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INTERPRETANDO A BÍBLIA HOJE
INTERPRETANDO A BÍBLIA HOJE
Isaltino Gomes Coelho Filho
Há uma terrível mistura doutrinária no cenário evangélico contemporâneo. Isto é tão óbvio que dizê-lo soa banal. Mas tenho que começar por aqui. A multiplicidade de igrejas neopentecostais autônomas, isto é, desvinculadas de qualquer denominação, sem quaisquer outras como parâmetro, e cultivando uma postura monárquica e arrogante ("Deus nos levantou como único porta-voz da sua Palavra") liquidou a possibilidade de uma interpretação bíblica no cenário evangélico que se possa chamar de uniforme. Tempos atrás recebi um e-mail zangado de uma pessoa que discordava de uma interpretação que fiz no Antigo Testamento. Discordar de mim é um direito e é até normal. Mas o que me intrigou foi o título que a pessoa se atribuiu: "rabino judaico-cristão". Em resposta a ele apenas perguntei o que era um "rabino judaico-cristão" e quem era Jesus para ele. Não me veio resposta.
Usa-se muito a Bíblia, mas isso não é garantia alguma de que o usuário está certo. Isto traz certa confusão, pois estão acontecendo muitos equívocos na interpretação bíblica que desnorteiam nossas igrejas, tanto na doutrina como na prática. Neste trabalho quero abordar alguns aspectos que nos ajudarão a entender um pouco mais esta questão.
1. O Mau Uso da Bíblia.
No artigo "Reflexões sobre o púlpito brasileiro" mencionei um pregador que pregou contra o parto cesariana sem dor, com base em Gênesis 3.16 ("com dor darás à luz filhos"). Uma senhora da sua igreja contra-argumentou, lembrando que ele tinha ar-condicionado no gabinete e a Bíblia diz "No suor do teu rosto comerás o teu pão". Outro pregou contra a prática de esportes, baseando-se em 1 Timóteo 4.8: "o exercício corporal para pouco aproveita". Um outro pregou em 2 Samuel 11.2 ("E viu do terraço a uma mulher que se estava lavando"). Falou contra a televisão. Nela, vemos o que não devemos ver. Veio um outro e pregou sobre "e todo olho o verá" (Ap 1.7) e mostrou o valor da televisão via satélite. E aí, compro televisão ou não? Essas questiúnculas ridicularizam a Bíblia. Seu uso deve ser coerente e obedecer a certos parâmetros. A Bíblia deve ser respeitada e nunca usada para autorizar esquisitices.
As questões do parágrafo acima podem até ser vistas com certa dose de humor, mas o que dizer de pregadores que usam a Bíblia para enviar recados aos discordantes, que se valem do sermão para fortalecer sua posição ("sou o ungido do Senhor, quem estende a mão contra mim morre") e para a obtenção de vantagens pessoais? E o que dizer de exegeses muito mais discutíveis, algumas até mesmo falsas? Hagin, em seu livro O Extraordinário Crescimento da Fé, tenta provar uma tese bem discutível, de que fé é fazer as coisas acontecerem. Usa o texto de Hebreus 11.1 ("Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem" - esta é a versão empregada em seu livro). Não tendo como provar seu argumento, que segue na linha das seitas metafísicas de Boston, de que a palavra humana faz as coisas acontecerem, emite a seguinte observação: "Ainda outra tradução diz: 'A fé é certidão da garantia, a coisa em que esperamos até ao fim acaba sendo nossa'". Esta declaração confirma a posição de Hagin, mas não é bem isto que o texto grego quer dizer, aliás bem visível nas traduções. Mas a palavra de Hagin me suscitou uma questão. Anotei ao lado, no livro: "Que tradução é esta?". Se ela realmente existe, por que não a identifica?
Em outras ocasiões, vemos com abundância o uso de versículos fora do contexto, de passagens sem conexão com o todo da Bíblia, no que chamamos de "leitura fragmentária", e a ignorância do contexto cultural. Pode-se usar a Bíblia e ainda assim estar errado. Citar a Bíblia não é garantia de se estar certo. Quando questionei um mórmon sobre poligamia, ele respondeu biblicamente, com os exemplos de Abraão, Isaque, Jacó, Davi e outros. Certa vez, em Brasília, uma senhora me interpelou, em um estudo bíblico, discordando de posição que eu expunha. Quando fiz a exegese do versículo (e fiz de maneira correta), ela respondeu que não aceitava o que eu estava fazendo. Eu estava torcendo a Bíblia. Ela não queria saber de grego e hebraico nem de voltinhas hermenêuticas para justificar posição. Ela era literalista. O que estava escrito devia ser lido como estava e obedecido como estava. Então eu lhe disse que se sentasse, ficasse calada, nada dissesse, e deixasse para perguntar em casa (não na igreja) e ao marido (não a mim). Porque está escrito na Bíblia: "As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja" (1Co 14.34-35). A interpretação bíblica sem análise do contexto cultural e exegético, como ela queria, me autorizava a agir assim. Cuidado, portanto, com versículos sem conexão com o todo e sem o uso de regras hermenêuticas, para provar posições.
2. O Abandono da Bíblia como Normativa.
O mais gritante mau uso da Bíblia está na forma de exposição que lhe tira o caráter de normativa e a deixa como indicativa, apenas. Esta utilização da Bíblia vem se tornando cada vez mais comum no cenário evangélico, principalmente entre os neopentecostais. E vem sendo assumida por igrejas batistas. Por ignorância de regras de hermenêutica e pela vontade de terem autoridade em suas posições, não querendo correção, mas apoio, muitos pastores adotam tal postura. Isto é sério. É um péssimo uso da Bíblia. As pessoas não querem se subordinar a ela, mas querem que ela se subordine às suas ideias. Ora, na perspectiva fragmentária podemos usar a Bíblia para suporte do que quisermos... E na forma indicativa, ela deixa de ser Palavra de Deus e se torna um depósito de cenas, histórias e eventos que podemos alegorizar como quisermos, para as campanhas que idealizarmos. Com isto, a historicidade do evento perde seu impacto. O valor não é mais o que Bíblia diz, mas é como a Bíblia autoriza minha visão de vida. Isto é um perigo pois o caráter de Escritura Sagrada se esvai e a Bíblia se torna apenas um depósito de histórias, com lições alegorizadas, podendo ou não ser real.
Quando dizemos que ela é normativa, estamos apenas explicitando o que diz a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira: "A Bíblia é a
autoridade única em matéria de religião, fiel padrão pelo qual devem ser aferidas a doutrina e a conduta dos homens". Isto é ser normativa. Ela é a nossa norma de fé e prática. Ela é o padrão aferidor e seu caráter é autoritativo. Ele deve reger e analisar nossas posições, devendo ser entendida globalmente. Ela é um todo e assim deve ser entendida. Uma parte só pode ser entendida à luz do todo, e é o todo que interpreta a parte, e não o contrário.
As denominações neopentecostais afirmam-na como regra de fé e prática, mas usam-na como indicativa. Ela apenas indica, em algumas passagens, algumas práticas do grupo. Ela não é autoritativa. A autoridade final, em termos de decisão, é a palavra do líder ou do dono do grupo. Geralmente sua autoridade é legitimada por ser "apóstolo", "primaz" e coisa parecida. Em termos de doutrina e prática, a autoridade são sonhos e revelações. Mas a autoridade do dono da seita é tão grande que Jorge Tadeu, da Igreja Maná, "se autodenomina Apóstolo e escreve cartas semanais aos seus pastores com o título de 'St.' (São) Jorge Tadeu. Um dos pastores dissidentes garante: 'Hoje, a palavra de Jorge Tadeu na igreja Maná é equiparada à Palavra de Deus'". Ainda Paulo Romeiro nos cita uma declaração, registrada na revista Visão, de Portugal (10 a 16 de fevereiro de 1994), nestes termos: "Temos de deixar a nossa religiosidade no chão para sermos mais utilizados por Deis. Recebi isto por revelação divina: Deus me disse que hoje o Senhor permite que um homem tenha várias mulheres, desde que com isso sirva mais a Deus". Jorge Tadeu alega pregar a Bíblia, que é contra a poligamia, mas a autoridade não é dela. É dele.
Na perspectiva indicativa, a Bíblia serve apenas de suporte e apoio para práticas que o grupo venha a assumir, na orientação de sua liderança. Ela não rege as ideias, mas apenas dá suporte às ideias. Esta questão deve nos alertar. Que uso fazemos da Bíblia? Ela é autoritativa para nós, que assim crendo procuramos entendê-la globalmente, ou é indicativa, sendo usada em frases e versículos soltos, legitimando posições? Usamo-la para analisar nossas práticas ou pegamos trechos seus para validar o que queremos?
3. O Critério Hermenêutico para Uso da Bíblia.
Nesta apostila segue um anexo intitulado "Uma nova reforma" para o qual peço sua atenção. Por favor, leia-o com atenção. Nele menciono algumas formas de desvio na interpretação das Escrituras. Assim, posso me centrar no critério correto. Temos um princípio hermenêutico chamado "revelação progressiva". Isto significa que Deus se revelou progressivamente aos homens. Não significa sair do erro para a verdade, mas do obscuro para o claro. Se a revelação é progressiva, isto é, caminha para frente, deve haver um ponto final. E há. É o clímax. Lemos em Hebreus 1.1-2: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo". A palavra final de Deus foi dada por Jesus Cristo. Ele é o ponto final, a chave hermenêutica para se entender toda a Bíblia.
Isto nos faz entender claramente que o Novo Testamento, o ensino sobre Jesus, é a palavra final. O Novo interpreta o Antigo. Lemos em Lucas 16.16: "A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele". O tempo antigo passou. Quando Pedro, na transfiguração, equiparou Moisés e Elias a Jesus, colocando-os como dignos de atenção, Deus interveio. Retirou Moisés e Elias de cena, e declarou: "Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o" (Mt 17.5). A Igreja não ouve a Moisés e a Elias, e sim a Jesus. Quando pregamos no Antigo Testamento devemos ter isto em mente: que aspecto de Jesus este texto mostrará? Pois a pregação da Igreja deve ter Jesus como tônica. Neste sentido, a interpretação bíblica que faça Jesus desaparecer ou ficar em segundo plano é equivocada.
O uso correto da Bíblia é este: o Novo Testamento é a revelação final de Deus, sendo Jesus "o cânon dentro do cânon", como Lutero gostava de dizer. Isto é aceito pela nossa Declaração Doutrinária: "Ela (a Bíblia) deve ser interpretada sempre à luz da pessoa e dos ensinos de Jesus". "Isto é óbvio!", dirá alguém. Mas nos chama a atenção para dois pontos. O primeiro é que devemos estar atentos à tentativa de rejudaizar a teologia cristã, como temos visto. Evito-me de mais tempo aqui, pedindo que leiam o anexo aludido anteriormente, "Uma nova reforma", principalmente o tópico "A rejudaização, um produto tanto teológico quanto comercial". O segundo é que se Cristo é o cânon dentro do cânon e a palavra final de Jesus, temos que ser muito reticentes quanto às revelações que surgem amiúde no cenário evangélico. Já citei o episódio de Jorge Tadeu, mas outros, tão ruins quanto aquele. Segundo o movimento neopentecostal, vivemos na "era do Espírito". Um exemplo bem claro disto vemos na logomarca da Universal do Reino de Deus. Não é mais uma cruz, tipificando o ministério de Jesus. Nem uma Bíblia, tipificando a revelação total de Deus. É uma pomba, tipificando o Espírito. Neste sentido, a revelação, obra do Espírito, continua. A Bíblia é um depósito de experiências religiosas que pode ser interpretada como se deseja, principalmente pelas novas revelações, que a ultrapassam.
É preciso considerar que há um equívoco entre dois conceitos: livre exame das Escrituras e livre interpretação das Escrituras. O livro exame das Escrituras é um direito pela qual a Reforma se bateu e que nós sustentamos. Todos têm o direito de examinar as Escrituras, de estudá-la. Mas ninguém pode alegar-se o direito de interpretá-la como quiser. Ao examinarmos a Bíblia, descobrimos que Jesus vai voltar. Isto é livre exame. Todos podem ler a Bíblia, e ler nela sobre a segunda vinda de Jesus. Na obra citada de Paulo Romeiro, ele transcreve um sermão de Valnice Coelho, em que ela marca a volta de Jesus para 2007. Ela tomou a palavra de Jesus "não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam", aplicou esta frase à geração que viu Israel retomar Jerusalém (1967), afirmou que uma geração dura 40 anos, e somou 1967 mais 40 e chegou a 2007. E disse, textualmente: "Deus me trouxe isso no espírito agora em Israel quando eu estava às margens do Jordão". Agora, ela saiu do livre exame para a livre interpretação. Qual a base para se dizer que o versículo citado se aplica à geração que viu Jerusalém voltar às mãos dos judeus? Qual a base para se dizer que uma geração dura 40 anos? E o que fazer desta declaração de Jesus: "Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai" (Mc 13.32). Nem Jesus sabe, mas uma pessoa, interpretando a Bíblia como quer, ultrapassa Jesus. Pelo menos já sabe o ano. A livre interpretação é uma postura arrogante. Nunca, jamais, em tempo algum, alguém viu na Bíblia o que aquela pessoa vê, agora. Ela se coloca como fonte autorizada e continuada da revelação divina. Despreza toda a herança teológica de 2.000 anos de cristianismo. Ela ultrapassa a própria Bíblia.
Uma questão mais: o movimento neopentecostal tem confundido a psiquê, a interioridade humana, com o ruah, o Espírito do Senhor. Assim, o que a pessoa sente passa a ser verdade. Como se ouve a frase: "Eu senti em meu coração!". Isto não quer dizer nada. Quando eu tinha 18 anos senti no meu coração que deveria me casar com a cantora Wanderléia. Ela nem sabe que eu existo. E me casei melhor do que se tivesse casado com ela. Os próprios crentes tradicionais têm confundido seu íntimo com a voz de Deus. Devemos nos lembrar de Jeremias 17.9: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?".
Essa atitude é perigosa. Ela internaliza a verdade, coloca a verdade dentro de nós, ao invés de colocá-la como externa a nós. Neopentecostais se valem deste recurso, e assim confundem sua voz interna com a voz do Espírito. Não estou divagando. Estou chamando a atenção para um perigo: tirar a fonte de autoridade das Escrituras e colocar na pessoa (peço, mais uma vez, que leiam a matéria "Uma nova reforma").
4. Uma Volta à Bíblia.
Uso um trecho, um pouco longo, de um trabalho que apresentei, sob o título "Sou batista! Tenho uma identidade!". É um tópico sobre a nova hermenêutica. Dispenso as aspas porque sou o autor das ideias a seguir:
A nova hermenêutica é o aspecto mais preocupante no uso das Escrituras. Com a Igreja Católica, a fonte de autoridade era a Igreja, subsidiada pela Tradição e pelo Magistério. Lutero tirou a fonte de autoridade da Igreja e a colocou na Bíblia. O movimento pentecostal a tirou da Bíblia e colocou na experiência. O movimento neopentecostal está construindo outro eixo hermenêutico: a de gurus, de pessoas com mais experiência com Deus. É o início de um retorno ao eixo católico. Isto vai trazer consequências danosas para o evangelho, mais à frente, embora já esteja trazendo agora. É que nesta postura, a Bíblia fica subordinada às declarações humanas. Em vez de reger a teologia da igreja, ela passa a ser explicada pela teologia da igreja. Esta nova hermenêutica é muito perigosa porque além de mudança de eixo mudou também o critério de interpretação.
No protestantismo histórico e entre os evangélicos históricos, o critério de interpretação da Bíblia sempre foi a pessoa de Cristo, com base no conceito de na revelação progressiva, que depreendemos bem de Hebreus 1.1-2. É o Novo Testamento que interpreta o Antigo e este não pode se sobrepor ao Novo. Hoje o critério de interpretação é o Espírito Santo. Um pastor neopentecostal dizia pela televisão que "Jesus é o canal para nos trazer o Espírito Santo". Antes era o Espírito Santo quem nos levava a Cristo. Agora Cristo nos traz o Espírito. Cristo é o meio para se chegar ao Espírito, que é o final. A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, não tem a cruz como seu símbolo, mas uma pomba, significando o Espírito Santo. É a chamada "onda do Espírito", que é, na realidade, uma pretensão à nova revelação. É aqui que reside o perigo maior: o Espírito Santo é um eufemismo para as impressões pessoais do intérprete, que se tornam uma palavra inspirada. O que ele acha é revelação do Espírito.
Assim, a Bíblia deixa de ser normativa e passa a ser indicativa. A normativa é a palavra do líder. O uso que as campanhas da Universal fazem das Escrituras, particularmente o uso do Antigo Testamento, mostra isso. A Bíblia apenas legitima as práticas do grupo, em vez de regê-las. E o Espírito Santo se tornou propriedade dos iluminados da seita. O Espírito Santo fala quando alguém, líder, "sentiu" uma nova verdade. Na nova hermenêutica, o sentir vale mais que o que é, o que está escrito. Jesus é uma pessoa histórica, objetiva, e seu ensino está na Bíblia. O Espírito Santo não é uma pessoa histórica, embora seja uma pessoa, e seu ensino passa a ser o que as pessoas sentem. Isto cria um clero, pessoas especiais, com revelações do Espírito. Há, então, um clero que determina o credo e a prática para o povo. Tanto que muitos desses grupos não ligam a mínima para educação religiosa, EBD, etc.. Basta-lhes um salão para realizar seus cultos, carregados de emoção e muitos deles manipuladores das pessoas.
Esta nova hermenêutica tem privilegiado o domínio de revelações, visões e sonhos sobre a Bíblia. Uma pastora neopentecostal dizia, pela televisão, ter um mapeamento das potestades demoníacas. Quem era o demônio regente de cada território, os chamados demônios territoriais. Quando perguntada sobre onde conseguiu isto, disse com toda simplicidade que foi de demônios postos sob juramento. Não sei se um demônio mesmo jurando estará dizendo a verdade. Mas me impressiona que uma pessoa diga com todas as letras que está ensinando uma revelação de demônios e as pessoas que a ouvem ainda exultem com isso.
Nossa identidade batista parte daqui: zelo pelas Escrituras. Nada de mais nada de menos. Quando ela fala, nós falamos. Quando ela cala, nós calamos. Todo material que produzimos, toda e qualquer postura eclesiológica, devem ser avaliados por ela. Não é se deu certo em algum lugar ou se está enchendo alguma igreja em algum lugar, ou se foi proferida por algum teólogo ou pastor muito consagrado e zeloso pela doutrina, mas se não colide com a Bíblia. Aliás, todas as heresias nasceram de pessoas muito espirituais e zelosas. Não de mundanos. É o que Paulo disse dos judeus: "têm zelo de Deus, mas não com entendimento". O entendimento das Escrituras é fundamental para uma denominação sadia.
Até a última linha, o trecho da palestra. Agora, a questão, como ter uma hermenêutica sadia, uma volta à Bíblia. Atrevo-me a alistar algumas sugestões;
1. Reconhecendo-a como normativa, autoritativa, palavra última, definitiva e cabal de Deus. Não há o que lhe acrescentar.
2. Trazendo os ensinos humanos ao seu crivo, subordinando-os a ela. Todo profeta, todo pregador, deve ser avaliado à luz das Escrituras. Se ele falar e não se cumprir, ele é falso (Dt 18.22). Se ele falar, cumprir-se o que ele falar e ele desviar o povo da Palavra, deve ser morto (Dt 13.1-5). O padrão é sempre a Palavra falada de Deus.
3. O bom senso recomenda que se fuja das interpretações que jamais alguém viu, do ineditismo. Quem se coloca sob holofotes deve ser rejeitado imediatamente.
4. Os batistas não surgiram ontem e têm uma herança teológica coerente, uma teologia fechada (no sentido de ser completa, de abarcar todas as áreas da vida). Cuidado com visões fragmentárias, em que toda a Bíblia é analisada à luz de uma parte.
5. Cuidado com o experiencialismo, aquela atitude em que as experiências humanas são válidas e julgam a Bíblia. É a Bíblia que deve julgar nossas experiências, e não o oposto. A ordem é FATO > FÉ > EMOÇÃO. Existe um FATO: Deus e sua Palavra. Eu tenho FÉ neste fato. Como consequência de minha FÉ neste FATO experimento a EMOÇÃO de ser salvo, de ter direção na minha vida etc. Quando a ordem é invertida, em vez da Bíblia reger minha vida, minha vida rege a Bíblia. Isto é uma variação da neo-ortodoxia: a Bíblia se torna a Palavra de Deus pela minha experiência.
6. Como consequência, o ensino bíblico criterioso, a hermenêutica correta e a exegese bem-feita devem ser objetos de estudo do pastor, para alimentar sadiamente sua igreja.
Conclusão.
Terminar é mais difícil que começar. Mas espero terminar de maneira pelo menos satisfatória. Tenho visto que o ensino da Bíblia tem sido feito de maneira espetaculosa e pouco sóbria. Não quero ser juiz, mas por vezes, assistindo programas evangélicos na televisão, surpreendo em ver a Bíblia sendo esgrimida, mas pouco dela aparecendo, e muito do pregador sendo mostrado. Lembro-me de uma antiga oração dos crentes, pedindo pelo pregador: "Esconde o teu servo atrás da cruz de Cristo". Bonita oração! Parece-me que hoje se ora assim, em alguns círculos: "Esconde a cruz de Cristo atrás do teu servo!". Quem deve brilhar é a Bíblia. Se os trejeitos do pregador brilham mais, se ele chama a atenção para suas ideias, de modo que elas brilhem, e não a Palavra, algo está errado. Disse o Batista sobre Jesus: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (Go 3.30). O bom uso da Bíblia é aquele em que o pregador diminui e ela cresce. O povo aprende da Bíblia. Quando aprende das ideias do pregador, algo está errado.
Isto não é hermenêutica, mas o princípio vale. A boa hermenêutica é aquela em Jesus brilha, a cruz resplandece, Deus é glorificado. Se a esquisitice triunfa e o culto à personalidade aparece, fuja do esquema. A síntese é esta: quando examinar a Bíblia, procure por Jesus em suas páginas. E veja o que sua vida deve absorver do estudo. Se a exegese, produto da hermenêutica, destoa do ensino da Igreja, do testemunho dos séculos, fique desconfiado. Até mesmo de si próprio. Nenhum outro fundamento pode ser posto: "Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo" (1Co 3.11). É bom firmar as raízes no que conhecemos.
REVELAÇÃO E O REVELADO: JESUS NA BÍBLIA.
REVELAÇÃO E O REVELADO: JESUS NA BÍBLIA.
Michael Lawrence
(1) A revelação de Deus é progressiva.
A Bíblia é tanto o registro dos atos salvadores de Deus quanto a explicação deles e, portanto, tem necessariamente um caráter histórico progressivo.
(2) A revelação de Deus não é apenas progressiva; é fundamentalmente histórica em seu caráter.
A Bíblia, portanto, não é meramente uma história contada por humanos sobre a salvação que Deus lhes dá; é uma história encenada e depois explicada por Deus sobre Deus. há um foco em Deus em tudo isso, pois Deus objetivamente e concretamente invade a história humana e age para redimir seu povo para sua própria glória. Assim, na teologia bíblica, falamos de história da redenção.
(3) Há uma natureza orgânica na revelação progressiva de Deus e em seu plano redentor.
É esse caráter da revelação que nos ajudará a entender o caráter tipológico da Escritura, a dinâmica de promessa e realização, e a presença de continuidade e descontinuidade na história da redenção.
(4) A revelação de Deus na história, e, portanto, a teologia bíblica, é prática.
Se a revelação é a história dos atos salvadores de Deus, uma história que se inicia no começo e termina no final, então é uma história que contém nossas vidas e nossa era e é, portanto, extremamente prática.
Teologia Bíblica:
Geerhardus Vos: A teologia bíblica é o ramo da teologia exegética que lida com o processo de autorrevelação de Deus depositado na Bíblia.
Don Carson: A teologia bíblica procura descobrir e articular a unidade de todos os textos bíblicos considerados juntos, recorrendo principalmente às categorias desses textos em si. Ela faz afirmações sintéticas sobre a natureza, a vontade e o plano de Deus na criação e na redenção, incluindo, portanto, também a natureza, o propósito e a história da humanidade.
Tom Schreiner: A teologia bíblica pergunta quais temas são centrais para os escritores bíblicos em seu contexto histórico e busca discernir a coerência de tais temas.
Steve Wellum: A teologia bíblica afirma que ler a Bíblia como Escritura unificada não é apenas uma opção interpretativa entre outras, mas a que melhor corresponde à natureza do próprio texto, por sua inspiração divina. Como tal, (a teologia bíblica) como disciplina, não apenas fornece a base para a compreensão de como os textos em uma parte das Escrituras se relacionam com todos os outros textos, mas também serve como base e suporte para todas as teologizações.
Michael Lawrence: A teologia bíblica é a tentativa de contar toda a história de toda a Bíblia como Escritura cristã. É uma história, portanto, que tem autoridade normativa em nossas vidas, porque é a história da glória de Deus na salvação por meio do julgamento.
Introdução a Teologia Bíblica
Introdução a Teologia Bíblica
Graeme Goldsworthy
Começamos e terminamos com Cristo:
A teologia bíblica nos capacita a descobrir como qualquer texto da Bíblia se relaciona conosco. Tendo em vista que Cristo é o ponto de referência fixo para a teologia, nosso interesse é em como o texto se relaciona com Cristo e como nós estamos relacionados com Cristo. As duas questões nos dirigem para o modo que Cristo entendia o evangelho. Ele o enxergava como o cumprimento do Antigo Testamento e a chegada do reino de Deus, que exige nossa submissão. Esse evangelho nos indica os aspectos da Bíblia que a teologia bíblica observa constantemente. São eles a literatura, ou as palavras do texto; a história, ou a narrativa bíblica; e a revelação transmitida por esses aspectos. A teologia bíblica começa com a palavra acerca de Cristo e procura entender de modo o testemunho do Novo Testamento se relaciona com tudo o que Deus revelou no Antigo Testamento. Cristo nos oferece o padrão subjacente da teologia bíblica porque ele revela o interesse central da Bíblia na relação de Deus com a sua criação e, especialmente, com a humanidade.
A palavra de Deus a nós na Bíblia é mediada por Jesus Cristo. Não há nenhuma palavra direta do Pai a mim ou a você. Todas as palavras do Pai chegam a nós por intermédio da pessoa e da obra de Jesus. Até as palavras do Antigo Testamento são mediadas por Cristo, uma vez que só entendemos o que Deus nos está dizendo com elas quando as vemos cumpridas em Cristo. Somado a isso há o fato de que a relação de Jesus com o Pai é a relação com o Pai que compartilhamos com ele; somos coerdeiros com Cristo (Rm 8.17). Todos os fatos do universo, incluindo os fatos da Bíblia, têm de ser interpretados à luz da revelação de Deus em Jesus Cristo.
Teologia não é apenas saber sobre Deus, mas conhecê-lo. Para conhecer a Deus, precisamos ter restabelecida a amizade com ele. Em outras palavras, fazemos teologia bíblica como cristãos, não como observadores neutros. Por meio da pregação do evangelho, fomos trazidos para a fé em Jesus Cristo. Cristo vence nosso coração e nossa mente rebeldes para que o adoremos como Senhor. Nosso único conhecimento de Cristo provém das Escrituras, e elas dão testemunho unificado dele. A Bíblia é o livro acerca de Cristo inspirado pelo Espírito Santo. Deus garantiu que a Bíblia dá testemunho infalível de Cristo. A teologia bíblica, portanto, concentra-se em Jesus Cristo como o revelador e salvador. A fim de entender a Bíblia, iniciamos pelo ponto em que começamos a conhecer a Deus. Começamos com Jesus Cristo e observamos todas as partes da Bíblia em relação a ele e sua obra salvadora. Isso se aplica tanto no Antigo Testamento quanto ao Novo.
Sobre o conteúdo de sua mensagem, Jesus nos diz que o tema central é a chegada do reino de Deus. o quanto o reino está próximo e o que a chegada dele significa são o tema das narrativas dos Evangelhos e do Novo Testamento como um todo. Jesus ter anunciado o reino sem explicar o que ele quis dizer com isso dá a entender que ele falava de uma ideia já existente na mente dos judeus.
O fato de Deus ter planejado um reino de pecadores redimidos indica outro tema muito importante para a teologia bíblica: a aliança. Esse é um conceito bíblico que se refere essencialmente ao compromisso de Deus com o seu povo e que Jesus é apresentado como a renovação da aliança do Antigo Testamento mediante o evento do evangelho. Começamos com Cristo porque somos redimidos segundo a nova aliança. Todas as outras menções de aliança na Bíblia devem ser entendidas em relação à nova aliança em Cristo.
Uma vez que Cristo é a síntese de toda a revelação bíblica, o que é revelado dele rege o nosso modo de fazer teologia bíblica. Jesus de Nazaré é a mais plena autorrevelação de Deus à humanidade. Ele traz plena luz ao que, desde o início, foi apresentado no Antigo Testamento como sombra. Embora Cristo seja o cumprimento e a realidade concreta, ele não pode ser entendido isoladamente das promessas e sombras do Antigo Testamento.
DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA TBNT
DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA TBNT
George Ladd
O Cristianismo, desde o seu início, focalizou principalmente a pessoa de Cristo, antes que os seus ensinos. Essa pessoa sempre ocupou o primeiro plano, o que muito natural, especialmente nas epístolas do apóstolo Paulo, onde se encontram doutrinas tão maravilhosas acerca da pessoa de Cristo. Isto, porém, em nada pode diminuir a grandeza do corpo de doutrinas que Cristo mesmo ensinou. Este exame ligeiro das ideias que constituem o mundo intelectual e religioso em que Jesus esteve, mostraram quão ingrata era a terra em que Ele havia de lançar as sementes do verdadeiro Reino de Deus. Não é de admirar, pois, o não ser compreendidas pelo povo.
DEFINIÇÃO.
Teologia do Novo Testamento é o ramo das disciplinas cristãs que seguem determinados temas através de todos os autores do NT, e que depois funde esses quadros individuais num só conjunto abrangente. Estuda, portanto, a revelação progressiva de Deus em termos da situação vivencial na ocasião da escrita, e depois delineia o fio subjacente que une todos os dados.
A HISTÓRIA DA TEOLOGIA NO NOVO TESTAMENTO.
Analisaremos o processo progressivo da Teologia do NT, no transcorrer da história.
A Idade Média. Durante a Idade Média, o estudo bíblico esteve completamente subordinado ao dogma eclesiástico. A teologia Bíblica foi usada apenas para reforçar os ensinos dogmáticos da Igreja, os quais eram fundamentados na Bíblia e na tradição da Igreja. A Bíblia era interpretada pela tradição histórica e a Igreja a considerava como fonte da teologia dogmática.
A Reforma. Os reformadores reagiram contra o caráter não Bíblico da teologia dogmática e insistiram em que a teologia deve estar fundamentada apenas na Bíblia. Berkhof1 diz que o lema dos reformadores era: "A Igreja não determina o que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras determinam o que a Igreja deve ensinar". O princípio fundamental era: "Scriptura Scripturae interpres, isto é, a Escritura é intérprete da Escritura".
Escolasticismo Ortodoxo. Os resultados obtidos pelos estudos históricos da Bíblia, realizados pelos reformadores, logo se perderam no período imediatamente após a reforma, e a Bíblia foi mais uma vez utilizada sem uma perspectiva crítica e histórica, para servir de apoio à doutrina ortodoxa. A história foi completamente absorvida pelo dogma e a filologia tornou-se um ramo da dogmática.
VALOR E NECESSIDADE DA TBNT
VALOR E NECESSIDADE DA TBNT
A palavra teologia vem do grego Theós (Deus) e Lógos (linguagem que encerra ideia, palavra). Assim, teologia vem a ser ideia de Deus ou ideia a respeito de Deus... no sentido da linguagem elaborada, de um sistema de conhecimentos resultantes de estudo.
A teologia alcança ao mesmo tempo o divino e o humano, o espiritual e o social, o eterno e o temporal: A teologia preocupa-se em estudar Deus ...
A Teologia do Novo Testamento é o estudo que enfatiza e soletra o conteúdo do Novo Testamento do ponto de vista teológico. ...a teologia neotestamentária tem de pressupor o trabalho do exegeta para proporcionar os detalhes de interpretação de um texto. A Teologia Bíblica difere, também, da Teologia Sistemática. Esta trata mais sistematicamente e compreensivamente de doutrinas como Deus, homem, pecado e salvação. A Teologia Sistemática está interessada em relatar os materiais tanto bíblicos quanto perspectivas históricas para o tempo moderno. A Teologia Bíblica defere da Teologia Histórica e da História Eclesiástica sendo um prólogo ou primeiro capítulo para estas. A Teologia Bíblica deve proporcionar as normas pelas quais as outras podem ser avaliadas. (Dr. Broadus Hale)
A Teologia bíblica estuda a Bíblia e organiza as conclusões obtidas pela Teologia exegética (que usa técnicas como a exegese para interpretar a Bíblia) em várias divisões e áreas de estudo, com a finalidade de estudar e conhecer a evolução ou a história progressiva da Revelação de Deus à humanidade, desde da sua queda e passando pelo Antigo Testamento e Novo Testamento.
A Teologia Bíblica, ao contrário da Teologia Sistemática, é indutiva, isto é, a partir da pesquisa exegética faz afirmações, ou seja, parte do específico para o geral. De um modo geral, a Teologia Bíblica parte da exegese de textos bíblicos como afirmação primeira, daí elaborando afirmações decorrentes.
A Teologia Bíblica divide-se em:
Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Nesta parte, os teólogos bíblicos dão especial ênfase às profecias e indícios revelados no Antigo Testamento relativos à vinda e missão de Jesus Cristo, o Messias;
Teologia Bíblica do Novo Testamento.
Classificação da Teologia.
Não há uma Teologia Bíblica unificada, o que há são diversas teologias das tradições bíblicas. Mesmo no Antigo Testamento, encontram-se as teologias dos livros históricos, e estas ainda se subdividem em outras teologias de acordo com o método de pesquisa empregado, também se encontram a teologia dos escritos proféticos e dos escritos sapienciais. No Novo Testamento há a teologia de Mateus, de João (Jo, 1Jo, 2Jo, 3Jo, Ap), de Paulo (Cartas Paulinas), de Lucas (Lc e At).
1. Teologia naturalista ou teodicéia (melhor termo).
É a busca pelo conhecimento divino utilizando-se do meio de observação humana da natureza e da racionalização humana.
2. Teologia Sistemática.
É a organização dos fatos teológicos, na forma de um sistema racional; tendo como fontes: a revelação e a filosofia e várias outras ciências como a antropologia e a etnografia.
3. Teologia Bíblica (Teologia Exegética ou Positiva).
Tendo como fonte exclusiva as Escrituras. Estabelece os fatos teológicos, tendo como pontos de vista a Revelação, historicidade e experiências.
O teólogo alemão Hans-Joachim Kraus aborda no livro Die Biblische Theologie esta problemática das múltiplas tradições e teologias bíblicas.
A Teologia Bíblica define-se basicamente Teologia Bíblica do Novo Testamento.
Objetivo específico é o de conhecer Deus através da pessoa de Jesus como a imagem de Deus invisível (Col. 1.15).
Visa também conhecer as experiências dos cristãos sob a influência dinâmica do Espírito Santo, e interpretar suas novas atitudes, em função da nova vida (regenerada) que alcançaram.
Basicamente, é a busca por conhecer as Escrituras do Novo Testamento de maneira especializada, tendo-a como a única fonte confiável, infalível e última na formação do corpo de doutrinas cristãs, que conduz à prática e propicia respostas às inquirições humanas.
A partir de sua distinção em relação à Teologia Sistemática e à História das Religiões. A proposta fundamental da Teologia Bíblica é construir uma teologia a partir das Escrituras, de modo indutivo, sem depender das categorias definidas pela Sistemática ou pela Dogmática. A expressão não diz respeito à teologia de acordo com a Bíblia, nem uma teologia herética. Ou uma teologia que está baseada nas Escrituras. Nenhuma dessas sugestões é correta.
A Teologia Bíblica parte unicamente das Escrituras e procura prescindir da filosofia e da teologia sistemática, organizando os dados bíblicos a partir da lógica interna do pensamento bíblico. É essencialmente descritiva, mas pode também tornar-se normativa quando pergunta qual o valor do texto bíblico para o intérprete de hoje. Um exemplo prático da diferença de abordagem entre as duas pode ser percebido no campo da escatologia. Enquanto a teologia bíblica discute as tensões bíblicas entre o ―já‖ e o ―ainda não‖ do Reino de Deus (escatologia realizada e escatologia futura), a teologia sistemática evangélica volta-se para divisões como pré-milenismo, pós-milenismo, amilenismo, pré- tribulacionismo etc.
Resumo Histórico.
As raízes da teologia bíblica estão na Reforma Protestante. O ponto de partida protestante Sola Scriptura lançou a semente para uma teologia exegética, buscando livrar-se da Dogmática Eclesiástica. (discutir) Os comentários de Calvino são os primeiros exemplos de uma exegese bíblica histórico-gramatical, que estabelecia os primórdios da futura teologia bíblica. Todavia, a maioria dos estudiosos define o início do moderno estudo da teologia bíblica, ou mais especificamente, da teologia bíblica do Antigo Testamento, a partir da palestra inaugural do professor Johann Philipp Gabler na Universidade de Altdorf em 1787. Antes de Gabler não havia uma distinção entre teologia dogmática e teologia bíblica. Não havia separação entre teologia do Novo Testamento e teologia do Antigo Testamento. Gabler defendia essas distinções. Mesmo que nunca tenha escrito uma teologia do Antigo Testamento, foi o professor Gabler quem estabeleceu os princípios básicos e o método pelos quais seria possível escrever uma teologia bíblica do Antigo Testamento. A base do estudioso alemão era racionalista, e foi sobre tais fundamentos é que surgem os primórdios da teologia bíblica. Apesar dessa influência filosófica da época, muito clara em estudiosos como G. L. Bauer, de Wette e F. C. Baur, alguns estudiosos adotaram uma linha mais evangélica e menos racionalista. Entre eles devem ser mencionados E. W. Hengstenberg, F. Delitzsch e G. F. Oehler.
Entre 1880 e 1930 a incipiente teologia bíblica perdeu espaço para os estudos da história da religião. As novas tendências filosóficas, aliadas à curiosidade europeia para com os costumes e ideias religiosas de outros povos fomentou uma interpretação da fé bíblica dentro de um contexto religioso universal. A fé de Israel e do cristianismo deveriam ser vistas sob parâmetros evolucionários e à luz da comparação com as outras religiões conhecidas.
Somente depois da década de 30 do século XX foi que ressurgiu o interesse pela teologia bíblica. Tal efervescência perdura até os anos 70. Muitos nomes de peso surgem tanto no campo do Antigo como do Novo Testamento. Nomes como O. Eissfeldt, W. Eichrodt, G. von Rad, B. Childs, C. Westermann, W. C. Kaiser, S. Terrien, W. Brueggmann, R. Bultmann, H. Conzelmann, E. Käsemann, H. J. Kraus, K. H. Schelkle, J. Jeremias, G. E. Ladd e D. Guthrie tornaram-se marcas na teologia bíblica principalmente durantes as décadas de 30 a 70. Além disso, muito da teologia contemporânea interagiu bastante com o pensamento bíblico e estabeleceu modelos sistemáticos de teologia menos presos a categorias filosóficas clássicas. Aqui merecem destaque especial os nomes de K. Barth, W. Pannenberg e Oscar Cullmann. Nas últimas décadas a teologia bíblica continua viva, mas tem enfrentado dificuldades e alguns até creem que esteja em grande crise. Para entendermos melhor seus caminhos, é preciso destacar suas principais tarefas.
A Tarefa da Teologia Bíblica.
Conforme já foi sugerido, a tarefa da teologia bíblica é construir uma teologia a partir do texto bíblico, edificando uma espécie de ―macro-exegese‖, procurando metodologicamente isentar-se de leituras confessionais e filosóficas a priori. Todavia, uma teologia bíblica séria deverá enfrentar algumas questões importantes das quais não poderá omitir-se:
Teologia descritiva ou normativa. Qual é o papel de uma teologia bíblica? Procurar detectar os conceitos teológicos dos autores bíblicos, ou deve ela também definir normas ético-religiosas a partir da experiência histórica e teológica da comunidade da fé. Será que um aspecto exclui o outro? É possível manter a tensão entre as duas ênfases?
A Relação entre os testamentos. Pode existir uma teologia do AT, independente do Novo Testamento? Será que a teologia do AT é uma disciplina exclusivamente cristã? Existirá uma teologia do AT judaica? Que tipo de relação existe entre os dois testamentos? Continuidade ou Descontinuidade? Como trabalhar a unidade da mensagem bíblica, sem desvalorizar o AT e sem uma ―cristianização‖ exagerada do mesmo? Todas essas perguntas são inescapáveis e merecem atenção do teólogo bíblico.
Abordagem diacrônica ou sincrônica. Muitas teologias bíblicas e sistemáticas parecem considerar o texto bíblico homogêneo e uniforme. Será que é possível fazer teologia bíblica sem considerar a história e algum tipo de desenvolvimento teológico nas Escrituras. É verdade que o historicismo do século XIX e sua postura evolutiva trouxe uma espécie de trauma para muitos estudiosos da Bíblia. No entanto, ainda que seja árdua lidar com o papel da história na teologia, cremos ser impossível fazer uma boa teologia, sem considerá-la adequadamente.
Relação com a autoridade da Bíblia. Por mais isenta que seja uma teologia bíblica, ela não poderá deixar de trabalhar com pressupostos. Um dos mais relevantes é exatamente o ponto de partida para com a própria Bíblia. Devemos praticar uma hermenêutica de suspeita para com o texto? Ou devemos interpretar o texto sagrado de maneira afirmativa, numa relação de empatia para com o mesmo. Quando um outro referencial externo explícito comanda a hermenêutica das Escrituras dificilmente poderá construir-se uma teologia bíblica que faça justiça ao texto.
Unidade e diversidade. Será possível achar um centro de organização para uma teologia da Bíblia, ou do AT e do NT. Será que o conceito de aliança, de promessa ou de ação divina na história são adequados para organizar o material bíblico. Seria tal abordagem forçada, pelo fato de existirem vários centros de organização do texto? Essa é uma questão difícil que não pode ser esquecida. Além disso, a diversidade presente nas Escrituras levanta outra questão: Existe uma teologia bíblica (ou do AT/NT) ou existem várias teologias? É bem conhecido o fato de que os teólogos liberais levaram a diversidade teológica bíblica às últimas consequências. Por outro lado, fundamentalistas têm tentado ver unidade a partir de lentes mais sistemáticas e filosóficas do que bíblicas. Como deve ser trabalhada essa relação? Aí está um grande dilema ainda aberto para a discussão dos estudiosos.
Teologia canônica ou não canônica. Por mais simples que possa parecer essa questão, ela merece muita atenção. Já que temos acesso a material religioso da fé de Israel e da igreja primitiva, devemos perguntar se uma teologia bíblica deve fazer referência a esse material. Por outro lado, já que se trata de uma teologia construída dentro da comunidade da fé, a igreja, deve-se perguntar se os parâmetros da dogmática cristã e esse fator devem restringir a teologia a uma abordagem canônica.
Relação com a sistemática. Uma vez construída uma teologia bíblica chegará ela a algum lugar sem uma relação com a sistemática? É possível construir uma teologia bíblica sem cair na fragmentação muitas vezes acéfala? Que tipo de relação deve se manter entre as duas abordagens? Doutrinas cardeais e essencias da fé como a Trindade teriam relevância significativa numa teologia bíblica? Com certeza o diálogo é fundamental e necessário, para que as duas abordagens se completem.
FUNDAMENTOS E FERRAMENTAS DA TBNT
Michael Lawrence
Teologia Bíblica não é apenas teologia que encontra sua fonte na Bíblia, mas uma teologia que tenta entender a Bíblia como um todo.
A Bíblia não é apenas uma coleção de livros religiosos inspirados escritos por vários profetas e apóstolos, mas é uma história única, uma narrativa coerente dos atos redentores de Deus.
Essa história tem Deus como seu autor, seu ator primário e seu centro, e o clímax dessa história é a glória de Deus na salvação por meio do julgamento.
A exegese é a tentativa disciplinada de extrair de um texto a intenção original do autor, em vez de minha própria preferência, experiência ou opinião. Jerônimo: “O ofício de comentarista é estabelecer não o que ele próprio preferiria, mas o que o autor diz”.
Método Histórico-Gramatical:
John Owen o descreveu dessa forma:
Nelas (as Escrituras), não há outro sentido além daquele contido nas palavras que materialmente lhe constituem (...). Na interpretação dos pensamentos de quem quer que seja, é mister que as palavras ditas ou escritas sejam corretamente compreendidas; e isso não poderemos fazer imediatamente, a menos que entendamos a linguagem na qual esse fala, como também as expressões idiomáticas dessa língua com o uso comum e a intenção de sua fraseologia e expressões (...).
A principal questão que o método histórico-gramatical está buscando responder não é “o que essa palavra significa”, mas “o que essa sentença significa?”. Ao responde a essa pergunta, percebemos rapidamente que o contexto é rei. Assim, o primeiro passo da exegese é ler o texto, todo o texto, repetidamente. A interpretação realmente começa com o todo, não com a parte. Então, no contexto do todo, voltamos para as partes, descendo às sentenças, e até todas as palavras individuais. O que aprendemos e descobrimos então nos leva de volta ao todo com uma compreensão mais precisa e talvez sutil do significado.
Gramatical:
Como o texto maior se divide em unidades?
Epístolas (parágrafo), poesia (estrofes), narrativas (eventos ou histórias).
Qual o fluxo geral do argumento no texto?
Afirmação (apoiada por orações subordinadas), contraste traçado, princípio ilustrado, padrão estabelecido ou resposta estimulada.
Olhando para uma frase em particular (sujeito, verbo e o objeto).
Como as sentenças são conectadas?
Análise do discurso, tentativa de tornar explícito o fluxo lógico, para identificar o ponto principal do autor e as várias maneiras pelas quais ele apoia esse ponto.
Histórico:
Como o seu texto se encaixa no argumento maior do livro ou seção das Escrituras que você está lendo?
O contexto histórico (autor, data, público e procedência), se conhecido, esclarece sua compreensão de palavras ou argumentos?
Existe um contexto cultural do qual você precisa estar ciente?
Existem questões de geografia, política ou história que esclarecem o significado?
O REINO VEIO E ESTÁ VINDO
Graeme Goldsworthy
Existe um pregador inglês que descreve a Bíblia “como um livro que tem as respostas no final”. A Bíblia não é como um livro de matemática que você tem a resposta de todos os exercícios no final. A Bíblia se parece mais com um livro de mistério, semelhante a uma história de detetive, que nos conduz a um fim surpreendente revelando o segredo por trás de todo mistério. Em outras palavras, é um final que trás luz à toda história.
Nós vemos então que o NT é o final da Bíblia que dá luz e sentido a toda história do AT.
O Antigo Testamento é como uma fundação ou base. Ele nos conta as verdades que precisamos saber sobre Deus e sobre o homem. Mas o AT não é suficiente por si só. Ele nos aponta ou nos direciona para Jesus e a cruz.
O Novo testamento se encaixa sobre o Antigo testamento, nos dando a imagem definitiva: o cumprimento de todas as promessas proféticas em Jesus Cristo.
O final não faz nenhum sentido sem todas as histórias que estão antes no AT, ou seja, nós também precisamos do AT para dar sentido ao NT. Porque a mensagem do NT é que o AT só pode fazer sentido quando percebemos que todas as promessas proféticas se cumprem em Jesus Cristo, o Filho de Deus. Jesus é aquele para quem toda história do AT está apontando.
A promessa de Deus a Abraão aponta para Jesus. Os eventos da história de Israel apontam para Jesus. As promessas dos profetas apontam para Jesus. Tudo encontra o seu cumprimento em Jesus Cristo.
O que veremos é que aquilo que se cumpre em Jesus Cristo é a promessa do Reino de Deus. Somente Jesus é o verdadeiro povo de Deus que vive debaixo da Lei de Deus, e somente por causa Dele que nós podemos ser o povo de Deus, vivendo no lugar de Deus, debaixo da Lei de Deus e gozando da benção de Deus.
O Reino e Jesus Cristo.
Jesus é o verdadeiro povo de Deus, vivendo debaixo da Lei de Deus.
Jesus começou o seu ministério público anunciando que o Reino de Deus estava próximo – Marcos 1.15. Isso é verdade porque Jesus é Aquele que iria trazer o cumprimento do Reino. Jesus é o verdadeiro povo de Deus porque vive perfeitamente debaixo da Lei de Deus. Este cumprimento fica muito claro no batismo e tentação de Jesus.
Lucas 3.21-22. 21E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu, 22e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.
Assim que Jesus é batizado uma voz do céu declara que Ele é o Filho de Deus. Isto não é apenas uma referência à divindade de Jesus, mas também a sua perfeita humanidade. Lucas logo após o batismo de Jesus registra a sua genealogia, e é surpreendente encontrarmos um registro de genealogia bem aqui neste momento em Lucas. Mas assim que a voz do céu declara que Jesus é o Filho de Deus nós temos o registro da genealogia de Jesus que trás toda linhagem de seus ancestrais até Adão, e o que vemos no final do capítulo (Lucas 3) é que Adão é o filho de Deus. Portanto, se Jesus é o Filho de Deus, então Jesus é o segundo Adão.
Segundo Adão.
No jardim Adão desobedeceu e foi rebelde suscitando o desprazer de Deus. Então nós aprendemos que Jesus é aquele que é perfeitamente obediente e em quem Deus tem todo o seu prazer. Jesus não falha.
Lucas 4 continua com o registro da tentação de Jesus no deserto e da mesma forma que Adão e Eva foram tentados no jardim por satanás, Jesus também é tentado por satanás. Mas aonde Adão e Eva falharam Jesus não falha, Ele se mantém comprometido com a sua obediência à Palavra de Deus. Não é apenas coincidência que na tentação, em Lucas 4.4, Jesus faz uma citação de Deuteronômio 8.2-3.
Deuteronômio 8.2-3. 2Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. 3Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do SENHOR viverá o homem.
Por que Deus levou Israel para o deserto? Israel ficou no deserto por quarenta anos sendo provado por Deus para revelar realmente aquilo que estava em seu coração e se Israel verdadeiramente iria obedecer a Deus; mas Israel falhou. Jesus agora é provado no deserto por quarenta dias e ele é o Filho de Deus que não falha.
Filho de Deus não é um título dado meramente para Adão, mas também um título dado a Israel.
Êxodo 4.22. Dirás a Faraó: Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho, meu primogênito.
Êxodo 4.22 Israel é descrito como o filho nascido de Deus. Portanto, Jesus não é apenas o segundo e melhor Adão, Jesus é o verdadeiro Israel.
O Verdadeiro Israel.
Quando Jesus é provado no deserto para que fosse revelado aquilo que estava em seu coração, nenhuma falta foi encontrada. Jesus é aquele que verdadeiramente é o homem segundo o coração de Deus.
Jesus é tanto o segundo e melhor Adão quanto o verdadeiro Israel, o verdadeiro povo de Deus que continuamente e constantemente vive debaixo da Lei de Deus em obediência perfeita sendo bem sucedido aonde Adão e Israel falharam. Jesus é o verdadeiro Israel que não falha.
Mas se Jesus é o verdadeiro povo de Deus, então é verdade que Jesus cumpre todos os ofícios instituídos em Israel.
Jesus é o Rei prometido.
Salvador e Rei.
As palavras do anjo Gabriel a Maria deixam essa verdade muita clara – Lucas 1.30- 33. Jesus reinará no Trono de Davi e o seu reinado será bem sucedido exatamente aonde os reis de Israel e Judá falharam. Mas à semelhança de Davi, Jesus só se tornará rei depois de um período de rejeição e sofrimento – Lucas 4.16-30 o Rei é rejeitado pelo seu próprio povo, mas esta é apenas uma sombra da verdadeira rejeição que viria contra o Rei.
Mas como podemos ver Jesus começando o seu ministério como o Salvador e Rei?
Da mesma forma que Davi batalhou para salvar o seu povo dos seus inimigos (1Sm 17), Jesus veio para lutar contra o real inimigo do seu povo: satanás. Por isso o primeiro milagre que Jesus realiza no evangelho de Lucas, por exemplo, é expulsar o demônio de um homem e libertá-lo – Lucas 4.31-37. Jesus liberta o homem da opressão de satanás e assim nós vemos Jesus como o Salvador e Rei à medida que Ele reverte o poder da opressão de satanás, ao mesmo tempo em que Ele vence as doenças e a própria morte. Em outras palavras, Jesus é o Rei que luta pelo seu povo contra o inimigo e os liberta.
Jesus também é o Profeta que fala a Palavra de Deus.
Profeta.
Quando Jesus começa a ensinar, o povo fica fascinado com a autoridade com que Ele ensina – Marcos 1.22; Lucas 4.32. Logo em seguida, o povo clama para que Jesus cure os enfermos, mas Jesus não veio para curar – Marcos 1.38; Lucas 4.43. Jesus veio ao mundo para anunciar o evangelho, porque Ele é o verdadeiro profeta de Deus que proclama a Palavra de Deus.
Jesus não é somente o Rei Salvador e Profeta, Ele é também o verdadeiro Sacerdote.
Sacerdote.
No batismo de Jesus as palavras “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Mt 3.17; Mc 1.11; Lc 3.22; Jo 1.32-34) ecoam as palavras que foram profetizadas por Isaías (Is 42.1) com respeito ao Servo Sofredor.
Isaías profetizou que o Servo do Senhor seria ungido pelo Espírito de Deus; e o que acontece no batismo de Jesus? O Espírito de Deus vem e repousa sobre Jesus. Ele é o Servo Sofredor de acordo com a profecia de Isaías. Jesus sendo o Servo Sofredor cumprirá a função de Sacerdote oferecendo a sua própria vida como oferta pelos pecados do seu povo. Jesus não tem pecado, mas em seu batismo Ele se identifica com os pecadores.
O batismo de João Batista era de arrependimento para perdão dos pecados, ou seja, as pessoas vinham para serem batizadas por ele, dizendo: “eu sou um pecador e preciso ser limpo dos meus pecados”. Jesus entra nesta fila de pessoas, se identifica com elas, não porque Ele tem pecados, mas para ser o seu Salvador, oferecendo a sua própria vida como substituto dos pecadores incapazes de satisfazer a justiça de Deus, pagando o preço para que eles sejam verdadeiramente purificados de seus pecados e isso acontecerá quando Ele morrer em uma cruz no lugar dos pecadores.
Somente Jesus Cristo é o último e verdadeiro Sacerdote.
Jesus Cristo é o verdadeiro povo de Deus vivendo perfeitamente debaixo da Lei de Deus cumprindo os ofícios de Rei, Profeta e Sacerdote.
Jesus é o verdadeiro lugar de encontro entre Deus e o homem.
No evangelho de João nós encontramos que Jesus cumpre a ideia de Lugar do AT. O lugar de Deus em primeira instância era o Jardim do Éden. Aquele jardim era o local onde Deus andava na viração do dia e um lugar de comunhão com Deus. O Jardim era um santuário onde Adão e Eva poderia viver na presença de Deus, por isso que ser expulso do jardim era ser expulso da presença de Deus. No decorrer da história de Israel a terra de Canaã substitui o Jardim do Éden, pois nesta Terra Prometida o povo iria desfrutar da presença de Deus, por isso ser exilado da terra é ser expulso da presença de Deus. Mas o foco da presença de Deus era o Templo. O Templo era o lugar onde o povo poderia encontrar-se com Deus e ter comunhão com Ele, mas primeiro houve o Tabernáculo e depois o Templo.
Portanto, quando olhamos para João 1.14 encontramos algo extremamente significativo sobre a Pessoa de Jesus:
João 1.14.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.
O texto é significativo, pois a palavra que João usa para “habitou” é a palavra “tabernáculo”. Em outras palavras seria que “Jesus tabernaculou entre nós”. A encarnação é Jesus se tornando o lugar aonde Deus se encontra com o homem e o homem se encontra com Deus. Isso fica ainda mais claro quando olhamos para João 2.19:
João 2.19, 21-22.
19Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. 21Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. 22Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus.
Jesus é o verdadeiro Templo. Porque somente Jesus é ao mesmo tempo Deus e Homem. Seu corpo é o perfeito lugar de comunhão entre Deus e o homem. Jesus é o verdadeiro lugar de encontro com Deus. Se você deseja se encontrar com Deus, se você deseja comunhão com Deus, o lugar que você precisa ir não é um templo em Jerusalém, mas para Jesus, conforme a Palavra de Deus o revela. Porque ouvir as palavras de Jesus é ouvir a Deus, e à medida que ouvimos a Jesus na sua Palavra nós conhecemos a Jesus e conhece- lo é conhecer a Deus. Por isso, quando lemos Jesus dizendo que o Reino de Deus está aqui, ele está falando literalmente que o Reino de Deus chegou.
Jesus é o verdadeiro povo de Deus no lugar de comunhão sem barreiras com Deus, vivendo perfeitamente debaixo da Lei de Deus, cumprindo todas as promessas proféticas do Reino de Deus e as funções e ofícios do Reino, de Sacerdote, Profeta e Rei.
Mas somente Jesus não cumpre todas essas promessas do Reino, ou seja, sendo Ele somente o povo de Deus. Através de todo o seu ministério Jesus está chamando homens e mulheres para adentrarem no Reino de Deus para trazer muitos outros para dentro do Reino.
O Reino e nós.
Deus tem o propósito de abrir o caminho para muitas pessoas no Reino. É o propósito de Deus, através de Jesus, de abrir o caminho entre nós e o Reino, e é exatamente isso que nos leva a olharmos para cruz.
Na cruz Jesus batalha contra satanás e triunfa sobre ele. Jesus derrota o inimigo que tem nos mantido cativo. Jesus é capaz de realizar o Novo Êxodo, pois Ele pode resgatar os pecadores do cativeiro de satanás.
Na sua morte Jesus morre como o Cordeiro pascal e nos assegura uma Nova Unção, tirando de sobre nós a culpa do nosso pecado. Portanto, nos protegendo debaixo do sangue do Cordeiro o seu povo pode ser protegido do juízo que virá, pois da mesma forma que aconteceu nos dias de Moisés, onde o povo foi protegido do juízo quando eles se protegeram debaixo do sangue do cordeiro pascal, muito mais pela morte de Jesus Cristo que nos assegura o perdão dos pecados como algo central na nossa reconciliação com Deus.
Esta reconciliação com Deus mediante Jesus Cristo é a Nova Aliança prometida. Deus não se lembra mais dos nossos pecados, quando nos diz “Eu Sou o seu Deus e vocês são o meu povo”. Isto nos está assegurado somente por causa da morte de Jesus Cristo na cruz em nosso lugar. Seguindo a sua morte e ressurreição, Jesus envia o Espírito Santo que será aquele que opera a ação da nova aliança.
Na carta de Paulo aos Efésios nós vemos muitos aspectos da Nova Aliança.
No poder do Espírito o evangelho é proclamado.
Efésios 1.7,13.
Os seres humanos pecadores que haviam sido exilados da presença de Deus, são agora reunidos na presença de Cristo Jesus, no local onde eles podem se encontrar com Deus. À medida que estes pecadores creem no evangelho, eles se achegam a este lugar, eles são limpos do seu pecado (v.7). Então estes pecadores que creem no evangelho são incluídos, em Cristo, na Nova Aliança e cheios do Espírito Santo da promessa (v.13). O Espírito Santo une os cristãos a Jesus e também se tornam o povo de Deus.
Efésios 2.12.
Paulo fala sobre o antigo status dos seus leitores gentios. Paulo os lembra de que eles estavam separados de Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos à Aliança da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. Este é um estado de total exílio, de alienação de Deus. Mas agora, em Cristo, estes gentios que estavam longe foram trazidos para perto pelo sangue de Jesus Cristo.
Além disso, o Espírito renova os cristãos dando-lhes um novo coração. Agora estando debaixo do Reino de Cristo eles estão debaixo do Reino de Deus e a imagem de Deus neles, e em nós, está sendo progressivamente restaurada.
Efésios 4.22-24.
Eles agora são ensinados a despir-se do velho homem (v.22); para quê? Para que eles sejam renovados no entendimento e revestidos do novo homem, criado segundo a imagem de Deus em verdadeira justiça e santidade (vs.23- 24).
Mas como um povo de Deus, este novo povo de Deus, constituídos por todos aqueles que creem no Senhor Jesus Cristo, não devem ser marcados apenas por sua obediência a Deus, mas também por sua unidade. Efésios 4.3, Paulo diz aos cristãos que devem exercer todo o esforço para preservar a unidade do Espírito. Eles foram reunidos pelo Espírito Santo como um só povo e eles devem se esforçar para manter esta unidade como povo de Deus.
Mas talvez a forma mais impressionante de todas, que em Cristo, o novo povo de Deus se torna o templo de Deus, o local de comunhão entre Deus e o homem.
Efésios 2.21-22.
Em Cristo, o edifício bem ajustado cresce para ser o templo santo do Senhor. Onde nós podemos encontrar a Deus? Nós o encontraremos no meio do seu povo. É entre o seu povo que Deus se faz presente pelo seu Espírito e pela sua Palavra. O povo reunido é a igreja de Deus.
Portanto à medida que ouvimos e cremos no evangelho, nós estamos unidos em Cristo, somos contados em Cristo, podemos adentrar no seu Reino, nos tornamos cidadãos entre o povo Deus e começamos a viver debaixo da Lei de Deus, e à medida que nos achegamos a Cristo nós nos encontramos no lugar onde podemos nos encontrar com Deus e desfrutar da sua bênção.
O que temos então? Um novo povo, uma nova humanidade e reunidos em Cristo em uma nova unidade.
As bênçãos de estarmos no Reino de Deus nesta era presente são enormes, mas é apenas o começo. Precisamos terminar olhando para o Reino e o futuro.
O Reino e o futuro.
Nesta era presente o Reino é real, o Rei está presente, mas ainda não está visível. No Cristo ressurreto e glorificado a obra de restauração de Deus está feita e completa. Jesus Cristo no seu corpo ressurreto é a humanidade restaurada a tudo aquilo que realmente deve ser.
Em Jesus Cristo o Reino se cumpre totalmente. Em Jesus, Deus, o homem e a criação estão em perfeita harmonia e comunhão.
Neste tempo presente o próprio Jesus está escondido dos nossos olhos, então o Reino também está escondido.
⮡ Um Reino escondido.
Os cristãos são o povo de Deus e pertencem ao seu Reino. Mas quando andamos pelas ruas e vemos uma grande multidão não conseguimos distinguir quem são os cristãos, pois eles se parecem com todo mundo.
Os cristãos estão comprometidos a viver em unidade debaixo da Lei de Deus. Mas sabemos, até de forma dolorosa, quão frágil é nossa unidade e quão imperfeita é a nossa obediência.
Em Cristo sabemos que temos comunhão com Deus, mas não vemos a Deus face a face. E sobre tudo isso, nós vivemos em um mundo (criação) que ainda está sujeito à queda, até o nosso corpo está sujeito à queda. A criação ainda está em um estágio não restaurado, fora do Reino. Portanto, nós ainda não podemos experimentar a total libertação da morte e das doenças, que são partes da manifestação do Reino quando Jesus estava na terra. Em outras palavras, a nossa experiência atual do Reino é menor comparado àquilo que o Reino é de fato em Cristo Jesus e o que verdadeiramente será quando Jesus se revelar.
Por isso que os cristãos são caracteristicamente um povo que espera.
⮡ Um povo que espera.
A criação está sujeita à queda assim como os nossos corpos também estão, portanto os cristãos que vivem na esperança do Reino de Deus é um povo que olha para frente.
1 Tessalonicenses 1.9-10.
Paulo fala a respeito dos cristãos de Tessalônica que se voltaram para Deus deixando os seus ídolos, para servir ao único Deus vivo e verdadeiro e para esperar do céu a vinda do seu Filho, a quem Deus o ressuscitou dentre os mortos, Jesus Cristo, que os livra da ira vindoura.
Tito 2.13.
Paulo diz que a graça de Deus nos ensina a viver aguardando a bendita esperança.
Nesta era presente, enquanto aguardamos por esta bendita esperança e a manifestação da glória do nosso Salvador Jesus Cristo, como cristãos, vivemos em uma tensão do já e o ainda não. Nós estamos no Reino hoje, mas o Reino ainda não foi totalmente revelado.
1João 3.2.
É somente quando Cristo for revelado, quando o Reino for totalmente revelado, que nós seremos como Jesus e entraremos para plenitude do Reino de Deus, compartilhando da glória do Reino, a glória que já está presente em Cristo Jesus.
Somente então a criação será liberta da sua queda e será transformada em um novo céu e uma nova terra. Então teremos corpos glorificados, livre do pecado, da morte e das doenças. Experimentaremos como povo de Deus, quando não haverá mais divisões que atrapalhem a comunhão, perfeita obediência a Deus vivendo para sempre sem pecados, não tendo nada mais que impeça a comunhão com Deus. Somente neste momento que veremos a Deus face a face.
⮡ O Rei que vem.
Diante de tudo isso nós esperamos. Aguardamos pela segunda vinda do Rei Jesus Cristo, para finalmente ver e experimentar a plenitude do Reino de Deus.
Esta é a Bíblia. A Bíblia fala sobre Jesus Cristo e o seu Reino Eterno. Por isso, aguardamos, confiamos e somos gratos a Deus por sua graça, pois temos tudo que precisamos, nós temos o evangelho.
Jesus Cristo é tudo que precisamos, pois somente Nele todos os propósitos do Reino se cumprem. Precisamos ser agradecidos, pois por meio de Jesus somos recebidos no Reino, não por causa de qualquer mérito em nós, mas somente pela maravilhosa graça de Deus em Cristo Jesus.
CONCLUSÃO
Este é um panorama da Bíblia como um todo.
Sabemos que o Reino Perfeito ainda não veio, então continuamos a olhar para frente. Isso nos leva a uma relação direta com os milagres nos evangelhos. Porque os milagres são os sinais de que o Reino veio em Jesus e apontam para frente, para o Reino Perfeito. No Reino Perfeito não haverá mais doenças, nem dor e nem morte. Nossos corpos serão redimidos e gozaremos de saúde perfeita.
O problema que temos hoje é a falha em compreender a Bíblia. Seu principal herói, tema e alvo. Precisamos olhar para a Bíblia como um todo, assim cada parte da Bíblia (cada livro) fará mais sentido e veremos o quão glorioso Jesus Cristo é.
Sobre o que é a Bíblia? O que a Bíblia fala a nós? A Bíblia é sobre mim ou sobre você?
A Bíblia não é sobre nós ou sobre o que devemos fazer, a Bíblia é sobre Jesus e o seu Reino e sobre como Deus, pela graça, nos concede em Jesus Cristo tudo que mais ansiamos; o perdão dos pecados, a salvação e a vida eterna. Se olharmos para Bíblia desta forma conheceremos a Deus mais profundamente e veremos a sua glória na face de Cristo Jesus.
“Meu coração anseia e arde por Ti Jesus, meu Senhor e Rei.
Maranata, vem Senhor Jesus!”
OS EVANGELHOS E A IGREJA PRIMITIVA
George Ladd
A importância da Teologia Bíblica.
A Teologia Bíblica é a disciplina que objetiva estruturar a mensagem contida na Bíblia. Isso faz dela, fundamentalmente, uma disciplina descritiva, ou seja, seu escopo principal é descrever, expor, trazer à tona, a teologia subjacente aos relatos bíblicos a partir de seu contexto histórico.
História da Teologia do NT.
A Igreja Primitiva.
A Igreja Cristã da era apostólica não desenvolveu nenhuma Teologia do NT. A preocupação era tornar Jesus conhecido. A Igreja tinha como prioridade anunciar a salvação por meio da obra de Cristo. Os primeiros cristãos chamavam este anúncio de “kérygma”, a força de salvação para os judeus e para os gregos (Rm 1.16-18).
A Idade Média.
Durante a Idade Média, o estudo bíblico esteve completamente subordinado ao dogma eclesiástico. A teologia da Bíblia foi usada apenas para reforçar os ensinos dogmáticos da Igreja, os quais eram fundamentados na Bíblia e na tradição da Igreja.
Reforma.
Os reformadores insistiram que a Bíblia deveria ser interpretada literalmente, e não alegoricamente, e esta ênfase teve como consequência o início de uma verdadeira teologia bíblica.
Entretanto, a perspectiva histórica dos reformadores era imperfeita, e com frequência o Antigo Testamento foi interpretado não em termos do seu próprio ambiente histórico, mas em termos da verdade neotestamentária.
O escolaticismo ortodoxo.
Após a Reforma, a Bíblia foi mais uma vez utilizada sem uma perspectiva crítica e histórica, para servir de apoio à doutrina ortodoxa. A Bíblia foi considerada não somente como um livro isento de erros e contradições, mas também como sem desenvolvimento ou progresso. A Bíblia, no seu todo, foi estudada como possuindo um nível único de valor teológico.
O iluminismo.
A Bíblia passa a ser vista como uma obra literária, produto do intelecto humano. A razão passa a ser encarada como critério último no processo de avaliação do conhecimento e, fundamentalmente, fonte primordial de todo conhecimento.
No iluminismo a razão humana substitui a revelação imposta externamente na posição de árbitro da verdade, pois a razão passou a determinar o que vinha a ser a revelação. A tese de Anselmo foi investida: “Creio naquilo que posso compreender”. A razão era o meio para se obter conhecimento.
Racionalismo.
No século XIX surgiu uma nova perspectiva do estudo da Bíblia, a qual gradativamente libertou-se de todo controle eclesiástico e teológico e procurou interpretá-la com “completa objetividade”, vendo-a simplesmente como um produto da história.
Dessa maneira, a Bíblia foi considerada como uma compilação de escritos religiosos antigos, que preservam a história de um povo semítico antigo, e deve ser estudada com as mesmas pressuposições utilizadas nos estudos de outras religiões semíticas.
O retorno contemporâneo e a Teologia Bíblica.
Durante a década de 1920 um novo ponto de vista começou a fazer-se sentir. O resultado foi um renascimento da teologia bíblica. Três fatores que contribuíram para que isso acontecesse:
1 - Perda de confiança no naturalismo evolucionista;
2 - Uma reação contra o método puramente histórico que reivindicara uma objetividade completa e acreditara que os simples fatos eram adequados para revelar a verdade contida na história;
3 - A redescoberta da ideia da revelação. Esta posição levou à convicção de que a Bíblia continha tanto a história quanto uma palavra a respeito do significado último da história.
A Teologia nos Evangelhos: Mateus.
Em Mateus, Jesus é descrito como aquele no qual se cumpre as profecias messiânicas. Com inspiração e autoridade, esse Rei davídico assume os traços de um novo Moisés que, sem por fim à Lei judaica, justapõe a ela intransigentes princípios morais baseados no Amor.
Ao longo de todo Evangelho, Jesus ensina e cura: Ao serviço da mensagem, os milagres atestam que a libertação esperada com a vinda do Messias se realiza em Jesus. Assim, libertado, aquele que crê no Mestre supremo recebe seu ensinamento, segue-o passo a passo na fé, torna-se eventualmente seu discípulo e procura praticar perfeitamente a lei do Reino.
A Teologia nos Evangelhos: Marcos.
Marcos escreve com a finalidade de proclamar a “boa-nova de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Marcos apresenta a história de Jesus como uma seqüência cronológica tem seu ponto de partida na entrada em cena de João Batista e o ponto final da crucificação de Jesus sob Pilatos (1.9; 15.1).
Marcos evidencia, em seu Evangelho, como história, a relevância do Jesus terreno para o kerygma e justamente por isso é o criador do gênero literário “Evangelho”.
A Teologia nos Evangelhos: Lucas.
Lucas é chamado o “Teólogo da Salvação”, isto é, do plano divino que implica “a libertação de toda forma de mal, especialmente do pecado e da perdição eterna e uma relação de amizade e comunhão com Deus”.
A palavra “salvação” aparece dezessete vezes no evangelho e treze nos Atos dos Apóstolos. Lucas apresenta uma salvação atual, não postergada para um futuro impreciso, faz-se presente uma constante repetição do termo hoje.
A Teologia nos Evangelhos: João.
Uma compreensão correta de Cristo é o principal objetivo de João. A cristologia é central ao livro, pois a vida eterna depende de um correto relacionamento com Jesus Cristo.
O Logos na teologia joanina significa:
1 A preexistência de Jesus - “No princípio...” em Jo 1:1 refere-se a um período anterior a Gn 1:1. O verbo já existia na eternidade.
2 A divindade de Jesus – “... e o verbo era Deus” (theos en ho logos)
3 O verbo como agente da criação – “todas as coisas foram feitas por ele...”. O apóstolo Paulo defende essa mesma teologia “todas as coisas procedem de (ek) Deus por meio (dia) de Cristo (I Co 8:6 e Cl 1:16);
4 A encarnação do Verbo – “o verbo se fez carne e habitou entre nós” – “habitar” (eskenosen) ou “tabernacular” o próprio Deus presente em carne, em humilhação.
5 O Verbo revelador – Ele veio para revelar ao seres humanos a vida (1:4) a luz (1:4-5), a graça (1:14), a verdade, a glória e o próprio Deus.
A igreja Primitiva:
A ekklesia nasceu no Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado sobre o pequeno grupo de discípulos judeus de Jesus, constituindo-os o núcleo do corpo de Cristo.
A ekklesia é a criação de Deus por intermédio do Espírito Santo. Por essa razão, só pode haver, uma única igreja.
A igreja primitiva não era como hoje, uma instituição ‘organizada’, era uma comunidade dos judeus dentro do judaísmo, pequena e de comunhão aberta.
Quando Paulo organizou igrejas na Ásia, designou anciãos em cada uma delas (14.23).
O termo “ancião” é uma tradução de presbyteros, que também eram chamados de bispos (episkopoi), termo que designava um tipo de supervisor da igreja (20.17, 28).
A narrativa dos primeiros quinze capíulos de Atos mostra como uma igreja gentílica, livre da Lei, surgiu. Os últimos treze capítulos narram como uma ruptura final se desenvolveu entre a Igreja e a sinagoga. Nas três missões de Paulo na Ásia e na Europa, os judeus tinham rejeitado sua mensagem, mas os gênios a tinham recebido.
O livro de Atos termina com o solene anúncio do juízo de Deus sobre Israel e a afirmação: “Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão” (28:28).
Assim, a Igreja, que começou como uma seita judaica em Jerusalém, tornou-se uma comunidade gentílica em Roma, completamente livre da associação com os grupos judaicos.
O ENSINO DE JESUS SEGUNDO OS EVANGELHOS SINÓTICOS
O ENSINO DE JESUS SEGUNDO OS EVANGELHOS SINÓTICOS
A Atitude de Jesus para com o Judaísmo.
Já foi observado que Cristo baseou os seus ensinos no Antigo Testamento. Ele veio, não para principiar uma coisa nova, mas para continuar uma obra já bem adiantada. Cristo não trouxe o propósito de introduzir uma religião nova; considerando, porém, que havia no judaísmo duas correntes bem diversas, e que a grande maioria do povo acompanhava uma dessas correntes, a qual se ia desviando cada vez mais do eterno propósito de Deus.
A religião judaica era provisória e preparatória.
Na sua grande obra de salvação Deus sempre adaptou a sua ação às condições em que se achava o povo que queria salvar. Isto era necessário porque a salvação é sempre um ato moral, inteiramente ao alcance das pessoas a salvar. A religião judaica era por natureza provisória e preparatória, foi adaptada ao povo daquele tempo, Mt 5.27-29,39,39.
Jesus cumpriu a lei na sua vida.
Em primeiro lugar, Jesus cumpriu perfeitamente a lei na sua vida pessoal. Tudo o que a lei exigia e tinha como alvo Ele satisfez e realizou plenamente na sua vida; seu caráter satisfez o mais alto ideal da lei. Nunca transgrediu a lei porque nunca viveu no baixo plano em que ela operava.
A relação do Antigo para o Novo.
Diante disto perguntará alguém: "Então o Antigo Testamento perdeu o seu valor?" De modo nenhum. Será que a flor nada tem com o fruto? Como é que se há de compreender o fruto sem a flor? Como é que se há de compreender o homem sem o presente sem o passado? A objeção não tem razão de ser. O plano de Deus é um só. O princípio é tão necessário como o fim para a compreensão do plano todo.
O REINO DE DEUS
Jesus apareceu anunciando o reino de Deus.
Jesus apareceu no meio do seu povo anunciando o evangelho do Reino de Deus, Mt 4.17. Esta frase é uma das mais comuns usadas por Jesus. Sem dúvida alguma, representa um dos seus ensinos mais fundamentais. De acordo com o evangelho segundo Marcos, Jesus começou a anunciar o seu evangelho, dizendo que o Reino de Deus estava próximo, Mc 1.16. Indaguemos agora qual é a verdadeira significação desta frase "O Reino dos Céus".
As duas frases "Reino de Deus" e "Reino dos Céus”.
O que significa, pois, "Reino de Deus"? A ideia de um reino cujo rei é Deus é uma ideia muito comum no Antigo Testamento, e tem uma história longa. Vem ela dos primeiros tempos do povo judaico. Por isto precisamos em primeiro lugar estudar a sua relação para com o Antigo Testamento, para com a história do povo judeu.
A concepção dos judeus a respeito do Reino de Deus.
O pensamento religioso do povo judaico estava saturado com a ideia de um Reino de Deus. A ideia de uma teocracia achava-se impregnada na vida da nação judaica, influenciando todo o povo, Êx 19.5,6. Apesar desta expressão, "o Reino de Deus" não ocorrer no Antigo Testamento, a ideia verifica-se em toda a extensão da atividade profética.
Há uma dupla ênfase sobre a soberania real de Deus.
Ele é frequentemente referido como o Rei, tanto de Israel, Êx 15.19; Nm 23.21; Dt 33.5; Is 43.15.
Como o Rei de toda a terra, 2o Rs 19.15; Is 6.5; Jr 46.18; Sl 29.10; 99.1-4.
Isto leva à conclusão de que, embora Deus seja Rei, ele deve também tornar-se Rei, ou seja manifestar a sua soberania real no mundo dos homens e das nações.
O judaísmo apocalíptico também possuía diversos tipos de esperança. Alguns escritores enfatizaram o aspecto terreno, histórico do Reino, ao passo que outros enfatizaram os aspectos mais transcendentais. Entretanto a ênfase é sempre escatológica.
A comunidade de Qumran partilhava de uma esperança semelhante concernente ao Reino.
A literatura rabínica desenvolveu uma escatologia semelhante, mas fez um pouco mais uso do termo "o reino dos céus". O Reino de Deus foi considerado como o domínio de Deus - o exercício de sua soberania.
O Reino dos Céus.
A expressão "o reino dos céus", aparece em Mateus, onde é mencionada cerca de trinta e quatro vezes. Várias vezes em Mateus, e em vários lugares no restante do Novo Testamento, a expressão "reino de Deus", é usada. O “reino dos céus", é uma expressão semítica, na qual o vocábulo "céus" é um termo usado em substituição ao nome "divino" - Lc 15.18. Na realidade, ambas as expressões "o reino de Deus" e "o reino dos céus", raramente foram usadas na literatura judaica antes dos dias de Jesus.
O Reino Escatológico.
É a vinda do Reino de Deus, Mt 6.10, ou seu aparecimento, Lc 19.11, que assinalará o fim da Era Presente e inaugurará a Era Vindoura.
A vinda do reino de Deus significará a destruição total e final do diabo e seus anjos, Mt 25.41.
A formação de uma sociedade redimida que não se mistura com o mal, Mt 13.36-43.
Comunhão perfeita com Deus no banquete messiânico, Lc 13.28,29.
O FILHO DO HOMEM E O FILHO DE DEUS
Acabamos de estudar a significação das frases: "Reino de Deus" e "Reino dos Céus"; temos agora para nossa consideração, duas outras expressões ainda mais difíceis de interpretar, a que são: "Filho do Homem" e "Filho de Deus".
As referências à frase "FILHO DO HOMEM"
Que significam essas duas frases em relação a Jesus Cristo? Tomemos primeiramente esta, como assunto de nossa consideração. Os evangelhos sinóticos, tomando em apreço a sua relação para com o Antigo Testamento nos três primeiros livros, divide-os em três classes de referências feitas a Jesus como Filho do homem:
Em um grupo de passagens, onde se emprega esta expressão, faz-se referência à vida de Jesus aqui na terra, Mc 2.10, 28; Mt 8.20; Lc 19.10.
Noutro grupo, a referência é aos sofrimentos e morte de Jesus, Mc 8.31; 9,31; Mt 14.21.
E a última frase tem referência à Segunda vinda de Jesus, Mt 24.31; Mt 25.31.
Diante destes três grupos de passagens, naturalmente levanta-se a questão da verdadeira significação da frase "Filho do homem".
O Filho do Homem nos Evangelhos Sinóticos
O uso da expressão filho do homem nos sinóticos pode ser classificado em três categorias distintas: o Filho do Homem servindo na terra; o Filho do Homem no sofrimento e morte; o Filho do Homem na glória escatológica.
O Filho do Homem Terreno.
Mt 9.6; Mc 2.10; Lc 5.24 Autoridade para perdoar pecados.
Mc 2.27; Mt 12.8; Lc 6.5 O Senhor do Sábado.
Mt 11.19=Lc 9.58 O filho do homem veio comendo e bebendo.
Mt 8.20=Lc 9.58 O Filho do homem não tem onde reclinar sua cabeça.
O Filho do Homem Sofredor.
Mc 8.31; Lc 9.22 O Filho do Homem deve sofrer.
Mc 9.12; Mt 17.12 O Filho do Homem irá sofrer.
Mc 10.45; Mt 20.28 O Filho do Homem veio para
servir e dar a sua vida.
Mc 14.41; Mt 26.45 O Filho do Homem é entregue nas
mãos dos pecadores.
O Filho do Homem Apocalíptico.
Mc 8.38; Mt 16.27; Lc 9.26 Sua vinda na glória do seu Pai com os santos anjos.
Mc 13.16; Mt 26.64; Lc 22.69 Verão o Filho do Homem vinda nas nuvens e com grande glória.
Lc 12.40; Mt 24.44 O Filho do Homem virá numa hora em que ninguém o espera.
Lc 17.24; Mt 24.27 Como o relâmpago cruza o céu, assim será o Filho do Homem no seu dia.
O FILHO DE DEUS
A expressão messiânica “Filho de Deus”, é a mais importante no estudo da autorrevelação de Jesus. Na história do pensamento teológico, esta expressão conota a divindade essencial de Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus, ou seja, Deus o Filho, a Segunda pessoa da trindade divina.
O título mais comum pelo qual Jesus é designado nos evangelhos sinóticos é o de "Filho do Homem". É somente no evangelho de João, que encontramos frequentemente o outro título de "Filho de Deus".
O Significado da frase "Filho de Deus"
Há pelo menos quatro modos diferentes:
a. Uma criatura de Deus pode ser denominada o filho de Deus em virtude de dever sua existência à atividade criativa imediata de Deus - Lc 3.38; Êx 4.22;
b. Esta expressão pode ser usada para descrever a relação que os homens podem manter com Deus como os objetos peculiares do seu cuidado amoroso. Êx 4.22. em todo o Novo Testamento, este conceito é carregado de um significado mais profundo, ao se fazer menção dos cristãos em termos da filiação para com Deus, quer por nascimento, Jo 3.3; 1.2; ou pela adoção, Rm 8.14,19; Gl 3.26; 4.5.
c. Este terceiro significado é messiânico; o rei da linhagem de Davi é designado de filho de Deus, 2o Sm 7.14.
d. E o quarto é teológico. Esta expressão Filho de Deus na teologia cristã, veio a Ter um significado mais elevado; Jesus é o Filho de Deus porque ele é Deus e participa da natureza divina. Este é o propósito do apóstolo João ao escrever seu evangelho.
Fazendo uma análise mais consciente, vemos que Jesus, como o Filho de Deus, o Logos, era pessoalmente preexistente, ele era Deus, e encarnou-se com o propósito de revelar Deus aos homens.
A NATUREZA HUMANA E O PECADO
Jesus Conhecia o Homem.
Jesus nunca discutiu formalmente a origem e a natureza do homem, contudo as suas referências ao homem são tantas e tais que podemos fundamentar nelas a doutrina do homem. Jesus conhecia o homem como nenhum outro o conheceu, Jo 2.25.
Jesus viu na humanidade uma mistura de bem e mal.
Sem dúvida Jesus viu no homem ou na humanidade uma mistura de bem e do mal; por isso que Ele sempre condenava o mal e procurava estimular o bem. Zaqueu era um publicano, homem indigno, sem valor. Porém, Jesus viu nele um homem de muito valor. - Lc 19.1-10.
O homem imortal.
Jesus também ensinou que o homem era imortal, embora não falasse muito da vida além-túmulo. Porém, o que Ele disse é o suficiente para estabelecer o fato da existência de uma vida além desta. - Mc 12.18-27.
Jesus corrige dois erros dos saduceus:
a. Refuta a ideia de que a vida além-túmulo seja um alongamento aqui na terra.
b. Corrige sua falsa concepção dos mortos nos tempos passados - v. 27.
O Pecado.
Vejamos agora o que Jesus diz acerca do pecado. Como no caso deo homem, Jesus não discute a origem ou a natureza do pecado; mas reconhece que o pecado é problema muito sério.
O Pecado é Universal.
Jesus ensinou que o pecado é universal. É verdade que Ele fala de certas pessoas que não necessitam de arrependimento, mas essas pessoas eram justas só aos seus próprios olhos, Lc 15.7; 11.4; Mt 7.11;
O Pecado contra o Espírito Santo.
Note-se, portanto, que o único pecado que não pode ser perdoado é o pecado contra o Espírito Santo, o qual consiste em negar ao Espírito Santo o poder de regenerar a alma do a homem. Aquele que negasse ao pão o poder de matar a fome, à água o poder de matar a sede e, consequentemente, não se utilizasse desses elementos e no caso de outros não haver, morreria irremediavelmente de fome e sede.
A VERDADEIRA JUSTIÇA.
A lei é a base antiga da justiça.
Quando Jesus veio ao mundo, prevalecia a ideia de uma justiça muito diferente daquela que Ele viera pregar e exemplificar na sua vida. A justiça do fariseu era uma justiça legalista, adquirida pelo indivíduo mediante obediência às exigências da letra da lei. Era a justiça própria da pessoa que a possuía.
Para o fariseu a lei era a pedra de toque de tudo. Quem estava bem com a lei e as suas exigências, estava bem em tudo.
Jesus mudou a base.
Quando, porém, Jesus veio, substituiu essa relação para com a lei, isto é, a relação pessoal que o homem tem para com Deus e para com a humanidade - Lc 10.26,27. Em vez da lei então, como base da justiça, temos as duas grandes relações pessoais, uma com Deus e outra com a humanidade. Jesus estabeleceu, portanto, a justiça em outras bases, em bases pessoais. Substituiu a relação legalista pela relação pessoal; a lei, por Deus e a humanidade.
O amor é a essência da justiça.
No transferir a questão da justiça de uma relação legal para uma relação pessoal, Jesus afirmou que o coração é a usina donde sai a força que dá cumprimento às exigências das relações pessoais, segundo Deus, que é o amor. Lc 10.27; Mt 5.23,24,48. Segundo a concepção de Cristo não só todo o mandamento, mas toda a lei resume-se no amor. - Mt 22.36-40.
A verdadeira justiça.
É evidente destas considerações que Jesus achava a verdadeira justiça, não nos simples atos, mas nos móveis desses atos, na condição do coração do que executava. É verdade que Cristo exige bom procedimento, porém, reconhece que o bom caráter é a base e exclusiva garantia de boa conduta. Quem não é bom de coração não pode realmente praticar o bem, Mt 7.17,18.
A lei cumprida.
É fácil ver deste ponto de vista, a idéia de Jesus quanto ao cumprimento da lei. Já discutimos. É verdade, este assunto, porém, é bem oportuno lembrarmo-nos que o cumprimento da lei por Jesus, alcançou exatamente tudo quanto a lei visava. A lei, por exemplo, visava o estabelecimento de boas relações entre os indivíduos, ou a humanidade em geral.
A lei ritual.
Era justamente essa lei ritual que mais pesava, e influenciava a vida judaica, no tempo de Cristo. - Mt 23.4,24; 5.23,24. Ele veio para cumprir e não para destruir. Jesus visava sempre a condição do coração, que realmente servia de fundo a todas as questões da lei. Jesus queria converter em realidade o ideal da lei.
A SALVAÇÃO MESSIÂNICA
A ideia de mais realce que nos aparece no Novo Testamento é a da Salvação. -
Lc 19.10. Esta salvação é oferecida por Jesus Cristo debaixo de certas condições.
A missão messiânica de Jesus tinha como seu objetivo a preparação dos homens para o Reino de Deus futuro. Jesus constantemente lançou os seus olhares para a vinda do Reino escatológico, quando o julgamento final irá efetivar uma separação entre os homens, justos entrando para a vida e bênção do Reino, e os ímpios para o estado de punição. A igreja primitiva considerou a morte de Jesus como um dos eventos mais essenciais à realização de sua missão. – 1a Co 15.1-3.
O evento da crucificação.
Historicamente, a morte de Jesus foi uma tragédia relativa a um homem que foi apanhado pelos poderes da força política. Jesus havia incorrido na hostilidade mortal dos escribas e fariseus por rejeitar a interpretação que faziam da lei, o que implicava na destruição do fundamento do judaísmo rabínico como um todo.
Como mestre religioso, ele foi uma ameaça à religião farisaica e sua popularidade com o povo o tornou paulatinamente perigoso, Jo 11.47,48. Quando o sinédrio condenou Jesus sob acusação de blasfêmia, Mc 14.64, estavam agindo de acordo com a compreensão que os seus membros possuíam do Antigo Testamento.
Predições da Paixão.
Os evangelhos representam Jesus como predizendo claramente a sua paixão. O registro do Evangelho faz da confissão e Pedro, em Cesaréia de Filipe, um ponto divisório em seu ministério. Esta instrução sobre a sua morte iminente tornou-se um elemento importante no ensino dos dias subsequentes, Mc 9.12,31; 10.33; Mt 17.12; 20.18,19; Lc 17.25.
A morte de Jesus é Messiânica.
Essa conclusão é parcialmente deduzida da evidência já citada de que Jesus considerou a sua morte como elemento essencial em seu ministério totalmente em parte da linguagem usada em suas predições a respeito dos seus sofrimentos, Mc
A dádiva de sua vida é o objetivo para o qual Jesus veio; a consumação e o propósito de sua missão messiânica são incorporados no ato de entregar a sua vida, Mc 10.45.
A morte de Jesus é Expiatória.
O significado redentor da morte de Jesus pode ser observado na declaração sobre o seu caráter expiatório encontrado em, Mc 10.45. Aqui estão inseridos dois conceitos:
a. A vida - o filho do homem dará a sua vida (psyche), por muitos;
b. O resgate - e a ideia de resgate é (lutron), que envolvia o preço para redimir um escravo da servidão. Este conceito era comum no mundo helenista.
A morte de Jesus é Substitutiva.
A morte de Jesus não é somente redentora; a expiação é realizada por meio da substituição. Um elemento substitutivo deve ser reconhecido tanto no conceito geral envolvido como na linguagem particular empregada.
A morte de Jesus é Sacrificial.
A morte de Cristo não apenas redime por meio da substituição; é também uma morte sacrificial. A descrição do servo sofredor em Isaías 53, tem em vista o servo de Deus derramando sua alma como uma oferta pelo pecado, Is 53.10.
A morte de Jesus é escatológica.
A morte de Jesus tem um significado escatológico, Mc 14.25. Sua morte cria uma nova esfera de comunhão, que será completamente realizada apenas no Reino de Deus escatológico. - 1 Co 11.26. A objeção de que este ensino sobre uma morte sacrificial e redentora dificilmente pode ser considerado como parte autêntica do ensino do Senhor, porque não tem consonância com o corpo de seu ensino a respeito da natureza de Deus e não pode ser afirmada e mantida de modo bem-sucedido.
A morte de Jesus uma Vitória.
Algumas poucas declarações encontradas em João suscitam um outro aspecto no que tange ao significado da morte de Jesus. Já vimos que no âmago da missão de Jesus estava uma luta espiritual com os poderes do mal. A morte de Jesus significa que o dominador deste mundo é "lançado para fora”, ou expulso - Jo 12.31.
A IGREJA
Em nosso estudo sobre o reino de Deus aprendemos que o reino era - e ainda é
Um reino espiritual. Segundo a ideia predileta de Jesus, o reino não está tanto sobre nós como em nós.
Indicações de que Jesus pretendia construir a igreja.
Muito cedo no seu ministério, Jesus revelou a sua intenção de formar ou fundar uma sociedade composta das pessoas dentro do reino de Deus; porque Ele sabia que a vida pujante e poderosa da comunhão do homem com Deus, tinha necessidade de possuir um meio pelo qual pudesse manifestar-se clara e eficazmente ao mundo.
A igreja é o plano de Deus para unir toda a raça humana numa nova raça salva, por Jesus Cristo.
1. A primeira indicação de que Jesus tencionava fundar a igreja, achar-se no modo dEle chamar alguns dos seus discípulos para O seguirem nas suas viagens evangelística. - Mc 1.18-20.
2. Essa intenção de fundar uma igreja tornou-se ainda mais clara quando Jesus escolheu doze homens para estarem constantemente com Ele. - Lc 6.12-16.
3. Também as exigências feitas por Jesus aos seus seguidores mostram que as suas intenções eram muito sérias e severas. - Mt 8.19-22; 10.37-39.
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