Bem-aventurados os limpos de coração

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O limpo de coração verá a Deus e desfrutará, já no presente, de verdadeira alegria.

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Bem-aventurados os limpos de coração

Mateus 5.1–8 RAStr
1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos;2 e ele passou a ensiná-los, dizendo: 3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. 4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
Chegamos à sexta beatitude do discípulo de Cristo, ele é alguém que tem o coração limpo. As palavras "limpos de coração" indicam a espécie de pureza a que Jesus se refere. Se os "pobres de espírito" se diferem daqueles que são apenas pobres materialmente, de quem os "limpos de coração" se distinguem?
A pureza de coração se distingue da pureza exterior.
"Para o judaísmo, a impureza adere à pessoa ou à coisa impura e pode ser transferida para outras pessoas. […] A transmissão se dava mediante toque, porte, pressão, entrada (p. ex., de um leproso) ou pelo lugar (p. ex., estar na mesma casa em que se encontra um cadáver).
Algumas seitas mais estritas consideravam outros grupos como deficitários do seu ponto de vista de pureza. Esses grupos incluiam judeus ordinários e meio-judeus, bem como samaritanos e gentios. Os gentios eram excluídos do templo, e os judeus estritos deviam evitar contato com templos ou vasos pagãos e purificar aquilo que compravam dos gentios.
A restauração da pureza ocorria primariamente pela água (lavagem, aspersão ou banho), embora também podesse se exigir uma oferta pelo pecado cometido. A ação mais comum de purificação era a lavagem das mãos (p. ex., ao se dar graças ou em ocasiões de oração). R. Meyer e F. Hauck, “katharós, katharízō, kathaírō, katharótēs, akáthartos, akatharsía, katharismós, ekkathaírō, perikátharma”, ed. Gerhard Kittel, Gerhard Friedrich, e Geoffrey W. Bromiley, trans. Paulo Sérgio Gomes, Dicionário Teológico do Novo Testamento (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013), 423.
Jesus enfatiza em seu ensino a necessidade de uma pureza mais profunda, a pureza do coração. O discurso de Jesus sobre os "limpos de coração", além de revelar uma marca da identidade do verdadeiro discípulo de Cristo, também era uma condenação declarada ao estilo de vida farisáico dos líderes religiosos de sua época que eram como sepúlcros caiados, limpos por fora, mas podres por dentro.
Lutero fez diferença entre a pureza interior da exterior. Ele disse: "Cristo… quer um coração limpo, embora exteriormente a pessoa possa estar confinada à cozinha encardida e cheia de fuligem, fazendo toda espécie de trabalho sujo". Ele continua: "Embora um trabalhador comum, um sapateiro ou um ferreiro possa estar sujo e cheio de fuligem ou mesmo cheirar mal porque está coberto de pó e piche, … e embora cheire mal externamente, no interior é puro incenso diante de Deus".
O coração purificado do discípulo de Jesus possui o desejo de estar em sintonia com o próprio coração de Deus. Hendriksen disse que: "Seu coração, a própria fonte principal das disposições tanto quanto dos sentimentos e pensamentos (Mt 15.19; 22.37; Ef 1.18; 3.17; Fp 1.7; I Tm 1.5), é uma só melodia com o coração de Deus". (William Hendriksen, Mateus, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição em português., vol. 1, Comentário do Novo Testamento (Cambuci; São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2010), 342.)
Sabe-se que somente poderia-se subir ao monte do Senhor e permanecer no seu santo lugar aquele que fosse "limpo de mãos, puro de coração, que não entragasse sua alma à falsidade e nem jurasse dolosamente" (Sl 24). Neste sentido a sinceridade está ligada à essa pureza de coração, mas precisamos tomar cuidado, pois embora a pureza seja sinônima de sinceridade, como vemos em 1Tm 1.5, e seja extremamente valorizada é mister acrescentar-se algo. A sinceridade ou integridade não é suficiente em e por si mesma. Gosto do que Hendriksen coloca a respeito desse assunto:
Mateus, Volumes 1 e 2 A Sexta Beatitude

Um homem pode estar sinceramente certo, como também pode estar sinceramente errado. Sem dúvida que os profetas de Baal eram realmente sinceros quando desde a manhã até ao meio-dia saltavam sobre o altar, retalhando-se com facas e clamando sem cessar: “Ouve-nos, ó Baal!” (1Rs 18.26–28). Porém, eram sinceros na direção errada. Assim também, numa passagem que é citada com frequência na explicação da sexta beatitude (Gn 20.6), o próprio Jeová testifica que Abimeleque, na integridade de seu coração, defraudara Abraão, levando Sara. Não obstante, o Senhor não aprovou o que o rei fizera e o ameaçou de morte caso não devolvesse Sara ao seu legítimo marido (v. 7). De forma semelhante, os “puros de coração” do Sl 73.1 são aqueles que com toda sinceridade são guiados “pelo conselho de Deus” (v. 24). A fé não fingida de 1Tm 1.5 adere à “sã doutrina” (v. 10). E as pessoas a quem Pedro faz referência (1Pe 1.22) são aquelas que purificam suas almas “na obediência à verdade”.

Portanto, é evidente que a bênção da sexta beatitude não é pronunciada indiscriminadamente sobre todos quantos são sinceros, mas, antes, sobre aqueles que, em sua adoração ao Deus verdadeiro, em consonância com a verdade revelada em sua Palavra, se empenham sem hipocrisia para agradá-lo e glorificá-lo.

Os limpos de coração são aqueles que:
Foram alcançados pela Palavra de Deus
Pela pregação da Palavra os pecados são expostos
A Palavra de Deus é a espada do Espírito Santo. Ele usa a pregação das Escrituras para convercer as pessoas do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8)
É por meio da exposição à Lei de Deus que o homem é confrontado com a sua degradação espiritual (Rm 7.7-11)
Pela pregação da Palavra é que a fé vem aos ouvintes (Rm 10.17, conf. Rm 10.9-15)
Pela fé em Cristo é que as pessoas alcançam o perdão dos pecados e são considerados justas aos olhos de Deus (Rm 5.1)
Pela fé em Cristo as pessoas têm os corações purificados (At 15.9; 1Pe 1.22)
Foram lavados pelo sangue do Filho de Deus
Pelo seu sangue temos a remissão dos nossos pecados (Hb 1.3; 9.22; 1Jo 1.7)
Pelo seu sangue fomos aproximados (Ef 2.13)
Pelo seu sangue fomos santificados (Hb 13.12)
Pelo seu sangue somos aperfeiçoados (Hb 9.14; 13.20-21)
Foram e são santificados pelo Espírito Santo de Deus
Santificados moralmente
O íntimo do seu coração, incluindo pensamentos e motivações, é puro (1Tm 1.5)
O puro de coração será puro na religião: cuidará dos necessitados e se separará do mundo (Tg 1.27)
Pelo Espírito Santo o crente faz morrer a feitos do corpo e experimenta a vida de Deus nele (Rm 8.13)
A purificação dos pecados, impede o crente de viver pecando (1Jo 3.6)
Santificados relacionalmente
No seu relacionamento com Deus - não possui um coração dividido, contaminado pelo amor ao mundo.
A pessoa "limpa de mãos e pura de coração" é aquela que "não entrega a sua alma à falsidade" (Sl 24.4)
No seu relacionamento com o próximo - também mantém a sinceridade, vive na veradade. É alguém confiável que não jura dolosamente. Sua vida pública e particular é transparente diante de Deus e dos homens. A hipocrisia e a fraude são coisas repugnantes ao puro de coração. Ele age em amor (1Tm 1.5)
Os limpos de coração e somente eles, verão a Deus.
Ver a Deus pode se referir a:
Uma experiência no presente que aponta para a intimidade. O pecado não causa mais separação entre Deus e o homem que está em Cristo. Ele teve os seus pecados perdoados, ama a Deus, guarda a Sua Palavra e, por isso, Cristo se manifesta a Ele (Jo 14.21). "A semelhança é o pré-requisito indispensável da comunhão e compreensão pessoal. Para que alguém conheça a Deus é preciso que seja semelhante a ele. Assim como para o caçador desprovido de qualquer conhecimento e apreciação pela música a voz do vento que soa através da floresta nada significava além da possibilidade de a lebre sair de sua toca e tornar-se uma vítima fácil, enquanto para o seu companheiro Mozart o mesmo som profundo significava uma nota majestosa do grande órgão de Deus, assim também, para o impuro, Deus permanece sendo desconhecido, mas para quem é “imitador de Deus como filho amado e anda em amor”, ele se revela a si mesmo. (William Hendriksen, Mateus, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição em português., vol. 1, Comentário do Novo Testamento (Cambuci; São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2010), 342–343).
A beleza e magia desta contemplação da face do Senhor é que produz transformação (2Co 3.18). Os puros de coração veem a Deus e os que o contemplam são cada vez mais purificados e transformados à Sua própria imagem.
Uma experiência no futuro que aponta para a certeza de que uma vez livres da imundícia do pecado, poderão habitar com o Senhor por toda a eternidade. Eles entrarão no reino dos céus, mas não somente isso, verão a Deus. Se hoje vemos a Cristo somente pela fé, um dia o veremos face a face (1Co 13.12; 2Co 5.6-8). Quando isso acontecer, então se cumprirá a oração do nosso Senhor em Jo 17.24 que diz:
João 17.24 RAStr
24 Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo.
Se hoje vemos como em espelho, obscuramente, no céu e no universo renovado, o veremos face a face (1Co 13.12)
Conclusão:
Esta Bem-aventurança ensina duas coisas muito importantes.
A primeira é que o pecador é totalmente inaceitável diante de Deus, porque não pode atingir a perfeição que pertence a Deus, não importa quão moral, bom e bondoso possa ele ser aos olhos do mundo. Visto à luz da santidade divina, ele é ímpio. Enquanto o indivíduo não for justo à vista de Deus como o é Jesus Cristo, jamais poderá permanecer na presença divina, a não ser para tê-lo como seu Juiz e ouvi-lo dizer: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mateus 25:41).
Jesus veio e se ofereceu na cruz como sacrifício por nossos pecados. Com sua morte ele pagou o preço do pecado do mundo, e Deus oferece perdão de pecados a todo aquele que aceitar a Jesus Cristo como Salvador pessoal. Isaías diz que nossas justiças são como trapo da imundícia diante de Deus (Isaías 64:6). Esse é o ponto de vista divino. Mas Jesus Cristo, com sua morte, tira esse trapo e nos veste com sua própria perfeição. Quando Deus olha para aquele que confia em Cristo para a salvação, ele o vê como vê ao seu próprio Filho amado.
"Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus."
O segundo ensinamento desta Bem-aventurança é que muito embora tenhamos sido redimidos pelo sangue de Cristo e feitos membros da família de Deus, ele não pode ter e não terá comunhão conosco no nível de nossa pecaminosidade. A santidade é um requisito indispensável à comunhão. "Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido", diz o Salmo 66:18. Não posso desfrutar a luz do semblante divino e a alegria de sua comunhão sem mãos limpas e coração puro. Davi, consciente de que o seu Senhor desejava a verdade do íntimo, orou: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro de mim um espírito inabalável". Lemos em 1João 1:7: "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho nos purifica [continua purificando] de todo pecado." E o v. 9 do mesmo capítulo nos assegura: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." Santidade e justiça são pré-requisitos para entrada na presença de Deus. Essa mesma justiça é requisito indispensável para nossa comunhão com ele dia a dia. Precisamos lembrar que sem santidade, ninguém verá ao Senhor (Hb 12.14).
Termino relembrando a exortação da Palavra de Deus que diz em Tg 4.8:
Tiago 4.8 RAStr
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração.
Lembre-se sempre:
"Bem-aventurados o limpos de coração, porque verão a Deus."
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