Gênesis 47.13-30

Série expositiva no Livro de Gênesis  •  Sermon  •  Submitted
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O autor apresenta o início da conclusão da saga patriarcal, com a glorificação do SENHOR através de seu Messias, mediante a possessão de faraó de toda a terra do Egito através de José, contexto em que a fé do povo é evidenciada por meio da atitude de Jacó de fazer seu filho jurar que o levaria de volta à terra de Canaã, donde cria que obteria a herança pactual.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 47.13-30
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Ao passo que a conclusão da saga patriarcal se aproxima, Moisés redige seu texto de maneira a enfatizar ou rememorar alguns princípios que devem estar presentes na mente do povo de Israel, a fim de que este compreenda os desdobramentos da história da redenção, prefigurada por Jacó e seus filhos.
No capítulo anterior, o autor se preocupou em demonstrar a chegada de Israel no Egito, e como essa chegada demarca o derramamento das bênçãos de Deus sobre seu povo, sobretudo reafirmando seu compromisso de preparar o descanso final para seus eleitos, numa que o Egito é apenas uma parada provisória no trajeto de peregrinação dos patriarcas, rumo a pátria celestial (Hb 11.16).
Entretanto, como dito, a representatividade tipológica da narrativa deve fazer o povo de Israel vislumbrar detalhes mais aprofundados na obra a ser realizada finalmente a partir da chegada do Messias. Assim como todo o trajeto de humilhação-ascensão vivido por José, figura a saga que o próprio Messias deverá experimentar a fim de efetivar a salvação do povo de Deus, agora, ao final da narrativa, precisamente no episódio em que a fome se agrava sobre toda terra, ainda por ocasião da escassez prevista por José ao interpretar os sonhos do faraó (cf. Gn 41), o episódio indica também o desfecho não somente da narrativa patriarcal, mas também de toda a história da redenção, por meio da publicação da glória de Deus sobre toda a terra, enfatizando seu controle e domínio sobre tudo e todos, tal como é exemplificado pelo controle de faraó sobre toda a terra do Egito, por meio da sapiência de José em adquirir isso através da salvação do povo da calamidade.
Compreendendo isso, a seção em destaque destina-se a transmitir a compreensão da publicação da glória e soberania de Deus como conclusão da saga redentiva.
Elucidação
A temática da fome que assolava as regiões de Canaã e Egito, encabeçam tópicos e seções dentro da saga patriarcal, como é o caso de Gn 41.54 e 43. Esse padrão é repetido agora em 47.13, demarcando o início de uma nova perícope, que desenvolve a temática da progressão dos planos redentivos do SENHOR através da história de Israel e sua família, indo até o verso 31 do presente texto, quando, no capítulo seguinte, uma nova cena é iniciada como o anúncio da enfermidade de Jacó, que prepara o ouvinte/leitor para a conclusão do livro.
A tensão introduzida pelo narrador novamente é usada como base de sua exortação ao povo de Israel, tendo em vista dois contextos: o contexto factual-histórico que registra como o rei do Egito tornou-se senhor sobre os próprios egípcios e sobre os hebreus (algo que será tratado no livro do Êxodo como sendo o motivo que gera o contexto de opressão e aflição vivido pelo povo de Israel), e o contexto espiritual, que situa aos leitores/ouvintes na história redentiva, a fim de que contemplem a glória de Deus no domínio sobre todas as coisas, por meio daquele seu enviado coroado como o regente, através do qual a salvação fora executada.
O comentário feito pelo redator, no início da perícope, novamente demonstra a gravidade da situação:
Gênesis 47.13 RA
Não havia pão em toda a terra, porque a fome era mui severa; de maneira que desfalecia o povo do Egito e o povo de Canaã por causa da fome.
A universalidade da calamidade pavimenta o caminho que levará o povo ao reconhecimento da grandeza de Deus em os salvar da fome através de José, e esse reconhecimento global, como dito, direciona o redator ao longo da narrativa.
Num primeiro momento, a compra de mercadorias e cereais em todo o Egito foi o meio que livrou os povos da fome, porém, não sendo suficiente, o autor apresenta o clamor do povo e a alternativa do grão-vizir de faraó, propondo que o gado possa ser usado como moeda de troca por pão: "Se vos falta o dinheiro, trazei o vosso gado" (v. 16). Num primeiro momento, a tática foi eficaz, mas, frente a continuidade da fome, novamente o povo vê-se compelido a recorrer ao governador para que não morra:
Gênesis 47.18–19 RA
Findo aquele ano, foram a José no ano próximo e lhe disseram: Não ocultaremos a meu senhor que se acabou totalmente o dinheiro; e meu senhor já possui os animais; nada mais nos resta diante de meu senhor, senão o nosso corpo e a nossa terra. Por que haveremos de perecer diante dos teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e a nossa terra a troco de pão, e nós e a nossa terra seremos escravos de Faraó; dá-nos semente para que vivamos e não morramos, e a terra não fique deserta.
A reincidência dessa tensão seguida por sua resolução, é conectada à declaração de que "assim, comprou José toda a terra do Egito para Faraó" (v. 20). A narrativa que exibe a grande salvação proposta por José e a prosperidade de Faraó e da terra do Egito em meio à situação de grande fome, é um forte contraste com o início do livro posterior, em que mesmo não ocorrendo uma calamidade tão terrível quanto esta, uma forte antagonia cresce dos egípcios contra os hebreus. Em nota explicativa, a Bíblia de Genebra comenta:
"A política beneficente de José contrastou fortemente com a maldição sobre o Faraó que, posteriormente, oprimiu Israel" (Bíblia de Estudo de Genebra, 2009, p. 47).
A obediência do faraó à revelação divina, inclusive exaltando José como seu governador, o fizeram alvo de bençãos. Por outro lado, será o coração endurecido de um faraó que não conhecia a José nem a história de salvação vivida por seus antepassados (Êx 1.8), que ensejarão a aflição que será palco da libertação do povo da casa da servidão, cumprindo Deus sua aliança com Abraão (cf. Gn 15.13-14).
Moisés salienta a soberania de Deus em ambas a situações que, embora contrastantes, são complementares, e descrevem com perfeição como o SENHOR foi honrado e glorificado num primeiro momento, destacando José como instrumento de sua dominação sobre toda a terra, reforçando o princípio de que o povo de Israel deve confiar no SENHOR, tendo ele sido também dominante sobre a opressão que levou os filhos de Israel a sairem do Egito. Se a fome seguida de prosperidade, levou Jacó ao Egito, a opressão seguida da demonstração do poder de Deus, libertou esse mesmo povo de lá.
Outro ponto abordado pelo texto, é a exibição da compreensão exposta na seção anterior: de que a terra do Egito, apesar de ter sido providenciada para a salvação de Jacó e seus filhos (como é reenfatizado pela presente seção), é parada provisória, e a partir do cálculo dos anos da vida de Jacó (vs. 27-28), o autor retrata o entendimento de Israel quanto a essa verdade, fazendo seu filho jurar que o sepultaria na terra prometida a Abraão.
A fé dos patriarcas, de que obteriam a herança pactual (i.e. a entrada na pátria celestial) mantinha-se firme mesmo em face da morte, pois confiavam que a redenção a ser executada por Deus em seu Messias, era poderosa o bastante para reverter o poder do pecado que os havia feito morrer, trazendo-os ao Reino do SENHOR. Jacó replica o feito de Abraão e Isaque, de serem enterrados na terra de Canaã, porque cria na mesma promessa que seus pais, e o juramento que obriga José a realizar esse pedido é a marca dessa noção.
Transição
José adquire toda a terra do Egito para faraó; a glória do rei do Egito é exibida como ápice da carreira do filho de Jacó. Essa analogia referencial traçada pelo texto, aponta para o final da história redentiva: o Messias glorificará ao SENHOR Deus, sendo exposto como o Rei dominante sobre tudo e todos (egípcios - ímpios e hebreus - justos), e esse apoteótico desfecho culminará na entrada do povo em seu devido descanso.
A síntese desses princípios, nos faz enxergar a tônica do autor em relação aos seus leitores: o que a narrativa de Gn 47.13-30 expunha era a própria conclusão da história redentiva: Cristo haveria de ser conquistar a glória do Deus Triuno, declarando sua soberania sobre tudo e todos, promovendo simultaneamente a salvação de seu povo.
Tal noção pode ser sintetizado por nós a partir do seguinte princípio:
Aplicação
A conclusão da história redentiva não pode ser outra, senão a publicação da glória de Deus na salvação de seu povo.
O apóstolo Paulo, observando o final do trajeto redentivo, exibe o mesmo princípio declarado por Moisés:
Filipenses 2.6–11 RA
pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.
O auge da carreira do Messias, foi ele ser erguido como estandarte da glória de Deus, fazendo ele mesmo com que o nome do Deus Triuno fosse exaltado. Essa percepção garantiu ao povo de Deus no Antigo Testamento a segurança de que não estavam trilhando um caminho inútil, ou inseguro, ao ponto de os percalços desse mundo lograrem êxito sobre a Aliança da Redenção firmada pelo Criador.
A fome e escassez não foram capazes de barrar o avanço e a marcha incessante da providência divina, que difundiu sua majestade sobre o Egito, da mesma forma que o pecado e a corrupção não conseguirão impedir que o nome do Criador seja exaltado sobre o universo, no retorno de seu Cristo.
Fome, pestes, violência, mortandade, crimes, pandemias, nada pode roubar do povo de Deus a convicção de que o SENHOR exaltará seu nome através de nossa salvação. Essa infalível certeza deve nos fazer exaltar o nome de Cristo, confiando seu cetro, pois assim como Jacó cria que obteria a herança pactual, fazendo José jurar que faria seu corpo repousar na terra de Canaã, assim também nós partilhamos da mesma fé, e teremos o mesmo fim.
Conclusão
Embora com os olhos cansados, Jacó foi agraciado com algumas últimas visões que lhe farão descansar em paz, aguardando a redenção final: ele vê seu filho, sendo usado como representante da glória do Messias, que, tendo adquirido toda a terra do Egito, figura também a soberania do SENHOR, publicada sobre toda a terra, tal como o será quanto Cristo retornar, a fim de consumar a redenção.