Gênesis 3.8-19

Paulo Ulisses
Série expositiva no Livro de Gênesis  •  Sermon  •  Submitted
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A rebelião do homem, estando dentro dos propósitos divinos, foi usada por deus para revelar seus intentos redentores para com seu povo eleito.

Notes
Transcript
“São estas as gerações ...” (Gênesis 10.1).
Gênesis 3.8-19
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
Após a primeira cena que narra a queda do homem, tendo desobedecido os estatutos do Criador e assim, sua aliança, a cena seguinte apresenta seu julgamento.
A partir deste ponto, como já elaboramos, todo o cenário do livro de Gênesis será demarcado pelos pontos aqui apresentados, qual seja: o progresso do pecado em atingir a raça humana como um todo, e a redenção promovida por Deus a fim de extingui-lo.
Elucidação
Após a queda do homem no pecado, as consequências diretas aparecem imediatamente. A primeira delas, como já foi exposto, é a degradação da dignidade do homem enquanto ser criado à imagem do próprio Criador. Isso é percebido pelo reconhecimento de que estava nu e a conclusão de que isso é algo ruim ou indevido, de maneira que estar na presença de outro – da sua própria mulher (v. 7) e após isso, do próprio Deus (v.8) – é impróprio.
"[...] Ouvi tua voz no jardim ... e tive medo" (Gn 3.10). A voz do SENHOR deu vida e formou tudo quanto havia no mundo a partir do nada, em ordem perfeita e harmônica (Gn 1). A voz do SENHOR estabelece o relacionamento entre ele e o homem (Gn 2) e o traz afavelmente à sua presença graciosa para o servir. Agora, após a queda, o homem teme a voz daquele único ser que o poderia fazer bem: o SENHOR Deus (Gn 3.10). A culpa está estampada na face do homem. Ao ouvir a voz do Criador ou seus passos no jardim, como sugerem algumas versões de traduções, o homem reage de acordo com a corrupção de sua natureza caída: foge da presença de Deus. O banimento da presença do Criador não é algo realizado apenas pelo próprio SENHOR de maneira ativa, a natureza do pecado é naturalmente antagônica a Deus, avessa ao caráter reto do Soberano. Em pecado, tudo o que Adão e Eva podem fazer agora é esquivar-se do Criador, pois sua presença expõe de maneira clara a culpabilidade e corrupção de seu coração. A declaração de culpa acontece exatamente no contexto em que o homem é chamado à presença do SENHOR: “Onde estás?” (v. 10).
A partir deste ponto, o caráter do diálogo passa ser uma investigação ou interrogatório da parte de Deus na busca de identificar o causador da ação: “Quem te fez saber que estavas nu?” (v.11). A pergunta do SENHOR é feita com base no raciocínio de que havia um agente causador daquele fato. Embora o ato tenha sido executado por Adão e Eva, a suposição do Soberano é que alguém os levou a pecar e a agir contra seus desígnios. Um inquérito é instaurado a fim de que o principal criminoso seja desmascarado. Em que pese a tentativa de fuga da responsabilidade pela infração por parte do casal, é o próprio Criador quem dirige homem e mulher a lhe revelar o antagonista que provocou a desordem em sua criação. Até que por fim, o maligno é apontado como causador da queda do homem: “Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi” (v.13). A este personagem, não são feitas perguntas ou inquirições. Para o autor do texto, o lapso da humanidade foi perpetrado pela serpente, não havia dúvidas quanto a isso, e o indicativo claro, é que ao chegar à serpente, Moisés refere-se ao fato através da mudança de tom da parte do SENHOR: o que antes era a investigação, agora passa a ser um tribunal formal, onde as penas serão aplicadas aos infratores. Ralph Smith, comentando sobre as sentenças aplicadas ao transgressores, afirma: A serpente é amaldiçoada por sua participação no pecado da humanidade. Consequências (não uma maldição) também são anunciadas a mulher e ao homem, como resultado de seu pecado.[1]
As penas são aplicadas seguindo a ordem de envolvimento, a primeira a ser sentenciada é a própria serpente, visto ter sido o canal através do qual o maligno destilou o veneno do pecado na humanidade. Porém, a penalidade a serpente é representativa, ou seja, é Satanás quem está sendo julgado e sentenciado pelo Criador: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (v. 15).
O Palmer Robertson, comenta que:
O instrumento usado por Satanás para enganar o homem recebeu uma maldição particularmente humilhante. Como símbolo da derrota final do arqui-inimigo, seu instrumento na tentação habitualmente lambe o pó da derrota.
A derrocada final estava sendo anunciada. Em seu intento de voltar-se contra o Criador, tudo o que o inimigo de Deus logrou foi o anúncio público de sua condenação. Atrelado a isso, uma parte da própria sentença inclui uma palavra peculiar. Analisando essa mudança no tom do Criador no momento do julgamento da serpente, Kaiser salienta:
Em meio ao canto fúnebre de pesar e repreensão, no entanto, surgiu a palavra surpreendente de esperança profética da parte de Deus (Gn 3.15). Uma hostilidade divinamente instigada – “porei inimizade entre ti [a serpente] e a mulher, entre a tua descendência e o descendente [semente] dela – chega ao clímax com o surgimento de um triunfante “este” – sem dúvida um homem representativo da semente da mulher. Ele desferiria um golpe mortal na cabeça de Satanás, enquanto o máximo que a serpente poderia fazer, ou mesmo seria permitida a fazer, seria dar uma mordida no calcanhar desse descendente masculino.
Nesse ponto, toda a perspectiva negativa que o pecado poderia ter infundido à criação recebe um prazo de validade. Naturalmente, os planos do Criador não poderiam ser frustrados ou mesmo anulados por quaisquer razões que fossem. Aqui jaz então uma aplicação pertinente que é tencionada por Moisés em relação ao povo de Deus. Recém saídos da terra da servidão, o Egito, o povo de Israel entendia bem os efeitos do pecado. Após terem vivido 400 anos sob o jugo egípcio, os hebreus testemunharam que nenhum tipo de jugo pode aplacar os projetos redentores de YHWH, pois tendo sido alvos da misericórdia do SENHOR, foram libertos de maneira poderosa da casa da servidão. Da mesma forma agora, marchando à terra prometida, os pecados do povo não impediriam que Deus levasse a cabo seus planos, embora, qualquer desobediência à sua vontade fosse sumariamente punida.
Diferentemente do que poderiam supor alguns, isto não instigaria o povo a uma vida corrupta e depravada de maneira descansada à sombra da promessa de salvação, mas era o indicativo que revelava ao povo a misericórdia do SENHOR frente a seres tão pequenos e falhos quanto os seres humanos. Gratidão e perseverança no cumprimento aos mandamentos e à aliança com Deus, são as resultantes diretas daqueles que recebem o favor do Criador, estando em um relacionamento pactual com ele.
Contudo, a redenção viria por meio de um conflito.
Até que viesse o ente prometido (cf. “Este te ferirá a cabeça...”), uma guerra seria travada entre duas sementes. Um dos pontos que dão o tom das exortações de Moisés ao povo está estabelecido na guerra entre os filhos de Deus e os filhos da Serpente.
Rumando para uma terra em que havia outros povos, Israel é alertado por Deus para não se contaminar com sua cultura ou adorar seus deuses:
Quando o Senhor, seu Deus, os levar para a terra que vocês vão possuir, e tiver expulsado muitas nações de diante de vocês: os heteus, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus — sete nações mais numerosas e mais poderosas do que vocês; e, quando o Senhor, seu Deus, as tiver entregue nas mãos de vocês, para que as ataquem, vocês devem destruí-las totalmente. Não façam aliança com essas nações, nem tenham piedade delas. (Deuteronômio 7.1-2).
É em Gênesis 3 Moisés que estabelece a origem de povos que não adoram o SENHOR: foram aqueles a quem o SENHOR não se revelou, e então, permaneceram em seu estado de depravação, embora, em seus corações, estivesse a imagem de Deus, conforme foram criados (Gn 1.26-27).
É no centro desse conflito, e vindo da descendência da mulher que o Redentor é prometido; aquele que esmagará a cabeça da serpente deverá nascer a partir do povo escolhido do SENHOR, que pertence a sua linhagem.
Como fruto de seu pecado, Satanás experimentará até o juízo final o gosto amargo da derrota.
Voltando-se Deus para a mulher, foi reservada a ela também uma penalidade que aponta para todo o processo redentor que estava por se desenrolar. As dores do parto agora serão em muito aumentadas e multiplicadas. O que antes talvez, poderia sobrevir apenas como leves contrações indicando a bênção de dar à luz a outro ser humano, terá como prelúdio o gemido de excruciantes dores. Dois fatores podem estar atrelados a maldição da mulher: em primeiro lugar as dores representam a maldição em que a raça humana caiu, e por isso, para trazer outro homem, cuja natureza é corrupta, ao mundo, a mulher deverá sentir dores, pois foi exatamente isso que foi legado à criação como um todo devido o ato de rebelião praticado pelo primeiro casal. Em segundo lugar, toda a história da redenção gira em torno daquele conflito prometido à serpente. Um combate renhido se desenrolará, até que finalmente o Messias prometido execute a limpeza completa e final do pecado na criação. As dores da mulher são um símbolo da própria penúria ao qual foi lançada a raça dos homens, até que pela misericórdia, na plenitude dos tempos, o mau seja para sempre extirpado. Porém, a penalização da mulher inclui ainda outra maldição.
Um conflito ferrenho tem nascedouro na relação entre homem e mulher: “o teu desejo será para o teu marido e ele te governará” (v. 16). O que antes era uma relação harmoniosa de liderança e auxílio, agora haverá de ser radicalmente alterada. Quando a mulher foi usada pela serpente para comer do fruto proibido, a ordem criacional do casamento estava sendo aviltada: primeiro foi criado o homem, para liderar, proteger, guardar. Omitindo-se de seu papel, o homem permitiu que a mulher tomasse a dianteira daquela situação, invertendo a ordem. Agora, por causa disso, a tendência natural do coração da mulher é viver de acordo com essa distorção, desejando sempre assumir o comando e o controle. Porém, ainda que tente, seu marido há de dominá-la, não da maneira piedosa e humilde que fazia quando antes de pecar contra Deus, mas de maneira truculenta e totalitária. Haverá sempre uma constante infelicidade e insatisfação no coração da mulher, que dificultará sua submissão ao seu marido. O casamento, o lar, a aliança do matrimônio, também foram profundamente afetados.
Por fim, a última e principal peça-chave no motim, o homem, é condenado exatamente na área onde deveria refletir o propósito de sua criação: o trabalho. Contudo, a condenação do homem tem aspectos globais inclusos. Ao homem, uma palavra especial é referida: “Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa” (v. 17). O pecado de Adão não traz penalidade sobre si apenas, mas a toda criação, que deveria ser cuidada e representada nele, porém agora, deverá sofrer as consequências de sua ação nefasta. O trabalho que antes era algo a ser desfrutado com prazer, pois através dele, servia-se ao SENHOR, agora apresentará dificuldades extremas. A terra não mais será favorável ao homem em seu labor, mas “ela produzirá cardos e abrolhos” (v. 18). O homem que antes tinha tudo a seu favor, deverá experimentar a terrível maldição de ter de dobrar a terra à sua vontade para que possa sobreviver. Todos os dias, o homem sentirá a agonia de prolongar sua existência sobre a terra através de uma batalha titânica contra os efeitos do pecado que permeiam a criação: ele havia se rebelado contra Deus, e agora, veria a criação rebelar-se contra ele. Mas, assim como foi com a mulher, antes do soar do martelo do juiz, uma última sentença é anunciada.
O símbolo do relacionamento de Deus com o homem estava explicitado na ordem de não comer do fruto. Como parte constituinte de uma aliança, uma ordem é dada, uma lei é expressa, e no caso do primeiro pacto, não somente o comando foi direcionado, mas uma consequência fora prometida, caso o homem incorresse em descumprimento da mesma: “da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17).
A morte, que antes era um conceito completamente inexistente na mente humana, agora perseguirá cada homem e mulher até que ceife sua vida, em cumprimento ao decreto divino. A alienação do homem em relação ao estado no qual fora criado ganha um símbolo máximo: se Deus pela sua palavra deu vida ao homem, pela sua palavra a tira. Embora não seja algo definitivo, pois fora providenciado um meio através do qual Deus redimiria e expiaria o pecado, erradicando-o de sua criação, revertendo seus efeitos, o homem passaria a sofrer a morte, isto é, a separação do seu corpo do sopro de vida expirado pelo Criador em reflexo de sua separação da comunhão com Deus.
todo o conceito antropológico que é exposto na Escritura, de alguma forma, é um desdobramento de tudo o que é registrado nesta seção do livro de Gênesis, pois narra a realidade na qual vive toda a humanidade pós-queda. Entretanto, não é somente os efeitos do pecado que se desenrolam ao longo do cânon, mas a própria menção a redenção aqui descrita, inclui assim na revelação uma progressão que não somente promete um desfecho na história, mais um “crescendo” que culmina na salvação promovida pela própria Trindade.
Essa palavra profética da parte de Deus, dá o tom de expectativa à toda revelação, numa que um ente é aguardado para reivindicar o trono de Deus sobre a criação, e promover a restauração do cosmo à uma estado de perfeição, de acordo com o que fora planejado pela Trindade desde a eternidade.
Aqui em Gênesis 3.15, encontramos o que é denominado de “proto-evangelho”; uma declaração embrionária que contém toda a carga conceitual a se desenrolar na história da redenção. O anúncio germinal do evangelho com a vinda de um ente masculino que derrotaria Satanás de uma vez para sempre, estabelece todo o arquétipo sobre o qual será fundamentado a Escritura.
Claramente, a Palavra de Deus, demonstra que Cristo Jesus é este ente prometido em Gênesis 3.15, quando em sua morte na cruz, derrota o diabo e o poder condenatório do pecado, o qual também está sendo e será finalmente obliterado em seu retorno em glória.
A história da redenção progride de Gênesis à Apocalipse, demonstrando que Cristo Jesus é o filho da mulher, que esmagou e esmagará finalmente a cabeça da serpente.
O trecho lido, meus irmãos, apresenta as punições merecidas do pecado de Adão. A quebra da aliança com seu Criador ativou a imediata e prometida retaliação por parte da Coroa do universo. A afronta e rebelião contra Deus não poderiam ser ignoradas tendo em vista o amor que o próprio SENHOR tem por sua criação. Não há incompatibilidade em Deus entre seus atributos, de sorte que um possa vir a anular o outro.
A transgressão demanda punição. Há na natureza do pecado, uma punição que advém de sua própria existência conforme já foi salientado, qual seja: a separação de Deus.[2] Porém, o supremo Legislador, impõe seu caráter santo e justo ao declarar o homem culpado, e sentenciá-lo por sua transgressão.
Outra conclusão não pode ser tomada senão a de que o pecado merece ser considerado conforme a seriedade de sua vileza. As punições declaradas por Deus apontam para o caráter rigoroso daquilo que será aplicado como castigo efetivo do pecado. Quatro efeitos podem ser elencados como resultante clara da rebelião do homem e da condenação divina:[3] A) Morte espiritual: o homem agora está em sua natureza, distante do SENHOR Deus. Sua natureza está inclinada pela corrupção do pecado a fazer o que desagrada ao Criador. B) Sofrimentos da vida: Como exposto no texto, a criação agora tornou-se hostil aquele que deveria ser o arauto de Deus no cosmo. Como consequência direta, seu sustento e seu trabalho serão em extremo dificultados pela entrada do pecado no mundo. Nada será mais tão prazeroso quanto fora antes. C) Morte física: Criado pelas mãos do próprio SENHOR, e tendo recebido dEle o soprar do fôlego da vida, isto também lhe será tirado. Em algum momento de sua vida, o homem tornará ao pó (Gn 3.19). Sua alma será separada do corpo, refletindo sua separação de Deus, que é a fonte da vida. D) Morte eterna: visto ter desobedecido o Deus eterno, nada mais condizente com isso do que amargar por toda eternidade tal estado. O homem, a quem não for revelada a salvação no Filho da mulher, permanecerá experimentando a ira justa de Deus para sempre.
As consequências de sua rebelião se mostram rígidas. Se o homem caiu em estado de pecado, somente Deus o pode tirar dessa situação. A promoção da redenção no Messias prometido, demonstra que os planos do SENHOR não podem ser frustrados ou alterados, mas que tudo coopera para demonstração da glória do Deus Triuno em sua infinita sabedoria. O homem pecou, e Deus o puniu, mas na punição há esperança, na justiça há graça, e a salvação fora prometida.
Transição
Assim como vimos no sermão anterior, Moisés usa a narrativa da queda do homem, como também temos lido agora no julgamento do pecado, para mostrar ao povo de Israel que nenhuma transgressão ficará impune. A quebra da aliança com o Criador traz consigo maldição e miséria. Violar o pacto, rebelando-se contra o SENHOR, lega ao homem uma depravação que demanda aplicação da mais severa e dura pena que pode ser aplicada a um transgressor: o afastamento da presença de Deus e com isso, a morte. Porém, ainda outras considerações podem ser feitas à luz desse texto:
Aplicações
1. O pecado demanda juízo
Precisamos nos lembrar que Moisés está se referindo a Israel, isto é, ao povo eleito do SENHOR. Embora certamente poderia haver muitos dentre o povo que eram ímpios, é àqueles que creem em YHWH que o texto de Gênesis está sendo escrito. Logo, a intenção do autor é mostrar que mesmo eleitos de Deus são pecadores, e que o pecado demanda punição. Mais uma vez, violar o pacto é uma atitude que exige punição.
Além de das consequências próprias da corrupção, como a humilhação e perda da dignidade que um dia estavam presentes em Adão e Eva como detentores da perfeita imagem de Deus, atos de rebelião serão encarados por Deus com todo o rigor que o Justo Juiz possui em si contra o pecado. E visto que sua santidade é infinita, sua ira contra a transgressão também o será.
Devemos nos manter vigilantes, meus irmãos, pois não será diferente conosco. Mesmo tendo sido salvos em Cristo Jesus e regenerados segundo o poder do Espírito Santo, há em nós uma natureza que sempre lutará por se rebelar contra Deus, e sempre haverá a tentação de achar que nossos pecados não serão julgados, assim como foi dito a Eva pela serpente (Gn 3.4). É impossível que alguém se rebele contra o Criador, sem que seja executado pelo juízo divino. O pecado demanda juízo.
2. Somente as palavras de Deus dão vida, quando andamos em obediência. Distorcê-la, custará caro.
“Visto que atentaste à voz de tua mulher...”. Adão e com ele toda raça humana caiu em desgraça por não terem obedecido ao SENHOR, amando e guardando sua palavra. O pecado sempre consistirá nisso: distorções e violações aos mandamentos do Criador. O Catecismo Maior de Westminster em sua pergunta 24, questiona: “o que é pecado? Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como regra à criatura racional”.
Sempre haverá no nosso coração o desejo maldito de agir nas entrelinhas daquilo que Deus ordenou. Sempre criaremos exceções ou subterfúgios para fazer a nossa vontade no lugar de obedecer a aquilo que está prescrito na Palavra de Deus. A serpente distorceu a ordem, e Eva por sua vez, acrescentou. Não houve fidelidade à ordem de YHWH. O resultado não poderia ser outro senão morte e miséria.
Agir de acordo com o pacto conforme explicitado nas Escrituras é o que é esperado de nós, que fomos salvos. Diferentemente do que pensam muitos, a Palavra de Deus não é um muro que nos aprisiona, mas uma cerca que nos protege de cair na morte e de experimentarmos as dores amargas da disciplina do nosso Pai. Por isso, irmãos, é imperativo que conheçamos bem a Escritura, a fim de que retenhamos firmes o mandamento do SENHOR, nos livrando da queda certa em pecado que a desobediência a ela nos levará.
3. A salvação vem de Deus.
O pecado entrou no mundo por causa do homem. Adão voltou-se contra seu Criador e por isso foi lançado num estado de miséria profunda. Não havia esperança para ele, pois agora, corrompido pelo pecado, como poderia proporcionar a remissão de sua transgressão? Somente com sua morte a dívida seria paga, mas assim, a história terminaria com o triunfo do pecado sobre Deus e seus planos de que sua glória cobrisse a terra.
É da parte de Deus que vem o remédio. Por meio do Filho da mulher, Jesus Cristo, o SENHOR levou-nos de volta a sua presença gloriosa. Isso não vem de nós, mas para nós. O cumprimento da palavra profética de Deus é visto nas páginas das Escrituras que demonstram que Cristo triunfou na Cruz sobre os principados e potestades.
Se não fosse por meio da própria provisão que fez para que não fossemos tragados pela sua ira, a espada do Criador certamente nos executaria sumariamente, pois disso somos merecedores. Mas em Jesus, como diz Stephen Charnock: “a sentença da lei é revogada, o direito de condenar é removido, e o pecado não [nos] é imputado”. Nosso coração deve ser grato ao SENHOR por nos ter salvado dele mesmo, de sua ira, de sua justiça, da punição e condenação. Fomos libertos por ele, para que voltássemos a ele.
Conclusão
No jardim do Éden, lugar da habitação de Deus e do serviço a ele, Adão e Eva se rebelaram contra Deus, e por isso foram condenados. Mas, Aquele cujos pensamentos são mais altos que os nossos pensamentos, providenciou um meio de garantir seu triunfo sobre o mau, nos dando gratuita e graciosamente um Redentor que nos livrasse da nossa culpa. Sofrendo um ferimento no calcanhar, o Filho de Deus esmagou a serpente. Seu sangue é mais poderoso do que o veneno, e nos curou das chagas de nossa rebelião. Graças a Deus pelo Filho da mulher! Graças a Deus pelo Filho de Deus – Jesus Cristo.
[1] SMITH, Ralph – Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem – São Paulo: Vida Nova, 2001, p. 276.
[2] BERKHOF, Louis – Teologia sistemática – São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 238.
[3] Ibid, p. 240, 241, 242.
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