Gênesis 46.1-27

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O autor demonstra a fidelidade divina em cumprir o pacto-abraâmico que garante a redenção, exortando o povo a confiança e fé no SENHOR que os conduz ao longo deste mundo tenebroso, em que é submetido ao sofrimento e dor, à Canaã Celestial.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 46.1-27
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Assim como analisado, as cenas anteriores foram estruturadas para que o clímax da saga de Jacó fosse sua reunião (e de toda sua família) em comunhão plena; um prefigurativo da ação redentiva do SENHOR em redimir o seu povo, afim de habitar com ele para sempre. Entretanto, antes que esse planos fossem concretizados e Jacó reencontrasse seu filho José, o autor fornece uma perspectiva peculiar através da qual os ouvintes/leitores do texto devem compreender esta narrativa.
Tal como já percebido, as teofanias que ocorrem ao longo do livro de Gênesis, sobretudo ao longo da saga do três principais patriarcas (i.e. Abraão, Isaque e Jacó), reforçam o caráter solene das alianças que são reafirmadas por ocasião dessas aparições. Gênesis 46.1-27 segue esse mesmo padrão, interrompendo brevemente o fluxo narrativo que centraliza a reunião da família da Aliança, a fim de que o compromisso divino firmado anteriormente seja novamente lembrado e a fidelidade do SENHOR em o cumprir seja destacada.
A genealogia posterior, que lista "todas as pessoas da casa de Jacó, que vieram para o Egito" (v.27) é anexada com esse mesmo objetivo, ampliando um ponto específico da aliança patriarcal: a promessa feita a Abraão de transformá-lo numa grande nação, sendo esta representada por Isaque (nome através do qual Deus se identifica a Jacó nesta teofania (cf. v.3)) é agora concretizada: setenta pessoas descem ao Egito a fim de lá serem abençoadas pelo Deus Todo-poderoso.
Assim, a seção de Gênesis 46.1-27 possui como ideia central a reafirmação pactual e a evidência da fidelidade divina.
Elucidação
Embora o movimento migratório de Jacó direcione-se para o Egito, sua parada em Berseba é significativamente relevante. Anteriormente, Isaque havia construído um altar nessa região, como símbolo de sua devoção ao SENHOR, como registra o capítulo 26:
Gênesis 26.22–25 RA
Partindo dali, cavou ainda outro poço; e, como por esse não contenderam, chamou-lhe Reobote e disse: Porque agora nos deu lugar o Senhor, e prosperaremos na terra. Dali subiu para Berseba. Na mesma noite, lhe apareceu o Senhor e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Não temas, porque eu sou contigo; abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência por amor de Abraão, meu servo. Então, levantou ali um altar e, tendo invocado o nome do Senhor, armou a sua tenda; e os servos de Isaque abriram ali um poço.
Enquanto estava neste local, no passado, Isaque também recebeu a visita do SENHOR que lhe confirmou as palavras da Aliança ditas a Abraão, extendendo a este seus benefícios, reenfatizando que Isaque é integrante da linhagem santa a ser redimida pelo Criador.
O arcabouço factual entre Gênesis 26 e Gênesis 46 engloba a benção divina fruída através do pacto, fazendo os seus beneficiários lograrem êxito sobre adversidades e desfrutarem do favor do Altíssimo: Isaque em relação aos poços que lhe davam a representação de possessão da terra de Canaã, e Jacó, por meio do livramento da fome, podendo agora regalar-se do melhor do Egito.
Após essa ratificação do pacto abraâmico-isaico, o percurso migratório de Jacó ao Egito é detalhado, e do verso 5 ao 7, o autor registra a confiança do patriarca nas palavras do SENHOR, ligadas a aquiescência de Jacó ao convite de faraó e de seu filho, levando consigo absolutamente tudo o que possuía. Essa partida obediente de Jacó para o Egito, é usada pelo autor como postura requerida dos que desfrutam do pertencimento ao mesmo pacto que Abraão: sob as ordens divinas, Jacó parte para o Egito, recebendo a promessa de bênçãos sem medidas que lhe aguardam naquela terra; embora o fluxo migratório seja reverso, as ordens recebidas pelo povo de Israel - que agora tomam conhecimento do relato por meio do texto - são as mesmas: sair do Egito e encaminhar-se para a terra de Canaã, onde desfrutarão da fidelidade divina numa terra que mana leite e mel.
A genealogia anexa ao texto (vs. 8-27), proporciona um segundo horizonte contemplativo, por meio do qual o povo de Israel pode observar o cumprimento das promessas do Criador a seus eleitos, tal como revelada por meio da Aliança patriarcal: em Gênesis 15.13-16, uma breve menção é feita à um estágio de aflição e sujeição que deverá de experimentado pelo povo oriundo de Abraão. O plano da redenção inclui em seu escopo, uma fase de de sofrimento em que a semente santa é submetida à escravidão e servidão:
Gênesis 15.13 RA
então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos.
Em face dessa perspectiva, Israel agora pode não somente perceber a reação natural dos que foram alcançados pela graça divina da eleição e benefício do pacto (qual seja: obediência e fé), mas também ver de maneira ainda mais evidente o compromisso divino de levar à cabo seus propósitos salvadores, pois acabaram de sair do Egito assim como foi prometido a Abraão:
Gênesis 15.14–16 RA
Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas. E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus.
Se o SENHOR foi fiel em cumpri esta parte do pacto, que inflige ao povo sofrimento e escravidão (como é referenciada e introduzida por meio da migração de Jacó ao Egito), certamente seria fiel para cumprir a segunda parte: proporcionar a redenção final (já prefigurada na própria libertação do povo do Egito), e entrada no novo mundo restaurado pelo Criador.
Transição
Deus determinou que Jacó fosse ao Egito, para que lá o povo fosse multiplicado, apesar de estar na casa do sofrimento e da servidão. Daquele contexto, o mesmo Deus fez o povo subir do Egito, libertando-o e conduzindo-o à terra que apontaria para a residência permanente dos eleitos de Deus: a Canaã Celeste.
A exortação franca do autor abarca todo o povo de Deus ao longo da história, fazendo-os lembrar dessa grande promessa: Deus tem conduzido sua igreja ao longo de terra, enquanto se multiplica e é acrescida pelos eleitos alcançados pelo Evangelho, sendo afligida e maltratada, a fim de que nos faça migrar para nosso destino final: a comunhão plena com ele, no Novo Céu e Nova Terra, que mana leite e mel.
Com base nessas conclusões, os princípios a serem observados pelo povo à luz da intenção do autor divino/humano em o registrar, podem ser estruturados a partir dos seguintes pontos:
Aplicações
1. O compromisso divino de cumprir sua aliança é a base de nossa fé no Deus que nos está guiando à Cidade Eterna.
Ao longo de toda a saga dos patriarcas, vimos repetidas vezes a confirmação das intenções divinas de levá-los a desfrutar de sua benção e comunhão ininterruptas . A repetição, longe de ser um defeito na narrativa, é um amparo necessário à nossa fé, pois somos rápidos em nos esquecer de nossa participação na história da redenção como povo amado de Deus, e esmorecemos no caminho rumo à Nova Canaã.
Posteriormente, Deus se apresentaria a Moisés da mesma forma como se apresentou a Jacó nessa narrativa: "[…] Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó" (Êx 3.6), e tal apresentação liga o povo de Israel, em sua opressão no Egito, aos três patriarcas, que viram a boa mão de Deus os livrar dos perigos desse mundo, conduzindo-os ao cumprimento da promessa.
Como filhos de Deus, somos agraciados com a mesma promessa, e incumbidos do mesmo dever: obedecer a Deus, partindo com tudo o que temos (fé e temor) para onde o SENHOR nos está guiando.
2. Nosso sofrimento nesse mundo, faz parte do plano redentivo de Deus para com seu povo, e também aponta a promessa de salvação.
A narrativa da migração de Jacó para o Egito, lembrou aos filhos de Israel da menção de que seriam escravos em terra alheia por 400 anos. Embora tenha sido um período de dor e muito sofrimento, por meio desse fato Israel obteve a compreensão de que indubitavelmente o Criador estava comprometido em glorificar seu nome na restauração do cosmo e salvação de seu povo.
A saga dos filhos de Abraão desde então é análoga a essa dinâmica: Jacó desceu para o Egito, onde seus descendentes sofreram com escravidão e aflição, tal como a igreja também vem sofrendo desde a entrada do pecado na criação. Entretanto, o mesmo Deus que decretou o breve sofrimento pelo qual temos de passar, também determinou que no final, fôssemos agraciados com a salvação.
Essa perspectiva nos serve de lembrete: não extraímos nossa esperança e convicção da salvação de um mero sentimento otimista, mas a aflição e dor que sofremos nesse mundo, nos demonstra o empenho divino de publicar sua glória por meio da nossa salvação. Noutras palavras, se a aflição é real, o pacto e seus benefícios também o são.
Conclusão
O SENHOR garante a Jacó sua bençãos, enquanto estiver no Egito: sua proteção e provisão: As mãos de José fecharão teus olhos (v.4). O Deus de Abraão protegerá seu povo, enquanto estiver na peregrinação que os leva da casa da servidão, à redenção.
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