A vingança cabe a Deus (Salmo 58)

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Introdução

Um salmo de lamento, como uma oração (miktam) corporativa. “Não destuas” era provavelmente o título de uma canção conhecida em que se de tocar na mesma melodia. Possui uma estrutura de Quiasmo (A: 1 e 11 falar/dizer; B: 2 e 10 mãos/pés; C: 3-9 imprecações).
Pela relação com o Salmo 57, Davi talvez ainda esteja sob a perseguição de Saul, e sofrendo [tanto ele quanto aqueles que ouvem o conselho de Deus] com os julgamentos das autoridades (ex. 1Sm 22.1-2).
O salmo tem dois alvos: os injustos e os injustiçados.

Exposição

1. A acusação da injustiça (vs. 1 e 2)

Versículo 1.
No verso primeiro esse primeiro grupo [os injustos] é apresentado como poderosos ["deuses" 'elem Sl 29.1]. É a forma como se vêem e está em contraste em como vêem o restante do povo [“filho dos homens”]. O verso levanta perguntas que serão respondidas a seguir.
A acusação consiste em que os magistrados (juízes - talvez os conselheiros de Saul) não falam com justiça nem julgam retamente. As mesmas pessoas que deveriam apresentar preocupação pela justiça diante de Deus, em vez disso elaboravam maus planos em seus corações e então agiam de conformidade com eles.
Versículo 2.
Eles são marcados pela impiedade e violência. Veja a relação boca, coração e mãos. Os problemas estão no coração (o lugar das motivações iniciais, onde as decisões são tomadas). As ações humanas não decorrem da aleatoriedade, mas antes da ação existe a trama no coração (crenças, afeições). No verso, observa-se uma cúpula dos maus.

2. A origem da maldade dos injustos (vs. 3 a 5)

Versículo 3.
Não é surpreendente que os juízes sejam maus. Eles são nascidos em pecado (Ef 4.18). O salmista traça a origem da sua maldade até o nascimento, até o útero. Davi não remete a Depravação Total necessariamente, mas quer aguçar o parecer de que são perversos desde sempre. Como Calvino se refere, são verdadeiras "Monstros da iniquidade". São semelhantes a qualquer outro indivíduo deste mundo (o juízo nunca pode ser egocêntrico, mas teocêntrico - somos todos nascidos na maldade / isso também deveria ser motivo de humildade a qualquer magistrado, pois não são menos propensos à corrupção que seus réus, devendo busca a justiça e não a demonstração de superioridade ou fazer do caso um “bode expiatório”).
É importante ver a criança como pecadora, senão parece que a Palavra de Deus não é para elas mas só para adultos. Suas corrupções estão ali.
Vejamos que por isso temos sistemas de contrapeso entre poderes para evitar que qualquer poder ou indivíduo tenha poderes absoluto. Isso vem da percepção de que o homem é pecador, limitado e que só Deus pode ser legislador, juiz e rei (Is 33.22).
Versículos 4 e 5.
Estes juízes e governantes são letais assim como a peçonha das serpentes. Como uma serpente que pode trair o adestrador que a treina cuidadosamente e não se importar.
Os juízes são surdos como as víboras (🐍), significando que não são movidos pelas vozes daqueles que lhes expões suas queixas.

3. A imprecação do salmista (vs. 6 a 9)

O salmista faz 7 imprecações [quase gráficas] até o clímax no verso 9 (quebra, arranca, desapareçam, embotem-se, diluam-se, não vejam o sol, arrebatam-se). Ele quer justiça plena. Ele se volta para o juiz que não julga imparcialmente.
Versículo 6.
A imagem do leão é comum para descrever inimigos (Sl 7.1-2). São tão poderosos, como leões, que somente Deus pode agir e lhes quebrar os dentes. “Não se pode esperar que Deus se envolva numa causa que seja indigna de defesa”.
Versículo 7.
Sejam passageiros, embora pareçam fortes, como as aguas que rugem durante as chuvas mas logo se tornam um vale seco. Que disparem suas flechas em ataque, mas que errem o alvo. Que Grande fé a de Davi, que diante das correntezas que lhe aflige, pela fé, vê a sua dissipação.
Versículo 8.
A lesma deixa seu rastro, mas ele seca brevemente, não deixando mais sinal de sua passagem ou existência. Como um bebê abortado, que existiu mas nunca se viu o seu rosto, assim sejam estes juízes iníquos. O desejo do salmista é que não se tenha memória deles.
No novo céu e na nova terra não haverá memória nem resquícios da iniquidade. O Sol da justiça queimará o rastro da maldade.
Versículo 9.
De difícil tradução, aponta para algo que em breve irá desaparecer. Como pessoas num acampamento que esperam preparar uma refeição numa fogueira recém acesa, mas que às vésperas de se alimentar um redemoinho destrói a alimentação.

4. A recompensa dos justos (vs. 10 e 11 )

Versículo 10.
A alegria do justo não está na morte do ímpio, mas em saber que a justiça cabe a Deus.
A vingança pertence a Deus (Dt 32.35, 36; Sl 94.1,2)
Deus instituiu meios de vingança já neste mundo: as autoridades constituídas. Por isso é tão sério quando elas não cumprem seu papel. Quando elas não o cumprem, temos a quem recorrer. Deus não deixará impune seus atos.
Banhar os pés em sangue é uma imagem bíblica de vitória e, no caso do salmo, o próprio justo será testemunha do julgamento de Deus - e o próprio Cristo é quem a realiza (Is 63.1–6; Ap 14.19,20; 19.13,14). No futuro os cristãos rejubilarão quando o Senhor vindicar sua glória divina por meio da vingança. É uma alegria que não olha pro lado, mas para cima (Lc 21.28). Além disso, Morgan (Morgan, Exposition, p. 242) declara que se trata de “sentimentalismo doentio e fraqueza perversa demonstrar mais simpatia pela crueldade do opressor que pela ira de Deus”.
Versículo 11.
A lição final é que mesmo diante da injustiça desse mundo vale a pena ao justo guardar a justiça. Nosso coração e o ambiente quer nos furtar e dizer que não. Mas nossos olhos [e os de todo o mundo] verão que sim. “Se dirá: Na verdade, há recompensa para o justo; há um Deus, com efeito, que julga na terra”. A recompensa do justo não é a condenação do ímpio, mas aquilo que está reservado a ele nos céus (ver 2Tm 4.8). Deus está envolvido nas coisa da terra (Tg 5.7-11).
O amor nos ensinado aos inimigos é um amor prático e não sentimental. Não nos é ordenado sentir amor pelos inimigos, mas agir com amor. Se o inimigo for encontrado com fome, lhe daremos o pão, se for apanhado em iniquidade, será digno de defesa e o justo processo legal.

Aplicações

Aplicação 1 O mal juízo é fruto de uma alienação de Deus.

Nascemos em pecado e à medida que nos distanciamos de Deus e de Sua Palavra nossos juízos também se distanciam dele. Passamos a mentir. Passamos a distorcer a realidade e chamar as coisas criadas de uma forma diferente do que Deus as chama.

Aplicação 2 Convencimento não é apenas uma guerra argumentativa

Até porque para ouvir verdadeiramente é necessário uma disposição do coração. Pelo pecado, nossos ouvidos estão fechados para a Palavra de Deus, até que nosso coração seja alcançado (Jr 13.23, Mt 19.25,26).

Aplicação 3 O lugar da imprecação É quando o nosso coração é movido pela justiça da Palavra de Deus

Há um lugar para a imprecação [linguagem hiperbólica de juízo/maldição]. Mas é necessário lembrar que nossos inimigos não são os inimigos nacionais (como Davi ou Israel, pois os inimigos da igreja não são inimigos militares/civis), nem os de uma ideologia contrária, nem de outro partido, nem outra religião. A imprecação nasce em orações diante de uma tremenda perturbação emocional derivada da severa opressão. Não nascem em planejamentos ou maquinações. Ela não leva à justiça com as próprias mãos, nem é movida pelo interesse próprio, mas pelo zelo com a honra de Deus.

Aplicação 4 A vingança pertence a Deus

Este zelo reconhece que o próprio Deus é quem pode realizar justa vingança (Lv 19.18). Inclusive ele também discerne se nosso pedido de justiça é realmente justo (Sl 139.19-24). A sabedoria ensinava que ao Senhor cabe a vingança, a nós cabe o agir com amor (Pv 25.21-22; Rm 12.9; 20-21).

Aplicação 5 A vingança deve estar no coração dos santos

Logicamente que não nos referimos a todos os tipos de vingança, mas a que pertence a Deus. Esta deve estar no nosso coração. É salutar termos receios sobre o desejo de vingança, devido a:
egolatria: de achar que o mundo gira em torno de si, e que deve ser vingada toda ofensa contra si.
falta de amor: quando não nutrimos intencionalmente amor pelos piores deste mundo. O desejo de justiça e a sua própria aplicação não podem ser barreiras para a anunciação do evangelho, que livrará do tribunal mais importante, o de Deus.
falta de santidade: por termos diluído tanto as fronteiras da maldade que não temos a reação correta diante do abuso, da atrocidade, diante do assassinato de inocentes. A imprecação está nos santos dos céus (Ap 6.9-11). Quem não odeia a maldade é indiferente ao juízo de Deus e não pode orar “até quando?”.
Se nosso coração está no lugar certo, haverá o desejo pela justiça de Deus em todos seus aspectos. O anseio pela justiça divina acompanha a intensidade de nossa santificação. Não há lugar para a soberba, pois Cristo recebeu sobre si a “vingança” pelo pecado. Estamos em paz com Deus.
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