Gênesis 36

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O autor desenvolve a linhagem de Esaú como prova do cumprimento da Aliança divina feita com Abraão, demonstrando a prosperidade dos filhos de Esaú, porém, também exibndo sua distância da benção redentiva reservada aos eleitos de Deus, oriundos - pela fé - da linhagem abraâmica.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 36
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Após ter concluído o livro das genealogias de Isaque, ao relatar o cumprimento da aliança abraâmica, em que uma nação numerosa seria gerada a partir dele (Abraão) através de Isaque, vendo este agora a consumação de tal palavra em Jacó, e também registrando sua morte (Gn 35.29), o autor prepara-se para registrar o livro das genealogias de Jacó, em quem os planos redentivos têm progredido, mas antes, dedica o presente capítulo ao registro da descendência de Esaú, filho de Isaque.
A menção desta árvore genealógica, apesar de ser uma descendência paralela, e portanto, não possuindo ligação direta com a aliança redentiva estabelecida com Abraão, é fruto da condescendência divina em estender seu favor a Ismael, filho de Abraão e Agar (Gn 16.15-16), tal como fora dito, e também ao filho de Isaque, Esaú, que não desfruta da benção especial da Aliança, mas possuem participação na história dos patriarcas.
A justa posição de ambas as genealogias (i.e. de Ismael e Esaú), antecedendo ou sucedendo a descrição de seus irmãos, situa o ouvinte/leitor no enredo patriarcal, expondo as origens dos povos com os quais Israel terá de lidar ao entrar na terra de Canaã. Além disso, tanto a numerosa descendência de Ismael quanto a de Esaú, são cumprimentos da palavra divina direcionada a Abraão quanto a linhagem ismaelita (Gn 17.20; 21.12-13).
Assim, a tese central da presente seção é a demonstração da graça comum sobre os não-eleitos e sua distinção do filhos da Aliança.
Elucidação
A não participação de Esaú na aliança redentiva é enfatizada na introdução da genealogia, por meio do comentário que repete o fato de que ele havia tomado "por mulheres dentre as filhas de Canaã" (v. 2), o que sempre causou um enorme desapontamento em seus pais (cf. Gn 27.46; 28.1), exatamente por essa razão. Cada uma das esposas de Esaú é descrita como tendo gerado filhos a ele, e estes por sua vez geraram outros filhos, que foram homens importantes na antiguidade.
Aliado ao propósito de declarar as origens dos povos nos entornos de Canaã, está anexada a ideia de que mesmo aos ímpios e não-eleitos, Deus manifesta certa dose de misericórdia, intensificando ainda mais sua condição de rebeldia. Esses outros povos com os quais Israel terá de lidar, não são totalmente alheios ao conhecimento do Deus verdadeiro, mas procedem de uma árvore genealógica comum à do próprio povo de Deus, e portanto, tiveram, no passado, contato com a revelação do único Deus vivo, rejeitando-o e abraçando o paganismo e idolatria.
A ordem divina de que o povo de Israel, ao adentrar a terra prometida, deveria apagar a memória desses povos de sobre a face da terra, pode ter aqui sua razão de ser: embora Deus tenha demonstrado misericórdia, fazendo com que esses povos viessem de um tronco genealógico comum ao povo de Israel, fizeram pouco caso de tamanha dádiva, e seguiram um caminho de rebelião contra o Criador.
Essas condições preliminares, traçam um quadro inicial que deveria direcionar a visão de Israel quanto aos povos originados a partir de Esaú. A aproximação poderia instigar no coração do povo de Deus algum desejo por contato ou assimilação cultural com aquele outro povo, porém, isso não deveria acontecer, pois, de fato Edom e Israel eram irmãos (i.e. irmão de Israel, filhos de Isaque, procedentes de Abraão (cf. Dt 23.7)), e por essa razão, os filhos de Edom eram um povo próspero e em certa medida abençoado, contudo, não adoravam o Deus de seus pais, mas seguiram um caminho de rebelião contra a aliança, por exemplo, desde o momento em que Esaú havia tomado por mulheres, as filhas da terra (cf. Gn 26.34), e contrariando o desejo de seus pais, ainda casou-se com outras (cf. Gn 28.9).
Esse desligamento com o povo de Israel também é referido no texto através do afastamento de Esaú da terra de Canaã:
Gênesis 36.6 RA
Levou Esaú suas mulheres, e seus filhos, e suas filhas, e todas as pessoas de sua casa, e seu rebanho, e todo o seu gado, e toda propriedade, tudo que havia adquirido na terra de Canaã; e se foi para outra terra, apartando-se de Jacó, seu irmão.
Levando em consideração que as movimentações geográficas dos patriarcas em relação à terra de Canaã, demonstravam sua situação espiritual diante do SENHOR, isto é, quanto mais próximos da terra, mais as ações confirmadoras da aliança eram intensas, levando os patriarcas à obediência, ao passo que, em se afastando de Canaã, os patriarcas se expunham à fraqueza e desconfiança quanto à divina providência em lhes assegurar o cumprimento do pacto, da mesma forma, Moisés demonstra a condição paralela e distante de Esaú em relação à benção redentiva que está sobre seu irmão, e ao estabelecer-se noutra terra, o autor repete a tese de sua não participação na Aliança feita com seus pais: Isaque e Abraão. Essa menção também pode ser um eco que anexa ou emparelha o desfecho da vida de Esaú ao de seu tio, Ismael, quando sobre este é dito (tal como profetizado) que "se estabeleceu fronteiro a todos os seus irmãos" (Gn 25.28).
Ao longo do texto, ao relacionar as mulheres de Esaú e seus respectivos filhos, cada um é elencado de acordo com sua importância, inclusive sendo mencionados seus títulos de acordo com suas possessões na terra de Edom: príncipes e reis (vs.15-30; 31-39) são listados para, como dito, evidenciar a excelência da descendência de Esaú. Assim, a tese da passagem possui efeito duplo: atestar a benção divina sobre os descendentes de Abraão, que por serem seus filhos - hereditariamente - são abençoados por Deus, porém, são mantidos à distância dos filhos da Aliança: aqueles que recebem da parte do SENHOR, não apenas benefícios materiais, mas a graça de serem seus próprios filhos, tomando parte na história da redenção como eleitos do Criador.
Transição
O "divisor de águas" entre os filhos de Deus e os ímpios, é a Aliança divina que reserva ao eleitos os benefícios da redenção. Embora prosperidade e sucesso também façam parte da história das genealogias pagãs, Moisés demonstra que há uma notável diferenciação entre ambos os povos (Israel e Edom).
Além disso, o autor esclarece para o povo de Deus quão profunda e sólida é a fidelidade divina, pois se até mesmo aqueles que estão distanciados do amor do Criador gozam certas bençãos, muito maior graça poderão esperar aqueles que, em obediência, amam ao SENHOR que prometeu sua restauração.
Além desses princípios, outros são exposto pelo autor divino/humano, para serem observado pela igreja de Deus. quais sejam:
Aplicações
1. Ainda que sejam (pela misericórdia ou graça comum) abençoados, os ímpios jamais desfrutarão dos benefícios da Aliança.
Moisés faz questão de repetir o padrão iniciado pela descrição da genealogia de Ismael: bênçãos realmente notáveis recaíram sobre o filho de Isaque, porém, em que pese doze príncipes terem vindo dele, sua posição diante do Criador ainda é a de um réprobo.
Isso intensifica para o povo de Israel a profundidade da fidelidade divina. Como dito, se o favor do Criador se mostra positivo para com aqueles que proscreveu de seu Reino na eternidade por decreto, muito mais será realizado na vida de cada um dos filhos da Aliança, tanto individualmente, quanto em termos da corporatividade do povo de Deus.
Os filhos de Edom podem até ser irmãos de Israel, mas não são filhos de Deus, isto porque Deus não suscita filhos pela hereditariedade, mas pela fé em no Messias, no Descendente que viria da linhagem abraâmica (i.e. adâmica - divina), e embora recebam tais bençãos, jamais serão beneficiários daquele favor que arrola homens ao número dos eleitos de Deus.
Isso explica porque muitas vezes contemplamos ímpios desfrutando de tantas bênçãos vindas de fato da parte do SENHOR, pela operação de algum em seus orações pelo poder do Espírito. Porém, esse bem não é a iluminação para crerem no Evangelho do Filho de Deus, e assim, permanecem aquém da graça especial.
Isso nos mostra que situação material confortável ou até bênçãos gerais da parte do Criador, não torna alguém filho de Deus.
O que nos leva ao segundo ponto.
2. Apesar da glória dos ímpios parecer fulgente, é passageira e superficial.
A expectativa de Israel em relação ao cumprimento da Aliança é novamente instigada pelo autor, através do demonstrativo da excelência da descendência ímpia: se aos proscritos, antes mesmo de o próprio povo de Deus ver instalada a monarquia - que haveria de, figurativamente, os conduzir ao Messias - fora concedido reis (cf. v. 31 “são estes os reis que reinaram na terra de Edom, antes que houvesse rei sobre os filhos de Israel”) muito maior e permanente glória o povo de Deus testemunharia, ao ter um rei assentado no trono, servindo de referência para a magnitude e supremacia do Rei Divino, que viria para guiar seu povo à eternidade com o SENHOR - Jesus Cristo.
De igual forma, em nosso tempo, é bem possível que contemplemos a prosperidade dos ímpios, que gozam de uma situação material até mais “confortável” do que a nossa. Porém, lembremos das palavras de Asafe:
Almeida Revista e Atualizada (Salmo 73.17-20)
[…] Entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles [dos ímpios]. Tu certamente os pões em lugares escorregadios e os fazes cair na destruição. Como ficam de súbito assolados, totalmente aniquilados de terror! Como ao sonho, quando se acorda,assim, ó Senhor, ao despertares, desprezarás a imagem deles.
Reis procederam de Esaú: príncipes e um vasto e rico povo foi originado do filho proscrito de Isaque, porém é só isso.
Como comenta William MacDonald:
Nenhum dos descendentes de Esaú é mencionado como homem fiel a Deus; antes, perderam-se na obscuridade dos que abandonam o Deus vivo. Desfrutaram riqueza e fama neste mundo, mas nada entesouraram para a eternidade (MACDONALD, 2011, 41).
E complementa João Calvino:
"[...] Os réprobos são repentinamente exaltados para que imediatamente decaiam, como a erva brota nos telhados, mas que não possui raiz e cresce depressa, porém murcha mais depressa ainda. [...] Não há pois, nenhuma razão para que os fiéis que, mesmo a passos lentos, seguem seu caminho, invejarem a rapidez dos filhos deste mundo, nem sua rápida sucessão de deleites, visto que a felicidade que o Senhor lhes promete é muito mais estável, como se acha expresso no Salmo: "Os filhos de teus servos habitarão seguros, e diante de ti se estabelecerá sua descendência" (Sl 102.28) (CALVINO, 2019, p. 280).
Conclusão
Um homem próspero, bem-sucedido, com um vasto número de filhos que herdaram a benção serem chamados de “irmãos de Israel”. Porém: viveu à parte de graça salvadora, apesar de perto da fé, nunca a teve gerada em seu coração. Este é e Esaú, que é Edom.
Sempre que nos escapar a ideia da magnitude da graça divina, lembremos desta epígrafe que descreve todos aqueles que, embora nesse mundo usufruam da misericórdia do SENHOR, jamais alcançarão sua graça.
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