A Natureza do Diaconato

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A Natureza do Diaconato
INTRODUÇÃO
Quilino de Pedro afirmou que o diaconato é o ministério por excelência; o serviço é a sua razão primacial. Se nos voltarmos aos Atos dos Apóstolos, constataremos que não exagera o ilustrado teólogo. A diaconia outra coisa não é senão um serviço incondicional e amoroso a Deus e à sua Igreja.
O diácono que não vive para servir a igreja de Deus, não serve para viver como ministro de Cristo. A essência do diaconato é o serviço; do diaconato, o serviço também é o amoroso fundamento. E sem serviço a diaconia é impossível. Nesse sentido, quão excelso e perfeito diácono foi o Senhor Jesus!
Não buscamos aqui nenhum efeito retórico. Todas essas implicações acham-se em perfeita consonância com o significado da palavra diácono.
I. DEFINIÇÃO
A palavra diácono é originária do vocábulo grego diákonos e significa, etimologicamente, ajudante, servidor. Já que o diácono é um servidor, pode ele ser visto também como um ministro; a essência do ministério cristão, salientamos, é justamente o serviço.
Em seu Dicionário do Novo Testamento Grego, oferece-nos W. C. Taylor a seguinte definição de diácono: garçom, servo, administrador e ministro. Na Grécia clássica, diácono era o encarregado de levar as iguarias à mesa, e manter sempre satisfeitos os convidados.
Na Septuaginta, eram os servos chamados de diáconos, porém não desfrutavam da dignidade de que usufruíam seus homônimos do Novo Testamento, nem eram incumbidos de exercer a tarefa básica destes: socorrer os pobres e necessitados. Não passavam de meros serviçais. Aos olhos judaicos, era esse um cargo nada honroso. Se quisermos entender a real função do diácono, ver-nos-emos obrigados a recorrer ao étimo da palavra diaconia. No original, ostenta o referido vocábulo estes sentidos: distribuição de comida, socorro, ministério e administração. Não são esses basicamente os misteres do diácono eclesiástico?
A palavra diácono aparece cerca de trinta vezes no Novo Testamento. Às vezes, realça ela o significado de servo; outras, o de ministro. Finalmente, sublima a função que passou a existir na Igreja Primitiva a partir de Atos capítulo seis. Observemos, entretanto, que, nesta passagem de Atos dos Apóstolos, não encontramos a palavra diácono. O cargo é descrito, e o título não é declinado. A obviedade do texto, contudo, não atura dúvidas: referiam-se os apóstolos, de fato, ao ministério diaconal.
II. A INSTITUIÇÃO DO DIACONATO
O diaconato é o único ministério cristão a originar-se de um fato social; surgiu de uma premente necessidade da Igreja Primitiva: o socorro às viúvas helenistas. Atenhamo-nos à narrativa de Lucas:
Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. O parecer agradou a todos, e elegeram a Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia, e os apresentaram perante os apóstolos; estes, tendo orado, lhes impuseram as mãos (At 6.1-7).
Do texto sagrado, apontemos alguma das razões que levaram os apóstolos a instituírem o diaconato:
1. O crescimento da Igreja. Do Pentecostes à instituição do diaconato, a Igreja Primitiva cresceu de maneira vertiginosa. De aproximadamente três mil convertidos, passou logo a cinco mil; a partir daí, o rebanho do Senhor não mais parou de multiplicar-se (At 2.41; 4.4). De forma que, em Atos capítulo seis, o número de discípulos já havia superado a capacidade estrutural da Igreja (At 6.1).
Crescendo o número dos fiéis, cresceram também os problemas. Tivesse a Igreja se limitado aos cento e vinte, certamente nenhuma dificuldade teriam os primitivos cristãos. Não haveriam de precisar de diáconos, nem de pastores. Até os mesmos apóstolos seriam prescindíveis. Acontece que as grandes igrejas enfrentam grandes desafios, e demandam, por conseguinte, grandes soluções.
Com a chegada das ovelhas, vai o aprisco deixando sua rotina, vai o pastoreio desdobrando-se em cuidados e desvelos pelas almas, e o Reino de Deus vai alargando suas fronteiras e descortinando os mais promissores horizontes.
O maior problema da Igreja Primitiva, naquele momento, era o desconcerto social gerado pelo clamor das viúvas helenistas que, na distribuição diária, vinham sendo preteridas em relação às hebreias.
2. O descontentamento social. Relata-nos Lucas que “houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”.
Tal contingência não podia esperar; exigia imediata solução. Caso não houvesse uma alternativa urgente e satisfatória, a situação deteriorar-se-ia, agravando a injustiça social, e “aprofundando a fissura entre os dois principais segmentos culturais da Igreja em Jerusalém: os hebreus e os helenistas.
Afirma o eminente teólogo da Universidade de Salamanca Lorenzo Turrado: “A queixa dos helenistas, a julgar pela iniciativa tomada pelos apóstolos, parece que tinha sério fundamento”.
A situação que se desenhava deixou os apóstolos mui preocupados. Como israelitas, sabiam eles que a injustiça e a desigualdade sociais eram intoleráveis aos olhos de Deus (Dt 15.7, 11). Não foi por causa da opressão que o Senhor desterrara a Israel? A palavra de Ezequiel não tolera dúvidas: “O povo da terra tem usado de opressão, e andado roubando e fazendo violência ao pobre e ao necessitado, e tem oprimido injustamente ao estrangeiro” (Ez 22.29).
Infelizmente, a questão social continua a ser descurada por muitos ministros do Evangelho. Acham eles que a desigualdade social é um problema que cabe apenas ao governo resolver. Mas a Bíblia assim não ensina. Embora a Igreja de Cristo seja um organismo espiritual e desfrute da cidadania celeste, ela é vista como uma comunidade administradora de uma justiça que tem de exceder a do mundo (Mt 5.20).
O comentário é de Broadman: “Os cristãos têm infligido quase tantas feridas à comunhão quanto os perseguidores externos, abrigando em si preconceitos raciais, religiosos e de classe. Esse preconceito leva à discriminação, e a discriminação destrói a unidade dos crentes. Estas distinções não deviam ter entrado na Igreja, naquela época, e não devem entrar hoje”. Por conseguinte, quando o colégio apostólico decidiu instituir o diaconato, tinha em vista também a administração da justiça entre o povo de Deus.
A partir da ordenação dos sete, puderam os 12 dedicar-se com mais zelo ao seu ministério básico: a administração da Palavra e o exercício da oração, a fim de que a Igreja continuasse una.
3. O comprometimento do ministério apostólico. Continuassem os apóstolos a suprir pessoalmente as necessidades dos órfãos e das viúvas, haveriam de comprometer de forma irremediável as principais funções de seu ministério. Por isso deliberaram: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (At 6.2-4).
O que vinham fazendo os apóstolos, de conformidade com a língua original, não era nada razoável. A locução grega encerra um forte significado: Ouk arestón estin. Logo, não lhes era apropriado, ou agradável, dedicarem-se a outro mister que não fosse à ministração da palavra e ao exercício da oração. O verbo deixar também é mui expressivo: kataleipsantas significa abandonar ou deixar para trás.
Vê-se, portanto, que os apóstolos estavam descurando da finalidade primacial de seu ministério. Não houvessem despertado a tempo, o arcabouço doutrinário do Cristianismo estaria certamente comprometido. Pois as heresias não demorariam a surgir, dividindo o povo de Deus ainda em seu nascedouro.
Como seria maravilhoso se os pastores seguíssemos o exemplo dos apóstolos! Infelizmente, não são poucos os que se acham de tal forma empenhados com os negócios materiais do rebanho, que já não têm tempo de orar, nem mais ligam importância à exposição da Palavra. Transformaram-se em meros executivos. Vivem mais preocupados com os rendimentos financeiros do redil do que com o bem-estar das ovelhas. Será que ainda não perceberam ter sido o diaconato instituído justamente para que os pastores nos entregássemos amorosamente à oração e à proclamação dos conselhos de Deus? Queira o Senhor que, no término de nosso ministério, possamos dizer como o apóstolo Paulo: “Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).
4. A organização ministerial da Igreja. Até a instituição dos diáconos, a Igreja conhecia apenas o ministério apostólico. Eram os apóstolos responsáveis inclusive pelo socorro cotidiano. E isto, como vimos, por pouco não compromete o desempenho do principal magistério da Igreja. Com a instituição dos diáconos, porém, formou-se a base do ministério eclesiástico. Levemos em conta também os anciãos; estavam eles sempre prontos a secundar os apóstolos. Mais tarde, o termo ancião (ou presbítero) passaria a ser sinônimo de pastor e bispo.
Desde então, apesar das várias formas de governos eclesiásticos, a Igreja vem funcionando a contento, cumprindo suas várias tarefas, tendo como base o modelo de Atos dos Apóstolos.
III. A NATUREZA DO DIACONATO
O que é o diaconato? Um ofício? Ou um ministério? Tendo em vista o que já foi exposto, podemos dizer que é o diaconato tanto um ofício quanto um ministério.
1. O diaconato como ofício. Ofício é uma ocupação que exige um grau mínimo de habilidade. Nesse sentido, o diaconato é um ofício; sua função acha-se claramente delimitada: suprir as necessidades dos santos. No desempenho, desse ofício, como veremos no capítulo seguinte, são requeridas específicas qualificações e habilidades.
O ofício básico do diácono, portanto, é a assistência social. Se um diácono não se presta a este mister, não pode ser considerado como tal. É tudo, menos diácono.
2. O diaconato como ministério. Ministério é um trabalho, ou função eclesiástica, exercido por aqueles que são biblicamente ordenados. Da leitura de Atos 6.6: “E os apresentaram ante os apóstolos e estes, orando, lhes impuseram as mãos”, concluímos: os diáconos são também ministros. Apontemos algumas razões que nos argúem serem os diáconos integrantes do ministério cristão:
a) A instituição do diaconato foi inspirada pelo Espírito Santo. Basta ler os versículos iniciais de Atos capítulo seis, para se chegar a essa conclusão mais que óbvia. Assim como os apóstolos haviam sido chamados para auxiliar a Jesus, foram os diáconos separados para assistir aos apóstolos e pastores. Não se admite, pois, que os diáconos façam oposição ao pastor; foram eles chamados justamente para ajudar o anjo da igreja.”
b) A instituição do diaconato foi eclesiasticamente acordada. Ou seja, contou com o apoio de toda a Igreja de Jerusalém que, em seu nascedouro, representava toda a assembleia dos santos. E, de conformidade com as instruções do próprio Cristo, “se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus (Mt 18.19). Logo, o diaconato surgiu com o pleno apoio da Igreja de Cristo.
c) Os diáconos foram formalmente ordenados. A passagem de Atos 6.6 é claríssima: “e os apresentaram ante os apóstolos” (At 6.6). Não foram os sete separados em segredo, mas consagrados ante a congregação. Contaram eles, consequentemente, com o apoio tanto da Igreja quanto do magistério apostólico.
d) Os diáconos receberam formalmente a imposição de mãos. Aí está a prova cabal de seu ministério. À semelhança dos apóstolos Barnabé e Saulo, foram os diáconos santificados ao ministério através desse ato tão significativo: “orando, lhes impuseram as mãos” (At 6.6; 13.1-3). Se não são ministros os diáconos, porque a oração e a imposição de mãos?
e) A real dimensão do diaconato. Convém ao diácono entender que, embora ministro, jamais deve ignorar a autoridade que tem o pastor sobre todos os ministérios, órgãos e departamentos da igreja. Que ele reconheça sempre a verdadeira dimensão de seu cargo e a exata razão de sua chamada, e coloque-se à inteira disposição de seu pastor. Seja amigo e companheiro deste.
Cabe aqui lembrar o que disse Otis Bardwell, experimentadíssimo diácono: “O diácono não foi chamado para receber honrarias, mas para servir a Deus e à Igreja”.
3. O diaconato como um importante negócio. Na Versão Revista e Corrigida de Almeida, lemos: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões (...) aos quais constituamos sobre este importante negócio” (At 6.3). A versão atualizada, porém, buscando maior aproximação com o grego, usa a seguinte expressão: “aos quais encarreguemos deste serviço”.
É o diaconato, afinal, um serviço ou um importante negócio? Ambas as coisas, pois estão certas ambas as versões.
A palavra grega chreía tanto pode ser traduzida como serviço quanto como negócio. Ela pode ser compreendida, ainda, como “um serviço para suprir auxílio em caso de necessidade”. Portanto, nenhum erro cometeram os revisores dessas versões.
Servir a Igreja, a Noiva do Cordeiro, é de fato um importante negócio! Pense nisso, diácono, e conscientize-se de sua responsabilidade
IV. DIACONATO – UM MINISTÉRIO LOUVÁVEL
Louvamos a Deus, porque vêm os diáconos exercendo tão bem o seu ofício e ministério que, desde a sua instituição, a palavra diákono cresceu de importância; transcendeu o seu primitivo significado.
Se antes evocava a imagem de um garçom solícito, hoje lembra um autêntico ministro de Cristo. Se no judaísmo o serviço aos pobres era exercido através de esmolas, os diáconos vieram a demonstrar ser isso insuficiente. É necessário proporcionar aos necessitados um serviço relevante. Não se admite mais que os santos, à semelhança de Lázaro, fiquem sob a nossa mesa à espera de alguma migalha. Agora, devem eles, mesmo no extremo de sua carência, postar-se à mesa do Senhor, enquanto os diáconos, amorosa e eficientemente, prontificam-se a servi-los.
Portanto, o diácono não é um mero oficial da Igreja. É um ministro. Haja vista que Paulo arrola-o juntamente com os bispos ao discorrer sobre as qualidades indispensáveis ao ministério cristão (1 Tm 8.13).”
V. JESUS, O DIÁCONO DOS DIÁCONOS
Foi o Senhor um diácono em tudo perfeito. Na declaração que faz Ele em Marcos 10.45, encontramos a variante da palavra diakonia duas vezes: “O Filho do Homem também não veio para ser servido [diakonêthênai], mas para servir [diakonêsai] e dar a sua vida em resgaste de muitos”.
Ele era Senhor, e servia a todos. Era o Rei prometido, mas se dizia servo dos servos de Deus. Deveria estar à mesa, mas ei-lo a lavar os pés aos discípulos. Embora o Apocalipse mostre-o na plenitude de sua glória, vemo-lo, em Isaías, como o Servo sofredor. A fim de assumir a sua diaconia, despojou-se de suas prerrogativas, assumiu a nossa forma e pôs-se a servir indistintamente a todos.
Este é o nosso Senhor; Diácono dos diáconos!
CONCLUSÃO
Como você pôde constatar, o ministério diaconal reveste-se de especial importância à Igreja de Cristo. É imprescindível aos santos! Por isso, deve ser exercido com amor e eficiência. Ou eficiência amorosa? Não o menospreze. Não o tenha como um degrau para se alcançar outros cargos e ministérios. Mas como seria útil se os pastores todos tivéssemos experimentado os privilégios do diaconato! Seríamos, hoje, mais úteis no episcopado.
O diaconato é um ministério; tem de ser exercido integral e plenamente. Pense nisso! E assuma o seu compromisso com Deus.
“QUESTIONÁRIO
1. Qual o significado da palavra diácono em grego?
2. Por que foi instituído o diaconato?
3. Por que o diaconato é tanto um ofício quanto um ministério?
4. O que caracteriza o diácono como ministro?
5. Por que Jesus foi o Diácono dos diáconos?
ATIVIDADES DEVOCIONAIS
1. Ler os capítulos seis e sete de Atos dos Apóstolos.
2. Interceder especificamente pelo seu pastor.
3. Fazer a
si mesmo as seguintes perguntas:
• Tenho eu proporcionado condições a fim de que o meu pastor se dedique à oração e ao ministério da Palavra?
• Procuro zelar pelo bem-estar do anjo da minha igreja?
• Busco servir aos santos como Cristo servia à sua Igreja?”
Excerpt From: Claudionor Corrêa. “Manual do Diácono.” Apple Books. https://books.apple.com/us/book/manual-do-di%C3%A1cono/id1181912606
Próximo assunto --- As Qualificações do Diácono
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