Salmo 27 | O que tu queres?

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Introdução

Você deve estar familiarizado com aqueles filmes em que a personagem encontra a possibilidade de ter seus pedidos atendidos, sejam estes quais forem. Como o Aladin que possui a lâmpada do gênio que lhe concede três pedidos. De repente, você poderia pedir mais um gênio. Que tal? Ou mesmo descobrir onde estão todas as outras lâmpadas do mundo. De qualquer forma, vemos nessas histórias que esses pedidos precisam ser feitos moldados por muita sabedoria, inteligência e, por que não, bondade.
Mas e se você tivesse um pedido a fazer? É muito provável que ele representasse duas coisas: ou a grande urgência do momento, caso você ou alguém que amas esteja numa enrascada ou numa grande aflição; ou o grande desejo de toda a sua vida. Neste salmo, vemos qual o desejo ardente do coração de Davi. E como um livro que, como afirmou corretamente João Calvino, faz uma anatomia de todas as partes da alma” (João Calvino, Salmos, p. 27), podemos refletir qual pedido temos escondido em nosso coração.
Este Salmo é uma canção de Davi, que se enquadra como um daqueles salmos de lamento. Na primeira parte, de 1 a 6, temos um louvor de confiança na segurança divina; na segunda, de 7-14, essa confiança é expressa através de clamores por socorro, finalizados por um encorajamento pessoal.
O salmo está estruturado como um quiasmo:
A Iavé é a minha força: 1
B Meus adversários: 2,3
C Eu pergunto, eu procuro: 4
D Ele vai me levantar: 5,6a
E Três petições positivas: 6b,7
F A face do Senhor é procurada: 8
E Três petições negativas: 9
D Iavé vai me levar: 10
C Ensina-me, leva-me: 11
B Meus adversários: 12
A Seja forte: 13,14

Exposição

I - Há uma paz que antecede a providência (1-3/13-14)
Veja que o salmista está falando sobre o que há dentro de si e não sobre o que há fora. Não é que lá fora esteja calmaria, é ali no coração que está. Lá fora tem malfeitores, opressores e inimigos (v. 2). E são muitos, um exército prestes a iniciar guerra (v. 3). Suas armas são físicas e palavras (v. 12 - “falsas testemunhas”). Na verdade, no verso 2, literalmente fala que “os malvados, meus adversários e meus inimigos, investiram contra mim, para comerem minhas carnes” (ARC, grifo meu). E dificilmente os exércitos vinham com uma ostensiva direta, mas acampavam e cercavam as cidades a serem invadidas. O terror vinha desse estado de sítio em que os cidadãos se tornavam presos em casa, e, aos poucos, definhariam sem água e comida.
Mas a resposta de Davi é: de quem terei medo/me recearei? (1a) A quem temerei? (1b) Não se atemorizará o meu coração (3a) e terei confiança (3b). E a causa está na sua paz. Hoje, fala-se muito de “paz interior”, mas uma paz vazia. Como se fosse uma espécie de “não ligo” ou “o mundo é que se exploda”. Remetem a jogar tudo para o alto. No entanto, a paz que Davi experimenta não vem de si, e nem de leniência ou da indiferença, mas do Senhor. Existe alguém que está em sua companhia, e este é o Senhor dos Exércitos. Por isso, ele podia crer que veria a bondade do Senhor ainda em vida (v. 13 - ou que não crer é o mesmo que perecer // “pereceria sem dúvida, se não cresse que veria os bens do Senhor na terra dos viventes” ARC). Sua derrota estaria na incredulidade e não nos inimigos.
A paz de Davi está intimamente ligada a intimidade que ele desfrutava com Deus ao longo de sua vida. A princípio, ele descreve o Senhor como sua luz, salvação, fortaleza (v.1). Ele sabia que não estava largado, a mercê das circunstâncias, mas que possuía um salvador individual, não apenas do mundo, mas seu: “minha luz, minha salvação, fortaleza da minha vida”. A iluminação de Deus que dissipa as trevas, que faz o homem nascer de novo e dá salvação não é algo que Deus concede de fora de si, mas Ele mesmo é luz (único texto que afirma isso no AT // 1Jo 1.5) e salvação (Is 12.2). Seja física ou espiritualmente, o que ele tem de mais precioso está guardado nas mãos de seu salvador.
Nos versos 2 e 3 vemos que Davi prossegue sobre conhecimentos que ele possuía sobre Deus que tornavam sua fé robusta: Deus é seu protetor e vingador (v. 2): os desígnios de seus inimigos serão frustrados; no final das contas, não lograrão êxito. Em Romanos Paulo fala de várias coisas que, de fato, podem nos alcançar: a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo ou a espada, etc. (Rm 8.35, 38,39). Porém, nenhuma delas é poderosa o bastante para nos separar do amor de Deus, que há em Cristo Jesus, nosso Senhor. Nenhuma. Esse é o tesouro de Davi (v.14), o qual ele fortifica o seu coração pregando para si [e para os outros]. Qual o seu tesouro?
II - Davi tem os olhos no futuro enquanto vive o presente (4, 5).
Se Davi encontrasse a lâmpada, temos aqui o seu desejo. Vejamos que Davi, como aquele que queria habitar eternamente nas mansões celestiais, tinha o desejo ardente de seu coração de morar para sempre na Casa do Senhor. Não era algo somente a se realizar no futuro, mas, desde agora, ele já era alguém que não se privava de estar na presença especial do Senhor no Templo. Se pudesse, todos os dias de sua vida estaria ali - antes de pensar em casa, ele pensa na casa do Senhor.
O motivo era que lá ele contemplava a beleza do Senhor e meditava. Veja, não há subterfúgios ou distrações: há uma coisa que se encontra em estar no meio do povo de Deus, seu templo, e que é superior a todas as outras: a sua presença belíssima e sua Palavra para meditação. Se você vem à igreja por qualquer outro motivo que estes, quando eles forem feridos você deixará de vir. Sabe por que congregamos? Por causa de Cristo. Ele nos trouxe. E mais: Ele trouxe os outros para cá, tão ou mais quebrados do que eu. Mais ainda: tudo isso aponta para sua graça e misericórdia em aceitar pecadores, transformá-los e santificá-los. Ele é Belo e Sua Palavra eficaz. A alegria de habitar com Deus eternamente inicia aqui. (v.11) e há somente uma forma de andar seguro nesse mundo caído - por isso, precisamos ser ensinados por Ele.
(v.5,6a) Na presença do Senhor não há anonimato, mas esconderijo. Quando Davi se apresenta ao Senhor, na Sua casa, Ele sabe que há espaço para acolhimento e segurança. A reunião do povo de Deus é a maior antítese a esse mundo: olha-se pra cima e não para si mesmo ou para o lado. Enquanto o mundo rui, o povo é elevado ao Pai. Enquanto os homens fabricam seus ídolos, Deus destrói os nossos e edifica para Si um altar em nossos corações. Enquanto o mundo caminha para o fim, Deus inicia em nós uma nova história.
Em meio as adversidades não permanecemos do mesmo jeito quando buscamos o Senhor. Isso era verdade para Davi que, enquanto rei, devia buscar a orientação do sacerdote quanto a vontade do Senhor durante as guerras, e isso lhe trazia confiança e se sentia seguro (Harman, A.). Isso é verdade para nós, quando buscamos a Palavra do Senhor para dirigir nossos caminhos.
III - Davi não é passivo diante de Deus (6b-10)
Em muitas religiões mundo afora, o culto é uma expressão de passividade. É receber, é ser infundido. É introspecção e meditação. É reverência muda. Mas veja que Davi, diante de Deus no Seu templo, faz: sacrifício de júbilo, cânticos e salmodia (6b), clamores em oração (7), busca pela presença de Deus e petições (9,10). De modo semelhante fazemos isso hoje. E isso não tem a ver com uma religião de salvação pelas obras, mas de graça. Deus não nos responde por nossos sacrifícios, mas pelo sacrifício de Jesus. Ofertamos porque recebemos. Falamos porque ouvimos. Olhamos porque nos foram abertos os olhos. Clamamos porque ouvimos a voz. Cantamos e louvamos porque tudo nos foi dado.
“Oferecerei” (6b), no futuro, provavelmente traz esse aspecto de realizarmos qualquer coisa porque Deus já realizou salvação de antemão. Como lembra o comentarista Allan Harman, “sacrifícios e agradecimentos podiam ser oferecidos depois de vitórias militares, e com canções joviais podiam orar ao Senhor. Se este salmo foi usado mais tarde em situação de adoração, na igreja do Velho Testamento, é possível que um sacrifício fosse oferecido neste ponto de sua recitação”. Assim, como temos vitória em Cristo Jesus, nossa vida pode ser uma contínua obra de sacrifício vivo ao Deus de nossa salvação (Rm 12.1).
Mas algo que não pode nos escapar quanto ao culto prestado por Davi é a busca a Deus. O salmista provavelmente retrocedendo a Dt 4.29, revela que não há uma busca superficial, mas de todo o coração, de todo ser. Não é um convite para ver, ou para pensar, mas para ir. Vamos porque fomos convidados, não para uma aula, mas para um banquete (Lc 14.15-24). É para seguir o Mestre mais do que apenas ouvi-lo.
Com diz João Calvino:

Tenho dito que ninguém pode confiadamente sair em busca de Deus enquanto o caminho não for aberto pelo convite de Deus mesmo, como alhures demonstrei à luz da declaração do profeta: “Eu direi: É o meu povo; e dirão: O Senhor é o meu Deus” [Zc 13.9]. Davi, conseqüentemente, diz que dessa forma a porta se abriu para que ele buscasse a Deus: ele formula esta promessa e então responde, por assim dizer, a Deus. E, com certeza, se esta sinfonia não precedesse, e ninguém faria coro ao convite. Portanto, assim que ouvirmos Deus se nos apresentando, respondamos confiadamente com Amém; e meditemos conosco mesmos em suas promessas, como se fossem familiarmente a nós endereçadas. Por isso os verdadeiros crentes não carecem de buscar algum artifício sutil ou circuitos tediosos para introduzir-se no favor de Deus, visto que este prefácio lhes prepara tão facilmente um caminho: “Por indignos sejamos nós de ser recebidos por ti, ó Senhor, contudo teu mandamento, pelo qual nos ordenas a irmos a ti, nos é um encorajamento suficiente.” A voz de Deus, portanto, deve ressoar em nossos corações, como um eco nos lugares sagrados, para que deste acordo mútuo emane confiança para invocá-lo.

Aplicações

Em meio ao lamento é possível realizar uma exuberante declaração de fé. Lamento é coisa de crente - não a murmuração.
O conhecimento dos atributos de Deus não são um conhecimento estático, mas vivenciado dia-a-dia no relacionamento de intimidade com Deus.
O que temos de mais precioso está guardado nas mãos de Jesus Cristo. Nossa salvação, nossas vidas, nossos verdadeiros tesouros.
Gozo celeste só terão aqueles que hoje amam estar no meio da Igreja. O prazer de estar diante de Deus não inicia nos céus mas aqui, no culto, na assembléia solene.
Culto não é spa. Não é para relaxar. É para estarmos ativos na busca do Senhor, pois ouvimos a sua voz. É momento de adoração do início ao fim.
O desejo do nosso coração será refletido em nossas ações. O que queremos não é algo que fica apenas no campo dos desejos ocultos e não refletido da vida diária. Mesmo que seus desejos sejam inconscientes, sua rotina, suas ações e seus amores mostram quais são eles. Olhe para sua vida e veja se ela demonstra que você deseja habitar na Casa do Senhor todos os dias da sua vida.
S.D.G
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