Um pescador
INTRODUÇÃO
Pedro foi um rude pescador, transformado por Jesus no grande líder dos discípulos tanto antes de sua queda como depois de sua restauração. Ele foi o grande instrumento de Deus para abrir a porta do evangelho tanto para judeus como para gentios. Jesus o tirou de trás das redes e fez dele um pescador de homens e um pastor de ovelhas.
Segundo, existem similaridades entre esse milagre, realizado no início do ministério de Jesus, e aquele que ele realizou no final de seu ministério, após a ressurreição (Jo 21.11–14). Em ambas as passagens, lemos sobre uma pescaria miraculosa. Em ambas, Pedro ocupa um lugar proeminente no acontecimento. Em ambas, existem profundas lições espirituais, as quais se destacam acima dos fatos descritos
OBEDIÊNCIA À PALAVRA
Não devemos esperar até que pequenas dificuldades ou obstáculos sejam removidos, antes de pôr nossas mãos à obra e prosseguir semeando a palavra de Deus.
O coração preguiçoso está sempre pensando nos “espinhos” e no “leão” que “está lá fora” (Pv 15.19; 22.13).
E, afinal de contas, que pescaria foi essa? De peixes, é claro. Mas ela pode ser considerada simbólica também, se comparada ao resultado do ensinamento de Jesus às multidões. Jesus ensinava a “palavra de Deus”, isto é, o evangelho. Pedro disse que, em atenção à palavra de Jesus, lançaria as redes. Ou seja, é a mensagem do evangelho que produz sucesso quando é proclamada mesmo que as circunstâncias pareçam contrárias: luz do dia, em vez da escuridão da noite – talvez em alusão à clareza e veracidade com que a verdade do evangelho convence as pessoas.
PEDRO PECADOR
Essa é uma expressão parecida com a do profeta Isaías, quando contemplou uma pequena porção da majestade de Deus (Is 6.1–5). Pedro, de repente, entendeu de que estava presenciandoa palavra e a ação de Deus diante de seus olhos, ali, através de Jesus. Seu espanto é característico de uma pessoa que teve uma experiência de Deus – o fascínio misturado ao medo. O mesmo acontece com Tiago e João, os outros dois pescadores.
esses versículos nos mostram que um intenso sentimento da presença de Deus humilha o homem, levando-o a sentir sua pecaminosidade. Isso é ilustrado de maneira notável nas palavras de Pedro, quando a miraculosa pescaria o convenceu de que alguém maior do que os homens estivera com eles no barco. “Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador.”
A percepção da grandeza e da santidade divina o leva a sentir intensamente sua própria insignificância e pecaminosidade. O primeiro pensamento desse homem é esconder-se de Deus, assim como Adão após a Queda. À semelhança de Israel no monte Sinai, a linguagem dele será: “Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos” (Êx 20.19).
Esforcemo-nos para, a cada ano que vivemos, reconhecer cada vez mais a necessidade que temos de um Mediador entre nós e Deus, procurando compreender cada vez mais que, sem um Mediador, nossos pensamentos a respeito de Deus jamais nos podem trazer consolo; e, quanto mais claramente percebermos isso, mais nos sentiremos desconfortáveis. Sejamos gratos a Deus, porque em Jesus temos o Mediador de que nossas almas precisam e, por meio dele, podemos nos achegar com ousadia a Deus, lançando fora nossos temores. Sem a mediação de Cristo, Deus é um fogo consumidor. Em Cristo, é um Pai reconciliado. Sem Cristo, o moralista pode tremer enquanto vê a morte aproximar-se. Em Cristo, o maior dos pecadores pode achegar-se a Deus confiantemente e sentir paz perfeita.
O FIM DA SOCIEDADE PESCADOR DE HOMENS
Quem passa pela experiência com o divino, quem experimenta e presencia o poder de Jesus Cristo, fica imediatamente compelido a deixar tudo e a se comprometer. É isso que vemos nas palavras de Jesus, dirigidas a Pedro, mas que incluem Tiago e João e todos nós também: Não temas; doravante serás pescador de homens (v. 10).
“Não temas; doravante serás pescador de homens”. Podemos acreditar que essa promessa não tencionava referir-se somente a Pedro, mas, sim, a todos os apóstolos; e não apenas a estes, mas também a todos os fiéis ministros do evangelho, que andam nos passos dos apóstolos. Essa promessa foi proferida para lhes oferecer encorajamento e consolação, para sustentá-los diante do sentimento de fraqueza e inutilidade, que às vezes quase os derrota. Eles certamente possuem um tesouro em vasos de barro (2Co 4.7) e têm as mesmas paixões que os outros; sentem que seu coração é frágil e incapaz, tal como o de seus ouvintes. Eles são frequentemente tentados a abandonar, desesperados, o ministério de pregação. Mas a essa circunstância aplica-se a promessa, da qual o Cabeça da Igreja espera que eles dependam todos os dias: “Não temas; doravante serás pescador de homens”.
O RESULTADO DA PESCA
Note bem: Pedro já era pescador. Agora, estava se tornando pescador de homens. Jesus não quer que façamos alguma coisa diferente da que fazemos, mas que façamos de modo diferente o que já fazemos. Mas para que pescar homens? O que fazer com eles?
Lucas tem o cuidado de usar um verbo, no grego, que significa “pegar e conservar vivo” (zogrein). O discípulo de Jesus é chamado para “pescar” homens e anunciar-lhes a palavra que liberta e dá vida. E qual foi a reação ao convite de Jesus? E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram (v. 11).
Seguir é uma atitude radical, que não significa certamente deixar tudo para não ter nada o que fazer. Hoje pensaríamos que isso deve ser entendido como dar uma nova direção à nossa vida: colocar tudo a serviço de seguir a Jesus, continuando o seu ministério no “grande mar” do mundo e da história. Você pode continuar a fazer o que está fazendo, mas é chamado para seguir a Jesus.
ORAÇÃO
Oremos diariamente, suplicando por ministros que sejam verdadeiros sucessores de Pedro e de seus companheiros, a fim de que preguem o mesmo e completo evangelho e vivam a mesma vida santa que eles viveram. Esses são os únicos ministros do evangelho que se comprovarão pescadores de homens bem-sucedidos. A alguns desses, Deus pode conceder mais honra do que a outros. Mas todos os fiéis pregadores do evangelho têm o direito de acreditar que seu trabalho não será em vão. Talvez eles pregarão a Palavra de Deus com muitas lágrimas, não vendo qualquer resultado de seu trabalho. Entretanto, a Palavra de Deus não volta vazia (Is 55.11). O último dia demonstrará que nenhum trabalho feito para Deus foi desperdiçado. Todo fiel pescador de homens reconhecerá que as palavras de Jesus lhe fizeram bem: “Doravante serás pescador de homens”.
Pedro não apenas é salvo por Jesus, mas também transformado em discípulo e apóstolo de Jesus. Ele não foi apenas escolhido apóstolo, mas também o líder de seus pares. Pedro tornou-se um dos apóstolos mais próximos de Jesus. Juntamente com Tiago e João, formou o grupo dos discípulos que desfrutou de maior intimidade com Jesus. Somente os três entraram na casa de Jairo quando Jesus ressuscitou sua filha. Somente os três subiram o monte da transfiguração e viram Jesus sendo transfigurado conversando com Moisés e Elias acerca de sua partida para Jerusalém. Somente os três desfrutaram do momento mais crucial da vida de Jesus, no Jardim do Getsêmani, quando este confessou que sua alma estava profundamente triste até a morte. Pedro, Tiago e João viram como ninguém o poder de Jesus sobre a morte na casa de Jairo, a glória antecipada de Jesus no monte e sua agonia indizível no Getsêmani.
É bem verdade que, dessas três ocasiões, Pedro teve uma postura repreensível em duas delas. No monte da Transfiguração, sem saber o que falava, Pedro equiparou Jesus a Moisés e Elias, representantes da lei e dos profetas respectivamente. Ali no topo daquela montanha banhada de luz aurifulgente, Pedro não discerniu a centralidade da pessoa de Jesus nem a centralidade de sua obra. No Getsêmani, mesmo depois de prometer a Jesus fidelidade irrestrita, Pedro dorme na hora da batalha mais renhida da humanidade, quando Jesus orou, chorou e suou sangue.
Jesus ainda hoje nos convoca e nos capacita a sermos pescadores de homens.