2 Pe 3.8-9 | IPVM no Lar

Exposição 2 de Pedro   •  Sermon  •  Submitted
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Todo o conteúdo desse estudo, foi extraído do Comentário Epistolas de Pedro e Judas, da Cultura Cristã. Aqui você encontra um breve resumo de 2Pe 3.5-7

Notes
Transcript

Tempo

O dia do Senhor virá de modo tão irrevogável quanto o dia do dilúvio chegou nos tempos de Noé.
Depois do anúncio inicial do julgamento iminente, até sua execução final, quando fechou a arca, Deus concedeu um período de graça de 120 anos (Gn 6.3).
Gênesis 6.3 RA
3 Então, disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.
Assim, também, o dia do Senhor será no tempo escolhido por Deus. É certo que alguns questionam a vinda desse dia.
Ainda assim, ele virá, e, então, o tempo cósmico, criado por Deus, terá fim.
Deus deu início ao tempo cósmico quando criou o universo, mas, quando o dia do Senhor chegar, o tempo cronológico desaparecerá na eternidade.
Deus tem uma perspectiva de tempo diferente da nossa.
Nos dois versículos seguintes, Pedro ensina o leitor a considerar tanto o tempo quanto a paciência do ponto de vista de Deus.

Relatividade

8 Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia.

a. “Amados”.

Pedro agora volta sua atenção para os leitores e os exorta e os encoraja ao ensinar-lhes a importância do tempo.
Ele se dirige a eles como amados(ver vs. 1,14).
Os leitores são pessoas a quem Pedro ama e com as quais se preocupa como pastor.

b. “Há, todavia, uma coisa que não deveis esquecer”.

Depois de ficarem sabendo qual será o destino dos escarnecedores, os leitores estão ansiosos para saber o que será feito deles no dia do julgamento.
Pedro descreveu esse dia como um dia de destruição dos perversos.
O que acontecerá com o discípulo?
Quando será esse dia?
Apesar de os leitores estarem ansiosos para fazer mais perguntas sobre o último dia, Pedro discute apenas o tempo em si.
Em uma única frase, ele revela a relatividade do tempo.
Ensina aos leitores que devem ter uma coisa em mente: Deus vê o tempo de uma perspectiva diferente daquela dos seres humanos.
Ao introduzir esse conceito, no entanto, Pedro diz aos destinatários da carta que há uma coisa que não devem esquecer.
Observe que o verbo esquecer no versículo 8 é o mesmo usado no versículo 5.
Pedro escreve que os escarnecedores se esquecem deliberadamente dos fatos pertinentes à criação.
Aqui, exorta os crentes a não se esquecerem de uma coisa.
Mas o que é esta “uma coisa”?

c. “Para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia”.

Pedro repete um versículo da oração de Moisés (Sl 90.4):
Salmo 90.4 BEARA
4 Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite.
É claro que Pedro evita especular sobre quando virá o fim.
Ele conhece a palavra de Jesus sobre este assunto: “Mas a respeito daquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mt 24.36).
Além do mais, ele sabe que Deus vê o tempo da perspectiva da eternidade e que o homem, que é condicionado pelo tempo cósmico, não é capaz de compreender a eternidade.
Pedro não está interessado em elucidar a diferença entre tempo e eternidade, como faz Moisés no Salmo 90. Ao invés disso, descreve o tempo em relação ao último dia.
No Novo Testamento, a expressão mil anos aparece apenas nesse versículo (v. 8) e em Apocalipse 20.2–7.
Apocalipse 20.2–7 BEARA
2 Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; 3 lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo. 4 Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar.Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marcana fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. 5 Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. 6 Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos. 7 Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão
O versículo 8 não dá nenhuma informação sobre um milênio, literalmente falando.
Pedro não está interessado em tais teorias. Ele se depara com o insulto dos escarnecedores que expressam sua dúvida sobre a promessa da vinda do Senhor (comparar com v. 4).

Paciência

9 Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.

Pelo fato de os cristãos do primeiro século esperarem a volta iminente do Senhor e aguardarem com paciência, precisavam de uma palavra de encorajamento da parte de Pedro.

a. “Não retarda o Senhor a sua promessa”.

O termo Senhor, nesse versículo e no seguinte (v. 10), é sinônimo de “Deus”.
Em outras palavras, Pedro não se refere a Jesus, mas a Deus, com o uso de sua designação no Antigo Testamento.
Pedro faz alusão à profecia de Habacuque no Antigo Testamento:
Habacuque 2.3 RA
3 Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará.
O autor aos Hebreus assegura aos seus leitores que Deus cumprirá as promessas que fez a eles, e cita a mesma profecia do Antigo Testamento (ver Hb 10.37).
Hebreus 10.37 RA
37 Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará;
Por que Deus está postergando a volta de Cristo?
Essa demora não pode ser atribuída à indiferença ou desinteresse da parte de Deus.
Sua origem está na graça e na misericórdia de Deus para com os pecadores.
Ele dá a eles tempo de se arrependerem de seus pecados.
Jesus voltará quando tiver terminado a paciência de Deus, quando o tempo determinado tiver se esgotado e quando o último crente tiver aceito Cristo como Salvador.
“Não é o pecado humano, mas a longanimidade divina, que não pode ser compelida, que determina a demora. É o Deus soberano que graciosamente concede mais tempo para o arrependimento”.
Deus leva a cabo seus planos e propósitos, mesmo que o ser humano expresse dúvidas.

b. “Como alguns a julgam demorada;”.

A nosso ver, “alguns”, nesse versículo, não se refere aos escarnecedores.
Alguns cristãos não conseguem explicar a demora na volta de Cristo e começam a duvidar à medida em que dão ouvidos aos escarnecedores. Não precisam duvidar, pois Deus está no controle total.

c. “Ele é paciente com vocês”.

Observe que quando Pedro escreve o pronome vocês se dirige aos leitores e não aos escarnecedores.
Ele indica que Deus não julga as pessoas apressadamente, mas dá-lhes tempo suficiente para se arrependerem (comparar com 1Pe 3.20).
1Pedro 3.20 RA
20 os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água,

d. “Desejando que ninguém pereça”.

Nessa frase, Pedro não está ensinando o universalismo.
Em sua epístola, ele deixa claro que os falsos mestres e escarnecedores são condenados e estão diante da destruição (ver 2.3; 3.7; Rm 9.22).
Romanos 9.22 RA
22 Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição,
Como podemos encaixar este versículo na predestinação?
Se não é a vontade de Deus eleger todos para a salvação, como pode então a Bíblia dizer que Deus não quer que ninguém pereça?
Em primeiro lugar precisamos entender que a Bíblia fala da vontade de Deus em mais de uma maneira.
1) Vontade soberana eficaz.
A vontade soberana de Deus é aquela vontade pela qual Deus faz com que as coisas aconteçam com absoluta certeza.
Nada pode resistir à vontade de Deus neste sentido. Por sua soberana vontade, Ele criou o mundo. A luz não poderia recusar-se a brilhar.
2) Vontade preceptiva.
Preceptor, é aquele que instrui.
A vontade preceptiva de Deus refere-se a seus comandos, suas leis.
E a vontade de Deus que façamos o que Ele ordena.
Somos capazes de desobedecer a sua vontade.
Fazemos isso sem sua permissão ou sanção. Ainda assim o fazemos. Nós pecamos.
3) A vontade que faz referência à disposição de Deus, ao que agrada a Ele.
Deus não tem prazer na morte do ímpio.
E algo como um juiz sentar-se na corte e sentenciar seu próprio filho à prisão.
Vamos aplicar estas três definições possíveis à passagem de 2 Pedro.
1) Vontade Soberana e eficaz:
Se tomarmos a declaração compreensiva “Deus não quer que ninguém pereça”, e aplicarmos a ela a vontade soberana eficaz, a conclusão é óbvia.
Ninguém perecerá.
O que sustentaria o universalismo e não o arminianismo.
2) Vontade preceptiva
Então a passagem significaria que Deus não permite que ninguém pereça.
Isto é, Ele proíbe o perecimento das pessoas.
Se as pessoas fossem adiante e perecessem, Deus teria de puni-las por perecerem.
Sua punição por perecerem seria mais perecimento.
Mas como alguém se envolve em mais perecimento do que o perecimento?
Esta definição não funcionará nesta passagem. Não faz sentido.
3) Deus não tem prazer no perecimento das pessoas.
Isto se enquadra no que a Bíblia diz, em outros lugares, sobre a disposição de Deus em relação aos perdidos.
Esta definição poderia servir nesta passagem.
Pedro poderia simplesmente estar dizendo aqui que Deus não tem prazer no perecimento de ninguém.
Embora a terceira definição seja possível e atraente para ser usada na solução desta passagem, há ainda um outro fator a ser considerado.
O texto diz mais do que simplesmente que Deus não quer que ninguém pereça.
A cláusula inteira é importante: “pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.”
Quem são "nenhum"?
É claramente “nós” . Será que “nós” se refere a todos nós humanos? Ou se refere a nós cristãos, o povo de Deus?
Pedro fala dessa soberania de escolha, insistentemente a respeito de Noé.
Faz mais sentido entender que Deus não quer que nenhum daqueles que ele escolheu pereça.
Se esse é o seu significado, então o texto exigiria a primeira definição e seria mais uma forte passagem a favor da predestinação.
De duas maneiras diferentes o texto poderia ser harmonizado com a predestinação.
De maneira nenhuma sustentaria o arminianismo.
Seu único outro significado possível seria o universalismo, que então entraria em conflito com tudo o mais que a Bíblia diz contra o universalismo.
Fonte: Eleitos de Deus – Editora Cultura Cristã – p. 144-146 - R. C. Sproul