Lições do Deserto

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Salmo 63 NAA
Salmo de Davi, quando estava no deserto de Judá 1 Ó Deus, tu és o meu Deus; eu te busco ansiosamente. A minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta e sem água. 2 Assim, quero ver-te no santuário, para contemplar a tua força e a tua glória. 3 Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam. 4 Assim, eu te bendirei enquanto viver; em teu nome, levanto as mãos. 5 Como de saborosa comida se farta a minha alma; e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva, 6 no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante as vigílias da noite. 7 Porque tu tens sido o meu auxílio; à sombra das tuas asas, eu canto de alegria. 8 A minha alma apega-se a ti; a tua mão direita me ampara. 9 Porém os que procuram destruir a minha vida descerão às profundezas da terra. 10 Serão entregues ao poder da espada e virão a ser pasto dos chacais. 11 Mas o rei se alegrará em Deus; quem por ele jura se gloriará, pois se tapará a boca dos que proferem mentira.
Irmãos, quem dera a nossa vida espiritual fosse uma linha ascendente. Quem dera fosse como aqueles gráficos que mostram um crescimento assim, sempre para cima. Mas na verdade, a nossa vida de santificação é mais como uma montanha russa. Há momentos de crescimento e momentos de declínio. Há momentos de fartura e de escassez. E há momentos até em que somos privados de certas bênçãos, de alguns dos meios de graça; e como consequência temos a nossa fé enfraquecida.
Como no tempo da pandemia, há pouco tempo atrás, em que muitos de nós ficamos privados da Ceia, da Palavra, da comunhão. Ou quando alguém fica doente, internado, e sem poder estar presente aos cultos. Aliás, isso é um bom incentivo a você que pode vir ao culto e não vem. Talvez um dia você queira vir e não possa mais, porque estará de cama, porque estará impedido de alguma maneira.
Ou mesmo tem aquela situação em que nos falta ânimo, em que até podemos ir aos cultos ou ler a Palavra, mas tudo isso não parece ter mais a mesma graça para nós. Situações em que a nossa visão espiritual parece nublada. Por vezes, a depressão e a apatia fazem tudo parecer meio cinzento, e nos lembramos do passado, e sentimos que não há mais aquele mesmo vigor.
Momentos de privação, de escassez espiritual, não são novidade na história dos cristãos. Quando olhamos para a história da igreja reformada, por exemplo, em seu início, não era incomum que eles ficassem meses sem poder cultuar em público por conta da perseguição.
Quando olhamos mais para trás, nós vemos no Antigo Testamento que houve momentos em que a adoração no templo fora interrompida, e isso trouxe aos piedosos uma angústia, um sentimento de privação, que os levava a buscar a sua satisfação em Deus.
Davi estava passando por um momento de escassez quando escreveu este salmo. O título do salmo diz: “Salmo de Davi, quando no deserto de Judá”. Houveram dois momentos em que Davi esteve exilado no deserto de Judá: uma vez enquanto fugia de Saul, antes de tornar-se rei, e outra enquanto fugia de Absalão, seu filho, que buscava tomar-lhe o trono.
Aqui provavelmente trata-se desse segundo episódio, pois Davi refere-se a si mesmo como “Rei”, no versículo 11. Davi já era Rei. Ele já havia presenciado grandes feitos de Deus. A arca da aliança, o tabernáculo, estava no lugar em deveria ficar por muito tempo, em Jerusalém. Ele já havia celebrado as festas de Israel algumas vezes, e já tinha visto muitos momentos alegres.
Mas agora, por causa de um mal repentino que lhe sobrevém, Davi foi privado de tudo isso. Não mais podia adorar no Santuário. Não mais podia ver a presença de Deus, representada na arca da aliança. Não mais veria os grandes feitos do Senhor sendo enumerados enquanto o povo adorava no ajuntamento solene.
Veja, Davi não estava privado apenas disso. Ele foi privado de muitas coisas. Ele foi privado de seu trono, de seu direito de governar, pois teve de fugir para não morrer. Ele foi privado também de pequenas coisas, como o seu leito de dormir e o conforto de sua casa.
Davi estava em privação. Davi estava no deserto. No texto de 2Reis 16.14, Davi e seus homens caminharam no deserto até ficarem cansados, exaustos, e então descansaram à beira do Jordão. Provavelmente foi ali, nesse momento de refrigério, Davi escreveu este salmo.
Talvez você se pergunte, quando passa em momentos de escassez: o que Deus quer nos mostrar com tudo isso? Por que Deus nos faz passar por momentos assim?
Davi meditou no deserto. E em sua meditação, ele se lembrou de coisas importantes. A privação lhe trouxe algumas lições. O tema que quero falar com você hoje é este: que lições podemos aprender no deserto?

Anseio por Deus

A primeira lição é que no deserto aprendemos a ansiar por Deus (v. 1-2). A privação deu a Davi um maior discernimento de sua necessidade espiritual.
Davi estava vivendo um momento difícil. E ali, Davi voltou-se para Deus. Veja, ele o chama de “meu Deus”. Não é qualquer deus, mas é o Deus da aliança, que prometeu a seu povo que seria o seu Deus, e que eles seriam o seu povo. É o Deus que se revelou e que se relacionou conosco. E sempre que situações difíceis ameaçaram o povo de Deus, o nosso Deus sempre veio socorrer o seu povo.
E, voltando-se a Deus, Davi o busca “ansiosamente”. A palavra traduzida aqui como “ansiosamente” aqui traz a ideia de que ele faz isso bem cedo. O termo, em hebraico, é próximo da palavra que significa “amanhecer”. Buscar a Deus era a sua prioridade, o primeiro pensamento do seu dia.
Aliás, João Crisóstomo, pregador do século IV, diz que na igreja primitiva foi decretado que nenhum dia deve passar sem o canto público deste salmo. Eles cantavam esse Salmo todos os dias pela manhã.
Qual a primeira coisa que você faz ao acordar pela manhã? Pegar o celular? Resolver suas tarefas?
Davi busca ao Senhor porque ele tem sede. Se Davi falasse a nossa língua, provavelmente ele usaria o termo “saudade”. Mas ele usa da situação em que está para expressar esse anseio que tem por Deus. Assim como o corpo precisa de hidratação, ele precisa que o Senhor satisfaça as suas necessidades espirituais.
Ele diz: "O meu corpo te almeja”. A necessidade de Davi envolve todo o seu ser, alma e corpo. E Davi usa uma palavra intensa para expressar. Esse “almeja” não é um simples desejo. É mais como aquele esgotamento que o seu corpo sofre quando está prestes a desmaiar. Então você precisa de algo.
Veja, o corpo de Davi de fato estava esgotado. Davi estava exausto, já percorreu um longo caminho, está fugindo de Absalão, sem tempo para comer ou beber. Ele está realmente com sede. Mas ele aplica a sua condição física de se estar no deserto à sua condição espiritual: ele precisa de Deus.
Ele ainda diz: “como terra árida, exausta, sem água”. Davi compara a sua situação como a de uma terra que há muito tempo não vê a chuva. Essa descrição cabe bem ao deserto que ele estava percorrendo.
Veja, o deserto da Judeia era um deserto de épocas. Havia época do ano em que o deserto tinha uma vegetação baixa, que servia inclusive de pasto para o rebanho. Davi cresceu naquele deserto pastoreando as ovelhas de sua família.
Mas quando vinha o vento quente, toda a vegetação morria. Vários autores bíblicos falam das ervas do campo, que quando sopra o vento, ela murcha, seca e desaparece (Sl 103.15-17; Is 40.6-8), eles estão descrevendo exatamente o que acontece quando vem a seca.
O deserto da Judeia, no seu período mais árido é quente e seco. Você desidrataria ali. Caminhar sem um bom estoque de água com certeza deixaria um corpo exausto e perto do esgotamento.
Veja, Davi estava fisicamente esgotado, num lugar árido, com a sua vida correndo risco. Mas ele só conseguia pensar em usar essa situação para descrever o seu estado espiritual, que era muito pior! Ele tinha fome de Deus.
E esse anseio era intensificado por suas lembranças. Davi se lembra da visão de Deus no Santuário. O texto da Nova Almeida Atualizada traduz assim: “assim quero ver-te no santuário”. Davi anseia por contemplar novamente a força e a glória de Deus no Santuário.
Ele lembra que, no passado, a sua necessidade espiritual era satisfeita. E isso acontecia quando ele olhava para o Senhor no Santuário, quando ele ia adorar, cultuar, no lugar onde estava a arca santa. Aquele era a morada de Deus, o lugar reservado onde o povo comparecia para adorar ao Senhor.
O que Davi anseia agora é ver de novo os grandes feitos do Senhor. Ele anseia por ver novamente o povo adorando ao Senhor na sua Casa. Davi está contrastando o presente com o passado. A escassez o fazia lembrar-se das maravilhas do passado. E isso aumentava o seu anseio por Deus.
Veja, irmãos, a lição aqui é que a privação pode te dar é um maior discernimento de sua necessidade espiritual. Veja, numa situação de extrema necessidade, Davi passou a desejar ainda mais desfrutar das bênçãos de Deus. Ele poderia estar mais preocupado com sua situação terrena. Ele poderia estar pensando na fome e na sede física. Ele poderia estar pensando em sua estratégia para voltar ao poder. Muitas coisas poderiam estar distraindo Davi. Mas ele ali se exercitava em meditações, lembrando das coisas que Deus já fez, lembrando do quão saciado já fora, trazendo isso à memória.
Muitas vezes nós, por tão menos que isso, já desanimamos. Por menos que isso, já nos tornamos murmuradores. Em vez de entender esse deserto como ocasião para percebermos o quanto dependemos de Deus, nos deixamos distrair por coisas vãs. Pra onde volta a sua atenção em tempos de necessidade?
Veja, Davi estava sendo privado por Deus de tudo que é visível. Todos os auxílios, os meios de graça, lhe foram retirados. Não tinha mais acesos ao lugar de adoração. Não tinha mais os sinais, os sacrifícios, a arca, a adoração no templo, que são os sacramentos. E Davi sabia que precisava desses auxílios para a sua devoção. Ele nunca negligenciava o culto público.
Mas, na ausência dessas coisas, Davi mostrou que a religião dele não era só uma religião de aparência. O que Davi fez foi trazer à memória. Ele trouxe à memória as visões do passado, a visão do Santuário, dos louvores, da presença de Deus. É algo que você também deve fazer.
Enquanto estamos sendo nutridos, devemos nos preparar para os momentos de aridez. Isso vale para a vida espiritual. Os meios de graça não devem valer só para os momentos em que são ministrados. Eles são também provisão para os momentos de aridez.
O batismo, por exemplo. Paulo diz, muitas vezes, que devemos trazer à memória o nosso batismo, como um sinal do lavar regenerador do Espírito Santo (Tt 3.5; Ef 5.26). Há uma frase que diz:
Sempre que lavar o rosto pela manhã, lembre-se de seu batismo e a quem você pertence, vá e viva o dia de acordo.
A Ceia também. Ela deve estar sempre em nossa memória, como um símbolo da presença espiritual de Cristo, que nos sustenta em meio à caminhada. Calvino sobre isso disse que “nós devemos refletir a respeito da união entre Cristo e a igreja (representada na Ceia) não apenas quando nos sentamos à mesa do Senhor, mas em todas as ocasiões”.
Isso vale para a Palavra também. Muitas vezes nós ouvimos aqui expostas as promessas de Deus, que estão nas Escrituras, de que ele sempre estará conosco. Ouvimos isso em momentos que tudo vai bem. E é fácil concordar com o sermão quando as coisas vão bem. Talvez o pastor pregue sobre a doce providência de Deus, e você diz: “aham”. Mas é quando o sofrimento vem que isso deve ser trazido a memória. A providência é doce, mesmo quando para nós ela é amarga.
Você deve trazer à memória tais coisas. Porque nem sempre você estará forte. Talvez você se sinta forte agora. Mas a tentação virá. A aridez virá. A doença, o sofrimento, a calamidade, inevitavelmente virão. Pode ser que em algum momento você seja impedido de estar nos cultos por uma calamidade ou doença. E quando isso acontecer, você deve lembrar-se de tudo o que já foi pregado, do seu batismo, da mesa posta para a Ceia.
Quando estamos cercados dos meios de graça, a gente se acostuma. Deixamos de dar valor. Todo domingo é a mesma coisa. Todo culto é parecido. Mas quando somos privados disso, nós vemos o quanto precisamos de Deus. A privação é um momento de você se dar conta de sua necessidade. Quem é você sem Deus? É oportunidade de você reconhecer a sua fraqueza e insuficiência. É momento pra você sentir saudade.

Satisfação em Deus

A primeira lição do deserto foi o anseio por Deus. A segunda lição do deserto é que nele aprendemos a ser satisfeitos em Deus (v. 3-8). Ao meditar nos benefícios da graça de Deus, Davi encontra satisfação e alegria e, por isso, louva a Deus.
No verso 3, nós temos a ideia central desse salmo: “Porque a sua graça é melhor que a vida”. Por que a graça de Deus é melhor que a vida? Porque a vida, com tudo que ela traz, seus benefícios e problemas, é mutável. O amor de Deus, não. Riquezas e prazeres vêm e vão. Problemas e sofrimentos também. Nada disso é maior que o amor de Deus, porque “a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 118.1).
As pessoas costumam considerar a vida como a coisa mais importante do que tudo. Nós somos capazes de fazer qualquer coisa, se isso for dar-nos mais um tempo de vida, ou àqueles a quem amamos. Pela vida nós podemos dar todo o nosso dinheiro. Pela vida nós nos submetemos a procedimentos dolorosos, se isso prolongar os nossos dias. E tudo isso é válido, pois a vida é algo valioso. Satanás usou essa verdade para acusar a Jó. Satanás disse a Deus: “Um homem dará tudo o que tem pela sua própria vida.”
Mas Davi sabia de algo que era mais importante que a vida. É o amor de Deus. É por isso que Davi louva ao Senhor. Ele pode não desfrutar agora de todos os benefícios da graça de Deus, mas ainda assim ele louvará ao Senhor. Não por causa do que espera que o Senhor faça, mas pelo que ele é e pelo que já fez em sua vida.
Ele diz que “bendirá ao Senhor” (v. 4). Ele enaltecerá a reputação do Senhor. E levantará as mãos ao Senhor, o que era um gesto de adoração e dependência naquela cultura, “em seu nome”, ou seja, com base na reputação do Senhor. Ele louva a Deus com base em sua revelação a respeito de si mesmo.
Então, ao lembrar-se dos feitos de Deus, Davi reconhece que tem sido alimentado e satisfeito por Deus. Ele compara a sua satisfação espiritual com um banquete dos bons. Quando ele diz “de banha e de gordura” (ARA) ou “de saborosa comida” (NAA), a ideia aqui é de comida boa, um tremendo banquete.
Davi se encontra satisfeito em Deus. Ele está no deserto, longe do santuário, mas medita em Deus e em suas promessas, e se sente satisfeito. É possível ter um banquete no deserto, se a nossa satisfação está em Deus. E esse banquete só pode quem conhece a graça de Deus em Cristo pode desfrutar.
E o louvor de Davi não será um louvor em tom menor. Não é um louvor triste, pesado. Ele louvará com “júbilo nos lábios”. A ideia aqui é de um canto alegre. Depois de reconhecer a triste situação em que se encontra, Davi encontra alegria em Deus.
Mas qual a razão para tal louvor? O que inspirou Davi o tal canto alegre? No versículo 6, temos que Davi medita em seu leito, bem cedinho e também à noite. A ideia aqui não é que ele passou a meditar agora, que veio a situação difícil, mas que tal tipo de meditação é um hábito seu. “Quando de ti me recordo” significa “sempre que de ti me recordo”. Você costuma meditar na Palavra de Deus, mesmo quando as coisas não estão difíceis?
Mas o que é meditar? Quando ouvimos tal palavra, costumamos pensar nas religiões orientais, nas práticas de esvaziar a mente. Mas não é essa a ideia aqui. A ideia aqui de meditar tem mais a ver com “ruminar uma ideia” ou de “falar consigo mesmo”. A palavra meditar é a mesma palavra usada no Salmo 1:2:
Salmo 1.2 RA
2 Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.
A palavra meditar é uma palavra que Davi pegou da prática de pastorear ovelhas. As ovelhas têm quatro estômagos. As ovelhas comiam a grama e as flores nos campos, e a folhagem desceria em um estômago. Mais tarde, enquanto as ovelhas descansavam à sombra, ela regurgitava a folhagem, a mastigava novamente, e enviava para outro estômago. E assim ia ruminando aquele alimento.
Eis o que Davi faz toda noite: ele recorda os feitos de Deus, e então fala baixinho consigo mesmo. Ele exorta a si mesmo a respeito das coisas que Deus já fez. Davi tinha grandes porções da Escritura memorizadas em sua mente, e meditava nela.
O que Davi faz? Davi prega para si mesmo. Eis o que você deve fazer em momentos de aridez espiritual: pregue para si mesmo. Você é a pessoa que mais fala consigo mesmo, o tempo todo. Medite na Palavra. Repita a Palavra. Rumine a Palavra. Fale ao seu coração. Confirme à sua alma as promessas de Deus. Quando estiver ansioso: pregue a si mesmo. Quando estiver entediado: pregue a si mesmo.
Os versos 7 e 8 trazem o conteúdo de sua meditação. Ele medida no auxílio que Deus lhe tem sido, o que o leva a louvar. Ele diz: “Porque me tens sido auxílio”. Deus faz por Davi o que ele não pode fazer por si mesmo. Deus é o seu auxiliador. O termo aqui é o mesmo termo que aparece lá em Gênesis, para se referir às mulheres como “auxiliadoras”. O Senhor é o auxiliador por excelência!
Sem Deus, Davi teria morrido. Tantas e tantas vezes passou por perigos. Não é a primeira vez que Davi fica no deserto. Mas o Senhor o protegeu, não porque o Senhor sempre o livra de perigos, mas por causa de suas promessas àquela família, promessa que culminam em Jesus Cristo. Ele louva a Deus, então, à sombra de suas asas. Davi está protegido, com que debaixo das asas de um pássaro. Ele sente o cuidado de Deus, a sua proteção. Davi pode cantar com alegria, mesmo em meio aos riscos que sofre, pois sabe que está seguro.
Por isso a sua alma se apega ao Senhor, como a quem agarra a algo para se manter. Ele está privado da adoração no lugar de adoração, então ele se apega mais ainda. Ele não vai deixar-se afastar. Ele vai deixar-se desanimar. Mesmo longe, ele vai se apegar mais e mais, porque precisa do Senhor. Mas Davi sabe que, no fim das contas, não são os seus esforços que o mantêm. Não é o seu apego. É a mão direita de Deus que o sustém. É o Senhor quem o preserva.
Veja, irmãos, no meio do deserto Davi não apenas se deu conta de sua necessidade, mas também buscou satisfação em Deus. A privação nos mostra que tudo na vida é passageiro e insatisfatório. Somente o amor de Deus é melhor que a vida. Tendo isso em vista, não é estranho que nós passemos tanto tempo tentando encontrar satisfação em outros lugares, e tão pouco tempo buscando e aproveitando o amor duradouro de Deus?
Meu irmão, minha irmã, o que você faz quando se sente angustiado, ou com tédio? O que você faz quando está cansado de fazer as mesmas coisas e sente inquietação em seu coração?
Em algum momento, você terá assistido todas as séries, filmes e programas que te interessam. Você já ficou alguma vez zapeando na TV a procura de algo para assistir, e embora haja muitos filmes ali, não há nada que te prenda a atenção?
Em algum momento, você terá lido todas as notícias e visto tudo o que havia para ver nas redes sociais. Quando esse momento chegar, você perceberá que nada disso te satisfaz de verdade.
Qualquer conforto que não seja o Senhor é mutável e passageiro. Qualquer conforto que não seja o Senhor pode passar da noite para o dia. Qualquer satisfação terrena é insatisfatória porque é terrena. É perecível. Não são eternos. Cansam, viram um tédio. Nós, contudo, fomos feitos para a eternidade.
Jesus diz:
João 4.14 RA
14 aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.
Deus nos faz passar por momentos de privação, de doença, de pobreza, de tristeza, a fim de aprendermos que somente ele pode nos satisfazzer. “A minha graça te basta”. Nesses momentos, faça como Davi. Medite na Palavra. Apegue-se a Deus. Lembre-se de seus grandes feitos. Pregue constantemente para si mesmo as promessas de Deus. Busque a Deus nas vigílias da noite. Louve a Deus em sua casa, sozinho ou com sua família!
Faça como Paulo que, depois de enumerar todos os sofrimentos e privações que teve de passar em vida, explicou que “embora exteriormente o corpo possa perecer, o espírito se renova diariamente”, e então diz que todo sofrimento presente trará um peso de glória. Medite nessas coisas!
Mas não faça isso não como uma forma de auto-justiça. Lembre-se daquilo que Deus já fez em sua vida. Ele é o seu auxílio. É ele quem o sustenta. É o Espírito de Deus que te dá perseverança. Se Deus não te sustentar, então você não irá perseverar. No fim das contas, você só continua desfrutando do amor de Deus porque ele é quem sustenta. Por isso, nada pode te separar do amor de Deus (Rm 8.39).

Vitória em Deus

A primeira lição do deserto foi o anseio por Deus. A segunda lição do deserto foi a satisfação em Deus (v. 3-8). A terceira lição do deserto é que há vitória em Deus (v. 9-11). Ao encontrar satisfação no amor leal de Deus, Davi pôde vislumbrar e antecipar a vitória sobre o mundo.
Nesses versículos finais do salmo o tom muda totalmente. Davi falou da saudade que ele tem de Deus. Davi falou da satisfação que ele encontra agora em Deus, em meio ao deserto. Agora, Davi começa a falar de destruição dos inimigos. Por que essa mudança de tom tão repentina? Porque muito embora Davi esteja agora satisfeito em Deus, ele ainda está no deserto. Os problemas não foram embora. Ele ainda corre perigo. Seu filho ainda está querendo matá-lo, a fim de obter o trono.
Mas agora Davi olha para os problemas de uma outra perspectiva. Ele sabe que o fim que espera os seus inimigos não é bom. Ele começa com um porém (v. 9): “Porém os que me procuram a vida”. É um contraste. Eu estou satisfeito em Deus. Eu estou sob o cuidado de Deus. Ainda que a morte me sobrevenha, eu tenho algo que é melhor que a vida, e por isso não me apego à vida. “Mas eles...”.
Aqueles que procuram destruir Davi, o fazem para a sua própria destruição. Eles trarão destruição sobre is mesmos. Eles vão entrar nas partes mais basas da terra, isto é, irão para o Sheol, para o reino dos mortos. Eles morrerão. E como isso acontecerá? Será pelo “poder da espada” (v. 10).
Se você ler lá em 2Samuel a história da revolta de Absalão, verá o que aconteceu. Deus fez com que Absalão não ouvisse o conselho sábio de Aitofel.
Aitofel disse que Absalão deveria ir logo atrás de Davi, antes que ele chegasse ao Jordão, antes que pudesse preparar seus homens para a guerra. Mas Absalão não o ouviu, ele ouviu um conselho diferente, que dizia para esperar.
Veja, Deus estava preparando tudo. Absalão iria atrás de Davi, mas isso seria a sua ruína. Tudo aquilo que eles previram para Davi, acontecerá com eles mesmos.
Os inimigos de Davi nem mesmo terão um enterro digno. Eles virarão pasto dos chacais. Eles morrerão ali mesmo no deserto e serão comida dos animais.
O corpo de Absalão não foi enterrado. Ele foi colocado num poço na floresta de Efraim, e coberto com uma pilha de pedras (2Sm 18.17), justamente para manter afastados os chacais, o que simboliza também o juízo de Deus sobre aquele filho rebelde.
Contudo, o Rei se alegra em Deus (v. 11). Quando o livramento vier, o povo de Deus estará livre para retornar ao santuário e comemorar a grande salvação. Veja, a vitória desse Rei é agridoce. É contra seu filho que ele estará lutando. De um jeito ou de outro, algo ruim iria acontecer. Mas ainda assim, o Rei louvará, acompanhado por todos aqueles que juram por ele.
Mas quem é esse Rei? Davi era o rei. Mas lembre-se de que Davi é uma figura de Cristo. A segurança do povo de Deus naquele tempo estava ligada ao reinado de Davi e de seus sucessores. Do mesmo modo, a nossa segurança e felicidade dependem inteiramente do nosso Rei, que é Cristo. Aqueles que juram em nome de Davi são aqueles que juram em nome do Senhor.
Veja, irmãos, na privação Davi sentiu saudade das visões de Deus no passado. Na privação, Davi encontrou satisfação no presente. Mas agora, na privação, ele antecipa a vitória futura. A privação nos faz ver o que perdemos. Não temos o que tínhamos. Não temos o que perdemos. E isso é motivo de lamento. A privação nos faz ver que nada pode nos satisfazer, a não ser a comunhão com Deus. Nada supre a privação. Ela nos faz enxergar a suficiência de Cristo. Por fim, a privação nos faz ver que ainda não chegamos lá. Ela nos livra de falsos finais felizes.
Ainda não chegamos ao fim da história. Ainda há sofrimento. Mas se temos esperança em Deus, então vemos o futuro com uma outra perspectiva. Entendemos que Deus tem um propósito em tudo isto. Davi sabia que os seus inimigos o atacariam para o seu próprio mal. Tudo estava nos planos eternos de Deus!
Veja, por exemplo, a história da igreja reformada na Escócia. Os reformados na Escócia eram, no início de sua história, constantemente perseguidos e tolhidos em sua liberdade de culto. Eles organizavam uma igreja sabendo que em qualquer momento poderiam ser impedidos de funcionar. Por vezes, tiveram de se exilar. Numa dessas vezes, os reformados na Escócia tiveram todos de sair fugidos de lá, e se espalharam nas nações onde a Reforma Protestante era mais desenvolvida.
Numa dessas vezes, John Knox, o pai do presbiterianismo, ficou exilado em Genebra. E em Genebra, ele e outros puderam aprender aos pés de Calvino. No fim das contas, isso foi muito importante para a igreja da Escócia! Porque tempos depois, Knox voltou e trabalhou na organização da igreja presbiteriana que lá existe até hoje.
Aquela perseguição foi uma privação para Knox. Mas foi instrumento de Deus para preparar seus servos na melhor escola que havia na época. No fim das contas, era a providência de Deus agindo ali.
Você não tem controle sobre o seu futuro, mas Deus o tem. As coisas podem não estar como você queria. Há doença. Há crise econômica. Há conflitos familiares. Você olha para o que está acontecendo e não consegue vislumbrar uma saída pra isso tudo. Saiba que Deus colocará as coisas em ordem. Se não nesta vida, então Ele o fará no futuro.
Quer ter essa esperança? Somente o crente no Senhor Jesus é quem tem tal esperança. Somente aquele que sabe que Jesus reina, e que ele já venceu, é quem tem esperança. Olhe para o futuro. Nós vamos nos alegrar com o Rei. Nós vamos cear com o Rei em breve, seja no dia em que pudermos novamente nos reunir, seja nas bodas do Cordeiro. Que Deus nos abençoe.
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