Gênesis 43

Série expositiva no Livro de Gênesis  •  Sermon  •  Submitted
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O autor inicia o processo de mudança no quadro dos irmãos de José: antes, crimonosos que são trazidos à presença do Juíz (Deus representado por José); agora, agraciados com o favor soberano, são acolhidos e comungam da paz do Criador que lhes proporcionará redenção.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 43
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
A narrativa da redenção, conforme exposta até este ponto do texto, exibe uma quadro que aponta princípios diversos que compõem o enredo salvador: desde a história que retrata a entrada do pecado no mundo e a promessa de sua destruição (cf. Gn 3), passando pelo destaque ao pacto salvífico revelado por meio dos patriarcas (Gn 12-28), até as particularidades que envolvem a persona do Messias e seu trajeto de sofrimento-glorificação (Gn 37-41).
A partir de um ponto de vista ainda mais específico, que faz parte do progresso da revelação redentiva, o capítulo 43 de Gênesis destina-se a apresentar a continuação do episódio iniciado antes (cf. Gn 42), em que o pecado dos irmãos de José é trazido de volta ao centro da trama, a fim de que a resolução dessa problemática proporcione uma observação ampla da salvação que está sendo executada através de José. Moisés não está interessado em apenas justificar ao povo de Israel como foram parar no Egito, ou quão gracioso o SENHOR fora em os livrar da fome que acometia o mundo naquele período. Mas está conectando esses eventos à temática salvífica, especialmente no que tange ao destino final do povo com quem Deus entrou em Aliança.
Deus não está apenas livrando Jacó da fome, está redimindo os pecados de seus filhos, fazendo com que esses acontecimentos exibam o quadro glorioso da graça divina, que guia a história para o louvor de sua glória na restauração de sua criação e redenção de seus eleitos.
Outro ponto a ser ressaltado, é a estrutura dual de Gênesis 37-38, retomada nos dois últimos capítulos (Gn 42-43). As cenas anteriores demonstram a retomada do tema do pecado dos irmãos de José como ponto central da história, tal como ocorreu no capítulo 37. Na presente seção, o autor centraliza novamente Judá como protagonista da saga (cf. vs.3-9). É mister lembrar que essa estrutura dupla aponta para a construção prefigurativa idealizada pelo redator a fim de que a identidade do Messias como o Rei-Salvador de seu povo fosse estabelecida; o que ocorre novamente, como dito, em Gênesis 42-43.
Judá é introduzido como sendo aquele por meio de quem os próximos eventos serão executados (ou no mínimo terão interferência sua), servindo também como instrumento referencial para o modo através do qual o SENHOR executará a salvação final de seu povo: a substituição messiânica garantirá o perdão e a redenção.
Em face disso, a temática central da presente seção está baseada nessa concepção da trama salvífica, qual seja: a continuação da narrativa providencial redentiva (pt 5): a apresentação do substituto intercessor.
Elucidação
Após a introdução contextual dos versículos 1 e 2, que remontam à circunstância que está sendo usada por Deus para o avanço de seus propósitos salvadores, um diálogo é iniciado entre Jacó e Judá, protagonizando a primeira cena (vs. 3 à 14), que por sua vez, abre caminho para o bloco seguinte, em que Judá se apresentará como intercessor e substituto de seu irmão mais novo, colocando-se como resgatador do mesmo.
Novamente o receio de Jacó em enviar seu filho caçula serve como introdução da tensão da narrativa. Sob o protesto de Judá, Israel decide ceder, porém, há uma inversão no texto que amplia novamente as consequências das ações dos personagens: se anteriormente, o redator apresentou que o pecado dos irmãos de José acarretaram um risco à vida de Jacó (Gn 42.38), interferindo no fluxo da narrativa pactual que vem sendo construída por Deus desde Abraão, agora, o impacto da aquela atitude dos filhos de Jacó, novamente põem em cheque o cumprimento da promessa divina, pois há uma perene ameaça à linhagem do pacto (i.e. a família de Jacó): "Quanto a mim, se eu perder os filhos, sem filhos ficarei" (Gn 43.14). Essa "inversão de risco" (primeiro para Jacó, depois para seus filhos) conecta os personagens ainda mais, reforçando o progresso da promessa pactual de Deus, que se estende para os doze filhos de Jacó, como representantes do povo de Deus.
Em seguida, o reencontro de José com seus irmãos, introduz, como dito, os fatos seguintes. Outra vez na presença do grão-vizir de faraó, os onze irmãos vêem-se diante do julgamento divino, explicitado no texto pelo constante terror e remorso que sentiam devido os acontecimentos anteriores, que os fizeram lembrar-se de seu pecado: "Os homens tiveram medo, porque foram levados à casa de José; e diziam: É por causa do dinheiro que da outra vez voltou nos sacos de cereal, para nos acusar e arremeter contra nós [...]" (v.18). Contudo, antes de haver algum tipo de retaliação ou punição da parte do governador, o anúncio que José faz prepara o caminho para a manifestação da graça divina:
Gênesis 43.23 RA
Ele disse: Paz seja convosco, não temais; o vosso Deus, e o Deus de vosso pai, vos deu tesouro nos sacos de cereal; o vosso dinheiro me chegou a mim. E lhes trouxe fora a Simeão.
A quebra da tensão mediante a apresentação do favor divino no lugar de ira ou vingança da parte de José, surpreendem o leitor/ouvinte do texto: Moisés lembra o povo de Israel de que a justiça divina requisitará que o pecado seja devidamente punido (cf. Gn 42), porém, isso não deve desfalecer o coração de um eleito, pois a graça divina mudará ira em amor; vingança em misericórdia; punição em perdão.
Transição
Em face dessas considerações, a exortação do autor divino/humano aos receptores desse texto, demonstram a intervenção graciosa do SENHOR em mudar a sorte de seu povo: a punição que era aguardada como execução da sentença contra o crime dos irmãos de José, dá lugar ao esplendoroso momento em que a comunhão da família da aliança inicia seu processo de consolidação.
A observação desse mesmo princípio deve ser feita pela igreja de Cristo, através da compreensão do seguinte ponto:
Aplicação
Por meio de Cristo nossa sorte é mudada: no lugar de punição, recebemos graça.
Nosso Senhor Jesus Cristo foi apresentado na história como aquele que intercedeu por nós junto ao Pai, a fim de que sua graça brilhasse em nós, livrando-nos da execução devida. Assim como Judá tomou a iniciativa, de se colocar no lugar de seu irmão mais novo (i.e. Benjamin), Cristo prontificou-se em rogar por nós, mudando completamente nosso destino.
Rendidos pela justiça divina, só nos restava admitir o pecado e sofrer por nossa rebeldia e insolência contra o SENHOR, mas, o Deus Triuno nos surpreendeu, mostrando quão amoroso é para com aqueles que soberanamente escolheu para serem beneficiários de seu pacto redentivo, e onde havia pavor pela iminente vingança divina, agora há a alegria e comunhão com Deus, proporcionada por Cristo Jesus, o herdeiro do trono de Judá.
Essa é visão da história da redenção que nos fornece o texto de Gênesis 43: os amedrontados irmãos de José, que sofriam com o peso de suas consciências feridas pelo pecado, começam a sentir o refrigério da paz com Deus, mediante sua misericórdia e graça.
Assim é e sempre será conosco: ao longo da caminhada cristã, o pecado, vez por outra, ferirá nossa mente, ou lembrando-nos de trangressões passadas, ou nos assombrando com as imperfeições presentes. Porém, lembremo-nos das palavras do apóstolo João:
1João 2.1 RA
Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;
Conclusão
Em Gênesis 43, Moisés prepara-se para encerrar a história da redenção, demonstrando não somente que o SENHOR livrou Israel da fome, mas também que o livrou da retaliação de sua justiça, que deveria recair sobre seus filhos e sobre si por causa de seus pecados, através da graça redentora que intervém na história dos pecadores, fazendo-os ver, no lugar do olhar irado de Deus, seu sorrido benevolente os convidando à comunhão, assim como aconteceu com cada um de nós, através de Cristo Jesus.