A justiça de Deus revelada no evangelho

Rev. Weinne Santos
O poder do evangelho  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Romanos 3.21–31 ARA
21 Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; 22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção, 23 pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, 24 sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, 25 a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; 26 tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus. 27 Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé. 28 Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. 29 É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios, 30 visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso. 31 Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.
Irmãos, estamos na semana em que comemoramos o aniversário da Reforma Protestante. Há 506 anos atrás, no dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero pregou na porta da catedral de Wittenberg as suas 95 teses, nas quais questionava a venda de indulgências promovida pela igreja católica. E assim nasceu o movimento protestante na Alemanha. Na mesma década, nasceria também a reforma suíça, da qual nós, presbiterianos, somos herdeiros.
Mas uma outra questão, uma outra doutrina, era a verdadeira razão pela qual essa reforma aconteceu. Era a doutrina da justificação. A grande polêmica da Reforma, a grande discussão, era a respeito de como somos justificados por Deus, isto é, com que critério Deus nos declara justos.
Como muitos bem sabem, Martinho Lutero era católico. Ele era um monge agostiniano. Mas ele tinha sérias crises de fé. Ele vivia angustiado, sentia-se oprimido. E a razão disso era o entendimento que ele tinha da justiça de Deus. Ele pensava que a justiça de Deus, inclusive em Romanos 1.17, era o seu atributo pelo qual ele haveria de julgar os pecadores. E ele via a si mesmo como pecador. Ele sabia que não amava a Deus de todo o coração, alma e entendimento. Então pensava: Deus irá me castigar. Nunca serei suficiente.
Bem, essa era a crise de muitos católicos naquele tempo. Isso se deve ao entendimento que a igreja católica tinha da doutrina da justificação. Para os católicos, justificação não é o ato em que Deus nos declara justos. Não, para eles, é o processo pelo qual Deus nos torna justos. Para eles, a fé em Jesus Cristo é apenas o começo. Uma vez que você crê em Jesus, você tem de se tornar justo igual a Jesus. E no final, somente no fim desse processo, você será declarado: justo! E quando isso seria? Será que a gente consegue se tornar justo igual a Jesus até o dia em que morrermos? É muito difícil. É por isso que existe a doutrina do purgatório. Você tem de ir se purificando, se purificando, até, um dia, quem sabe, poder ir pro céu e ser declarado justo.
Bem, não é difícil imaginar porque o clima na Idade Média era tenebroso. Muita gente se sentia oprimida e em trevas espirituais. A teologia do fim da idade média caía em relativismos e especulações sem fim. E esse era o contexto em que Lutero vivia.
Até que um dia, ao ler a carta aos Romanos (Lutero estava expondo a carta aos Romanos para a sua congregação), Lutero compreendeu. Ele estava estudando com afinco o Novo Testamento em grego (e não a tradução em latim da igreja católica). E ele entendeu que a justiça de Deus em Romanos 1.17 não é o atributo de Deus, nem o processo pelo qual ele nos torna justos, mas uma justiça que Deus nos dá, nos oferece gratuitamente, declarando-nos justos.
Lutero não foi o primeiro a perceber isso. John Huss, 100 anos antes, já havia percebido. John Wycliffe também. Mas para Lutero, isso foi como tirar um peso de seus ombros. Deus nos declara justos, sendo nós ainda pecadores. E foi assim que Lutero se tornou o reformador, com aquele ímpeto, capaz de enfrentar o perigo da morte. Ele sabia que estava reconciliado com Deus. Seu coração estava em paz.
Não é a toa que Lutero dizia que a justificação pela fé é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. Em outras palavras: se a igreja entende a justificação pela fé, então ela cresce saudável. Mas se ela deixa de entender e de pregar tal doutrina, ela aos poucos vai deixando de ser igreja. Infelizmente, esse é o caso da igreja romana, e de muitas seitas que obscurecem tal doutrina.
Meus irmãos, nós ainda precisamos falar sobre justificação. A justificação não é apenas o que nos diferencia do catolicismo romano, mas o que nos diferencia de qualquer outra religião. Por isso, passaremos um tempo refletindo sobre doutrina. Não se engane, doutrina é coisa importante. A doutrina errada pode ser fatal. Paulo gasta um bom tempo em sua carta aos Romanos falando de doutrina. Ele já nos mostrou que não podemos ser declarados justos diante de Deus por nossas próprias obras.
Agora, ele nos mostra como podemos ser justificados. Ele volta àquele que é o tema da carta, conforme Romanos 1.17: a justiça de Deus se revela no evangelho (v. 1-16-17). Há duas coisas que eu quero observar aqui com você. Primeiro: como Deus nos justifica (v. 21-26). Segundo, como isso destrói a religião da autossuficiência (v. 27-31).

Como somos justificados (v. 21-26)

Em primeiro lugar, vemos aqui como somos justificados. No versículo 21, Paulo diz que a justiça de Deus se manifestou. Isto é, ela foi revelada. Aquilo que antes era oculto, agora é acessível.
O que é essa justiça que Paulo se refere? É a justiça que Deus revelou no evangelho (Rm 1.17). Por justiça aqui, não estamos falando do atributo de Deus, da justiça que encontramos em Deus. Não, falamos daquela justiça que Deus nos dá. Do meio pelo qual Deus nos declara justos. Pois isso é o significado de "justificação" na língua grega: ser declarado justo.
Deus revelou a sua justiça, o meio pelo qual nos declara justos. Ele fez isso agora, na nova dispensação, com a vinda de Jesus Cristo. A vinda de Jesus iniciou uma nova etapa na história da redenção. Aquilo que antes era apenas sombra, que era oculto, agora foi revelado. Deus revelou o modo como há de justificar o pecador (v.21)
Contudo, essa justiça Deus agora revelou não é algo totalmente novo. Ela fora antes testemunhada pela lei e profetas, que falavam a respeito de Cristo e o que ele viria fazer. Deus já prometera, em textos como Isaías 53, que o Messias haveria de tomar sobre si nossas enfermidades e expiar o nosso pecado. Agora, tudo isso se cumpriu.
Mas como nos apropriamos dessa justiça? Como podemos recebê-la? Essa justificação é recebida pelo pecador mediante a fé (v. 22-23)
A fé é o instrumento pelo qual recebemos a justificação. Veja, não é que somos justificados por causa da fé. Não é que a fé nos faz merecer a justificação, como se a fé fosse uma obra que fazemos para merecê-la. Mas a fé é o instrumento pelo qual recebemos a justificação. Pense numa criancinha que estende em sua mão pequena e fraca para pegar um presente que seu pai lhe dá. É dádiva, é presente. As nossas mãos não têm em si nenhum mérito.
E é Jesus Cristo o objeto de nossa fé. A fé que Paulo se refere não é a "fé na fé", nem é "ter fé que vai dar certo". Muitas vezes, quando se fala de fé por aí, as pessoas pensam nisso. “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”. Mas não é isso que Paulo está falando. Ele está falando de se ter fé numa pessoa: em Jesus Cristo. É crer que ele morreu e ressuscitou, e que tem poder para salvar, e então confiar nele para ser justificado.
E essa justificação é dada a todos aquele que crê. Não há distinção. Tem gente que acha os cristãos são salvos pela fé, mas os judeus do Antigo Testamento eram salvos pelas obras. Mas não é assim. Todos são salvos da mesma maneira: mediante a fé em Jesus Cristo. Deus não trata diferente, porque todos estão no mesmo patamar: todos pecaram e carecem da glória de Deus. A imagem de Deus em nós, pelo qual refletiríamos a sua glória, está desfigurada. Pouco se pode ver em nós daquela glória do jardim. Mas agora, pela justificação, até o mais vil pecador, sem distinção pode ser declarado justo.
Mas com base em quê somos justificados? Como é possível Deus declarar justos pecadores totalmente depravados? Paulo explica que somos justificados por causa da obra redentora de Jesus Cristo (v. 24-26)
Aqueles que creem são justificados gratuitamente, isto é, sem ter de pagar nenhum preço. É pela graça, sem mérito, pois é um favor imerecido. Não há em nós nada que nos faça merecer essa declaração de Deus.
E isso ocorre por causa da obra redentora de Jesus Cristo. A obra redentora de Jesus Cristo pode ser descrita em termos de redenção. Jesus nos libertou da escravidão do pecado mediante um preço. Isso é redenção. Significa "libertação mediante um pagamento". Pense no conceito de se conceder alforria a um escravo, ao pagar o preço da sua liberdade. Assim Cristo o fez: ele pagou o preço do pecado, ele satisfez aquilo que era devido.
A obra redentora de Jesus Cristo também pode ser descrita em termos de expiação e propiciação. Paulo diz que Deus "propôs", isto é, foi Deus quem enviou Jesus Cristo para providenciar o meio de nos reconciliar consigo. A obra redentora é uma obra da Trindade.
Ele revelou Cristo como propiciação. O que significa propiciação? É importante lembrar que essa palavra provém do Antigo Testamento, e se refere à tampa da arca da aliança. No tabernáculo havia a arca da aliança, e dentro dela havia um rolo contendo a Lei de Deus. Em cima dessa arca era colocada uma tampa, chamada de "propiciatório" (Ex 25.17-22).
Êxodo 25.17–22 ARA
17 Farás também um propiciatório de ouro puro; de dois côvados e meio será o seu comprimento, e a largura, de um côvado e meio. 18 Farás dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório; 19 um querubim, na extremidade de uma parte, e o outro, na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele. 20 Os querubins estenderão as asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; estarão eles de faces voltadas uma para a outra, olhando para o propiciatório. 21 Porás o propiciatório em cima da arca; e dentro dela porás o Testemunho, que eu te darei. 22 Ali, virei a ti e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.
Nessa tampa, havia esculpido a imagem de dois querubins, olhando para dentro da arca. Há um simbolismo aqui. É como se essa tampa impedisse que os querubins olhassem para dentro e, vendo a Lei, percebessem o nosso pecado.
Então, nesse propiciatório (Lv 16.13-15), no Dia da Expiação, era aspergido o sangue de um novilho, como oferta pelo pecado. E depois, dois bodes eram oferecidos. Um era sacrificado e seu sangue aspergido sobre o propiciatório, simbolizando a expiação do pecado. E o outro era enviado para o deserto, simbolizando o pecado levado para longe.
Levítico 16.13–15 ARA
13 Porá o incenso sobre o fogo, perante o Senhor, para que a nuvem do incenso cubra o propiciatório, que está sobre o Testemunho, para que não morra. 14 Tomará do sangue do novilho e, com o dedo, o aspergirá sobre a frente do propiciatório; e, diante do propiciatório, aspergirá sete vezes do sangue, com o dedo. 15 Depois, imolará o bode da oferta pelo pecado, que será para o povo, e trará o seu sangue para dentro do véu; e fará com o seu sangue como fez com o sangue do novilho; aspergi-lo-á no propiciatório e também diante dele.
Por meio desse sangue aspergido, o pecado do povo de Deus era expiado. A culpa era removida. O homem era reconciliado com Deus. Aqui, Paulo remete a esta figura para mostrar que é isso que Jesus fez: o seu sangue derramado expiou o pecado do seu povo. Ele morreu em lugar dos seus, a fim de levar toda culpa e transgressão sobre si.
Mas "propiciação" tem ainda um segundo sentido. E eu entendo que Paulo tinha em mente os dois sentidos. Na língua grega, expiação denota aquilo que se faz para aplacar a ira de um deus. Para uma divindade ser propícia a nós, isso exigia algum sacrifício. Somente aplacando a ira de um Deus é que se poderia reconciliar-se com ele.
Isso explica também o que Jesus fez: ele veio para que o próprio Deus pudesse satisfazer a sua ira. Jesus aplacou a ira divina. E vemos esse mesmo simbolismo no propiciatório, na tampa da arca. Lembre-se que querubins eram como os “guardas” da santidade de Deus. Eles guardavam o jardim do Éden. E assim como aquela tampa da arca, o propiciatório, coberto com o sangue do cordeiro, impedia os querubins de olhar para a nossa transgressão, pois havia o sangue do cordeiro ali; o sangue de Jesus nos cobre e nos livra da ira de Deus.
Então, quando Paulo fala que Deus apresentou Jesus como propiciação no seu sangue, podemos entender que ele está nos dando uma rica imagem do que Jesus fez: expiação e propiciação. Jesus livrou-nos da culpa do pecado e aplacou a ira de Deus, o Pai. E agora somos reconciliados com Deus, no momento em que cremos em Jesus. É por isso que Paulo diz “mediante a fé”. Paulo não está falando aqui de uma justificação que acontece no julgamento final, só quando Jesus voltar. Na verdade, quem crê, já está justificado, já desfruta o privilégio de ser declarado justo diante de Deus.
E por que Deus fez tudo isso? Por que ele enviou Jesus para cumprir a obra redentora, viver e morrer em nosso lugar? A razão pela qual Deus revelou a Cristo foi para manifestar a sua justiça. Aqui Paulo está agora se referindo à justiça de Deus, ao seu atributo de justiça. Ele é justo. E um Deus justo não pode deixar de punir pecadores. Mas Deus adiou o castigo. Ele adiou o seu juízo. Ele tolerou, por muito tempo, os pecados do seu povo escolhido sem uma expiação adequada, apenas com novilhos e bodes. Mas agora, ele mostra toda a sua retidão, toda a sua justiça, derramando sua ira em Jesus Cristo.
E ele também intenta manifestar, no tempo presente, a sua justiça. Como tolerar pecados e justificar o pecador e, ainda assim, permanecer justo? Isto Deus fez em Jesus, imputando a ele o nosso pecado, e a sua justiça a nós. Assim, ele permanece justo enquanto nos justifica.
Meus irmãos, o resumo de tudo isto é: somos justificados pela obra redentora de Jesus Cristo, a qual recebemos mediante a fé. Esse é o resumo do evangelho. Em e você não somos justos. Nós não consegumos cumprir a Lei. Mas Jesus sim, ele cumpriu tudo o que a Lei exige. Em sua vida, ele obedeceu a lei. E em sua morte, ele levou sobre si a maldição da Lei, que nós merecemos. E isto para que a sua justiça seja atribuída àquele que crê, e a nossa culpa fosse lançada sobre ele. Assim, pecadores podem ser declarados justos diante de Deus.
E tudo o que precisamos fazer para receber essa justiça é em Jesus. É crer que ele é o Filho de Deus, que morreu e ressuscitou, que veio nos dar a vida eterna, e cuja obra é eficaz para isso. Se você crer em Jesus, você será justificado e seus pecados serão perdoados. Creia nele. Confie nele. E ele livrará você da culpa do pecado.
Esse é o centro da mensagem do evangelho. Contudo, é muito fácil nos distanciarmos dessa mensagem. Isso aconteceu na história da igreja. Por séculos, a igreja se esqueceu ou deixou de lado a justificação pela fé. Isto acontece porque a justificação contraria o nosso senso comum. Ela contraria nossa carne e o nosso orgulho. Nós queremos pensar que Deus salva os que se esforçam. Deus salva os que têm mérito. Deus ajuda quem cedo madruga. É por isso que a justificação é facilmente esquecida e por vezes até negada. Isso nos leva ao segundo ponto.

Como isso contraria a nossa justiça própria (v. 27-31)

A segunda coisa que vemos neste texto é como a doutrina da justificação contraria a nossa carne. Paulo agora traz algumas discussões a respeito da doutrina da justificação. É importante para que compreendamos as implicações dessa doutrina, pois muitas vezes somos lentos para entender como ela contraria o nosso senso de orgulho e justiça própria.
Paulo nos mostra aqui que, com a justificação pela fé, todo orgulho é excluído (v. 27-28).
Paulo usa um estilo retórico aqui. Ele faz perguntas, a fim de mostrar o absurdo que é confiar nas obras da lei para a salvação. Que é o que os judeus faziam: eles confiavam em sua obediência aos preceitos externos da lei. Paulo já demonstrou, nos capítulos 2 e 3, que é impossível ser justificado pelas obras da lei. Mas agora, Paulo mostra como o evangelho da graça é totalmente oposto à confiança pelas obras.
Paulo pergunta; "onde fica o orgulho?". Em outras palavras: que motivo temos para nos orgulhar? Em nada contribuímos para a nossa salvação. Ela nos foi dada, pela graça, em Cristo, mediante a fé. Tudo o que fizemos foi pecar. Então, Paulo afirma de modo categórico: "foi totalmente excluído". Definitivamente, não há razão para orgulhar-se.
Então Paulo faz uma outra pergunta: "por meio de que lei?". E aqui, isto pode nos confundir, "lei" aqui tem um significado ligeiramente diferente, mas que está dentro das possibilidades do que o termo pode significar na língua grega. Agora "lei" significa "critério, regra". Em outras palavras, qual é o critério agora pelo qual a justificação nos é atribuída? Qual a regra? Então Paulo continua: "pelo critério das obras? Não, pelo critério da fé!". A questão aqui é qual o critério pelo qual somos declarados justos. Não são as obras. Não é a justiça que exibimos em nós mesmos. Somos declarados justos sendo ainda pecadores.
Então Paulo conclui, trazendo aqui o que é a conclusão de todo o capítulo: "o ser humano é justificado (declarado justo) pela fé, independentemente das obras da lei". Pela fé, sem as exigências da lei. Paulo é tão categórico aqui em negar qualquer participação das obras da lei que Martinho Lutero, ao comentar o versículo 28, ele inseriu uma palavra em sua tradução para o alemão. Ele diz: “pela fé somente”. E embora essa palavra “somente” não esteja no grego, a ideia está. É pela fé, somente, independe das obras da lei.
Irmãos, essa é a grande diferença entre o verdadeiro cristianismo e qualquer outra religião. Em qualquer outra religião, você de primeiro se tornar justo para, só então, ser declarado justo. Islamismo, Judaísmo, Espiritismo, todas elas se resumem nisto: faça o que é justo, siga as leis, submeta-se, e terá o favor divino.
Até o catolicismo romano não foge a essa regra. Veja, sejamos justos. Os católicos creem que a fé é importante. E eles acreditam que a graça de Cristo é o que nos salva. Um católico romano não negaria isto, jamais.
Contudo, eles creem que o critério pelo qual somos julgados por Deus não é a justiça de Cristo atribuída a nós, mas a justiça de Cristo em nós. Primeiro você tem de se tornar justo igual Jesus. Isso é o processo que eles chamam de justificação. Você primeiro precisa crescer em graça, por meio dos sacramentos, da castidade, dos votos, da penitência. Só então, depois de muita purificação, depois de um tempinho no purgatório, quem sabe, você será finalmente justificado.
Essa é a grande questão que nos separa dos católicos romanos: somos julgados por que critério? Pela justiça de Cristo ou pela justiça que há em nós? Porque se for pela justiça que há em nós, mesmo hoje, mesmo agora, nesse exato momento, seríamos condenados. Pois nesta vida essa justiça sempre será imperfeita. E Deus é justo. Ele requer uma justiça nada menos que perfeita. Por isso os nossos méritos não são suficientes. Só pode ser pelos méritos de Cristo.
É o que Paulo afirma aqui, claramente: não somos justificados pelas obras, mas pela fé. E qual a diferença? A diferença entre ser justificado entre fé e obras é que as obras olham para dentro de si, enquanto a fé olha para fora. Quem confia nas obras olha para a sua performance diante de Deus, enquanto quem tem a fé olha para fora, para o que Deus fez em Cristo Jesus.
Meus irmãos, até hoje muita gente pensa é salva, que é justificada, por cumprir a lei, ir para igreja e fazer tudo certo. É por isso que muitos tem medo de vir para a igreja. Porque pensam que precisam primeiro consertar suas vidas para só então acertar as contas com Deus. Ou pensam que não precisam de Cristo, pois já têm uma vida moral. Eu acho curioso quando alguém que é descrente diz para mim: “você tinha de pregar para fulano, ele tá precisando”. E eu tenho vontade de perguntar: “e você não precisa não?”.
E até os crentes, muitas vezes, pensam assim. Tem muito crente que se você perguntar: "Você crê que irá pro céu?", ele responde: "Vamos ver, né". Quem responde assim não entendeu a justificação pela fé. Se você crê no Senhor Jesus, você foi justificado! Você foi declarado justo! Você pode não sentir isso. Você pode ter uma fé vacilante. Mas até uma fé do grão de mostarda é suficiente para ser justificado.
Veja, é possível um crente não ter certeza da salvação. Isso é algo que a nossa Confissão de Fé afirma. É possível que um crente verdadeiro viva sem essa bênção da certeza. Mas é como ter uma grande riqueza, uma grande herança, e não usufruir dela. É como ter milhões na poupança e viver na miséria. Deus quer que você desfrute da paz, do alívio, do descanso que é saber que se está reconciliado com Deus.
Paulo nos mostra também que, com a justificação pela fé, todo senso de superioridade também deve ser excluído (v. 29-30)
Paulo afirma aqui que não apenas os judeus, mas também os gentios são incluídos nesse plano de redenção. Para isso, ele usa novamente o estilo retórico. Ele pergunta: "Deus é somente dos judeus, ou também dos gentios?". E um bom judeu saberia que a resposta é que Deus é um só, pois há um só Deus, o Deus de Israel. É o que o próprio Deus diz em Dt 6.4 , e que Paulo cita aqui quando diz: "Deus é um só". Ele está apelando ao Shemá, ao credo mais básico de todo judeu. Assim, se há um só Deus, ele não tratará de modo diferente o judeu e o gentio. Tanto o circunciso quanto o incircunciso são justificados pelo mesmo critério.
Os judeus detinham a Lei, e se orgulhavam de ser o povo escolhido de Deus, que cumpre os preceitos, que tem uma moral superior. Mas Paulo agora demonstra que nada disso importa para a justificação. Os judeus não são melhore que os gentios. Eles não devem se sentir superiores por conta de sua história, de seu privilégio e de sua obediência a Lei. Pois Deus trata igual judeus e gentios.
Meus irmãos, muitas vezes nós também podemos ser assim, orgulhosos. Muitas vezes nos sentimos superiores aos descrentes. Ou nós, reformados, que cremos na predestinação, cremos que é pela graça e pela graça somente, infelizmente somos orgulhosos. Eu concordo com o Rev. Heber Jr., quando diz que o calvinista, mais que todo mundo, não deveria ser orgulhoso. Ele tinha de ser o mais humilde. Pois ele sabe que não merece nada, e que até o conhecimento que ele tem é dádiva de Deus.
Cuidado, meus irmãos, para não tratar com arrogância, com superioridade, os irmãos de outras denominações evangélicas. Se Deus justifica todo aquele que crê em Jesus Cristo como único Senhor, Salvador, Mediador, isso inclui até irmãos de outras denominações, de quem podemos discordar numa coisa aqui e ali. Se ele crê em Jesus, da maneira como ele é revelado na Escritura, ele é justificado. Ele é um irmão na mesma fé. E então não posso tratá-lo com superioridade, com arrogância. Como Paulo irá trabalhar no capítulo 14: eu não posso excluir aquele que Deus justificou.
Cuidado também com a arrogância para com os descrentes. Pois veja, você era um pecador como eles. E tão inábil em cumprir a lei quanto eles. E se há alguma diferença entre vocês hoje, tudo isso deve se atribuir à graça de Deus. Você não é melhor que o pior dos pecadores, e mesmo assim, desfruta do favor de Deus. Isso deve humilhá-lo, e não ser motivo de orgulho.
Irmãos, temos aqui o resumo do evangelho. Lutero dizia que a justificação pela fé é o artigo pelo qual a igreja se mantém de pé ou cai. Isto é, se a igreja tem um entendimento correto desta doutrina, ela permanece sendo uma igreja autência. Mas se essa doutrina é esquecida, ou obscurecida, ou contrariada, a igreja deixa de ser genuinamente cristã. Isto também vale para você, cristão. Entender isto é importante e necessário. Creia no senhor Jesus e será salvo, este é o resumo do evangelho.
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