperidade de José.
Desde sempre, a igreja de Deus tem se familiarizado com a alternância inescapável do desenvolvimento da história da redenção. Os lapsos do povo são lembrados na benção de Jacó, a fim de servir de marco que guiaria os eleitos de Deus à humildade do reconhecimento de sua salvação pela promessa soberana estabelecida no pacto abraâmico.
Séculos mais tarde, o Leão da Tribo de Judá, Jesus Cristo, surge no cenário cósmico, assentando-se no trono da casa de Davi, para cumprir seu propósito: salvar seu povo dos pecados deles (Mt 1.21). O Pastor da casa de Israel (Jo 10.11;14) guia seu frágil rebanho aos pastos verdejantes, à herança dos patriarcas, conforme predito por Jacó.
Na benção de Jacó, devemos ver a história da redenção contada e registrada: o que aconteceria nos dias vindouros do povo de Deus? deveríamos aprender a conviver com o pecado e fraquezas de nossa natureza (e.g. pref. Rúben, Simeão e Levi), aguardando a salvação que seria executada pelo Messias (e.g. pref. Judá e José) - Cristo Jesus, ecoando ao longo dos séculos a oração de Jacó: "A tua salvação espero, ó SENHOR!" (v. 18).
Conclusão
A benção de Jacó encena a história redentiva. O último ato do patriarca é anunciar que, embora o pecado tenha reinado (como é demonstrado em seus três primeiros filhos), a graça superabundou, e a esperança redentiva é consumada por aquele que é representado por Judá e José: Jesus Cristo, o Filho de Abraão.