Gênesis 11.10-32

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Moisés expõe a genealogia de Abrão, usando-a como demonstrativo dos planos salvíficos de Deus por meio da soberana eleição de seu povo, exortando também o povo de Deus a confiar nesses planos sendo fiéis à aliança que os santifica separando-os como propriedade peculiar do SENHOR.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 11.10-32
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Como temos visto, Deus tem exercido seu papel soberano demonstrando seu planos redentor por meio do uso de personagens específicos, para o alcance de seus planos.
Desta feita, veremos como Deus introduz por meio da genealogia de Sem que culminará em Abrão uma nova etapa de seus planos salvíficos, desenvolvendo sua descendência de maneira soberana e eletiva.
Elucidação
A continuação da linhagem da mulher e a demonstração da eleição divina.
A passagem de Gênesis 11.10-32 é mais um paralelo entre as genealogias já estruturadas, que serve também como demonstrativo do avanço dos planos de Deus para redenção de seu povo. Assim, como a genealogia de Gênesis 5, serve de introdução ao relato do dilúvio, quando a salvação é exposta em seu arquétipo principal de redenção por meio do juízo, da mesma forma Moisés usa a genealogia presente para introduzir mais uma seção em que a providência divina favorecerá seu povo eleito no que tange ao estabelecimento do cenário para a chegada do Descendente que executará a redenção.
O autor introduz os relatos concernentes à vida de Abraão, por meio da conexão genealógica que o ligará ao próprio Deus através da soberana eleição.
A passagem segue em tom narrativo, porém, também como tem sido largamente feito por Moisés ao longo do livro, temos aqui o início do que poderíamos chamar de "saga": o destaque de um personagem (indivíduo ou grupo) cuja a história exibe os desdobramentos de uma meta-narrativa ou escopo maior, que aborda pontos éticos ou elucidativos de acordo com seu uso. Além disso, a saga possui como característica principal, a apresentação de um protagonista, um personagem redor do qual a história se desenrola. Embora neste ponto, sempre devamos ver que Deus é o centro da narrativa bíblica, o desenrolar da trama não impede que um indivíduo (no caso, Abrão) ou grupo (por exemplo), Israel) sejam vistos como protagonizando o movimento histórico-redentivo de maneira instrumental, ou seja, estão sendo usado por Deus para o desenvolvimento de seus planos.
Em termos da estrutura genealógica que vemos neste texto, podemos encontrar paralelos entre as narrativas anteriores que seguem o mesmo padrão. Por exemplo, em Gênesis 5, Moisés afunila a atenção do leitor para um personagem específico: Noé, através da expectativa lançada sobre ele em relação à palavra profética divulgada por Deus no momento do julgamento da humanidade por seus pecados:
"Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho; pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o Senhor amaldiçoou" (Gn 5.28–29).
Em Gênesis 11.10-32, tratando-se também de uma lista genealógica, o mesmo objetivo é tencionado. A descendência de Sem (v. 10) avança até chegar ao personagem central da narrativa seguinte: Abrão. Assim, a história de Gênesis está saindo de um contexto mais generalizado (história pré-patriarcal), para um mais focalizado (ou particular, numa que Noé fora tratado de maneira específica, mas ainda estava dentro de um contexto mais amplo, do trato de Deus como toda a criação).
A expectativa agora é lançada sobre Abrão, o que é expeficificamente demonstrado na quebra do movimento de Tera indo à Canaã, o que realçará, como dito, a compreensão eletiva de Deus sobre este personagem, tendo em vista que a chegada e posse da terra de Canaã serão os termos que vinculam Deus e Israel (representado por Abraão) no pacto a ser firmado posteriormente.
Se levarmos em consideração a localização fornecida pelo autor, poderemos chegar a conclusão de que os ascendentes de Abrão (i.e. Tera, seu pai, Naor, seu irmão), eram idólatras, pois os povos das terra de Ur dos Caldeus são conhecidos pela narrativa bíblica por sua adoração pagã aos elementos da natureza.
Algumas versões de Bíblias, entendendo essa divergência, apontam para o movimento de saída de terra de Ur por parte de Tera e dos seus familiares como tendo sido interrompido, também com esse fim:
"Terá tomou seu filho Abrão, seu neto Ló, filho de Harã, e sua nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e juntos partiram de Ur dos caldeus para Canaã. Mas, ao chegarem a Harã, estabeleceram-se ali".
O adversativo aqui empregado, serve de base para a obra eletiva de Deus que retirará Abrão do meio de seus entes, destacando-o para a salvação que lhe será revelada como plano de Deus para sua vida.
Outro ponto de semelhança é que assim como em Gênesis 5, um personagem (i.e. Noé) é escolhido para que através deste os planos salvíficos de Deus fossem executados, da mesma forma agora, em Gênesis 11.10-32, a cena prepara caminho para mais um desdobramento dos planos redentivos, através de outro personagem: Abrão.
Outros texto bíblicos que interpretam Gênesis 11.10-32 demonstram o crescimento da ênfase na graça soberana de Deus por meio da eleição, através das conexões de parentesco por meio de Abrão. Por exemplo, ao fazer suas últimas exortações para o povo de Israel, assim como fizera Moisés antes dele, Josué faz referência ao modo de vida dos antepassados de Abrão:
Então, Josué disse a todo o povo: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Antigamente, vossos pais, Tera, Pai de Abraão e de Naor, habitaram dalém do Eufrates e serviram a outros deuses" (Js 24.2).
A idolatria e corrupção eram marcas dos ascendentes de Abrão, como já afirmamos, e do meio dessa linhagem não-eleita, o Criador supre para si, aquele em quem planeja avançar sua descendência, abrindo caminho para que o Descendente prometido (Gn 3.15) adentre a história.
Essa tese da eleição soberana implicando numa vida santificada ao SENHOR, será base para a exortação à obediência tanto por parte de Josué quanto de Moisés, que por sua vez, embasam suas considerações no chamado eletivo de Deus para com seu povo, a fim de que este lhe seja propriedade peculiar (Êx 19.5).
Estevão, apontando para a chegada de Cristo como sendo o marco fundamental da Escritura, em seu sermão diante do sinédrio, esclarece que o mesmo de Deus que os havia entregue a terra de Canaã onde agora habitavam os judeus, foi que enviou Jesus; o Messias (i.e. Descendente): "[...] O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso pai, quando estava na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã" (Atos 7.2).
A tese de Estevão é a de que aqueles homens (fariseus e demais mestres da lei) estavam resistindo ao Espírito Santo, quando claramente rejeitavam a mensagem de que Cristo era o descendente vindo da parte de Deus, como cumprimento da promessa feita à Adão(Gn 3.15) e referendada à Abraão, a quem os mestres vinculavam-se externamente, mas distanciavam-se não compreendendo esta ligação.
O ponto nevrálgico do texto revela-se entretanto, num comentário do autor que enfatiza outro personagem: a esterilidade de Sarai (v. 30). A informação aparentemente desconexa é a base através da qual o autor divino elucida a obra redentiva, isto é, o cumprimento dos planos salvíficos do Criador para com a criação é uma ação executada exclusivamente por este, como será o nascimento de Isaque, que faz parte das promessas de Deus que serão dirigidas a Abrão no capítulo 12.
A impossibilidade de Sarai ter filhos é a circunstância usada pelo SENHOR a fim de exibir sua soberania na salvação de seu povo. Tal obra não conta com a participação humana, senão que, pelo poder do Espírito, todo aquele chamado à salvação deve crê nessa intervenção divina na história.
De maneira análoga, o evangelho de Mateus, registra o nascimento de Cristo com a mesma ênfase, quando, repetidas vezes, o autor destacará tal nascimento como uma milagre ou ação exclusivamente divina:
"Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo". [...] "Não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo". [...] "Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus" (Mt 1.18; 20; 25).
O comentário de Moisés de que Sarai era estéril também é um adiantamento dos fatos posteriores na narrativa, que prepara os leitores para compreenderem o teor da obra salvadora: Deus agirá de maneira redentiva na vida do seu povo, de forma sobrenatural e soberana, demonstrando a graça de redimir os que não poderiam de qualquer forma fazer isso por si em relação ao Criador. A esterilidade de Sarai, que poderia ser vista como uma barreira que causaria desesperança, será usado pelo próprio SENHOR como instrumento de seu triunfo salvador.
Embora a história a seguir tenha como protagonista Abrão, a lembraça que Moisés deixa através desse comentário da impossibilidade de Sarai gerar filhos (v.30) é a promessa de que da semente da mulher virá um que esmagará a cabeça da serpente (Gn 3.15). O cumprimento dessa promessa não se dará pela coalizão de forças divinas e humanas, mas transcende a potência dos homens. A esterilidade de Sarai, não será impedimento para que em Abraão o descendente prometido venha ao mundo e cumpra seu chamado, como sustenta Waltke:
"A esterilidade de Sara enfatiza o fato de que a graça de Deus vai além da imginação. El garará filhos não por meio de uma geração natural, mas por meio da vida supernatural que a fé engendra. Pela instrumentalidade desse casal sem filhos, Deus estará introduzindo uma nova humanidade que nascerá não da vontade de um esposo, mas pela vontade de Deus" (WALTKE, 2010, p. 242).
Transição
A descendência genealógica de Abrão, aponta para como Deus estrutura seusplanos redentivos de maneira que seu nome seja glorificado (tese dos textos de Gn 10, e 11.1-9), tendo em vista o chamado eletivo de Abrão do meio de sua parentela (Gn 12.1). O mesmo princípio será aplicado por Moisés sobre Israel, quando este expõe a eleição do povo de Deus dentre outras nações: "Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há na terra" (Dt 7.6). Essa perspectiva é replicada em Deuteronômio e ao longo de toda a Escritura, tendo em vista o arquétipo traçado a partir de Gênesis 11.10-32, especialmente no destacamento de Abrão de entre seus ascendentes e parentes.
A eleição divina de Abrão, introduzida pela lista genealógica, informa a graça de Deus em resgatar seus eleitos, a despeito de sua condição de distantes ou rebeldes ao próprio Criador. Essa era situação dos ascendentes de Abrão, idólatas (segundo pode ser inferido a partir da região onde estavam : Ur dos Caldeus.
As implicações dessa assertiva rementem à fatos que são aplicáveis ao povo de Israel em escala maior. O próprio êxodo é umm exemplo disso, quando o povo de Israel é retirado de uma terra idolatra e pagã, para servir ao SENHOR Deus na terra prometida aos seus pais (i.e. Abraão, Isaque e Jacó); o que funciona como uma analogia ao chamado de Abrão. Por sua vez, essa mesma consideração aplicada a igreja de Deus, prefigura o chamado a partir de uma condição de miséria e rebeldia, para a vida com o Criador através de Cristo, aquele que proporciona a vivificação da igreja, mediante seu sacrifício, garantindo-lhes a entrada na "Canaã celestial".
Aplicação
O texto de Gênesis 11.10-32 nos mostra como Deus soberanamente separa para si um povo, através de um indivíduo em quem desenvolverá seu planos salvadores, dando-lhe uma descendência que culminará naquele que pisará a cabeça da serpente - Cristo.
Mas devemos observar ainda outra implicação que a passagem nos convida a observa e aplica à nossa vida.
Devemos ver que o chamado soberano de Deus à salvação ignora quem éramos e de onde viemos.
Abrão veio de uma familia idólatra e pagã, porém, Deus não leva em conta o nível de devassidão ou de corrupção em que alguém se encontra para salvá-lo. O único critério usado por Deus, conforme nos é revelado pelo texto é sua soberana vontade de arrebanhar para si um povo, formado por homens e mulheres redimidos por ele em Cristo Jesus, a fim de que por meio destes, seu nome seja enaltecido.
Às vezes, somos tentados a olhar para o passado a fim de que ver qual o requisito usado por Deus para nos chamar a graça em Cristo, como se fôssemos achar algo que de repente consideraríamos aprazível aos olhos divinos a fim de sermos feitos eleitos de Deus. Basta olhar para a genealogia de Abrão para vermos o quanto pensar assim é um equívoco. Nossa vida pregressa pode até demonstrar o tamanho a intensidade do poder divino, convertendo miseráveis pecadores - uns com uma vida mais odiosa do que outros em termos de ações ou mesmo estilos de vida depravados - em seus filhos, mas nunca será o fator determinante para que Deus nos trouxesse a Cristo. O ponto não é o quanto éramos miseráveis, mas o quanto Deus é gracioso.
Conslusão
Como veremos no próximo capítulo, o Criador chamou Abrão do meio de sua parentela idólatra e rebelde. O Deus que não muda nos chamou do meio de um mundo perverso e corrompido. Somos tão indignos quanto a Abrão, e da mesma forma, éra improvável - segundo os olhos humanos - que fôssemos salvos. Graças porém a Deus que a salvação "não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar de Deus a sua misericórdia" (Rm 9.16).