Sem título Sermão (3)
Gênesis No princípio בראשית Bereshit
Esquema do conteúdo
1. História das origens (1:1–11:32)
a. A criação do Universo e da raça humana (1:1–2:25)
b. A origem do pecado e do sofrimento (3:1–24)
c. De Adão até Noé (4:1–5:32)
d. Noé e o dilúvio (6:1–10:32)
e. A torre de Babel (11:1–9)
f. De Sem até Abrão (11:10–32)
2. História dos patriarcas (12:1–50:26)
a. Abraão (12:1–25:18)
b. Isaque (25:19–26:35)
c. Jacó (27:1–35:29)
d. Os descendentes de Esaú (36:1–43)
e. José e os seus irmãos (37:1–45:28)
f. Os israelitas no Egito (46:1–50:26)
ESBOÇO DO PRÓLOGO
Declaração sumária da criação do cosmos
1.1
Estado negativo da terra antes da criação
1.2
Criação pela palavra de Deus
1.3–31
Declaração sumária da criação do cosmos
2.1
Epílogo: repouso sabático
2.2,3
A Criação é dividida em seis dias ou “painéis”, cada um segundo um processo básico da criação.
arcabouço cronológico. Deus não cria no tempo, mas com o tempo. A semana se torna a unidade básica do tempo: seis dias de trabalho e um de descanso. O uso cuidadoso de números em todo o relato comprova a formação lógica e conveniente da criação
Utilizando a estrutura do processo criativo, o narrador constrói a história com crescente detalhe e movimento. Com um crescendo, o narrador dedica mais tempo e espaço a cada dia até o ápice máximo da criação, quando cessa o movimento e Deus descansa.
O relato da criação é dividido em duas tríades
A primeira tríade separa o caos informe nas três esferas estáticas. Na segunda tríade, as esferas casa e proteção da vida são completadas com as formas de movimento do sol, lua e criaturas viventes.
O narrador começa a história com o planeta já presente, embora indistinto e informe. No poder criativo de Deus, ele transformará as trevas num universo ordenado.
O estado negativo da terra reflete uma situação na qual a terra não está produzindo vida. Cronologicamente, isso descreveria o estado da terra anterior ao versículo 1, como seria uma contradição representar a criação como cosmos formado e terra não-formada.
trevas cobriam a superfície do abismo. A terra é um abismo escuro, inóspito para a vida. “Trevas” e “abismo”, como opostos a “luz” e “terra”, trazem a conotação de mal irracional
Espírito se ajusta melhor com o contexto. Pairando como águia sobre o abismo primordial, o poderoso Espírito prepara a terra para habitação humana
A palavra de Deus tem o poder de trazer à existência o que não existia (Hb 11.3).
Visto que o sol só mais tarde é introduzido como a causa imediata da luz, a cronologia do texto enfatiza que Deus é a fonte última da luz. A descronologização provavelmente funcione como uma polêmica contra as religiões pagãs, que cultuam a criação ou criaturas, não o Criador de quem a criação depende.
Têm-se proposto diversas interpretações para os “dias” do relato da criação, inclusive períodos literais de vinte e quatro horas, eras e épocas extensas e estruturas de um arcabouço literário designadas a ilustrar a natureza ordenada da criação divina e a capacitar o povo pactual a imitar o Criador. As primeiras duas interpretações contêm dificuldades científicas e textuais. A terceira interpretação é consistente com a ênfase do texto sobre questões teológicas, em vez de científicas. A apresentação da criação por meio de “dias” revela a soberania de Deus ordenando a criação e a preocupação divina em acomodar-se à humanidade em termos finitos e compreensíveis. A decisão de Deus em criar o cosmos por meio de dias sucessivos, e não do “haja” instantâneo, serve como um paradigma para seu desenvolvimento da humanidade por meio de eras sucessivas da história.
expansão [rāqîa‛]. Esta parece ser a atmosfera ou céu, o que em 1.8 se chama šāmayim, “céus” ou “firmamento”. A expansão que separa as águas é parte do firmamento. Em outro lugar lemos que ela é bem firmada como um espelho (Jó 37.18) e como uma abóbada (Is 40.22).
água de água. A expansão separa a fonte de chuva das águas sobre a terra.
o segundo dia. O hebraico expressa literalmente: “um segundo dia”. A ausência do artigo definido em cada um dos primeiros cinco dias pressupõe que eles podem ser descronologizados
segundo suas várias espécies. Todas as espécies criadas seguem o desígnio-mestre de Deus e a propósitos determinados. A vegetação serve como alimento para as formas mais elevadas de vida
descrevem a criação divina dos grandes luzeiros: o Sol, a Lua e as estrelas foram colocados no firmamento, no céu, para alumiarem a terra, marcar dias e noites e as estações do ano.
Enquanto nos mitos do antigo Oriente Próximo o sol e a lua são as principais divindades, aqui são objetos sem nome designados por um Deus Criador para servirem à humanidade
Deus criou e povoou as águas com enxames de seres viventes, os grandes animais marinhos, os répteis, os peixes e colocou as aves voando sobre a terra e sob o firmamento dos céus. E viu Deus que tudo era bom. Deus os abençoou e ordenou que se multiplicassem. Houve, assim, tarde e manhã, o quinto dia.
22. abençoou. Esta palavra significa ser plenificado com a potência da vida para vencer a derrota e a morte. Deus abençoa as criaturas para a procriação, a despeito da morte.
24. gado … animais selváticos. O contraste entre animais domesticados e selvagens distingue gado de carnívoros.
26. Façamos. O “haja” impessoal (ou seus equivalentes) dos sete atos criativos anteriores é substituído pelo “façamos” pessoal. Somente na criação da humanidade é anunciada de antemão a intenção divina. A fórmula “e assim se fez” é substituída por uma bênção tríplice. Nestas formas, o narrador põe a humanidade mais perto de Deus do que o restante da criação
A interpretação cristã tradicional que representa uma pluralidade dentro da deidade conta com algum endosso textual e satisfaz a teologia cristã da Trindade (Jo 1.3; Ef 3.9; Cl 1.16; Hb 1.2). Que Deus é uma pluralidade, é corroborado pela menção do Espírito de Deus em 1.2, e o fato de que a própria imagem é uma pluralidade
Fundamental a Gênesis e à totalidade da Escritura é a criação da humanidade à imagem de Deus. A expressão “imagem de Deus” é usada unicamente com referência aos seres humanos, e assim os separa das demais criaturas. Enquanto as demais criaturas são criadas “segundo suas espécies” (Gn 1.21,24,25), a humanidade é feita “à imagem de Deus”. Sendo criada à imagem de Deus, estabelece-se o papel da humanidade na terra e facilita-se sua comunicação com o divino
na visão bíblica a palavra semelhança serve para distinguir claramente Deus dos humanos
27. Assim Deus criou … Este versículo é o primeiro poema na Bíblia. A mudança para poesia realça a criação divina da humanidade como a portadora da imagem de Deus. A verdade expressa aqui envolve todo o Gênesis. A única repetição da palavra “criar” (bārā’) intensifica este ato significativo. A humanidade é singularmente formada pela mão de Deus.
28. abençoou. Três vezes Deus abençoa a humanidade, e é esta bênção que capacita a humanidade a efetuar seu duplo destino: procriar a despeito da morte e governar a despeito dos inimigos.
e lhes disse. A bênção é singularmente dada à imagem de Deus na forma de discurso direto.
Sejam frutíferos e cresçam em número; encham a terra e a dominem. À humanidade é dada um duplo mandato cultural: encher a terra e governar a criação como reis benevolentes (Gn 9.2; Sl 8.5–8; Hb 2.5–9)
30. Eu dei. As criaturas são totalmente dependentes da graça de Deus.
31. muito bom. Esta é uma avaliação divina da criação total anterior à queda.
o sexto dia. O artigo definido é usado somente com o sexto e o sétimo dia, talvez para significar o clímax da narrativa sobre estes dois importantes dias.
Afirmação Sumária (2.1)
1. Os céus e a terra foram completados. A afirmação sumária final sublinha que o Criador executara perfeitamente sua vontade com respeito à primeira tríade.
seu vasto exército. Isto se refere à segunda tríade
Epílogo: Repouso Sabático (2.2,3)
2. o sétimo dia. Distinto dos dias prévios, o número deste dia é gravado três vezes, indicando sua significação acima dos demais dias.
Deus concluiu. Este é o momento máximo que fica à parte da criação, não seguindo a estrutura dos seis dias prévios. Nos primeiros seis dias, subjuga-se espaço; no sétimo, santifica-se tempo. Esse dia é abençoado para o refrigério da terra. Ele convoca a humanidade a imitar o padrão de trabalho e descanso do Rei, e assim confessar o senhorio de Deus e sua consagração a ele. Nesse dia cessam de subjugar a terra.
ele descansou. Não se faz nenhuma menção de “tarde e manhã”, talvez porque a ordenança do sábado continue e os humanos sejam exortados a participarem dele (Êx 31.17) e a olharem para o descanso sabático eterno e redentor (Hb 4.3–11).
3. abençoou o dia sétimo. Ele é infuso com o poder procriador. A bênção e a santidade do dia sétimo são singulares ao relato bíblico da criação. “De fato, o conceito de uma semana de sete dias é singular a Israel”.
e o santificou. O sétimo dia é a primeira coisa na Tora à qual Deus comunica sua santidade, e assim o separa para si (Êx 20.11). Outros deuses criadores construíram templos como sinal de sua vitória sobre as forças selvagens do caos; Deus, porém, em vez disso, institui o repouso sabático. Este será o santuário temporal no qual o povo de Israel pode descansar de seus labores, a cada semana, com seu Deus.
REFLEXÕES TEOLÓGICAS SOBRE O PRÓLOGO