Gênesis 15

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Moisés demonstra através da narrativa do pacto firmado por Deus com Abrão, como a salvação haveria de ser executada em favor do patriarca e de toda igreja do SENHOR: mediante o compromisso divino de auto-sacrificar-se (em seu Filho - Cristo) para redimi-los, e que é somente pela fé que é possível tomar parte na redenção.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 15
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
O próximo passo na saga abraâmica, abre caminho para a temática não somente em termos da posse da terra prometida, ou da descendência (i.e. povo) que nasceria a partir de Abrão, mas a abordagem agora concentra atenção num ponto crítico da palavra profética do SENHOR ao patriarca que é desenvolvida ao longo de todo o diálogo neste capítulo 15: o modo através do qual o SENHOR, comprometendo-se "pactualmente", haveria de executar o plano salvífico, redimindo Abrão e todo povo eleito de Deus.
Assim, veremos a partir deste texto, a aliança demonstrativo do compromisso divino na redenção e como base para a fé salvadora.
Elucidação
Após o episódio em que Abrão vislumbra o cumprimento das promessas de Deus de herdar a terra de Canaã, quando logra êxito (segundo a benevolência divina), vencendo as lutas contra reis da própria terra, e tendo permanecido crente de que tal bênção só poderia ter advindo do Criador que lhe favoreceu - o que foi evidenciado pela interposição de Melquisedeque na narrativa, como mediador entre o SENHOR e o patriarca (tipificando, por sua vez, Cristo) - mais um diálogo é iniciado no episódio seguinte, em que Abrão é relembrado de que há um ponto crucial donde se deriva todas as outras clausúlas de benefício da promessa: a redenção.
Como já abordado, há uma estrutura básica na saga abraâmica que proporciona o desenvolvimento da mesma. Os diálogos entre Deus e Abrão elucidam a intenção divina em relação a fé deste, principalmente após um lapso de imaturidade, como foi o caso do capítulo 12.10-20, ou de uma demonstração de amadurecimento na fé, como fora visto nos capítulo 13/14.
O diálogo, como dito, gira em torno do tema da redenção por meio de um herdeiro vindo da descendência de Abrão como prometido por Deus anteriormente, e se inicia logo após o patriarca ter rejeitado as riquezas mundanas oferecidas pelo rei de Sodoma, ao que Deus responde afirmando como o galardão de Abrão seria grande, confiando em Deus como seu Redentor.
A grande dificuldade em questão é a limitação da fé do patriarca para compreender como isso se sucederá numa que Abrão "continuava sem filhos" (Gn 15.2). A explicação divina é de que o patriarca precisa entender como o SENHOR planejou levar à cabo suas promessas (de dar-lhe uma descendência), algo que somente ficará claro através de um compromisso pactual.
A explicação desse compromisso gira em torno do questionamento: Quem será o herdeiro da casa de Abrão?
Segundo o costume antigo:
Caso o chefe da casa não tivesse herdeiro do sexo masculino, ele poderia adotar legalmente um servo fazendo-o seu herdeiro. [...] É bem provável que isso ocorresse como último recurso, visto que significava a transferência da propriedade a uma pessoa (e à sua linhagem) que era originalmente um escravo ou servo e não era um parente de sangue (WALTON, 2018, p. 57).
Entretanto, essa alternativa fornecida por Abrão também vai contra aquela intenção divina exposta a ele por ocasião da primeira teofania. As condições da promessa a qual Deus se comprometeu em cumprir salientavam claramente uma descendência oriunda do próprio Abrão, isto é, um povo, que embora não fosse salvo pela hereditariedade, seria um demonstrativo da bênção ligada ao fazer o nome do patriarca grande (Gn 12.2). Ligado a isso, a árvore genealógica espiritual que descende do próprio Deus (cf Gn 5 em Lc 3.23-38) culminaria no Messias, aquele de quem falou o SENHOR ao confirmar a promessa de possessão da terra de Canaã.
O herdeiro sobre a casa de Abrão não poderia ser providenciado segundo os padrões culturais, ou pelo esforço do próprio patriarca. Era necessário então que Abrão entendesse que todo o desenrolar da obra salvadora de Deus (desde Gn 3) é um plano que adentra a realidade mediante a intervenção divina: homem algum pode prover aquela salvação que somente Deus tem o poder e autoridade para conferir e executar. Assim, a discussão sobre a linhagem abraâmica precisa ser explicada nos termos de um pacto de sangue soberanamente administrado: mais um demonstrativo divino de seu compromisso para com seu povo eleito, e agora, de maneira principiológica, um símbolo do modo como Deus cumprirá suas promessas.
Demonstrando condescendência, acomodando-se à uma linguagem que Abrão poderia entender, o SENHOR estipula uma aliança a ser reafirmada entre ele e o patriarca, de maneira que por meio desta Abrão compreendesse as implicações das palavras de Deus ao ter-lhe revelado suas intenções salvadoras. O ato de cortar animais e dispor os pedaços no chão como símbolo de um pacto, também era um costume antigo nos tempos de Abrão:
Textos hititas do segundo milênio utilizam um procedimento semelhante para a purificação, enquanto alguns tratados aramaicos do primeiro milênio fazem uso de tais rituais a fim de colocar uma maldição sobre qualquer violação do tratado. Textos de Mari e Alalakh retratam o sacríficio de um animal como parte da cerimônia de um tratado. Andar no meio dos animais sacrificados pode ser entendido como uma ação simbólica representando tanto a promessa de terra garantida na aliança, quanto uma maldição sobre quem violasse a promessa ((WALTON, 2018, p. 57).
A referência exortativa autoral também inclui-se na escolha dos animais que serão usados no sacrifício pactual em questão: "uma novilha, uma cabra e um cordeiro, cada qual de três anos, uma rola e um pombinho" (v. 9), são os mesmos animais estipulados por Deus no sistema sacrificial levítico. Assim, mais uma união de horizontes entre a história do patriarca e a história de Israel é notada: por ocasião da execução dos sacrifícios, o povo de Israel estava sendo lembrado das promessas que o SENHOR fez a Abrão: a cada abatimento de um animal em holocausto a Deus, Israel se lembrava das palavras da aliança feitas no monte Sinai, que ecoam a aliança feita em Abrão: o SENHOR se lembra de seu pacto, e redimirá seus eleitos.
Entretanto, um detalhe reforça e enfatiza um aspecto da redenção em particular: sua unilateralidade.
Como dito, o ritual em que se "corta uma aliança" usando pedaços de animais para indicar a punição devida ao infrator incluía a cerimônia em que ambas as partes do tratado caminhassem por entre os mesmos pedaços. Mas, neste episódio, após o patriarca ter preparado o rito e ter sido absorto por uma visão, ele contempla outra teofania, desta vez ainda mais específica: uma tocha de fogo passa entre as partes dos animais, mas nada é dito sobre Abrão também tê-lo feito. Isso ocorre por uma razão:
Tanto as evidências bíblicas quanto extrabíblicas indicam a forma unilateral do estabelecimento da aliança (na Escritura). O soberano Senhor do céu e da terra dita os termos de sua aliança. [...] No caso da aliança abraâmica, Deus, o Criador, compromete-se com o homem, a criatura, mediante um solene juramento de sangue. O Todo-poderoso decide comprometer-se a cumprir as promessas feitas a Abraão. Em virtude desse compromisso divino, as dúvidas de Abraão são eliminadas. Deus promete solenemente e sela sua promessa com um juramento de auto-maldição. Está assegurado o cumprimento da palavra divina (ROBERTSON, 2011, p. 22, 109).
A unilateralidade exposta pelo passar de Deus por entre os pedaços demonstra a Abrão o porquê de poder descansar nas promessas do SENHOR: ele não é um colaborador dos planos divinos, tampouco interfere neles, ao ponto de fazer que tais planos sejam frustrados sob quaisquer circunstâncias. Somente o SENHOR pode fazer com que a salvação seja executada, e ele ainda mostra o que será preciso para que a redenção aconteça: o cosmo só será restaurado (Gn 1-11) e o povo trazido de volta a presença do SENHOR, possuindo a terra como agentes do Reino de Deus (Gn 3.24), mediante seu auto-sacríficio.
É mediante toda essa perspectiva que Moisés pôde fazer o adiantamento da postura de Abrão em relação a essa ação reveladora de Deus: "Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça" (v.6).
Outro detalhe a ser notado é o de que a ocasião em que Deus firma uma aliança com Abrão é entremeada com uma citação prototípica que introduz as intenções divinas de executar a redenção, porém em termos mais abrangentes do que somente o ato de redimir (restaurar) um povo eleito para ser propriedade peculiar do SENHOR, mas agrega também as circunstâncias estruturais que garantem os fatos básicos para que isso aconteça.
No verso 13, enquanto vislumbra uma teofania, Abrão é exortado quanto a uma informação muito importante sobre a história da redenção por meio da sua descendência: é dito que o povo originado a partir de Abrão será peregrino em terra alheia, e escravizada por quatrocentos anos. Como analisado, desde Gênesis 3.15, a história da redenção protagoniza uma rivalidade ou tensão que envolve o avanço do Reino de Deus sobre o cosmo que culmina na redenção deste, e também forças adversas que se opõem a essa realização. Esse conflito movimenta o progresso histórico-redentivo através das Escrituras, como arquétipo em pequena escala do que acontecerá à nível cosmológico, quando da chegada do Messias (i.e. o Descendente prometido), que derrotará os revoltosos, conquistando a vitória profetizada.
Com isso, o aparente "percalço" informado a Abrão, não lhe serve de desestímulo, mas de informativo elucidativo, numa que toda a fala do SENHOR para ele, nesta passagem, tenciona fazê-lo entender que a herança reservada para ele (salvação/redenção) é algo bem maior do que somente a concessão de um filho para herdar sua casa; consiste antes em o Criador demonstrar seus planos magníficos em que expõe que seu próprio Filho (Cristo Jesus) será posto sobre a casa de Abrão como executor das promessas de salvação.
Com isso, o autor do texto (i.e. Moisés) elucida por meio do relato do "corte da aliança" de Deus para com Abrão, como os fatos ocorridos no Egito estão ligados a esta promessa de libertação "da gente a quem tem de sujeitar-se" (v.14). A confiança no "Deus de vossos pais (Êx 3.16) não é vã ou superficial, mas está baseada na esperança de redenção realizada por Deus que se lembra do seu povo.
A partir disso, um outro paralelo entre a narrativa abraâmica e a saga de Israel é estruturado pelo autor bíblico, através de uma cláusula pactual. Ao referir-se à herança que daria a Abrão - como símbolo daquela redenção que seria executada por Deus em favor dele e de sua descendência - e como introdução à cerimônia de corte da aliança por seguir, o SENHOR emite a Abrão aquilo que será cunhado posteriormente como cabeçalho do laço "aliancístico" entre o Criador e seu povo, a expressão: "Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos Caldeus..." (v.7) que aparece novamente, de acordo com a mesma estrutra, também precedendo o rito de promulgação de aliança em Êxodo 20.2: "Eu sou o SENHOR, teu Deus que te tirei da terra do Egito...".
O paralelo, além de reforçar a conexão entre os dois relatos pactuais, enfatiza por meio desse recurso, a ponte redentiva que liga a promessa à Abrão ao cumprimento em Israel, e alavanca a expressão estendendo-a, através do escopo redentor do Êxodo - que será usado pelos autores bíblicos como arquétipo da obra salvadora, como já afirmado - que culmina com a recepção da herança divina, qual seja: a libertação final da opressão conflitante com as forças rebeldes ao estabelecimento do Reino de Deus.
Levando em consideração o referencial enfatizado por meio dessa sentença, João Calvino comenta:
Isso, de fato, é dito não somente em relação a Abrão, a fim de que ele, reunindo as promessas de Deus, fetias a ele desde o começo de sua vida de fé, as juntasse num todo, mas é dito para que todos os piedosos aprendam a considerar o início de sua vocação como algo que emana perpetuamente de Abrão, o pai de todos eles, e assim possam, com segurança, se alegrarem juntamente com Paulo, ou seja, saberem em quem têm crido [2Tm 1.12] , e que Deus, na pessoa de Abrão separou para si uma igreja, será um fiel guardador da salvação por ele mesmo depositada (CALVINO, 2018, p. 419) .
O Novo Testamento, assim como a menção feita por Moisés no AT, elucida que o episódio do capítulo 15 abrange o escopo maior da obra da salvação em seu 'modus operandi', isto é, os fato demarcados pela Escritura neste texto declaram um molde através do qual a redenção é não somente executada por Deus em favor de seu povo e de toda a criação, mas também aplicada sobre os mesmos eleitos, qual seja: a graça mediante a fé na promessa.
Na sua carta Aos Romanos, o apóstolo Paulo, explicando o meio através do qual alguém é trazido a salvação, enfatiza que a redenção não é obtida segundo a obediência à Lei, citando o caso de Abrão: "Pois que diz a Escritura? [...] Esperando contra a esperança, creu, [...] estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça" (Rm 4.3, 18, 21–22).
Noutro texto, agora em sua epístola aos gálatas, demarcando que os filhos de Abrão não são os que somente cumprem o rito externo da circuncisão, mas os que pela fé, confiam na redenção divina:
É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão. Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las. E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque "o justo viverá pela fé" (Gl 3.6–11).
Quando o SENHOR revela que é unilateralmente por meio de si que a salvação será realizada, de acordo com um auto-sacrifício da parte do próprio Criador, Abrão crê, e sua fé é demonstrada na Escritura como sendo o instrumento do Espírito para salvação de todo eleito, algo que o próprio autor da narrativa está salientando ao povo de Israel: embora tenham recebido a promessa da parte do SENHOR, e tenham visto diversos milagres no Egito, que inclusive demonstraram o cumprimento das promessas do Criador aos patriarcas de que libertaria o povo da escravidão e da ameaça, o que também foi um paralelo entre a própria história do povo ligada a dos patriarcas, se não cressem em Deus como seu Redentor, jamais desfrutariam da salvação, pois esta não é fruto da concorrência da vontade divina com a agência humana, mas definitivamente, o papel do povo de Deus na execução do plano redentivo é ser beneficiário da graça do Altíssimo, vislumbrando como a providência se encarrega de moldar a história rumo ao apogeu da glorificação do Deus Triuno na redenção da criação.
Transição
Através de um pacto, o SENHOR dissipa as dúvidas do coração frágil de Abrão, demonstrando-lhe que o cumprimento da promessa está baseado não nas circunstâncias, como as que ele tem experimentado desde sua saída de Ur dos Caldeus, passando pelo Egito, até este ponto, mas na graça divina em providenciar que a redenção seja executada da única forma eficaz: por meio auto-sacrifício divino em trazer sobre si as maldições causadas pelo pecado, enviando o herdeiro prometido (i.e. Cristo) como executor do plano redentivo.
Porém, à luz desses princípios, pelo menos duas outras aplicações podem ser feitas a partir do Texto Bíblico de Gênesis 15.
Aplicações
1. Nossa fé vacilante precisa ser constantemente fortalecida e lembrada das promessas de Deus.
Apesar das constantes provas que Deus havia dado a Abrão de que estava com ele, e de que o faria tomar posse daquilo que lhe fora prometido, o coração dos homens oscila entre a dúvida e a certeza, embora haja fé o suficiente para não deixar que a primeira domine completamente sua vida. Assim foi com Abrão, que mesmo não tendo plena compreensão, devido a imaturidade de sua fé, não deixou de crer que Deus seria o seu Redentor, embora a sombra das incertezas de como isso aconteceria pairassem sobre sua cabeça, o mesmo ocorre conosco.
A maturação na fé é uma jornada que todo crente, assim como Abrão, deve trilhar. Nesse percurso, altos e baixos nos esperam, embora não deixemos de olhar para Cristo como nosso Salvador. Porém, ninguém nos conhece melhor do que nosso Deus, e ele sabe que nossa fé precisa ser amparada em sua debilidade, e por isso, ministra constantemente sobre nós sua graça, revelando-nos, pela sua Palavra, a aliança da graça que estabeleceu com seu Filho, Jesus Cristo.
Nossa fé e frágil, mas nosso Deus não. Nosso coração retém dúvidas, mas o SENHOR não é assim. Nosso entendimento é limitado, mas o conhecimento do Criador é infinito, e moldou a história de forma a que tudo concorra exatamente como planejou, o que significa que o resultado não será outro: fomos, estamos e seremos redimidos em Cristo, aquele que no nosso lugar, suportou a maldição da quebra da aliança que deveria recair sobre nós, para ser o primeiro entre muitos, o nosso Conquistador: o herdeiro sobre a casa de Abrão, o Rei sobre a casa de Deus.
2. A redenção não é obra nossa, mas é uma graça executada exclusivamente por Deus.
Uma das informações mais importantes sobre o evangelho que nós sempre deveríamos lembrar é esta: o evangelho é o que Deus fez por nós, que nós jamais conseguiríamos fazer por nós mesmos. Os pedaços dos animais dispostos no chão apontam para quão solene é o acordo e quão graves são as consequências da quebra dele. Porém, só uma das partes passa por entre os pedaços; só um tem poder suficiente para comprometer-se tão radicalmente com a aliança ao ponto de encarar as maldições anexas. Só um pode embasar a confiança do outro de modo tão seguro ao ponto de garantir-lhe que não haverá qualquer rompimento ou desistência que anule aquele pacto: somente Deus em Cristo pode passar entre os pedaços mutilados, que simbolizam a morte do transgressor. Abrão não pôde passar por entre os pedaços, porque ele "era os pedaços", ele era o herdeiro do legado maldito de nossos primeiro pais: o pecado.
Somente alguém que não estivesse em tal condição poderia socorrer o defunto Abrão, e nele, todo o povo eleito de Deus, do qual fazemos parte. Somente um vivo pode salvar os mortos. Somente o Deus Triuno. O pacto firmado em Gênesis 15, demonstra a ação unilateral de Deus em nos socorrer, exibindo a Abrão como ele executaria os planos redentivos propostos desde Gn 3.15: o sacrifício de um, pelo pecado de muitos. Isso é o evangelho: a boa notícia aterrorizante de que estávamos mortos, mas pela graça, fomos vivificados, graças ao Pai no Filho, por obra do Espírito.
Conclusão
1. Nossa fé vacilante precisa ser constantemente fortalecida e lembrada das promessas de Deus.
Apesar das constantes provas que Deus havia dado a Abrão de que estava com ele, e de que o faria tomar posse daquilo que lhe fora prometido, o coração dos homens oscila entre a dúvida e a certeza, embora haja fé o suficiente para não deixar que a primeira domine completamente sua vida. Assim foi com Abrão, que mesmo não tendo plena compreensão, devido a imaturidade de sua fé, não deixou de crer que Deus seria o seu Redentor, embora a sombra das incertezas de como isso aconteceria pairassem sobre sua cabeça, o mesmo ocorre conosco.
A maturação na fé é uma jornada que todo crente, assim como Abrão, deve trilhar. Nesse percurso, altos e baixos nos esperam, embora não deixemos de olhar para Cristo como nosso Salvador. Porém, ninguém nos conhece melhor do que nosso Deus, e ele sabe que nossa fé precisa ser amparada em sua debilidade, e por isso, ministra constantemente sobre nós sua graça, revelando-nos, pela sua Palavra, a aliança da graça que estabeleceu com seu Filho, Jesus Cristo.
Nossa fé e frágil, mas nosso Deus não. Nosso coração retém dúvidas, mas o SENHOR não é assim. Nosso entendimento é limitado, mas o conhecimento do Criador é infinito, e moldou a história de forma a que tudo concorra exatamente como planejou, o que significa que o resultado não será outro: fomos, estamos e seremos redimidos em Cristo, aquele que no nosso lugar, suportou a maldição da quebra da aliança que deveria recair sobre nós, para ser o primeiro entre muitos, o nosso Conquistador: o herdeiro sobre a casa de Abrão, o Rei sobre a casa de Deus.
2. A redenção não é obra nossa, mas é uma graça executada exclusivamente por Deus.
Uma das informações mais importantes sobre o evangelho que nós sempre deveríamos lembrar é esta: o evangelho é o que Deus fez por nós, que nós jamais conseguiríamos fazer por nós mesmos. Os pedaços dos animais dispostos no chão apontam para quão solene é o acordo e quão graves são as consequências da quebra dele. Porém, só uma das partes passa por entre os pedaços; só um tem poder suficiente para comprometer-se tão radicalmente com a aliança ao ponto de encarar as maldições anexas. Só um pode embasar a confiança do outro de modo tão seguro ao ponto de garantir-lhe que não haverá qualquer rompimento ou desistência que anule aquele pacto: somente Deus em Cristo pode passar entre os pedaços mutilados, que simbolizam a morte do transgressor. Abrão não pôde passar por entre os pedaços, porque ele "era os pedaços", ele era o herdeiro do legado maldito de nossos primeiro pais: o pecado.
Somente alguém que não estivesse em tal condição poderia socorrer o defunto Abrão, e nele, todo o povo eleito de Deus, do qual fazemos parte. Somente um vivo pode salvar os mortos. Somente o Deus Triuno. O pacto firmado em Gênesis 15, demonstra a ação unilateral de Deus em nos socorrer, exibindo a Abrão como ele executaria os planos redentivos propostos desde Gn 3.15: o sacrifício de um, pelo pecado de muitos. Isso é o evangelho: a boa notícia aterrorizante de que estávamos mortos, mas pela graça, fomos vivificados, graças ao Pai no Filho, por obra do Espírito.
Conclusão
Abrão, não entendendo como sua redenção aconteceria, foi testemunha do favor divino em lhe esclarecer a dúvida, tendo visto o Evangelho: a graça salvadora de um Deus misericordioso, que se comprometeu em sofrer no lugar de pecadores, para trazer esses pecadores de volta aos seus braços.