Para termos um Pai, antes precisamos de um Irmão (Jo 8.31-59)

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Culto Dominical 20 de agosto de 2017 – Exposições no Evangelho de João
Jo 8.31-59 Para termos um Pai, antes precisamos de um Irmão.
Introdução: Na mensagem passada vimos como Jesus se revela como pleno salvador. Jesus é o Cristo, o Deus Homem que veio ao mundo para pagar o preço pelo perdão de nossos pecados. Se não crermos que Ele É, se formos incrédulos, pereceremos em nosso pecado, mas, se crermos que Ele É, se o buscarmos sinceramente, seremos salvos de nossos pecados. Hoje vamos expor todo o restante do capítulo 8. Para isso, destacamos alguns pontos do texto:
1. (31 – 37) O nosso estado natural é de escravidão.
O texto anterior encerra afirmando que “ditas estas coisas, muitos creram nele”. A disposição do verdadeiro crente não é o que chamamos de “fogo de palha”, que acende e logo se apaga. Jesus não é como um manancial escasso de água que, logo após saciar a nossa sede, não tem capacidade de manter-nos saciados pois a água logo acaba – pelo contrário, Ele é a água viva que constantemente nos sacia e purifica, de tal forma, que nunca mais teremos sede. O verdadeiro crente também não bebe de sua água e depois procura outras fontes. O verdadeiro discípulo não enxerga Jesus como a “Luz do mundo” e logo se desvia de seu caminho. Antes, a luz que alumia todo aquele que nele crê gera a luz da vida, e [este] não habita mais em trevas.
Ou seja, Jesus é um verdadeiro salvador. Ele, como aquele que sonda os corações e as consciências, sabe as nossas motivações e nossa sinceridade. Nós podemos até enganar a nós mesmos e aos homens, mas Jesus sabe “quem são as suas ovelhas” (10.14). É por isso que, diante dessa aparente crença dos judeus Jesus afirma que aqueles que são seus discípulos permanecem na sua palavra. A disposição daquele que crê em Cristo é de permanecer na sua Palavra. Interessante que Jesus não coloca o “ser discípulo” como consequência de “permanecer na sua palavra”, mas que, os verdadeiros discípulos permanecem em suas palavras. A condição “se permanecerdes na minha palavra” não é de causalidade para sermos seus discípulos, mas a evidência de que o somos.
Naquela época, era comum mestres terem discípulos. Estes últimos, eram conhecidos por estarem firmemente alinhados com os ensinamentos de seus mestres. Portanto, os discípulos de Jesus não podem apenas concordar com ele em algum ponto, nem serem levados por todo vento de doutrina. Os seus discípulos são firmes em permanecer em seus ensinamentos. Porém, existe uma gigante diferença entre ser discípulo que qualquer mestre e de Jesus: é que não estamos livres, independentemente de nossa nacionalidade ou condição social[1]. Somos naturalmente escravos de um terrível mestre que, ironicamente amamos e nutrimos grande afeição: o pecado (“34b todo o que comete pecado é escravo do pecado”). Eis a verdadeira escravidão: Não somos apenas racionalmente escravos, mas totalmente escravos. Estamos constantemente errando o alvo da glória de Deus.
Jesus fala “32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” por causa de nosso estado natural de escravidão. Sim, somos escravos. Ainda existe escravidão no mundo: a do pecado. O pecado é o maior senhor de escravos da história. E para sermos discípulos de Jesus, precisamos nos libertar do pecado. Por isso, só podemos ser libertos se conhecermos a verdade. Esse conhecimento não é o mero conhecimento racional – se somos escravos, não é apenas nossa mente que está cativa. Se somos escravos, precisamos não de um professor, mas de um resgatador. Cristo deixa isso bem claro se apresentando como a Verdade[2](14.6) e como o libertador. De forma bem clara: conhecer a verdade é ser resgatado por Cristo – uma coisa está ligada a outra: “36 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Eis a verdadeira liberdade. Cristo não é apenas a verdade que instrui, mas também a verdade que liberta.
Por isso que no Cristianismo precisamos de um Irmão para ter um Pai. Para estarmos sempre na casa do Pai precisamos ser filhos, e esse direito é conquistado para nós através de Cristo, o unigênito do Pai – como está escrito em Jo 1.12,13 “a todos quanto o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, os que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Deus nos fez morrer para o pecado na morte de Cristo (Rm 6.6-11). Essa nossa união com Cristo é que nos torna filhos.
Aprendemos também que por conta da escravidão, não guardamos as palavras de Jesus (37). Ou seja, existe um lugar que apalavra deve ocupar: o coração[3]. Mas, em semelhança de um solo bem compactado e pedregoso, um coração de pedra não é o lugar apropriado para ela, e sim um coração cheio de fé e obediente. Jesus é o nosso maravilhoso salvador pois, ao contrário de nós, Ele guarda a palavra do Pai (v. 55).
2. (38 – 50) Nosso estado natural é de sermos filhos do diabo.
Jesus eleva o tom de suas palavras e aprofunda o diagnóstico de nosso estado natural. O estado natural daqueles fariseus não era apenas de escravidão do pecado, mas eles eram filhos do diabo (38, 41 e 44). Esse também é o nosso estado, conforme 1 Jo 3.8-10; Ef 2.1,2. Somos criaturas criadas por Deus, disso nós sabemos. Nele está fundada a dignidade de qualquer homem. No entanto, nossa paternidade está firmada na fidelidade do coração. Desta forma, aqueles que são escravos do pecado, são filhos da desobediência e do diabo.
As nossas obras más nos fazem buscar o local de aprovação, o local confortável para praticá-las, e este lugar é ao lado daquele que se regozija nas piores obras. Com já foi registrado por João, “os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (3.19). É por esta razão que Jesus contesta as palavras dos judeus, que se dizem filhos de Abraão, por causa de suas obras: “Se fosseis filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão” (39)[4]. É como se Jesus dissesse: a prova de que vocês não são filhos de Abraão é que vocês não praticam as obras dele. As suas obras mostram que não são filhos de Abraão nem de Deus (42).
Meus irmãos, em pouco Jesus evidencia quais as consequências práticas dos homens serem naturalmente filhos do diabo: 1. Fazem as obras dele (veja vs. 38b; 39b; 41); 2. Não amam a Jesus (42) (ver 1Jo 5.1); 3. Não entendem o que Jesus fala (43); querem fazer não a vontade de Deus, mas a do diabo (desde o pecado original, o diabo age em perverter a vontade[5]de Deus, o que ocasionou a morte). Todas essas características que o homem natural compartilha com o diabo são concretizadas nos fariseus quando eles procuram matar a Jesus. Os filhos do diabo também não apenas sofrem a morte pelos seus pecados, mas também são homicidas: “procurai matar-me” (37b), “agora procurais matar-me” (40), “então, pegaram em pedras para atirarem nele (59). Além disso, o diabo nutre ódio pela verdade: “jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira[6]” (44b). Isso também é verdade para os seus filhos: Jesus aponta a falsidade daqueles homens ao apresentar “por que não me credes?”, eles odeiam a verdade – e só ela pode libertá-los. Enquanto Jesus é a verdade e a vida, Satanás é o total oposto: a mentira e a morte.
Os que são discípulos de Jesus e são filhos de Deus, agem como Abraão: confiando na vontade de Deus, ainda que em meio a dor. Jesus fala duas vezes de Abraão, pois se o problema deles é incredulidade, nada melhor que falar daquele que é conhecido como o pai da fé, pois A fé nos liga a Cristo. Abraão ouviu a Deus por fé, pois quem é de Deus ouve as palavras de Deus (47). Meus queridos: para ouvirmos as palavras de Deus precisamos de uma nova paternidade: a de Deus.
Na continuação do episódio, como homens que odeiam a verdade e a Jesus, a reação de seus ouvintes foi acusar Jesus daquilo que eles eram. Quantas vezes também usamos essa mesma arma? Diante da exposição de que não eram verdadeiros filhos espirituais de Abraão e nem filhos de Deus [e sim do diabo], acusam Jesus de samaritano e endemoniado[7]. Só que Jesus expõe que ele não tem demônio, pelo contrário, ele honra o Pai. A evidência de que ele era filho de Deus era que ele cumpria a missão de seu Pai (42).
A última prova de que aqueles homens não eram filhos de Deus era que não honravam ao Filho. Interessante que Jesus está se referindo que para honrar o Pai, devemos honrá-lo. Ele não disse: eu honro a meu Pai, e vocês o desonram. Ele diz: Eu honro o a meu Pai, e vocês me desonram. Devemos, portanto, honrar a Jesus para sermos filhos de Deus.
3. (51 – 59) A forma de honrar Jesus é guardando a sua palavra: e isso nos leva a outra paternidade.
Meus irmãos, ser filho de Deus, diferentemente das consequências de ser filho do diabo, o homicida, nos leva a vida eterna. O resultado da liberdade em Cristo é a vida eterna. Se o salário do pecado é a morte, o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 6.23). Para isso, devemos guardar a palavra de Jesus em local apropriado: no coração regenerado. Ainda que experimentemos a morte física, o poder da morte não está mais sobre aqueles que estão unidos com Cristo, pois ele nos conduz a casa do Pai.
É interessante que os ouvintes trocaram a palavra de Jesus “verá” por “provará” (51,52), mostrando que eles entenderam que Jesus estava se referindo a morte física, e comprovando que aqueles que não são de Deus não entendem as suas palavras. Eles conferiam maior honra aos profetas que a Jesus[8]. Replicam: “És maior que Abraão, nosso pai, que morreu?” (53). Acrescentam uma espécie de “quem você acha que é?”. A resposta é que Jesus não glorificava a si mesmo (54), essa era a boa obra do Pai.
Abraão é citado por Jesus como se alegrando ao ver o dia de Jesus. Havia uma tradição judaica [9]que defendia que Abraão tinha visto os segredos da era vindoura. Alguns estudiosos veem a referência quando ele se alegrando com o nascimento de Isaque[riso] (Gn 17.17) – bem que dessa descendência é que todas as nações da Terra seriam abençoadas através de Cristo, por isso a sua alegria profética, em ver pelos olhos da fé. Também pelo caso de Abraão ter se alegrado por Deus ter providenciado o cordeiro sacrificial e substitutivo (Hb 11.13).
Espanta novamente a reação cega dos judeus: “Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão”? (57). Mas jesus dá uma resposta enfática, destacada pelo “em verdade, em verdade”: “antes que Abraão existisse, EU SOU” (58). “Eu sou preexistente a ele, eu sou Deus”, é a resposta de Jesus. Jesus não poderia ter dado uma resposta mais dramática ao afirmar sua superioridade sobre Abraão. Os judeus entenderam a relação entre a resposta de Jesus e reivindicação de sua divindade, por isso, não poderiam pensar em outro tratamento que não o apedrejamento.
Aplicações:
1. Os verdadeiros discípulos permanecem em sua palavra: ou seja: são ávidos para aprender de sua palavra [seus ensinamentos, sua doutrina]. Estão sempre prontos para ouvir alguém ensinando sobre Jesus. É verdade também que o verdadeiro discípulo pode até passar por momentos de “tempestades espirituais”, mas não abandonam a palavra. “O continuar e não o começar no cristianismo é o teste da verdadeira graça de Deus” J. C. Ryle.
2. A nossa garantia não está em nossa religiosidade. Muitos podem ter sido batizados, cear e ir a igreja, mas ignorar todas as doutrinas essenciais do evangelho. Não conhecem nada da graça ou do arrependimento. Nossa salvação está baseada não em ritos, mas “se o Filho nos libertar”.
3. Devemos ser constantemente gratos a Jesus, pois ele não apenas pagou o preço pelos nossos pecados, nem somente nos iluminou o pensamento, mas nos resgatou da escravidão do pecado. Ou seja, não precisamos nos submeter a qualquer jugo, ou cargas desnecessárias: para a liberdade fomos chamados.
4. Existe um local para as palavras de Jesus: o nosso coração. Não podemos, como cristãos reformados, menosprezar a Palavra de Jesus, ou deixa-la apenas perfilada entre os livros da estante. Ela deve estar em nós.
5. Somos feitos filhos de Deus por causa de Cristo: ou seja, devemos honrar o Filho. Para sermos adotados pelo Pai, devemos estar unidos ao filho Jesus.
6. A fé em Cristo nos garante a vida eterna: como cristãos vamos sofrer ainda a depreciação e morte dessa carne, mas não veremos a morte. Provaremos a morte, mas ela não poderá nos deter, pois Jesus Cristo venceu a morte. Ainda que tenhamos os maiores sofrimentos do mundo em nossos corpos nesta vida, temos a doce consolação de que no final das contas, nada pode separar aqueles que guardam as palavras de Jesus da vida que existe nele.
Soli Deo Gloria
[1] É interessante notar que os líderes judeus, em sua soberba, se esquecem de suas histórias de cativeiro passada e atual. [2] Ele e seus ensinamentos, pois, assim como os mandamentos, são expressões de sua pessoa. Rejeitar os mandamentos, é rejeitar a presença de Deus. Rejeitar a palavra de Jesus, é rejeitá-lo. [3]Salmo 119.11 “guardei tua palavra no coração, para não pecar contra ti”. [4] A verdadeira filiação com Abraão é a espiritual (Rm 4.11,12; Gl 3.7,29. [5] No Éden, a serpente questiona a vontade preceptiva de Deus para o primeiro casal, como se o preceito de Deus não fosse o melhor para eles, mas o preceito do diabo fosse (Gn 3.1-5). Assim, através a mentira, o diabo coopta pessoas para fazer os seus desejos. [6] A última expressão pode significar “ele é o pai de um mentiroso”. [7]Blasfêmia. [8] A mulher samaritana faz o mesmo. [9] D. A. CARSON , R. T. FRANCE , J. A. MOTYER , G. J. WENHAM. Comentário Bíblico Vida Nova.
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