Exposições em Gálatas - Sermão 4: Unidade e liberdade pelo evangelho da verdade

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Introdução

Meus irmãos, quando olhamos para a atual realidade da igreja evangélica nos deparamos com um problemática preocupante: a igreja que deveria viver a unidade e a liberdade pela graça da obra de Cristo vive manchada pelo facciosismo e o aprisionamento das aparências que vêm de corações que não ainda não foram alcançados pelo evangelho da verdade, mas que parecem ser, ou que foram alcançados mas vivem na imaturidade de um evangelho diluído por doutrinas e ensinamentos humanos.
Facciosismo de muitos que não valorizam a unidade da Igreja de Cristo, nem mesmo lutam por ela. Em alguns casos, encontram os mais ínfimos motivos para abandonar direta ou indiretamente (quando permanecem, mas não comungam) suas congregações; em outros, preferem a divisão do que o confronto daqueles que vivem no engano e no erro; ou, talvez pior, aqueles que quebram a unidade da igreja e buscam mancha-la pela contaminação de outros quando são confrontados em seus pecados.
Aprisionamento das aparências de muitos que buscam na igreja uma forma de se projetarem no palco de seus corações, seja pelo legalismo, seja pela ambição. Legalismo daqueles que não vivem a liberdade do evangelho e aprisionam a si e aos outros em regras e doutrinas humanas na busca sem sentido de tentar justificar a si mesmo, sentindo um enganosos senso de superioridade pulsando em suas veias; ambição daqueles que enxergam erroneamente a Igreja como um grupo de pessoas seletas sob a liderança de pessoas mais seletas ainda, almejando sempre as posições “mais elevadas”.
Contra essa problemática tão atual e também tão antiga, somente nos cabe a pregação firme, corajosa e perseverante do verdadeiro evangelho da graça de Cristo. Somente o evangelho é a arma eficaz contra aqueles que intentam contra a unidade e liberdade da Igreja de Cristo.

Contexto imediato

Nosso texto retrata, pelas palavras do próprio apóstolo, a luta de Paulo pela defesa da unidade e liberdade da igreja primitiva. Depois de fazer um breve resumo do evangelho da graça de Cristo, o qual se fez justiça por nós sem nenhum merecimento nosso, e de defender a autoridade com a qual pregava esse evangelho, a saber que o próprio Senhor da graça o havia chamado para proclamar as suas boas novas, tansformando-o de fariseu perseguidor de Cristo em um de seus maiores embaixadores, Paulo inicia uma série de relatos que parecem conectar-se à exortação que fizera logo antes acerca da instabilidade que os gálatas viviam no evangelho em virtude de alguns que pervertiam o evangelho da graça de Cristo.
Paulo parece estar tentando dizer aos gálatas o seguinte: “Vocês estão se deixando enredar pelo falso evangelho destes e não entendem que eles, assim como vocês se não converterem seus caminhos, ao viverem um falso evangelho, que mancha a obre justificadora de Cristo ao declarar que a salvação vem de nossas obras, intentam contra a unidade e liberdade da Igreja do próprio Cristo. Vocês não só não compreendem isso, como não compreendem o esforço empreendido outrora por manter a unidade e liberdade de vocês como Igreja”.
Agora, Paulo começa a descrever esse esforço que empreendera no Espírito Santo. Na verdade, todo o capítulo 2 da epístola é dedicado à narrar os fatos que corroboram com o argumento de Paulo ao usar vários embates travados desde seu chamado, tanto com os anátemas mencionados por ele anteriormente, quanto com os demais apóstolos, como Pedro adiante. Isso dá peso à exortação que o apóstolo faz aos gálatas, afinal, os gálatas como discípulos de Paulo deveriam demonstrar a mesma firmeza, coragem e perseverança no evangelho da graça; não só isso, mas o poder transformador do evangelho verdadeiro na vida do apóstolo, bem como dos próprios gálatas, e o resultado positivo de duas reuniões junto àqueles que eram colunas da igreja de Jerusalém deveria testificar do poder e veracidade do evangelho por ele pregado.

Divisão do texto

Gálatas 2.1-2 - Unidade pelo evangelho verdade
Gálatas 2.3-5 - Liberdade pelo evangelho da verdade
Gálatas 2.6-9 - A eficácia do evangelho da verdade
Gálatas 2.10 - Perseverando da unidade e liberdade pelo amor

Unidade pelo evangelho verdade (Gl 2.1-2)

Gálatas 2.1 (ARA)
Catorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também a Tito.
O apóstolo inicia seu novo argumento deixando claro que começará a narrar fatos, históricos e reais, ao situar seus leitores no tempo e no espaço. Seus leitores deveriam compreender que os fatos que seriam narrados ali haviam realmente acontecido da forma como descrita, sob o peso de testemunho.
O interessante aqui, além da definição histórica do capítulo, é que Paulo declara que, além de Barnabé (seu companheiro constante de missões por um período), subiu a Jerusalém “levando também a Tito”. A expressão é pode apenas denotar que Paulo estava levando a Tito como seu companheiro responsável por auxiliar nas ajudas financeiras dedicadas à igreja de Jerusalém; entretanto, quando avaliamos melhor a motivação de sua ida a Jerusalém nos versículos que segue, bem como os próximos relatos relacionados a Tito, parecem denotar que Paulo foi a Jerusalém com Barnabé e levou a Tito com o propósito específico de testificar e validar a unidade da Igreja de Cristo entre os judeus e gentios alcançados pelo evangelho, afinal, Tito era um gentio. Tito, aqui, será para os gálatas o maior exemplo de firmeza no evangelho da graça de Cristo manifestada por um gentil convertido, firmeza que os gálatas inconstantes deveriam manifestar.
Gálatas 2.2 (ARA)
Subi em obediência a uma revelação; e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que pareciam de maior influência, para, de algum modo, não correr ou ter corrido em vão.
Agora, Paulo declara o motivo de sua ida a Jerusalém. Quando lemos os relatos que seguem e os relatos de Atos, percebemos que o objetivo de Paulo era claramente tratar a problemática dos ensinos heréticos acerca da salvação pelas obras. Entretanto, o fato de Paulo declarar aqui que subiu a Jerusalém “e obediência a uma revelação” é importante por alguns motivos:
Dar um propósito claro e específico para a visita de Paulo a Jerusalém, associado ao assunto tratado: a defesa do evangelho;
A palavra “revelação” é a mesma utilizada no versículo 12 para a revelação de Cristo, de modo que deixa claro que a motivação de sua ida a Jerusalém era a vontade ordenada de Deus, a saber que Deus deseja que o evangelho seja defendido contra as heresias que se levantam;
Esclarecer que Paulo não subira a Jerusalém por dúvida quanto ao evangelho por ele pregado ou mesmo para pedir autorização aos demais apóstolos, afinal, anteriormente, ele mesmo declarou que o verdadeiro evangelho é superior aos apóstolos, aos anjos e a qualquer criatura, incluindo os falsos profetas.
Saber exatamente qual foi a revelação dada a Paulo é díficil, afinal, não aprouve a Deus a declarar explicitamente, de modo que alguns tentam conjecturar seu conteúdo, mas sem êxito de confirmação. O que sabemos explicitamente qual foi o seu resultado: Paulo obedeceu e expôs o evangelho aos irmãos da igreja de Jerusalém. Muitas vezes, desejamos compreender aquelas coisas que não são explícitas nas escrituras, principalmente aquelas associadas a eventos miraculosos, mas deixamos de lado aquilo que realmente importa, aquilo que Deus revelou claramente, aqui, a saber, que era a vontade de Deus que Paulo subisse a Jerusalém com o objetivo de combater as heresias através da pregação do evangelho. A maior arma contra o falso ensino é a pregação do ensino verdadeiro, seja qual for o contexto. Mesmo em uma situação difícil e em um ambiente hostil para o apóstolo dos gentios, como o era Jerusalém, ele não adulterou o verdadeiro evangelho, mas permaneceu firme combatendo os falsos ensinos através da exposição do mesmo evangelho pregado aos gentios.
A continuidade do versículo 2 nos mostra mais algo interessante: Paulo tratou especificamente com os irmãos de maior reputação e autoridade (“dokousin”). Quando lemos os relatos de Atos, vemos que Paulo teve outros debates diretos com os falsos profetas que anundiavam a salvação pelas obras. Aqui, entretanto, Paulo coloca em prática algo que ensinaria mais tarde por epístola a Tito aquilo que já havia demonstrado a ele em sua visita a Jerusalém:
Tito 3.9–11 (ARA)
Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis. Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada.
Paulo estava evitando os facciosos após admostá-los outras vezes e sabia que estavam pervertidos, seus caminhos eram pecaminosos, de modo que de nada adiantaria novas discussões com tais homens. O propósito de Paulo nada tinha a ver com tais homens facciosos, mas com o combate do falso ensino pela pregação do evangelho verdadeiro que geraria a manutenção da unidade da Igreja de Cristo, por isso, não faria sentido algum tratar com os facciosos, mas com aqueles que eram os pilares da igreja em Jerusalém.
É exatamente essa busca pela unidade da Igreja ao que Paulo se refere quando declara que tratou com os irmãos de maior reputação e autoridade, aqueles que certamente não estariam entre os facciosos, com o objetivo de não haver se esforçado até então, nem prosseguir correndo em vão. Paulo entendia a necessidade da unidade da Igreja no evangelho verdadeiro, entendia a Igreja como verdadeiramente um corpo ligado ao cabeça que é Cristo, ao ponto de declarar que precisava tratar a situação diretamente com os irmãos verdadeiros da igreja de Jerusalém para que continuassem unidos em Cristo, afinal o corpo divido tornaria vã a sua pregação e todo o esforço empregado nela. O esforço do apóstolo era edificar o corpo de Cristo e não dividi-lo.
Aqui temos o roteiro da visita do apóstolo a Jerusalém:
Motivo: a ordenança divina manifesta em revelação ao apóstolo;
Missão: expor o evangelho da verdade aos irmãos de boa reputação da igreja de Jerusalém;
Propósito: preservar a unidade da igreja de Cristo, entre judeus e gentios, pelo fundamento do evangelho da verdade.

Liberdade pelo evangelho da verdade (Gl 2.3-5)

Gálatas 2.3–4 (ARA)
Contudo, nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se. E isto por causa dos falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos à escravidão;
Paulo continua declarando que enquanto mantinha sua reunião apenas com os irmãos fiéis da igreja de Jerusalém expondo o evangelho da verdade, nenhum deles constrangeu Tito a circuncidar-se. A palavra “contudo”, ou “pelo contrário”, denota exatamente o contrário do que Paulo falara logo anteriormente: ao tratar do evangelho da verdade com os irmãos da maior reputação, apresentando-lhes a Tito, ao invés de gerarem constrangimentos facciosos que tornarias vão o esforço de Paulo, em nenhum momento o constrangeram a circuncidar-se.
Entretanto, logo após, começamos a ver a hostilidade contra Paulo presente em Jerusalém, hostilidade que já havia sido anunciada pelo próprio Deus após a conversão do apóstolo:
Atos dos Apóstolos 22.17–18 (ARA)
Tendo eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo, sobreveio-me um êxtase, e vi aquele que falava comigo: Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito.
Paulo declara que “falsos irmãos” se infiltraram em sua reunião com os verdadeiros irmãos. Paulo usa termos fortes para denotar quem realmente eram estes. Eram falsos irmãos (“pseudadelphos”), ou seja, pareciam irmãos, hagiam como irmãos até certo ponto, mas na realidade eram falsos, deliberadamente enganosos, viviam alheios ao verdadeiro evangelho de Cristo, de modo que não haviam sido transformados à semelhança de Paulo. Mas não só isso, Paulo usa três verbos comuns ao ambiente militar e de espionagem:
Pareisaktos” (“trazido secretamente”, geralmente, não aparece em nossa tradução): denota que a ação destes homens em infiltrar-se e levantar os constrangimentos contra Tito foi arquitetada secretamente por inimigos da fé para atacar o evangelho;
Pareiserchomai” (“entremeteram”): tem o sentido de infiltrar-se com objetivos sinistros e indignos;
Kataskopeō” (“espreitar”): possui o sentido de espionar, vigiar, relacionada, em sentido negativo, com a palavra “episkope”, ou “supervisão”. Aqueles homens vigiavam Paulo e seus cooperadores não com objetivos dignos dos líderes eclesiásticos, mas com o objetivo de destruí-los de forma sorrateira.
Contra o que, especificamente, estes falsos irmãos intentavam? Paulo declara logo em seguida que esses falsos irmãos intentavam contra a liberdade vivida por Paulo, Barnabé e Tito, liberdade essa que haviam recebido pelo evangelho da graça, pelo qual o homem não vive mais sob a escravidão de em vão tentar justificar a si mesmo. Na verdade, era exatamente esse o propósito de seu plano, reduzi-los à escravidão. Eles maquinavam se infiltrar secretamente na igreja de Cristo com o objetivo de vigiar a liberdade que os cristãos possuíam de não serem justificados e salvos por obras, aqui em ressalto a circuncisão, a fim de impor o falso evangelho legalista aos gentios cristãos. Vemos isso contantemente acontecendo na caminhada de Cristo:
Mateus 22.15–22 (ARA)
Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam em alguma palavra. E enviaram-lhe discípulos, juntamente com os herodianos, para dizer-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César ou não? Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ouvindo isto, se admiraram e, deixando-o, foram-se.
Gálatas 2.5 (ARA)
aos quais nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.
A resposta de Paulo aos ataques desses falsos irmãos só pode vir de alguém que foi verdadeiramente trasnformado pelo poder do evangelho e compreende a liberdade que a graça de Cristo lhe concerne. Ele declara que em nenhum momento, por maiores que tenham sido os ataques e constrangimentos destes que intentavam contra a liberdade que viviam pelo evangelho da verdade, se submeteram a tais homens. Aqui, é interessante o temro utilizado por Paulo, afinal ele poderia ter declarado que em nenhum momento se submeteram aos requisitos que os constragiam, mas ele declara que em nenhum momento se submeteu aos falsos irmãos. Quem vive sob o legalismo, sob o evangelho das obras escraviza a si mesmo ao se submeter a homens e não a Cristo.
Submeter-se aos falsos irmãos ao abrir mão da liberdade do evangelho, seria escravizar também os gálatas. É por isso que Paulo declara que não se submeteram “para que a verdade do evangelho permanecesse” neles, afinal, se assim o fosse, certamente se Paulo levasse esses termos aos gálatas, muito povavelmente sucumbiriam, visto que até mesmo pelo ensino desses falsos irmãos estavam sucumbindo. Submeter-se aos falsos profetas é submeter-se ao falso evangelho, afinal não pode existir um meio evangelho, a verdade do evangelho não pode coexistir com a mentira, seja pelo legalismo, seja pela libertinagem. Daí a vontade revelado de Deus ser que nós combatamos as heresias que se manifestam diante de nós através da pregação do evangelho da verdade, a fim de mantermos o corpo de Cristo unido.

A eficácia do evangelho da verdade (Gl 2.6-9)

Gálatas 2.6 (ARA)
E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outrora, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentaram;
Agora Paulo começa a declarar o resultado de sua visita em Jerusalém quanto à percepção dos líderes dessa igreja. Ele começa declarando o que para alguns pode parecer um sinal de rebeldia ou menosprezo quanto aos líderes da igreja em Jerusalém. Entretanto, certamente não trata-se disso. Pelo contrário, no versículo 2, Paulo já havia manifestado sua estima por eles ao convocar uma reunião particular com eles ao considerá-los como irmãos verdadeiros de boa reputação e elevada importância para a igreja; além disso, o próprio Paulo declara que “me pareciam se algua coisa”. O que Paulo está tratando aqui algo que já tratara anteriormente nessa epístola: não é a autoridade que define ou qualifica o evangelho da verdade, mas o evangelho da verdade que define e qualifica a autoridade, afinal, Deus não favorece aparências ou posições, mas a obediência à sua vontade:
1Samuel 15.22 (ARA)
Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.
A conclusão de sua reunião não poderia ser diferente: os líderes da igreja de Jerusalém nada acrescestaram ao evangelho pregado por Paulo ao gentio. Por que o resultado não poderia ser diferente? Por que se acrescentassem a salvação por obras como os falsos irmãos faziam e estaam fazendo com os gálatas, aqueles líderes seriam anátemas. Aqui temos uma máxima do evangelho de Cristo: quando pregado, jamais voltará vazio, sempre terá êxito e será eficaz, seja na edificação e união dos eleitos de Deus (como o foi entre Paulo, Barnabé, Tito e os líderes da igreja de Jerusalém), seja no endurecimento do coração daqueles que são homens pervertidos, pecaminosos e condenados.
Gálatas 2.7–9 (ARA)
antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me fora confiado, como a Pedro o da circuncisão (pois aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão também operou eficazmente em mim para com os gentios) e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão;
A liderança da igreja de Jerusalém não só não acrescentou nada ao evangelho pregado por Peulo aos gentios, mas fortaleceram ainda mais a união com as igrejas gentílicas ao encorajar e comungar com o trabalho missionário desenvolvido por Paulo e seus cooperadores. Dois motivos são declarados para isso:
Eles “viram”, ou seja, eles entenderam que o evangelho pregado por Paulo aos gentios o fora confiado por Deus ao perceberem que os frutos de seu ministério eram os mesmos que o do ministério de Pedro para com os judeus. Isso não poderia ser diferente, visto que aquele que transformou e chamou Paulo pelo poder do seu evangelho fora o mesmo que transforma e chamara a Pedro;
Eles “conheceram”, ou seja, eles testificaram, conheceram de forma prática por todos os seu sentidos os frutos práticos na vida do apóstolo e de seu ministério, graça essa que fora manifesta nos versículos de Gl 1.10-24.
A vontade de Deus manifesta na revelação dada a Paulo que o fizera ir a Jerusalém pregar o evangelho tivera completa eficácia: a liberdade da vida em Cristo fora defendida e a unidade da Igreja de Cristo fortalecida. Essa eficácia é certa para aqueles que vivem firmados no evangelho da verdade.

Perseverando na unidade e liberdade pelo amor (Gl 2.10)

Gálatas 2.10 (ARA)
recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer.
A unidade e liberdade só podem ser vividas em sua plenitude na igreja quando o amor genuíno se faz presente em todo tempo. É por isso que os líderes da igreja de Jerusalém recomendaram somente que se lembrassem dos pobres. É interessante a forma como isso é colocado: diferente dos falsos irmãos, eles não declararam que “lembrar dos pobres” era um requisito adicional para o evangelho, como um requisito de salvação; mas eles “recomendaram”, como quem diz que a sua salvação testemunhará disso.
Mnemoneomen” (“Lembrar”) aqui trata de “lembrar e responder de acordo” e “ptochon” (“pobres”) daquelas “pessoas com poucas posses, mas não reduzidas a pedintes”, provavelmente os pobres da igreja de Jerusalém. Aqui a recomendação não é que Paulo começasse a viver seu ministério como uma ONG ou que lembrasse dos pobres somente em oração; a relação aqui se dá com os pobres da igreja de Jerusalém. A união havia sido fortalecida através da destra de comunhão que encorajava e concernia com o ministério de Paulo para com o gentios; entretanto, Paulo não deveria se esquecer do trabalho que já executava junto a Tito, quando levantava ofertas nas igrejas gentílicas para auxiliar os pobres da igreja de Jerusalém. Perseverar nesse amor certamente preservaria a unidade e auxiliaria mais e mais na defesa da liberdade que vem do evangelho.
Certamente, vemos esse esforço relatado por Paulo em perseverar nesse amor quando lemos suas epístolas. Inclusive, a palavra para “esforcei” refere-se a “ser zeloso”. Se os falsos irmãos eram zelosos na lei, em detrimento da unidade e da liberdade da Igreja, Paulo era zeloso no amor fortalecendo a unidade e defendendo a liberdade da Igreja de Cristo. Perceba que apesar do ambiente hostil de Jerusalém em relação a Paulo (relatado em Atos) não o inibiu de lembrar dos pobres daquela igreja; isso porque ele não olhava para aqueles falsos irmãos que de infiltravam na igreja, mas olhava para aqueles que haviam sido transformados pelo evangelho de Cristo e eram seus verdadeiros irmãos.

Conclusão

Irmãos, não sejamos facciosos como aqueles que intentavam contra a igreja da Galácia e contra o ministério de Paulo. Sejamos como este que não popou esforços para preservar e fortalecer a Igreja de Cristo. Como vivemos essa unidade? Quando vivemos fundamentados no evangelho da verdade e em sua pregação e defesa. O evangelho da graça de Cristo é o evangelho que une os membros como corpo ao cabeça, a Cristo. Que a unidade da igreja seja algo precioso demais para todos nós. O verdadeiro evangelho não coexiste com a mentira; quando ela se manifesta, a unidade é ameaçada e nosso papel é combatê-la através da pregação do evangelho de Cristo, tendo sempre em vista a preservação da unidade. A pergunta é temos vivido sob o verdadeiro evangelho da graça de Cristo?
A resposta para essa pergunta pode ser respondida por outra: temos vivido a liberdade do evangelho? Quando pensamos em legalismo, geralmente, pensamos nas igrejas que explicitam suas listas intermináveis de ordenanças criadas por homens gananciosos. Certamente, também o são. Mas precisamos considerar que o legalismo pode se manifestar de formas mais sutis: você já se perguntou a verdadeira motivação de estar aqui hoje cultuando a Deus? É pela graça do evangelho de Cristo que você cultua a Deus ou você cultua a Deus com suas expectativas para a salvação? Lembremos, sempre que abrimos mão da liberdade do evangelho da graça, deixamos de lado o senhorio do Cabeça que é Cristo e nos subsmetemos a homens, sejam outros ou nós mesmos.
Por fim irmãos, só viveremos perseverando na unidade e liberdade do verdadeiro evangelho se vivermos o amor ao qual ele nos impele. Se vivemos libertos de nossa escravidão e unidos como corpo a Cristo, precisamos estar atentos às necessidades desse corpo e responder em ação diante delas, sejam elas quais forem (financeiras, emocionais, intelectuais etc.). O ministério que Deus nos confia não nos exime, nem anula o amor ao qual o evangelho da graça de Cristo nos impele.
Que possamos crescer em unidade, liberdade e amor fundamentados em Cristo pelo seu evangelho da verdade!