Gênesis 5

Série expositiva no Livro de Gênesis  •  Sermon  •  Submitted
0 ratings
· 8 views
Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 5.1-32
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
Tendo tratado anteriormente (Gn 4.17-26) na genealogia da serpente, que tem início no próprio Caim, Moisés demonstrou o início da árvore genealógica dos inimigos de Deus aos quais formarão os povos com os quais Israel terá de lidar ao adentrar a terra de Canaã.
A transmissão e intensificação do pecado na raça humana fora explicitada através das ações de personagens-chave na prole de Caim, como Tubalcaim e Lameque. No texto analisado nesta pesquisa, o autor elabora a semente oposta, isto é, a semente da mulher é retomada na narrativa, e também possui indivíduos que caracterizam a descendência a qual pertencem em suas posturas de obediência e piedade ao SENHOR Deus, como é o caso de Enoque e Lameque.
Como já clarificado, tal estruturação serve não apenas para demonstrar a continuidade da promessa de Deus na vida de seu povo, mas também como introdução a narrativa seguinte, na qual a salvação profetizada por Lameque em relação a seu filho Noé se desenrolará. Toda a genealogia então, serve para preparar o cenário para a chegada do último personagem da linhagem aqui listada: Noé, tornando-o protagonista das próximas cenas.
Elucidação
As genealogias têm objetivos específicos que estão servindo ao autor do texto em destaque para demonstrar qual a mensagem que tenciona transmitir através dela. As genealogias “representam continuidade e relacionamento. [...] Genealogias lineares começam no ponto A (a criação de Adão e Eva p. ex.) e terminam no ponto B (Noé e o Dilúvio)”. Essa conexão sugere uma ponte entre os fatos ou temas trabalhados na narrativa que o autor tem apresentado. Como foi percebido à luz do capítulo 4.17-26, duas linhagens emergem de Adão: a linhagem de Caim, que nitidamente é a descendência adversária (i. e. da Serpente), e a linhagem de Adão que descendente por sua vez do próprio Deus (i. e. semente da mulher). Outro fator que aponta para essa distinção são os próprios personagens de ambas as narrativas genealógicas: Lameque e Enoque. Enquanto o primeiro é exposto no texto anterior como rebelde e profundamente cruel (Gn 4.23-24), ao segundo é atribuída piedade e obediência ao SENHOR Deus (Gn 5. 22-24). Assim, além da representação estabelecida entre os dois cabeças das linhagens rivais (Adão e Caim), na linha intermediária da lista, dois outros personagens representam suas descendências em termos das obras que praticam.
O propósito de Moisés então ao descrever tal genealogia, é ligar Noé (o último na genealogia) ao próprio Adão, como descendente direto deste. Notadamente, as genealogias em alguns pontos da Escritura não servem como um árvore genealógica que computa e registra todos os descendentes daquela família, pois, é visível que o autor fez recortes onde frisou e destacou personagens-chave em suas listas. Isso pode ser percebido pela ausência dos outros filhos de cada personagem narrado na genealogia, tendo em vista que cada um deles “gerou filhos e filhas” (vs. 4, 7, 10, 13, 16, 19, 22, 26) além do descendente seguinte que é especificado como responsável por continuar a linhagem desenvolvida.
Como já mencionado, a genealogia do texto em destaque serve para destacar o último personagem por ela descrito. As intenções do autor ficam claras ao unir Adão a Noé: a linhagem que descende do próprio Deus está intacta e continua percorrendo a história, como ficou claro na declaração de Eva em Gn 4.25, quando gera a Sete.
Outro fator que destaca esta lista genealógica é o realce realizado pelo autor de que a Sete havia sido transmitida a imagem de Deus por meio de Adão (v. 1-3). Notadamente, a intenção de Moisés não é restringir a transmissão da imagem e semelhança de Deus apenas a esta linhagem, numa que tal condição é um fator inerente a natureza do homem conforme criado pelo próprio SENHOR, como está registado em Gn 1.26-27. Contudo, a partir desse ponto, a expressão “gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” (Gn 5.3) reflete uma especialidade desta linhagem que é abençoada por Deus para carregar essa marca especial como símbolo distintivo em relação aos filhos da serpente: é na linhagem de Deus que está preservado o vínculo relacional e pactual que garante a redenção final do estado de pecado no qual caiu a humanidade.
Seguindo esse raciocínio, toda a descrição genealógica realizada por Moisés neste texto focaliza-se em perceber a progressão do plano redentivo revelado pelo próprio Criador a Adão e Eva quando no episódio da queda em Gn 3. A questão em riste no texto é dar prosseguimento a narrativa histórico-redentiva que culminará na salvação do povo de Deus. A promessa de um descendente não se perdeu após o assassinato de Abel (Gn 4.8), nem tampouco foi suprimida pelo avanço da descendência da Serpente (Gn 4.17-24), mas a partir de Sete e seus descendentes, a árvore genealógica da promessa perpassa milênios alcançando diversas pessoas, chegando até um homem em cujo plano será executado de maneira evidente: Noé.
Sobre este personagem é profetizado que “este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gn 5.28). A profecia de Lameque sobre seu filho remonta à palavra desferida por Deus no julgamento de Adão:
[...] “Maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra” (Gn 3.18-19).
Há grande discussão em relação a fala de Lameque no versículo 29, quando muitos compreendem que ele estaria aguardando a salvação que Noé traria, como que procedendo da terra, como é sugerido por muitas versões do texto. Porém, tendo em vista a forte alusão ao episódio do julgamento de Adão, como já exposto, seria mais adequado entender a expressão referindo-se às dores e ao sofrimento causados pelo juízo de Deus sobre a terra amaldiçoando-a em razão do pecado de Adão. Lameque espera então que Deus cumpra através de Noé a promessa proferida por este nos termos da destruição da Serpente e assim, realize a redenção do povo eleito do SENHOR e de toda a criação. Seria por meio de Noé, e não da terra, que Deus traria descanso e consolo ao seu povo eleito das dores e sofrimentos causados pelo pecado.
Por último, outro fator que conecta este capítulo 5 de Gênesis aos relatores anteriores é a descrição repetida que o autor faz quanto a morte dos personagens da genealogia: “e morreu” (vs. 5, 8, 11, 14, 17, 20, 27, 31). À exceção de Enoque, que por sua piedade e obediência a Deus não morreu, todos os outros personagens da lista se deparam com a sentença decretada no Éden em Gn 3.19. Embora pertençam a linhagem que descende do próprio Deus, as maldições inclusas no pacto tendo em visto sua quebra, vigoram e são executadas. Entretanto, é interessante notar que, ainda que a morte alcance os descendentes da mulher, fica evidente a distinção das linhagens através da longevidade na genealogia de Adão, algo que claramente não faz parte dos descendentes de Caim. Enquanto a linhagem da serpente rapidamente se deteriora e morre, vida longa e prosperidade são as marcas dos filhos de Deus.
Transição
O texto que lemos demonstra que o plano redentivo continua em vigor. A palavra da promessa está de pé, e o desejo redentor do Criador para com seu povo não será frustrado. A bênção de Deus na semente da mulher não somente permanece, mas é também a razão da operação do poder de Deus em distinguir seu povo, levando-o a ser obediente ao SENHOR em piedade, assim como é representado por Enoque e Lameque.
Tudo isso nos faz observar no texto, algumas aplicações à nossa vida:
Aplicações
1. O plano salvífico do Criador em redimir para si um povo não pode ser frustrado.
Ao nos depararmos com essa narrativa bíblica, geralmente tendemos a vê-la simplesmente como um registro histórico ou uma lista de nomes de personagens do passado que fizeram parte do povo de Deus. Mas há muito mais informações contidas nessa seção da Palavra do SENHOR.
Em função da queda do homem no pecado, da subsequente degeneração latente a semente da serpente, principalmente quando Caim assassina seu irmão Abel, e quando após isso, a avalanche de pecado e crueldade desencadeia uma série de episódios truculentos, alguém poderia se ver em desespero achando que a promessa de Deus haja falhado em cumprir seu propósito de salvar um povo para si.
Entretanto, o texto nos mostrar como nosso Deus é gracioso em no suprir de todas as informações necessárias a fim de que confiemos de que ele é poderoso para levar a cabo seus planos redentores. O Criador não é alguém que simplesmente nos pede que confiemos nele, sem que ampare nossa fé frágil com sinais de sua graça, de modo a sermos fortalecidos na esperança da salvação. Mas nos providencia meios para que sejamos lembrados de que sua Palavra jamais é anulada.
Na semente da mulher está contida o selo da redenção. É interessante ver que geração após geração, o SENHOR destaca através desse texto, a progressão histórica que montaria todo o cenário para que seu Messias fosse enviado para cumprir sua promessa feita em Gn 3.15. Numa genealogia onde repousa o poder de Deus refreando o mau em seus corações, o SENHOR nos mostra que a plano redentor está firme.
Mesmo nós que vivemos após Cristo Jesus ter vindo e inaugurado a era escatológica em que tudo se encaminha para o fim, podemos às vezes ser assaltados pela dúvida e o receio de que a maldade e pecaminosidade do mundo em que vivemos, que se rebela cada dia mais contra o SENHOR, tenha feito com que Deus mudasse seus planos, não mais estando interessado em completar a obra que começou.
Porém, somos graciosamente recordados por esse texto, de que a rebelião do mundo e seu sistema anticristão não podem parar o progresso dos planos salvadores do SENHOR. A linhagem da promessa segue, em cada crente que fora regenerado pelo Espírito Santo para crer no Messias enviado da parte de Deus Pai, para nos redimir.
2. A semente da mulher é distinguida por sua piedade e devoção ao SENHOR.
Como não poderia ser diferente, aqueles que foram chamados por Deus à salvação em Cristo Jesus, não podem viver de acordo com os rudimentos do mundo caído. A promoção da perversidade e truculência são marcas daqueles que não servem ao SENHOR.
Contudo, é importante ver que mesmo descendendo do próprio Deus, a natureza pecaminosa não foi destruída naqueles que fazem parte da semente da mulher, pois a execução da sentença decretada no Éden os alcança: eles morrem, como podemos claramente ver no texto. Suas vidas são longevas que prosperas, como sinal da bênção do SENHOR, mas ainda assim, não podem escapar eu ir de encontro a sua natureza, e recebem o pagamento pelo pecado que fora legado a eles por nossos primeiros pais.
Dessa forma, como pode haver distinção em termos de obras entre os servos do SENHOR e os inimigos de Deus, se ambos os grupos possuem a natureza corrompida pelo pecado? Tal resposta pode ser feita ao analisarmos como vivem os descendentes de cada grupo. A separação é notada através dos freios em relação a degeneração do pecado que são postos por Deus em seus filhos, e a entrega dos filhos da serpente à toda vileza de seus coração, que também é efetuada pelo Criador.
A inclinação do coração dos filhos de Deus, pela graça do Espírito, é de obedecer ao SENHOR. Através de uma vida piedosa demonstramos nossa filiação.
Enquanto nos filhos da serpente opera o pecado e a corrupção, nos filhos de Deus, a santidade e devoção ao Criador evidenciam a glória do Deus Triuno evidencia o plano redentor no qual ele nos introduziu mui graciosamente.
Conclusão
Viver de acordo com a vontade do SENHOR não é somente um mandamento que obedecemos a fim de agradar a ele, embora isso seja o motivador central de nossa submissão ao Criador. Mas unido a isso está a demonstração de a quem pertencemos. Quando vivemos em devoção ao SENHOR, demonstramos que o plano redentor que fora prometido lá em Gn 3.15, percorreu toda a história cumprindo seu propósito, nos alcançando, e prosseguindo até que tudo seja consumado no Dia de Cristo.
Viver para glória de Deus é demonstrar a quem pertencemos: a linhagem que descende do próprio Deus.
Related Media
See more
Related Sermons
See more