Salmo 18 Eu te amo, ó Senhor!

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Davi faz uma restrospectiva agradecida dos livramentos de Deus, expressando amor e aprendizados.

Notes
Transcript

Introdução

Essa salmo é um dos maiores do saltério. Com seus cinquenta versos, está atrás apenas dos salmos 119 (176 versos), 78 (72 versos), 89 (52 versos). É também o que tem o maior título sobrescrito e o único repetido (exceto as citações), como ocorre em 2Sm 22.1-51.
É o segundo salmo real até agora (junto com o salmo 2), sendo 'o primeiro em que Davi celebra, em suaves melodias, a imensurável graça que Deus sempre demonstrou para com ele, tanto para introduzi-lo na posse do reino quanto a partir daí a sustentá-lo em sua possessão' (CALVINO, João). Veja que Davi não foi rei por querer 2Sm 7.8, mas porque era servo (servo do Senhor - no subtítulo). E em obediência foi sustentado assim, experimentando os livramentos do Senhor.
Todos esses livramentos de 'todos os seus inimigos e das mão de Saul' compreendem grande parte dos livros de 1 e 2 Samuel, especialmente o intervalo entre 1Sm 18 - 2Sm 21, sendo mais que a metade de ambos os livros. Vemos as ameaças, perseguições e a violência de Saul. A recorrente tensão e investidas das nações inimigas contra Davi e Israel, além das perturbações em sua própria casa. Todas perturbações intensas e duradouras - piores do que a maior parte de nós passaremos durante toda a nossa vida.
Neste salmo, portanto, é de nos causar entusiasmo saber o que se passava no coração de Davi e os seus aprendizados ao longo de todo esse período de aflição. Além disso, vermos como o salmo mostra o reinado de Davi como um tipo do reino de Cristo, ensinando os crentes que Cristo seria, pelo imenso poder e amor do Pai, vitorioso, apesar de toda a resistência que o mundo sempre lhe fez e faz.

Exposição

O salmo 18 pode ser dividido em 4 partes:
1-5 Quem é o Senhor diante dos seus sofrimentos
6-19 A ação grandiosa de Deus
20-29 A fidelidade de aliança entre Deus e o salmista
30-50 Deus é a explicação para os êxitos de Davi.
1-5 Quem é o Senhor diante dos sofrimentos
[ler 1-3] Diante de tudo que aconteceu em sua vida, num ato de retrospectiva agradecida, o salmista explode com um 'Eu te amo' [termo acrescido aqui no saltério]. Ele expressa, na experiência de Davi, não um uso vão, como pode ser feito sem meditação, mas de forma apaixonada e emocionante. A palavra aqui (רחם/racham) remete a amar com as profundas e veementes afeições do coração, de todo o ser. É realmente amar a Deus sobre todas as coisas e de uma forma exuberante. É a expressão do que se espera finalmente de todo israelita e crente piedoso (Dt 10.12).
O salmista resume inicialmente toda a gratidão pelo que Deus fez ao longo de anos em sua vida com um vibrante 'eu te amo'. Ao conhecer Deus e as suas beneficências, ele o ama. Lembremos que esse conhecimento o leva a amar Deus.
Vejamos a diversidade de termos que Davi usa em suas descrições sobre Deus: força, rocha [firmeza], cidadela, libertador, rochedo [esconderijo*], escudo, força da sua salvação [chifre] e seu baluarte. Oito títulos agrupados com “meu”. Observando todas essas aplicações, Davi nos ensina que Deus é tudo que precisamos em situações diversas na vida (v. 18). Como vemos, Ele não ouve a todos (v. 27, 41), mas se coloca disponível aos que o buscam em fé. E se revela fiel e de distintas maneiras ao longo da vida - e aqui, especialmente no sofrimento. Irmãos, todo o sofrimento que Davi passou, permitiu que ele conhecesse a Deus de uma forma mais ampla e toda especial. Quanto mais ele sofreu e foi cuidado, mais conhecia e amava a Deus.
[ler 4-5] Nos versos 4-5 podemos perceber a intensidade de seus sofrimentos. Ninguém usa os termos laços de morte, torrentes de perdição, correntes do sepulcro, laços de morte, para falar de uma dor de cabeça, de uma reprovação na escola ou da perda de um emprego. A descrição é das mais poéticas de todo o saltério. Onde Davi viu mais a forte mão de Deus, foi justamente nos períodos mais terríveis - que possamos ter a mesma expectativa de Spurgeon, que tinha a esperança que mesmo no maior sofrimento, ''não temendo ou duvidando com Cristo do nosso lado, espero morrer gritando: ‘O Senhor proverá’. Na escola do sofrimento ele descobriu um amável e presente professor.
6-19 A ação grandiosa de Deus
[ler 6] Assim como a esperança de Davi no verso 3, era a intervenção de Deus ao socorrê-lo. Davi não via espaço entre a sua invocação e clamor [grito] ao Senhor e a sua ação (v.6). Ele sabia que Deus agia debaixo da superfície. Então, dos versos 7-19 descreve a ação grandiosa do Senhor. [ler 7 a 19]
É interessante que quando olhamos para o contexto dos relatos em 1 e 2 Samuel não encontramos os acontecimentos que remetem à descrição. E nos perguntamos de onde, então, Davi tira essas figuras. Um texto nos ajuda a compreender porque ele usa tal linguagem está em 1Sm 20.3: “apenas há um passo entre mim e a morte”. Ele viu o Senhor agir onde parecia impossível qualquer livramento, senão da parte do Senhor.
Davi dizer que Deus desceu do céu em tempestade (8,9,12,13) e vento (v. 15) para salvá-lo, é uma figura que Davi trouxe de passagens da libertação de Israel da escravidão do Egito até a conquista da terra prometida (Js 10.11; Ex 9-19, especialmente Ex 14.21) - esse é o plano de fundo da visão de Davi. A linguagem é para expressar que o Deus que fez maravilhas para libertar Israel é 'o meu Deus, o Deus que me livra'. Davi vê que Deus agia mesmo que às vezes pareça imperceptível. Isso fica bem expresso no verso 16, nos remetendo a figura de Ex 2.10, onde o Senhor tinha um plano de refúgio a Moisés desde a infância, e o livrou das tribulações mesmo quando ainda era infante [ou, para nós, a imagem cinematográfica de Frodo puxando Sam da água].
Veja que isso reforça algo que falamos anteriormente: que o sofrimento nos permite conhecer o Senhor de uma forma que jamais conheceríamos sem ele. É como se Davi nos dissesse: “Posso dizer que aquilo que o Senhor fez por Israel, fez pela minha vida. Ou dizer como Jó: 'Eu te conhecia de ouvir falar, mas agora meus olhos te viram'’ Jó 42.5”. O Deus que lhe salva é o Deus que se agradou dele (v. 19). Ele era o servo ungido para reinar.
Em primeiro lugar, o Senhor se agrada simplesmente por seu livre agir em ‘ter misericórdia com quem quiser ter misericórdia’ (Ex 33.19). Ele nos salva porque nos ama, e não porque merecemos (Jr 31.3). Melhor, Deus não nos ama porque merecemos, mas porque Ele assim o quis. Deus é todo livre - Ele toma a iniciativa. Assim, Deus chamou Davi livremente. E Davi, então, atribui inicialmente o seu livramento ao beneplácito de Deus - que é digno de louvor (v. 3).
20 -29 Apesar do sofrimento, Davi continuou fiel.
[ler 20-29] Nessa parte, o salmista leva a poesia para trazer um ponto importante: Deus não age continuamente com bondade com um impenitente, mas com alguém que tinha plena confiança em Deus e agia conforme sua vontade.
Lembra que Davi sabia que era rei porque Deus o instituiu rei. Se existe todo um fardo consequente ao reinado de Davi, lembremos que foi Deus quem pôs o fardo [reinado] sobre ele. Davi agiu como servo ao se tornar rei - falamos disso no início. Portanto, não seria demais dizer, como lembra o pastor Leandro Peixoto, que ''Deus colocou Davi na linha de frente do sofrimento". E tudo que o salmista vai nos ensinar aqui é que vale a pena seguir o Senhor. Vale a pena manter a retidão.
Enquanto pastores ou mesmo cristãos que aconselham uns aos outros, escutamos com certa frequência: ‘a carga ou tentação foi tão pesada que eu desviei’, ‘o pecado veio com tanta intensidade que única coisa que pude fazer foi ceder e, então, seguir o seu caminho’. Mas irmãos, Davi nos ensina que quanto mais pesada a batalha, mais reto ele continuava (1Co 10.13). É evidente que Davi não foi sempre reto - a linguagem poética não quer trazer perfeição, mas regularidade (nunca, v. 22, e irrepreensível, v. 23) - mas até na sua queda terrível, ele não se colocou como intocável, mas se submeteu à disciplina do Senhor. Suas boas obras e seu coração contrito foram agradáveis a Deus (1Sm 15.22; Sl 51.17; Os 6.6; 1Jo 1.9).
Uma aplicação é possível, nesse ponto. O salmo 18 tem, especialmente, um brado de quem percebe a violência do pecado (vs. 4,5) e o grandioso agir de Deus em salvar (vs. 7-19). O pecado é mais forte que nós (v. 17), mas não mais forte que Deus. Mas a retidão de Davi, mesmo expressa pela obediência que retorna aos caminho dos Senhor (At 17.30 'Deus notifica os homens para que se arrependam'), nos lembra que não é que o fardo seja maior do que podemos suportar, é que geralmente não observamos o escape.
Percebamos também que Davi não expressa auto-justiça. Davi não está arrogando méritos para salvação do pecado. Logicamente, Davi sabe como agiu com Bate-Seba e Urias, por exemplo. Mas que dentro de seu relacionamento com Deus há a fidelidade de aliança. Vejamos a nós: somos salvos pela graça. Ela é o fundamento da fé (Ef 2.8) - mas somos chamados às boas obras, pois elas aperfeiçoam essa fé (Tg 2.22) . Dão testemunho de que ela é verdadeira (Mt 7.16) . Assim, a graça não abole a necessidade de agirmos conforme o padrão de Deus, pelo contrário, nos permite cumpri-lo. Se não o cumprirmos, Deus age com disciplina, assim com um pai corrige seus filhos (Hb 12.6). Davi reconhece que Deus cumpre sua aliança de fidelidade com os seus fiéis.
Tim Keller nos lembra, por exemplo, que “Aristóteles achava impossível que os serem humanos pudessem ser amigos de um deus, pois amigos tem coisas em comum e são capazes de dizer : “Você também?””. Isto posto, Deus mostra fidelidade com os fieis. Dentro do amor de aliança, de amizade, Deus se aproxima de nós para que possamos nos aproximar dele também em boas obras. Veja que com os infiéis, Deus revela sua justiça, e não infidelidade: Ao fiel, Deus é fiel. Ao puro, se revela puro. Contra Saul e nações inimigas Deus agiu com justiça (Sl 18.25-27).
Davi tinha os olhos fitos na Palavra de Deus (v. 28, 29). Davi não permaneceu na escuridão, mas descobriu que com o auxílio do Senhor, mediante a Sua Palavra, pode atacar uma tropa e saltar muralhas.
30-50 Deus é a explicação para os êxitos de Davi.
[ler 30-50] Podemos colocar esse trecho assim: o que Deus fez para que Davi fizesse algo. Sim, Deus cumprirá o que prometeu ao seu povo (v. 30). Deus nos concede força, irmãos, para enfrentar qualquer coisa. E como Davi obteve essa força? Através da luz da Palavra de Deus. Um Deus perfeito não tem uma comunicação imperfeita com o seu povo. A explicação para o êxito de Davi é, primeiramente, que o verdadeiro Deus (Elowahh) é o Senhor (YHWH). Sim, Deus é uma palavra - o que queremos dizer por Deus ou a quem queremos nos referir é o que importa. Davi não cria meramente em Deus, mas no Deus de Israel. E sem o Senhor, Davi não vê como poderia ter feito qualquer coisa (e ele era baixinho).
Lembra que Davi foi o rei que estabeleceu Israel - isso envolveu batalhas, e por causa do sangue, por exemplo, não pode construir o templo. Mas foi essa a dispensação de Deus para Davi. Ele até quis mais coisas, mas aceitou o 'não' de Deus (2Sm 7). Ele não agira por conta própria, por isso, o Senhor o abençoou. E todo livramento que experimentara, inclusive daqueles enviados ao deserto para matá-lo, foi pela clemência/humildade do Senhor (v. 35). Amados, existem coisas que Deus quer trabalhar em nós e somente serão aprendidas duramente. A batalha ensinou Davi sobre a gentileza de Deus.
“Foi a gentileza exercida por Deus para com um ser humano imperfeito que permitiu a Davi seu sucesso, e foi a gentileza que Deus lhe ensinou por duras lições ao longo dos anos que, no fim, foi sua verdadeira grandeza” (Tim Keller).

Aplicações

1 Devemos estar atentos para que toda a nossa vida nos permita aprender mais de Deus e servi-lo.
Irmãos, uma das coisas que mais me preocupam é ver cristãos que não sabem porque vivem. Sem propósito algum. Somente vivem. E parece que entram num cativeiro de sofrimento porque não conseguem olhar para Deus. Amados, vejamos o Senhor nas diferentes área da nossa vida para assim o engrandecermos. Ele não é Senhor apenas do nosso serviço religioso, mas de todas as área das nossas vidas, sejam as mais alegres, sejam as mais tristes.
2 Quando olharmos para quem Deus é e fizermos uma retrospectiva de nossas vidas diante de Deus, não deixemos a gratidão e o louvor de lado. Brademos: Eu te amo, ó Senhor!
Nada que passamos é em vão. Seja nossa obediência em cumprir a lei de Deus, seja nossa obediência ao chamado ao arrependimento, tudo deve ser para exaltação de Deus e para nos fazer amar a justiça. O pecado deve ser tenebroso, porque desejamos a luz da graça. A rasteira do pecado nos envergonha, mas ao olharmos para cruz o abandonemos. Vejamos que grandes coisas o Senhor fez por nós.
3 O Senhor é refúgio real.
Existem confortos pecaminosos: O filho que não progride economicamente porque se confia na mesada dos pais - ou em sua herança. O péssimo profissional que sempre trabalha pela metade sabendo que outros preencherão seus furos. Isso porque todos esses 'refúgios' são frutos da idolatria e do pecado. Idolatria do descanso, por exemplo, e tantos outros que trabalhamos na EBD sobre preguiça. Mas ter o Senhor como nosso refúgio é o único suporte real que temos na vida. Pois é saber que fora Dele nada pode ocorrer e somente Ele pode intervir em nossas vidas de forma eficaz.
4 Cristo nos conduz ao refúgio em Deus.
Isso nos remete a um agradecimento especial ao Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele deixou seu 'refúgio celestial' para se tornar vulnerável como nós, humanos, e morrer em favor de pecadores. Por isso, podemos encontrar refúgio nos braços do Pai. Louvado seja Ele! Deus desceu do céu por nós na cruz (Gl 2.20) e se deleita, se agrada, em nós em Cristo (Cl 1.22)
5 Nada deixa Deus tão zangado como um ferimento aos seus filhos.
Tudo que nos toca, toca a menina dos seus olhos (Sl 17.8). Por isso, confiemos que Deus está pronto para nos socorrer daquilo que pode afetar nosso relacionamento com ele. Não significa que não caíamos em situações perigosas, mas que nunca Ele está distante, ou que não tenha providenciado um vislumbre maior de Si nessas situações - Ele é o escape.
6 Esse Salmo é de Cristo.
O relato do sofrimento, a manutenção perfeita de sua retidão e a salvação poderosa de Deus em sua glorificação podem ser claramente aplicado a a Cristo. Além de que Cristo nos mostrou a viver segundo tudo o que o Pai ordenou (ex. Jo 12.49), por isso, o êxito de seu ministério. O Senhor veio manifestar o Pai entre os povos, conforme Rm 15.9 citando 18.49. Isso nos lembra também que para fazermos aquilo que Deus quer que façamos, precisamos de um relacionamento profundo com a Palavra de Deus. Leitura sem presa, oração sem pesar, e momentos sem reflexão. Se quisermos cantar como Davi o cântico de vitória, precisamos ser o Povo do Deus encarnado e da Palavra da vida.
S.D.G
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*No salmo 2 Davi encontrou refúgio lembrando-se de que Deus um dia endireitará todas as coisas. No Salmo 7, seu refúgio foi descansar na sábia disposição de Deus das circunstâncias de sua vida naquele momento. Aqui vemos Davi encontrando refúgio ao agradecer copiosamente a Deus pelas bênçãos passadas (Tim Keller), dizendo 'eu te amo' com profunda emoção e paixão.
João Calvino, Salmos, org. Franklin Ferreira, Tiago J. Santos Filho, e Francisco Wellington Ferreira, trad. Valter Graciano Martins, Primeira Edição, vol. 1, Série Comentários Bíblicos (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009–2012), 316.
HARMAN, Allan M. Comentários do Antigo Testamento–Salmos. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
Timothy e Kathy Keller, Os Cânticos de Jesus. Vida Nova, 2017.
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