Gênesis 45

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O autor apresenta a revelação das intenções divinas ao longo da narrativa que desenrola a história de Jacó por meio de José e Judá, prefigurando a salvação a ser executada por Cristo Jesus.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 45
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
O enredo salvífico por meio da saga de Jacó através de José e Judá. desde o capítulo 37, mostrou ser um intricado e complexo quadro em que a redenção proposta e executada pelo Criador evolui a cada episódio, deixando de apenas apontar para a grandeza da misericórdia divina em salvar Israel e sua casa da fome, mas também explicitando as intenções graciosas do próprio SENHOR em glorificar seu nome por meio da restauração a ser realizada pelo Messias prometido (i.e. Cristo Jesus).
A partir desse ponto, toda a implicitude narrativa com a qual Moisés estruturou o texto, dá lugar a revelação das intenções divinas em agir na determinação de cada desdobramento da saga.
Seguido ao momento em que Judá é usado como instrumento da ação soberana do SENHOR, como substituto penal a fim de sofrer em si os danos dos pecados seus e de seus irmãos, numa prefiguração da obra messiânica-cristológica (embora Cristo não tenha pecado, e sim, sofrido pelos nossos), como dito, as intenções que guiaram o destino da família da pactual até este ponto são expostas, e o objetivo da trama, atingido: a reunião familiar que aponta para a comunhão entre Israel e o SENHOR, finalmente acontecerá.
O contexto de tensão não-resolvida que evolui desde o final do capítulo 42 no tocante à boa vontade do governador do Egito para com os dez irmãos, finalmente atinge seu nível mais elevado, quando a vida de Benjamim é posta em perigo, e a intervenção de Judá faz-se necessária. A argumentação do cabeça da casa de Israel (i.e Judá) termina no capítulo 44, sem que haja uma decisão final a ser tomada pelo governador.
A permanência da ocultação da identidade do grão-vizir de faraó como irmão dos filhos de Jacó, aumenta a expectativa do leitores/ouvintes do texto, que agora verão o desfecho de toda essa cena, por meio da revelação de José aos irmãos.
Diante dessas considerações, a temática central desta seção do livro de Gênesis é a revelação providencial do plano salvífico: convite à comunhão (pt 1).
Elucidação
Após o discurso de Judá em que se coloca como substituto de Benjamim, preferindo ser escravo no Egito a ver seu pai descer a sepultura, sem saber que estava salvando a continuação da linhagem pactual, o texto volta-se para José, seguindo aquela alternância narrativa que vem sendo construída desde o capítulo 37, em que os dois filhos de Jacó complementam a imagem messiânica-redentiva.
Os dois pilares dessa prefiguração messiânica (i.e. Judá e José) são unidos no desfecho da cena em que a argumentação de Judá dá lugar a revelação da identidade do governador do Egito. Como dito, essa súbita revelação vai além de uma mera caracterização mais especifica do personagem: claramente a narrativa declara, a partir desse ato, as intenções do Criador em ter moldado toda aquela saga do modo como ocorreu:
Gênesis 45.4–5 RA
Disse José a seus irmãos: Agora, chegai-vos a mim. E chegaram-se. Então, disse: Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós.
O plano salvífico incluía todo o processo de sofrimento e humilhação pelo qual José teve de passar, e também todo amadurecimento desenvolvido no coração de Judá, a fim de que o espectro superior de salvação-redenção fosse agora vislumbrado pela casa de Israel.
Cada faceta da trama demonstra a meticulosidade do SENHOR em glorificar seu nome, arquitetando uma referência histórica útil para a edificação de três grupos de espectadores: em primeiro lugar, Jacó e sua casa, que agora observam o cumprimento da promessa pactual de Deus a Abraão, quando lhe prometeu uma santa prole que se multiplicaria como a areia da praia do mar e possuiria a cidade de seus inimigos (algo que ainda ocorreria) (cf. Gn 22.17), abarcando também uma dimensão mais ampla que remete a redenção do pecado e restauração da criação como santuário divino; em segundo, o povo de Israel, que percebe que o livramento de Jacó e sua casa da fome, representa a salvação a ser executada pelo Messias, segundo aqueles princípios apreendidos pelo próprio patriarca e os seus num primeiro momento, e assim, a fé destes é alimentada e fortalecida com a expectativa da chegada do Ente figurado por Judá e José, o Rei-Messias - Cristo Jesus. E em terceiro, a igreja do SENHOR, que contempla a fidelidade divina em enviar Cristo como cumprimento da promessa encenada ao longo desta saga, desfrutando da mesma fé que tiveram os dois primeiros grupos, anelando pelo momento em que a declaração de José alcance seu cumprimento final: "para vos preservar a vida por uma grande livramento" (v.7).
Transição
Contudo, como já analisado, é na intenção de reunir-se com seu pai, que a narrativa prepara-se para a grande conclusão da saga que exibe a intenção final de Deus através dessa história. A ordem do grão-vizir de faraó é clara: "Apressai-vos, subi a meu pai e dizei-lhe:... desce a mim" (vs. 9,10). A reunião da família da Aliança formando o povo de Deus que agora desfrutará das bençãos (cf. 11; 17-23) de estar em comunhão novamente, resume nesta seção o que ocorrerá nos próximos capítulos: o SENHOR, ao concluir seus planos salvadores, se deleitará com a promulgação de sua glória e acalentará seu povo com a abundância da vida eterna promovida em Cristo Jesus, o Messias.
Tendo em vista essa análise, os princípios elucidados pelo autor através do texto, a fim de exortar seus ouvintes/leitores, podem ser resumidos nos seguintes pontos:
Aplicações
1. Nossos pecados não são obstáculo para a divina providência, sobretudo no que diz respeito à nossa salvação.
Mais à frente, no capítulo 50, veremos como o pecado também é servo de Deus para cumprimento de seus propósitos, por hora, porém, basta que tenhamos em mente a noção de que as mais vis transgressões não podem ofuscar a glória do plano redentor do SENHOR em Cristo.
A traição dos onze irmãos ressalta a grandeza do plano do SENHOR. Nossas mais torpes obras, revelam a graça divina que traçou o curso certo de nossa jornada. Como afirma Calvino:
"[...] Seja o que for que os homens planejem fazer, [...] em meio a todos os seus tumultos, Deus, desde o céu, anula seus conselhos e tentativas; e, em suma, faz, pelas mãos deles, o que ele mesmo decretou" (CALVINO, 2018, p. 411).
Assim como todos os detalhes dos episódios em que a saga de Jacó foi contada, apontavam para a sabedoria e soberania do Criador, mesmo os nossos mais negros pecados, contribuem para que o Deus Triuno seja glorificado em nossas vidas.
2. A compreensão dos planos de Deus, segundo a revelação de sua vontade, nos concede o fortalecimento de que precisamos para dar graças ao SENHOR por sua fidelidade à Aliança, redimindo-nos.
Diante do terror de estarem frente à frente com aquele a quem tanto ofenderam, os irmãos de José são tranquilizados por este:
Gênesis 45.5 RA
Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós.
De igual forma, Cristo apazígua nosso coração transgressor com a paz dada por Deus, mediante a contemplação de seu plano redentivo. Onde deveria haver pânico e remorso, há arrependimento e alegria, pois Deus não tira de nós a noção de que pecamos contra ele, mas alivia fardo da iniquidade que carregávamos, concedendo-nos em Jesus, o retrato grandioso de sua graça, ao ter salvo.
Miseráveis pecadores, agora podem olhar nos olhos do Criador, com a paz e serenidade própria de quem foi perdoado pelo SENHOR, e a firmeza dessa convicção vem da contemplação sabedoria divina revelada na cruz de Cristo: o auge da história da redenção.
Conclusão
Mediante as ordens daquele que nos redimiu, estamos nos apressando para nos encontrar com nosso Pai. A jornada da salvação terminará, invariavelmente, com a reunião do povo perdoado, com o gracioso SENHOR que os livrou da calamidade, conservando-nos a vida.