Pedras vivas: a salvação e o crescimento da igreja

1 Pedro: Esperança em meio ao sofrimento.  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Crescer é um aspecto que faz parte da nossa vida em vários aspectos. Ansiamos quando o bebê cresce. Temos uma alegria contagiante ao perceber que a cada dia, aquele ser que antes era uma sementinha, agora se desenvolve balbuciando sílabas, aprendendo a bater palmas ou mesmo sorrindo pra nós a cada careta que fazemos!
Crescer faz parte da nossa vida. Um jovem que inicia a sua vida a dois, anseia por crescimento. Eles querem construir uma vida juntos. Desejam filhos, um bom carro, uma boa casa, uma boa vida. Já o empresário que acabou de abrir a sua nova empresa não deseja outra coisa que não seja crescer. Ele quer que o seu empreendimento dê certo. Ele almeja que a empresa dê lucro. Ele quer crescimento.
E a igreja? Bom na igreja não é tão diferente. Nós queremos que nossa igreja cresça. A grande questão é: que tipo de crescimento nós queremos? Existem diversos estudos apontando caminhos para um certo crescimento da igreja. Muitos pastores, liderança e até mesmo membros anseiam uma igreja grande e atuante no meio da sociedade. Mas até que ponto isso é certo? É este o tipo de crescimento que almejamos como igreja?
Olhemos para este texto e vamos examinar como a igreja pode crescer, observando ao mesmo tempo que tipo de crescimento é este. Mas antes de prosseguir, temos que lembrar algo que já foi falado em outras exposições desta carta: eles estavam sofrendo! O apóstolo Pedro escreveu esta epístola a igrejas que estavam passando pelas mais diversas provações por causa do evangelho. A pergunta que fica é: como uma igreja pode crescer em meio ao sofrimento?
É aqui que chegamos a este texto observando que Pedro relaciona o que está falando agora com o capítulo anterior. Por isso em 1Pedro 2. 1 temos a expressão “portanto.” Conforme vimos, Deus nos regenerou para uma viva esperança, e esta salvação traz implicações a nossa vida. O que notamos, então, é que Pedro mais uma vez fala da salvação de Deus, só que agora aborda esta em relação ao crescimento da igreja.
Feitas estas considerações, podemos ler este texto e nos perguntar: como alcançar o crescimento como igreja de Deus. Vejamos alguns elementos que esta passagem nos fornece:

1. Desejar o genuíno leite espiritual

O primeiro elemento para o crescimento da igreja falado nesse texto é o leite espiritual. O apóstolo Pedro ordena aos irmãos que o desejem ardentemente. Esta é a expressão principal da sentença que vai do v. 1 ao v. 3.
O que é este leite espiritual? A passagem anterior nos responde. Em 1.23, Pedro fala sobre a palavra do Senhor. Ela é comparada a uma semente incorruptível, ou seja, que não carrega nenhum erro, mancha, ou pecado. Sua qualidade é formidável. Ela não perece, mas é viva e permanente. Assim, percebemos que quando Pedro fala sobre o leite espiritual no começo do capítulo 2, ele ainda se refere a palavra de Deus abordada no final do capítulo 1.
Esse leite não é um leite qualquer, mas é um leite espiritual. Ele é puro, genuíno. Em suma, ele procede de Deus. Por isso, é um alimento precisoso para a sua igreja.
Sendo um leite espiritual, ele deve ser buscado de forma intensa. Por isso temos a expressão desejai ardentemente. O sentido aqui é positivo: uma busca constante e intensa por algo fundamental a vida da igreja.
De que forma podemos buscar este leite espiritual? O versículo 1 inicia respondendo esta pergunta. Para desejarmos ardentemente o genuíno leite espiritual precisamos nos despojar do pecado. A ideia da palavra despojar é tirar uma roupa. Pedro compara o pecado a uma roupa que precisa ser tirada. As palavras usadas por Pedro neste versículo (maldade, dolo, hipocrisia e invejas) se referem a todos os tipos de pecados que a igreja deve abnegar. Logo, a igreja precisa se despir do pecado para desejar o genuíno leite espiritual.
Este ponto nos alerta para uma característica importante. O desejo pela palavra de Deus aumenta na medida em que rejeitameos o pecado da nossa vida. É difícil muitas vezes desejarmos as coisas espirituais. Nem sempre queremos ler a bíblia, orar, jejuar ou cultuar a Deus. O mesmo também vale para nosso desejo pelo Reino de Deus. Nem sempre estamos atentos a busca pela justiça e ao anseio pelo retorno de Cristo. Isso acontece por causa do pecado em nosso coração . Mas tudo isso faz parte da nossa santificação. Trata-se de uma luta em que cada vitória nos torna mais fortes. O prêmio por cada vitória é um deleite maravilhoso na Palavra do Senhor.
Mas nossa pergunta continua aqui. Como desejar o genuíno leite espiritual? Pedro responde essa pergunta também no v. 2 através de uma ilustração. A comparação consiste em mostrar que somos semelhantes a crianças recém-nascidas que necessitam do leite materno.
Aqui Pedro não quer dizer que os crentes para os quais estava escrevendo eram novos convertidos ou principiantes na fé. Na verdade, o foco da ilustração está no desejo ardente pelo genuíno leite espiritual. Uma criança recém-nascida quando está com fome precisa do leite da mãe e demonstra isso, geralmente, através do choro. Não há outro alimento tão benéfico para ela que não seja o leite materno. Assim também devem ser os discípulos de Cristo: eles devem buscar a palavra de Deus de tal forma que nenhuma outra coisa possa dar a nutrição que ela fornece. Para a igreja, a palavra de Deus é um alimento fundamental.
Mas qual o objetivo disso? Para que desejar o genuíno leite espiritual? Vejamos a parte final do v. 2: Para que seja dado crescimento da salvação. O objetivo do leite espiritual é o crescimento da igreja. Mais uma vez, a ilustração do recém-nascido funciona. Por meio do leite materno, o bebê tem os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. Assim, ele cresce e se fortalece. Da mesma forma é a igreja de Cristo. Por meio da sua palavra ela é nutrida e, assim, se desenvolve como consequência dessa nutrição. Um bebê que não se alimenta, não se desenvolve. A igreja que não busca ardentemente o genuíno leite espiritual se enfraquece, não cresce e pode, por fim, morrer.
O fundamento deste crescimento é a experiência da salvação de Deus. Por isso, temos o v. 3: se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso. Pedro parece citar o Salmo 34.8. O que o apóstolo quer mostrar a igreja, é que o crescimento só se dá a partir da regeneração. Um boneco, um ser inanimado não cresce. Mas um bebê vivo, na medida em que se alimenta, cresce. Assim é o povo de Deus: eles foram eleitos por Deus e, por meio da sua palavra, são nutridos para crescerem em sua salvação. Notamos, pois, a maravilha da salvação: ela é a origem, o processo e o fim do crescimento da igreja.
Esta passagem, nos ajuda a vermos algo primordial em nossa vida: a palavra de Deus como forma de crescimento da igreja. E aqui é importante esclarecer que o Pedro propõe não é um tipo de gnosticismo: não é um conhecimento por conhecer que nos leva a um grau superior. É muito mais do que isso. Trata-se de um conhecimento que nos leva a uma vida de piedade. Quando buscamos a palavra de Deus e nos alimentamos dela, abrimos mão do pecado e nos aproximamos de Deus. Passamos a deixar de lado as coisas da carne, e sentimos prazer nas coisas do Espírito.
Dito isso, é necessário compreender que não existe uma outra forma de crescer se não for por meio da palavra de Deus. Neste sentido, os nossos atos como discípulos diante da Escritura ganham importância.
Além disso, a alimentação na palavra de Deus deve ser constante. Individualmente, em família, mas principalmente como igreja. Essa passagem, chama a atenção de que a busca pelo genuíno leite espiritual é coletiva. É missão do povo de Deus desejar a sua palavra. Devemos, obviamente, ler a Bíblia em nossas casas, individualmente ou com nossos familiares. Mas nada pode susbstituir a busca da congregação em todo dessa palavra. Por isso, a busca pelo genuíno leite espiritual foca não apenas no discípulo por si, mas na igreja como um todo.

2. Aproximar-se de Cristo

Além do leite espiritual, outro elemento que o Senhor concede para o crescimento da igreja é a comunhão com Cristo. Sendo assim, o mandamento dado pelo v. 4 até o v. 10 consiste em se aproximar cada vez mais dele. Por isso, temos a expressão “chegando-vos para ele”. Conforme a nota da Bíblia de Genebra trata-se de um achegar-se contínuo.
A partir do v. 4, o apóstolo Pedro faz uso de duas ilustrações que se entrelaçam ao longo de todo o parágrafo. Essa simbiose de ilustração é feita de forma assistemática, isto é, em determinados momentos ele fala de uma e, imediatamente, passa a outra, retornando, as vezes, para a primeira. De forma geral, podemos expor tais ilustrações da seguinte forma:

a. Cristo é a Pedra

A primeira ilustração neste ponto dado por Pedro é de que Cristo é a Pedra. Ele é a rocha eleita por Deus para o cumprimento dos seus propósitos. Tais propósitos podem ser resumidos em dois. Vejamos:

I. Salvação aos eleitos

Primeiramente, a pedra eleita tem o propósito de salvar os eleitos. Na eternidade, Deus entrou em acordo com Cristo para trazer salvação no poder do Espírito Santo. Na teologia chamamos isso de Aliança da Redenção. É este acordo que a trindade fez antes da fundação do mundo para redimir um povo para si. Através desta aliança, a pedra eleita salva os eleitos. Aqueles que são escolhidos, são regenerados, chamados eficazmente, adotados, justificados e santificados perante Deus em Cristo Jesus. Se antes eles não eram povo (v. 10) agora eles são povo. Se antes não havia misericórdia para eles, no devido tempo essa misericórdia é aplicada em suas vidas.

II. Julgamentos aos incrédulos

Mas a pedra também tem outro propósito. Além de salvar os eleitos, a pedra julga os incrédulos. Seu peso esmaga todos os que são desobedientes a Deus. A pedra rejeitada pelos homens será aquela que fará com que estes experimentem a perdição.
Para fundamentar isso, Pedro faz uso de algumas passagens do AT. A primeira delas é Isaías 28.16 que está no v. 6 da espístola. A outra é Sl 118.22 no v. 7. Por fim, temos no v. 8 a citação de Isaías 8.16. Todas estas passagens tem um único propósito: mostrar que o AT já apontava que Cristo era a pedra. Os profetas inferiram que ela seira rejeitada pelos homens, mas para Deus era eleita e preciosa. Desde muito tempo, foi revelado que o Messias seria o meio pelo qual a salvação e o juízo de Deus viriam. Salvação aos eleitos. Juízo para os réprobos.
Assim, notamos que a primeira ilustração de Pedro nessa passagem é: Cristo é a pedra. Mas ainda existe outra ilustração aqui nessa passsagem:

b. A igreja são as pedras

A segunda ilustração é: a igreja são as pedras. Se Cristo é a pedra angular, então a igreja são pedras usados por Deus para a edificação do seu Reino.
Importante aqui mencionar o significados de Pedra angular. Nas construções daquela, usava-se uma pedra na qual seria a base de sustentação de toda a construção. O sucesso de qualquer edificação seria resultado desta pedra angular. Assim, quando Cristo é retratado como a pedra angular, mostra-se que somente por meio dEle pode-se haver a construção do Reino de Deus.
Feito esclarecimento, continuamos a observar o texto e percebemos que, assim como Cristo é a pedra que vive, o povo de Deus são como pedras vivas. Nós somos seres atuantes na obra de Deus. Não somos inteiramente passivos nesta obra. Deus age por meio de nós e em nós.
Sendo assim, passamos a ser edificados para ser casa espiritual. Esta tem um propósito. Mas que propósito é este? Assim nos diz o v. 5: “para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.”
Deus nos edifica em Cristo para o adorarmos. O nosso fim principal é render glórias a Ele. A nossa missão principal é adorar a Deus.
Isso me lembra um dos livros que li no seminário e mais me chamou a atenção. Trata-se da obra “Alegrem-se os povos” de John Piper. Este livro começa com uma frase desconcertante: “a missão não é o fim principal da igreja”. Quando li essa frase fiquei perplexo. Pensei: “como assim? Sempre fui ensinado de que a missão é o aspecto mais importante da igreja. O que ele quer dizer com isso?” É então que Piper continua dizendo que o fim principal da igreja é a adoração. E a argumentação dele é muita boa (e bíblica!). A adoração é eterna! A missão durará até a volta de Jesus. O propósito da igreja, portanto, alegrar-se em Deus por meio de Cristo de tal maneira que todos os povos vejam e também possam se alegrar conosco. Assim, a adoração leva a missão, não o contrário.
Este livro abriu a minha mente e o meu coração sobre missões. Muitas vezes reduzimos as questões relacionadas a evangelização e missões como técnicas a serem utilizadas. Nada contra elas, pois muitas vezes elas são úteis. Porém, existe algo muito mais profundo, há um alvo muito mais glorioso para o povo de Deus. E ele está destacado aqui no v. 5 de 1 Pedro 2: oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus.
Outro ponto importante: nossos sacrifícios espirituais são agradáveis a Deus comente por meio de Cristo! A nossa santificação só pode ocorrer por meio de Cristo! A única forma de exercermos um sacerdócio santo é por meio do nosso sumo sacerdote, Jesus!
Este ponto é importante porque percebemos ao nosso redor muitas pessoas que se emocionam com um louvor, que parecem ter uma compaixão grande pelo próximo, que são “quase” crentes. Tais pessoas até nutrem uma simpatia pelo evangelho. Porém, se alguém não está em Cristo não pode oferecer um sacrifício agradável a Deus. Toda boa obra aos nossos olhos sem Cristo é como trapos de imundícia aos olhos de Deus.
Assim, somos pedras que vivem os quais estão sendo edificadas por Deus, por meio da pedra angular que é Cristo. Os v. 9 e 10 são um resumo de tudo que foi falado. Se aqueles que rejeitaram a pedra que vive tropeçam nelam e caem por sua desobediência, as pedras vivas são: raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus.
Agora observe como adoração e missão andam lado a lado, sendo a segunda um produto da primeira. O propósito de sermos tudo isso em Cristo é para anunciarmos as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz (v. 9). Somos povo de Deus, somos o seu sacerdócio santo, somos aqueles que o adoram em espírito e em verdade. E esta adoração nos leva a proclamar as virtudes do nosso Senhor. Adoração e missão são complementares, mas não excludentes.

Conclusão

Recapitulação

Portanto, vimos como o crescimento da igreja se relaciona com a salvação. Para isso, precisamos: 1) Desejar o genuíno leite espiritual; 2) Aproximar-se de Cristo constantemente. Somente assim, podemos alcançar o crescimento da igreja.

Aplicação

Meus irmãos, por meio deste texto, percebemos que, em Cristo Jesus, nós crescemos como igreja. mesmo em meio ao sofrimento, a igreja cresce porque o agente do crescimento é o próprio Deus em Cristo Jesus.
Sofremos assim como o público antigo. Mas também somos igreja, edificados por Deus por meio de Cristo Jesus, a pedra que vive. Essa passagem demosntra que a menção dada a pedra angular do AT apontava para Cristo, a pedra viva, eleita e preciosa de Deus. Por meio dEle crescemos, mesmo em meio ao sofrimento.
O verdadeiro crescimento pelo qual a igreja deve ansiar é para crescer em Cristo Jesus. Por meio da sua palavra e por meio da sua pessoa, crescemos para honra e glória do Senhor Jesus. Nosso objetivo não é crescer numericamente. Não somos uma empresa. Somos a casa espiritual de Deus. Não fomos criados para dar lucro. Fomos eleitos para oferecer sacrifícios espirituais ao Senhor Jesus. Quando proclamamos as suas verdades, exaltamos o Seu Nome até que ele venha.
Que Deus nos abençoe!
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