Gênesis 2.1-3

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O dia do SENHOR demarca o símbolo do senhorio de Deus sobre sua criação, e de seu relacionamento com seu povo eleito.

Notes
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“São estas as gerações ...” (Gênesis 11.10).
Gênesis 2.1-3
Pr. Paulo Rodrigues
Introdução
O trecho anterior (cap. 1) narra a criação e sua estruturação, que servirá de base para toda compreensão do povo de Israel em relação ao conhecimento que deveria ser absorvido por eles para se relacionarem com Deus. A cena seguinte (cap. 2.4-25) contém o relato que dá início a formação do homem, e o estabelecimento de seu trato com o Deus da Aliança, seccionado pelo modo como deverá ser posto essa comunhão entre o Suserano (Deus) e seu vassalo (o homem), por intermédio do princípio sabático estabelecido no trecho trabalhado nesta análise (2.1-3).
Dessa forma, veremos como Deus proclama-se SENHOR sobre sua criação através de uma ordem que dá ao homem o norte de como deve agir nesse mundo, em respeito à autoridade divina, numa que inescapavelmente está inserido numa aliança com seu SENHOR.
Elucidação
Como temos afirmado, a interposição dessa perícope no local onde foi escrita, serve como introdução a narrativa específica da criação do homem, e consequentemente, introduz também o princípio que norteará o relacionamento de Deus com o seu povo, numa que Moisés está, através desse texto, explicando a origem da observância do Shabath em relação a aliança feita por Deus com o povo de Israel. Nas palavras de Jochem Douma: “O Shabbath é chamado um sinal da aliança entre Yahweh e seu povo. Qualquer pessoa pode discernir a partir do Shabbath que havia uma aliança entre o Senhor e Israel”.
Apesar de termos divido em dois tópicos estruturais o trecho de 1 a 3 desse segundo capítulo, entende-se essa porção do texto como um epílogo à obra criadora de YHWH. Uma conclusão explicativa de alguns princípios que serão aplicados nesses momentos são introduzidos pelo autor, como por exemplo o repouso sabático, como marca da aliança que Deus fez com a sua criação e que terá como representante seu subgerente, que será criado em seguida: o homem. Como nota B. Waltke falando da bênção de Deus sobre o sétimo dia (v.3): “Esse dia é abençoado para o refrigério da terra. Ele convoca a humanidade a imitar o padrão de trabalho e descanso do Rei, e assim confessar o senhorio de Deus e sua consagração a ele.
"E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, tinha feito" (v. 3). Aqui fica claro que a observância desse dia é um critério que precede a estipulação da aliança firmada em Êxodo 20. A estrutura básica da criação – 6 dias de trabalho e 1 de consagração – é extraída do próprio SENHOR da aliança. A bênção exposta no versículo 3a: “E Deus abençoou o sétimo dia” esclarece a condição especial desse dia em relação aos demais e em relação ao dever que o homem tem para com seu Deus.
Em vários textos das Escrituras, o princípio sabático é demonstrado como sendo o aio através do qual é assegurado e respeitado o relacionamento de Deus com seu povo, como estabelecido no pacto. Um exemplo claro dessa perspectiva é o próprio texto de Êxodo 20, quando é reunido e resumido todo o caráter de Deus em um código legal que representava a postura que o povo da aliança deveria assumir em relação a Deus, por meio de um mandamento: “Lembra-te do dia de Sábado para o santificar” (i.e. “separar”) Êxodo 20.8.
O escritor aos Hebreus, cita diretamente o texto de Gn 2.2, com a perspectiva escatológica de um cumprimento para onde apontava o estabelecimento do princípio sabático no texto em destaque: “Pois a respeito do sétimo dia está escrito o seguinte em alguma parte das Escrituras Sagradas: “No sétimo dia Deus descansou de todo o trabalho que ele havia feito” (Hebreus 4.4). O contexto da citação é uma advertência contra incredulidade, pecado no qual incorreu Israel, não guardando os sábados e sua promessa profética de um descanso final, momento inclusive em que Deus habitaria com seu povo, cumprindo cabalmente o tema das alianças: “eles serão meu povo, e eu serei seu Deus” (Jr 32.38).
Combatendo o legalismo dos fariseus, Jesus Cristo também se vale do princípio sabático para demonstrar que o mesmo foi criado para benefício do homem, e não o contrário: “E Jesus acrescentou: — O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27). Impondo um jugo pesado e uma interpretação extra-canônica, os fariseus estavam distorcendo o que ensinava o princípio sabático: o homem deve voltar-se para Deus nesse dia, adorando e se santificando para glória do nome do SENHOR.
Certamente essa é uma doutrina vital para a saúde da igreja, e diversos documentos históricos apontam para essa importância da observação do Sábado Cristão (Domingo) como dia reservado ao descanso das obras seculares e dedicação total ao SENHOR em alusão à estipulação sabática decretada na criação (Gn 2.1-3).
A exemplo disso, a Confissão de Fé de Westminster, tratando do Culto Religioso e do Domingo, afirma:
Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão.
Dessa forma, a perspectiva cristã entende que no momento da criação, foi instituído o ponto de obediência ao senhorio de Deus por meio do descanso sabático que tem como parâmetro sua própria obra criadora.
Se nossa consideração quanto ao Dia do SENHOR é frágil, nossa perspectiva quanto ao próprio senhorio de Deus é fraca. Quando nos policiamos a que neste dia, respeitemos as atividades de culto e as obras de misericórdia que devem ser executadas em louvor e adoração ao Deus do Pacto, nós proclamamos ao mundo que Aquele que criou todas as coisas se assenta sobre o globo terrestre e de seu trono de glória governa tudo e a todos. Porém, quando tratamos o Dia do SENHOR como uma atividade opcional, ou que está sujeita à nossa vontade e disposição, nós afirmamos com nossas obras que apesar de Deus ter decretado que um dia fosse respeitado e santificado para seu louvor e sua glória, é mais importante minha opinião e vontade do que aquilo que o SENHOR determinou.
Qual sua visão sobre o Dia do SENHOR? Como você enxerga o dia do ajuntamento solene? Momento em que a igreja é convocada a louvar e dizer à plenos pulmões que somente Deus é o SENHOR?
Alexander Hodge, comentando sobre a que se destina a lei do sábado segundo a Confissão de Fé de Westminster, explica que:
[A lei do sábado destina-se] a manter na memória o fato de que Deus criou o mundo e todos os seus habitantes, que é o grande fato fundamental em toda religião, quer natural quer revelada. [E que] ao ser mudado para o primeiro dia da semana, ele se destina a manter na memória o fato da ascensão do Redentor crucificado e seu posicionamento à destra do poder, o grande fato central da religião de Cristo.
Também a nossa consideração quanto a obra redentiva realizada pela Trindade em Cristo Jesus, depende de como observamos o Dia do SENHOR, pois em Cristo Jesus, Deus estava reconciliando consigo o mundo, proclamando seu senhorio, algo que o princípio sabático vem prefigurando desde a própria criação. Se consideramos o domingo como um dia qualquer, e damos pouco valor a reunião solene dos santos nesse dia, também fazemos pouco caso da própria obra de salvação que o Deus Triuno realizou na encarnação, vida, morte e ressurreição do nosso Salvador Jesus Cristo.
Como afirmamos anteriormente, a imagem de Deus como Criador e Redentor não pode ser dissociada, pois para a nação de Israel, que foi o destinatário primeiro do texto de Gênesis, o mesmo Deus que criou tudo, os havia libertado do cativeiro egípcio. Para nós, o princípio segue o mesmo: devemos ter em alta conta a observância do Dia do SENHOR, pois é através dele que somos testemunhas de que Cristo nos salvou, redimindo sua criação, e de que o Deus Triuno reina para sempre.
O sábado cristão (Domingo) é também um sinal da aliança que fez Deus com seu Filho, a fim de que fôssemos assegurados de que seu intento de reunir-se com seu povo permanece intacto. Por meio daquela operação graciosa do Espírito Santo em nossas vidas, sendo ele mesmo o penhor de nossa herança, somos redarguidos que, a herança a ser desfrutada remete a um tempo infindo de descanso e repouso na presença do SENHOR nosso Deus que desfrutaremos, isso simbolizado por cada Domingo que somos reunidos com ele através do culto e da observação desse dia santo.
Transição
O texto de Gênesis 2.1—3 nos mostra como nosso Deus instituiu o sábado como emblema de seu próprio governo sobre a criação. Através desse princípio sabático, somos assegurados de que, assim como o Criador cessou sua obra, tendo concluído tudo o que intentou fazer e se deteve em se aprazer nela, assim também devemos nós, cessar nos obras seculares nesse dia, e devemos refrigerar nosso coração na adoração ao SENHOR nosso Deus, que nos salvou para nos reservar um descanso eterno, e à luz disso, descansamos a cada semana na presença do nosso SENHOR, em adoração. Em face disso, algumas observações para nossa vida são naturalmente percebidas nesse texto.
Aplicações
1. Ao lembrarmos do Dia do SENHOR, proclamamos seu senhorio sobre todas as coisas.
O princípio sabático exposto no texto que lemos enfatiza o comando soberano de Deus sobre a criação, e como parte da relação pactual dele conosco, respeitar esse preceito é o equivalente ao reconhecimento de que devemos prestar obediência à Coroa do universo. O ato de cessar nossas tarefas e atribuições nesse dia, indica que nada há de mais importante nesse dia do que comparecer à presença de Deus para adorá-lo, pois não existe nada que possa ocupar nosso coração de maneira mais profunda do que o amor e devoção que sentimos por aquele que nos salvou e nos remiu.
A guarda do Dia do SENHOR, longe de ser apenas um dia qualquer em que vamos à igreja, é a publicação ordenada da glória de Deus sobre todas as coisas, e nós, como filhos dEle, somos agentes diretos nessa tarefa de exaltar nosso Deus acima de todas as coisas. Estar comprometido com o Dia do SENHOR é estar comprometido com o anúncio da glória de Deus e seu controle sobre tudo.
2. O Dia do SENHOR é o símbolo de nossa relação pactual com Deus, e somente com ele.
Através do livro de Gênesis, Israel estava sendo lembrado de que somente Deus é o SENHOR, diferente do que criam os povos pagãos. Quando o povo de Deus parava seus trabalhos no sábado para adorar o SENHOR, pregava a dedicação de adoração devida somente a Deus. Muito infelizmente em nossos dias adoram outras coisas tanto quanto adoram a Deus, pois negam o dever ativo dos crentes em estarem diante de Deus em adoração, e passam a se preocupar com outras coisas, ou mesmo entregam-se à atividades recreacionais nesse dia, fazendo pouco caso do SENHOR e de seu dia. Outros, não guardando a promessa bíblica de que é Deus quem cuida de nós, voltam-se ao trabalho como se este fosse a fonte do sustento de suas vidas, adorando então mais as circunstâncias ou ao dinheiro do que a Deus.
É preciso ser cauteloso aqui, não estamos afirmando que quem trabalha no Dia do SENHOR é idolatra, se o faz por uma questão de necessidade. Deus sabe o porquê de as vezes permitir que seus filhos precisem trabalhar no Domingo, mas tanto quanto nos for permitido pelo SENHOR, é nosso dever dedicar o Dia do SENHOR ao culto e à adoração ao Deus vivo e verdadeiro, pois somente ele é digno de louvor, e a separação do Domingo para isso, reflete o desejo de obedecer a esse princípio.
3. O Dia do SENHOR nos lembra que “resta um descanso para o povo de Deus” (Hb 4.9).
A razão mais basilar e notória na determinação do princípio sabático que foi proclamado desde a criação, é que haveria um momento onde Deus e seu povo seriam reunidos para estarem juntos por toda a eternidade. Como vimos também à luz do texto de Hebreus, o Dia do SENHOR é um constante lembrete de que estaremos com o SENHOR num novo céu e nova terra onde habitaram a paz e a justiça.
Aqui nesse mundo, sofremos com os efeitos do pecado. Amargamos o gosto terrível das consequências do pecado em nossas vidas, mas a cada Domingo em que descansamos na presença de Deus, adorando-o e prestando louvores ao seu nome, somos lembrados pelo SENHOR que um descanso resta para nós, um descanso final e eterno de todas as dificuldades que enfrentamos nesse mundo. O Dia do SENHOR é um sinal de que aquele que fez a promessa de repouso eterno para nós, cumprirá no Dia de Cristo e estaremos para sempre com nosso Deus.
Conclusão
O princípio sabático promulgado em Gênesis 2.1-3 apresenta para nós o benefício maravilhoso de um dia especial para os crentes, um dia de prazer e de refrigério para nossa alma cansada e abatida pelas preocupações e aflições desse mundo. O Dia do SENHOR, ou o dia de feira da alma, como chamavam os puritanos, é o dia em que recarregamos as nossas forças, proclamando que somente o SENHOR nosso Deus é o único e verdadeiro Deus a ser adorado sobre toda criação, e através disso, que todos aqueles que se submeterem ao seu reinado, receberão dele bênçãos sem medidas, sendo a maior delas, o conforto, a santificação, e a concretização das promessa feita desde o início de que ele estará para sempre conosco.
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