Salmo 20 - Deus salve o Rei!

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Introdução

Qual tipo de soldados nós somos?
Existem os soldados com ares heróicos. Agem pelo bem maior de seus compatriotas contra algum grupo ou nação que os ameaçou. É uma proteção quase que instintiva, que expressa mais amor pelos que protege do que, necessariamente, ódio pelos que estão pela frente. Não é que lhes falte medo, mas lhes sobra amor e propósito. Por isso, entregam suas vidas de forma, muitas vezes, abnegada.
Existem os que vão pra guerra dos outros. Estes são muitos na história. Não queriam estar ali. Não percebem algum propósito coletivo senão a vaidade de seus governantes - ou sua tirania. Existe uma música da Legião Urbana [primeiro álbum] que fala mais ou menos disso. A canção Soldados. Fala de garotos que outro dia brincavam de guerra e, de repente, estão numa guerra real. Perguntam “quem é o inimigo?” e dizem “nos defendemos tanto, tanto sem saber por que lutar”. São “soldados pedindo esmola” e “que não queriam lutar”.
Também existem os que lutam por obrigação - mas diferentes desses últimos. Estes não queriam empunhar armas - não que esse seja o motivo principal de qualquer soldado legítimo - mas não querem pois não tem pelo quê lutar. São vazios de causa. Moleques que a única preocupação é o seu umbigo - e geralmente sobrevivem de pais que ralam muito para mantê-los. Olham por lado e não tem quem proteger. Talvez lhes falte amor, daqueles como a de uma mãe que protege seus filhos. Esses são os primeiros a morrer, e, se depender deles, toda nação sucumbiria a qualquer ameaça.
Existem outros tipos de soldados moleques: os que só querem matar. O que é sério para homens e a última e infeliz saída, para eles é diversão.
Repito, então. Que tipo de soldado você é? Sabe irmãos, estamos sim numa guerra. Não como as de Israel aqui, mas como a que o apóstolo Paulo nos lembra em Ef 6.11-18 O povo de Deus como é como soldados e suas armas são a do Espírito. Quem não percebe que está nessa luta é porque provavelmente está perdendo. Mas o que nos motiva enquanto soldados é o Rei: Jesus Cristo é o Rei da Igreja. Quanto mais o amamos mais lutamos contra o pecado, pois sabemos que Nele já temos a vitória. O cristão entra numa guerra de um Rei vencedor - e porque Ele venceu, seu povo também vencerá. É uma guerra em que a vitória é certa a se alcançar para todos aqueles que verdadeiramente são seus súditos [e soldados].

Aparato textual

O salmo que lemos é um salmo real de Davi, daqueles especialmente messiânicos {em que é evidente que Davi fala mais do que de si mesmo, mas também de Cristo). Inclusive, o termo hebraico para ungido (מָשִׁיחַ/mashiyach) aqui é de onde vem a palavra Messias. Aqui, Davi escreve uma oração, em estrutura poética de estrofes, para e antes de uma batalha. Era costumeiro Israel e Judá orar ao Senhor [Ex.: Josafá contra Moabe e Amom (2Cr 20.5-19)]. A data da composição certamente foi depois que a arca foi conduzida a Jerusalém e do estabelecimento do santuário no Monte Sião (v. 2) (Harman, A. 2011, p.125). Ele está ao lado do salmo 21, pois enquanto esse ora pela batalha e pelo rei, o salmo 21 é uma canção de gratidão por ter recebido a vitória pedida neste salmo. O salmo 20 é a oração pela vitória do Rei, e o 21, portanto, as ações de graça pela vitória que tiveram.
Olhemos para esse salmo e aprendamos sobre como cristão lutam sua vida.

Estrutura

O salmo apresenta aqui três dinâmicas:
1. Palavra de Davi a alguém: “te”, em 1-4 e 5b.
2. Palavra coletiva: “nós”, de 5a; 7-9.
3. Palavra de Davi: “eu”, em 6.
Vejamos agora como este salmo era executado como cântico público antes das batalhas [e posteriormente como cerimonial]:
1. Cântico entoado pelo povo [em bênção] pelo Rei (1-5)
2. Resposta de regente, provavelmente um levita (6)
3. Cântico entoado [em súplica] pelo povo pelo Rei (7-9).
Interessante que entre a escrita de Davi, e a aplicação congregacional, há uma reciprocidade de bênçãos. O Rei abençoa o povo. O povo abençoa o rei. Esse elemento não pode ser perdido de vista no salmo: a bênção de rei é a bênção do povo. Diante disso, vejamos:

Aplicações do salmo à nossa vida devocional diante do Senhor:

1. Vida de oração a Deus:

1 “O Senhor”, “o nome do Deus de Jacó” 2 “De seu santuário”, 3 e 4.
Nestes versos fica claro a quem o salmista recorre: Ao Senhor, o Deus de Jacó (Sl 24.6, 46.7,11; 75.9; 76.6, 81.1, 84.8, Is 49.26, 60.16, 30.27). Isso nos lembra da necessidade dos líderes humanos estarem sempre colocando diante de Deus em oração o povo que Deus lhes designou (Hb 13.17).
Além disso, nos ensina sobre a necessidade de oração aos nossos líderes. Se forem nossos pastores e presbíteros: Que eles sejam vitoriosos na guerra. Amados irmãos, se o ministério deles for bem, isso será bom para a igreja. Tantos exemplos nos lembram que o fracasso deles é prejudicial para as ovelhas. Oremos também pelos nossos governantes civis.

2. Vida piedosa:

O povo e o rei cumpriam a Lei do Senhor. Eram pessoas que oravam e também se consagravam através de ofertas e sacrifícios.
“Os sacrifícios (v. 3) poderiam ser todos aqueles do passado, mas provavelmente o que está em pauta sejam aqueles oferecidos na ocasião particular de sair à batalha (cf. 1Sm 7.9; 13.9). A primeira palavra para sacrifício é um termo geral que cobre muitos tipos, enquanto o segundo é a oferta queimada na qual tudo era consumido como um símbolo de dedicação a Deus” (Harman, A. 2011, p.125).
Por isso o salmo inicia pedindo para o Senhor ouvi-los. Eles sabiam que eram orações vindas de pessoas que viviam na dependência do Senhor. Isso tá ligado à consagração. Não uma consagração impensada. Somente depois da reflexão acerca da consagração (a pausa entre os v. 3 e 4), o salmista fala acerca do conceder o desejo do coração. Ouve (v.1), pois o desejo do coração do rei (e do povo) e seus planos são santos, vem de corações sinceros.
E qual o desejo do coração piedoso? A resposta vem na grande expectativa do salmo no verso 5a: alegria na salvação e glorificar o nome de Deus. Eles queriam hastear bandeiras em nome do nosso Deus. Irmão, Em torno disso o povo se une [ou se divide]. Lembremos, irmão que o povo de Deus não é dividido. Por exemplo, para quem não é bolsonarista, tudo que o presidente Bolsonaro faz é trágico. Para quem não era petista, tudo que o Lula ou a Dilma faziam era trágico. Pois, politicamente, às vezes, estamos muito ligados à bandeiras ideológicas ou partidárias. Mas, no reino de Deus, tudo que é feito para a glória de Deus é motivo de alegria para o povo de Deus - e é proveitoso para ele. Não há vitória se o povo não se consagrar. Não há vitória se o rei não for consagrado.

3. Vida baseada na fé no Senhor:

O verso 6, ou seja, a salvação, está vinculada ao que foi realizado até aqui pelo rei ou pelo povo [dependendo da aplicação do salmo]: a consagração e a oração ao Senhor. Eles sabem por causa disso: em oração e consagração estão unidos pela glória do Senhor. Mas em quê, a oração e a consagração estão fundamentadas? Na fé. Oração e piedade são expressões de dependência confiante em Deus.
A fé é o elemento mais intenso aqui nos verso 7. Oramos, nos consagramos àquele que é a nossa única confiança. Consagração e oração não são levantar para si uma “santidade farisaica”, mas exatamente olhar somente para Deus. O que salva é a fé em Deus. Nossa tentação é buscar vitória em outras coisas - no óleo, no movimento, na religiosidade, no poder, no dinheiro, na posição social. Mas o salmo nos ensina que é exclusivamente no SENHOR!
Salmo 20.7 RA
Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do Senhor, nosso Deus.
Não é Deus abençoar métodos, ou que Ele complemente algo que fazemos. “A força do povo de Deus “não reside na eficácia das armas ou de outros meios puramente humanos, mas no poder de Deus e na ajuda que vem dele. Cf. 1Sm 17:45-47; Sl 33:16-17; 147:10-11; Pv 21:31; Is 31:1; Os 1:7; Zc 4:6; 1Co 1:25”. (Bíblia de Estudo ARC SBB, 2002). Ele é a nossa vitória. E a temos somente pela fé (Rm 1.16-17).
No verso 8 temos um elemento poético que pode passar desapercebido no português. Ele fala dos que confiam em carros e cavalos. Mas veja o que ocorre com eles: se encurvam [tropeçam e ficam de joelhos] e caem [para a morte? Sísera em Jz 5.27]. Quem busca carros e cavalos não é para isso, pelo contrário. Mas esse foi o meio de suas quedas. Aquilo que o homem se apegar que seja Deus, será por meio disso que virá sua queda. E uma queda definitiva, se essas coisas forem nossas confianças. A idolatria é uma burrice no fato de o ídolo ser sempre algo que nos decepcionará.
Mas veja que o povo de Deus também pode cair ou tropeçar. Mas não ficam em caídos. Eles tem perseverança. Podem cair, mas continuam firmes (Sl 21.7).
O salmo finaliza com um termo de oração com súplica e não mais somente por resposta, v.9, aplicando ao rei. Posteriormente, essa súplica será particularizada na expressão conhecida como Hosana (Sl 118.25). O povo volta a clamar pois sabe que a vitória do Rei é a vitória do povo. Por isso, daí a expressão clássica inglesa: Deus salve o Rei (Rainha)!
Irmãos, e como saber disso e não nos lembrarmos de nosso salvador? Ele não era obrigado a entrar em guerra nenhuma. Mas ele lutou a nossa guerra, Ele lutou por nós.

O Rei é Salvador

Davi era um tipo de Cristo (Rei). Nele o povo via o libertador, o salvador. [Não achei uma palavra especial para rei aqui, como alguns interpretes apontam (goel), visto que a palavra é מֶ֫לֶךְ (melek/rei)]. O que temos a respeito do tipo de Rei aqui é o contexto: o cântico para a vitória em suas pelejas. Perceba: Se Deus der vitória ao Rei, ele dá vitória ao Seu povo.
Olhemos novamente para a dinâmica agora com novos olhos:
O Rei como intercessor (Dinâmica 1).
O Rei unido ao povo (Dinâmica 2 e 3) - as bênçãos do Rei são as bênçãos do povo.
Cristo é o nosso Libertador, Salvador, Redentor e Rei. Amados, não sejamos motivados pelo ódio [“Na força do ódio”], mas pelo amor ao Rei. Não devemos procurar Salvação em nenhum outro senão em Jesus Cristo. Ele venceu o pecado e a morte. Ele foi vitorioso e, por isso, somos mais que vencedores (Rm 8.33-39). Os inúmeros e poderosos inimigos de Israel e as diversas batalhas nos mostram o terror do nosso inimigo e tamanho da luta contra ele, o pecado. Mas Cristo venceu e, portanto, vencemos (Rm 6.1-14). Não o venceremos sem Cristo (7-8).
S.D.G
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Allan Harman, Salmos, trad. Valter Graciano Martins, 1a edição, Comentários do Antigo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 125.
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