Gênesis 13.1-18

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O autor bíblico exorta o povo de Deus quanto a ter como foco as promessas do SENHOR, e não as aparentes vantagens de seguir cursos ou caminhos que parecem bons, mas que levarão o povo a ser embaraçar com as coisas dessa vida.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 13.1-18
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
A saga abraâmica dá continuidade a partir da narrativa do retorno de Abrão para a terra de Canaã após os relatos registrados na seção anterior, onde Deus providenciou para que Abrão fosse preservado a despeito de sua fé imatura e vacilante no Deus que lhe aparecera.
Por meio deste novo episódio da saga, o SENHOR revelará a Abrão o quanto este necessita ser constantemente fortalecido em sua fé para que entenda que as circunstâncias que lhe ocorrem, são parte de um propósito maior que está se processando por meio de sua vida. As subsequentes narrativas, desenvolverão na vida de Abrão as palavras que foram preditas acerca dele: "sê tu uma bênção!" (Gn 12.2b). O patriarca está sendo lapidado por Deus para que seja exatamente aquilo que foi tencionado pelo Criador para que ele se tornasse, beneficiando o povo eleito e glorificando o nome do SENHOR.
Hoje, veremos então como o SENHOR concede a Abrão seu consolo providencial como exortação à confiança.
Elucidação
Após os fatos que demonstraram para Abrão o quanto Deus lhe é favorável, mesmo diante da fraqueza de sua fé, outro cenário compõe o pano de fundo da saga do patriarca.
É interessante notar que, o movimento de Abrão em relação à terra de Canaã (terra prometida), está diretamente ligado à sua progressão espiritual e sua relação com o próprio Deus (MACDONALD, 2011, p.26). Não que haja qualquer tipo de "poder místico" na terra em si, mas, o autor bíblico (i.e. Moisés) usa a própria peregrinação em termos do afastamento/aproximação de Abrão da terra prometida, para elucidar os altos e baixos da fé do patriarca até a maturação, onde confia plenamente em Deus e em suas promessas.
Esse recurso também enfatiza a exortação que Moisés está fazendo ao povo de Israel: afastar-se da terra prometida, ou tê-la em baixa consideração é um demonstrativo de desconfiança ou aversão às palavra de Deus que usa a terra como símbolo daquela redenção que está progredindo, aguardando o cumprimento com a chegada do Reino de Deus através do Messias (i.e. Cristo). O mesmo serve em relação ao próprio Deus e seu tratamento para com o povo: diante da fidelidade de Israel, a terra prospera e mana leite e mel, porém, tendo em vista a desobediência, o banimento da terra, demarca o juízo do SENHOR sobre seu povo, e o retorno do exílio, por sua vez, reafirma o compromisso de Deus de habitar para sempre com seu povo.
Assim, ao mencionar o retorno de Abrão do Egito a Canaã (Gn 13.1), o autor prepara o caminho para o momento em que o patriarca haverá de demonstrar que progrediu na fé em seu Redentor.
Após a constatação do retorno de Abrão, a descrição da fortuna do patriarca e de seu sobrinho (vs.5-7), também é usada como introdução ao fato por vir: a tensão entre os pastores de ambos os personagens trata de chamar a atenção para a distinção de visão que cada um deles têm, e de como essa visão influencia a tomada de decisão que farão, que por sua vez, demonstra onde está o coração de ambos.
A grande questão é quem tem a melhor visão em relação ao futuro: Ló ao "erguer os olhos e avistar campinas verdejantes" (v. 10), ou Abrão que é levado a olhar noutra perspectiva (v. 14)? O modo como cada personagem vislumbra determinada paisagem enfatiza que as escolhas que estão realizando impactam diretamente no desfrutar da bênção ou não de Deus.
Segue-se a esse fato, uma proposta dolorosa à Abrão: é melhor que tanto Ló quanto ele separem-se. Abrindo mão da primazia da escolha, tendo em vista ser mais velho e tio de Ló, o patriarca concede a primeira escolha a seu sobrinho. Aqui já é possível perceber uma mudança no caráter de Abrão: ele não é mais aquele homem que tomava suas decisões baseado nas circunstâncias lhe serem ou não favoráveis, prefere antes, manter-se firme, apegando-se à lembrança de que Deus é sua posse (Gn 12.1-3).
O sobrinho de Abrão, Ló, que o seguiu desde Gênesis 12.4, após o SENHOR ter aparecido a seu tio, prometendo-lhe grandes coisas, parece não compartilhar da mesma fé do patriarca. Isto porque, mediante a impossibilidade de estarem juntos, prefere escolher um caminho bem diferente daquele a ser trilhado por Abrão. Mediante a proposta de seu tio, "Levantou Ló os olhos e viu toda a campina do Jordão" (v. 10). Atraído pela visão de pradarias verdejantes, o caminho de Ló começa a opor-se ao destino de seu tio. Alguns versos depois, o próprio autor do texto, trata de demonstrar para onde a escolha dele o está levando:
[...] "Ló escolheu para si toda a campina do Jordão e partiu para o Oriente [...] e ia armando as suas tendas até Sodoma. [...] Ora os homens de Sodoma eram maus e grandes pecadores contra o SENHOR" (Gn 13.11, 12, 13).
O movimento geográfico de Ló elucida também sua movimentação espiritual: ele não somente é facilmente levado pelo aparente, bem como vai habitar no meio de um povo iníquo, conhecido por sua pecaminosidade e rebeldia contra o Criador.
Por outro lado, enquanto se poderia supor que pela escolha aparentemente "melhor"de Ló, Abrão ficaria desamparado ou teria de percorrer um caminho menos vantajoso, Deus imediatamente é evocado na narrativa, aparecendo para Abrão, consolando-o em termos de uma confirmação das promessas, sendo levado a ver de uma perspectiva diferente da de Ló. Enquanto Ló "ergueu os olhos" e viu a campina verde que o levaria à decadência espiritual (i.e. Sodoma), Deus ergue os olhos de Abrão para enxergar que a terra em que já estava lhe seria dada por herança do SENHOR, assim como à sua descendência. Abrão é levado a enxergar o cumprimento da aliança; o que serve de reforço e consolo para sua fé.
A breve palavra do SENHOR dirigida a Abrão nos versos de 14 ao 17, também possuem uma consideração especial à luz do texto. Os monólogos e diálogos após os episódios em que a fé de Abrão apresenta fraqueza ou oscilação, representam aquele primeiro contato que o Criador teve para com ele, quando, por ocasião de seu chamado, demonstra todo o plano redentivo que será executado sobre e para benefício do patriarca e de todos os eleitos de Deus (Gn 12.3). Assim, o ato divino de comunicar-se com Abrão, ressalta seu amor em revelar-se ao seu servo e seu intenso compromisso em firmar-lhe os passos até o cumprimento da promessa. Deus não aparece levianamente; sua revelação é por si só um demonstrativo de graça para com seus filhos.
Entretanto, a exortação de Moisés para Israel não concentra-se somente na resposta do patriarca a toda essa situação, mas o próprio Ló é usado como modelo didático negativo.
Mediante a leitura feita por Pedro em sua segunda carta (2Pe 2.7-8), a consideração bíblica é que, apesar de ter escolhido sua direção baseado em vantagens pessoais, sobretudo, a despeito da generosidade de seu tio, Ló é visto como justo (eleito), o que pode reforçar o caráter exortativo do trecho tal como usado por Moisés: mesmo sendo eleitos de Deus, nosso coração deve vigiar sempre em termos de qual é a base para nossas escolhas, pois, não podemos esperar que bons ares nos favoreçam, se damos as costas às promessas de Deus buscando aquilo que aparentemente parece favorável e "bom" segundo o conceito pagão do mundo (rf. Sodoma e Gomorra vs. 10, 12). João Calvino, usando a escolha de Ló como base argumentativa, ressalta:
Aprendamos, pois, por esse exemplo, que não devemos, antes, estar vigilantes para que não sejamos iludidos por eles; e, sem perceber, sejamos cercados com muitos males, assim como Ló que, quando pensou que estava habitando no paraíso,, quase mergulhou nas profundezas do inferno (CALVINO, 2018, p. 375).
Transição
Certamente, o texto de Gênesis 13.1-18 foi usado por Moisés para demonstrar o quanto o percurso histórico da jornada patriarcal em Abrão o levou a vislumbrar toda a bênção que o cumprimento das promessas de Deus lhe reservava, e que por isso, sua visão não deveria estar voltada para outra coisa senão para o próprio Criador e sua gerenosa graça que o perseguia e o encaminhava para o centro dos propósito do Soberano, em redirmir para si um povo, representado pelo próprio Abrão.
Contudo, há ainda alguns outros pontos que podemos observar à luz do texto, e que são relevantes para nós.
Aplicações
1. Nossas escolha serão feitas com base em nossa perspectiva e foco.
É lugar-comum que ambos os personagens tinham objetivos diferentes, e tais objetivos estavam se baseando na forma como olhavam par ao futuro ou para as circunstâncias presentes. Para onde cada um deles olhou, moldou a forma como tomaram decisões sobre o que fariam.
Nenhuma decisão que tomamos é baseada em uma vontade aleatória. Ninguém opta por tomar um rumo, fazer ou não fazer algo, simplesmente por uma súbita vontade que lhe ocorreu. Somo seres racionais, e assim, nossa mente destacará para nós aquilo que parece mais atrativo e vantajoso. Por sua vez, haveremos de ver o que parece ser melhor, mediante aquilo em que cremos.
Ló, embora crente, preferiu colocar sua crença nas possivéis vantagens que obteria seguindo o curso que lhe pareceu melhor, vislumbrando toda a campina do Jordão, mesmo sabendo que aquele caminho o levaria para próximo do pecado e da maldade. Abrão, mesmo não tendo visto uma paisagem tão bela quanto seu sobrinho, vislumbrou a terra da promessa, exibida por Deus e garantida por ele como sua herança.
Nossa fé molda o modo como enxergamos o mundo. Se temos em vista os planos de Deus e a fé de que o SENHOR é o nosso guia na peregrinação por esse mundo, certamente nossas escolhas serão piedosas e bem-sucedidas. Mas, o contrário também é verdade, e o sofrimento será inevitável, como veremos ter sido o caso de Ló.
2. Vigiemos nosso coração, pois ele facilmente se perde com as paisagens belas de um mundo mau e pecador contra o SENHOR.
Gênesis 13 nos mostra que a fé de Abrão maturou um pouco mais, e agora ele não se deixou levar tão facilmente por uma proposta "aparentemente melhor" como fizera antes. Não podemos, porém, pensar que nosso coração, a despeito da maturidade de nossa fé, sempre nos policiará contra escolhas baseadas na aparente vantagem que possamos estar observando se tomarmos certas escolhas. Todos os dias, travaremos uma batalha com nossa natureza corrompida, a fim de fazermos prevalecer a visão de Deus para nós, isto é, de santificação e confiança nele e em sua providência.
Além disso, é certo que se tomarmos decisões que nos levarão para mais perto da iniquidade, certamente saborearemos o gosto amargo do sofrimento, principalmente tendo em vista a disciplina que executará o SENHOR, por termos dados as costas às suas palavras. Procurarmos o sofrimento por meio de escolhas pecaminosas, será um agravante que o SENHOR levará em consideração ao nos disciplinar por nossa rebeldia e insistência em considerar as coisas desse mundo melhores do que aquelas bênçãos reservadas para nós, se tão somente crermos e aguardarmos pelo derramar de sua graça.
3. Olhando para Cristo - o cumprimento da promessa - garantimos que seremos sábios tomando decisões segundo o que deseja nosso SENHOR.
O que garantiu a Abrão vitória sobre o anseio de escolher a tentadora proposta de se afastar novamente das palavras de Deus, foi seu foco no cumprimento das promessas de Deus. Em seguida, o Criador reforçou o que dissera, amparando a debilidade da fé do patriarca, e firmando ainda mais seus passos. Da mesma sorte, nós, seremos fortalecidos, se na jornada que trilhamos nesse mundo, olharmos para a promessa cumprida: Cristo.
A certeza de que nosso SENHOR está trabalhando a nosso favor, a fim de dar-nos tudo aquilo que proporcionou para nós em Cristo, é o que garantirá êxito, quando, tentados a escolher caminhos pecaminosos, recusarmos as facilidades de um mundo caído, em troca da felicidade do lar celeste.
Conclusão
Deus, nos convoca a olharmos para todos os lados - em Cristo - a fim de contemplarmos as profundas e ricas bênçãos que nos estão reservadas nele. Assim como Abrão foi convidado a olhar e ver a terra que o povo que viria dele herdaria, como referência à redenção prometida por Deus no Novo Céu e Nova Terra, Deus em Cristo ergue nossos olhos para vermos quão abençoado já somos, por estarmos caminhando para uma terra que mana leite e mel.