A Verdadeira e a Falsa Sabedoria

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Série: A FÉ QUE AGE

Sermão: Tiago 3:13-18

Pregador: Pr. Rodrigo Serrão

A Verdadeira e a Falsa Sabedoria

Introdução:

Depois de lidar com os problemas devastadores da língua, Tiago nos apresenta o antídoto para este problema, a sabedoria.

Aqui, ele mostrará que existem 2 sabedorias: a do alto e a da terra (a verdadeira e a falsa sabedoria). 

Entretanto, Tiago começa mostrando que a sabedoria é algo prático.

1.     A sabedoria é prática

 Quem dentre os ouvintes e leitores de Tiago (os mesmos que ele aconselha acerca da língua), se consideram sábios e entendidos?  Esta pergunta pode ser retórica, mas o ponto de Tiago é mostrar que sabedoria e entendimento não são demonstrados por teorias ou por capacidade intelectual, mas sim, por práticas de obras sábias das decisões do dia-a-dia.  A sabedoria deve ser mostrada através de obras.  

Depois de falar do aspecto prático da sabedoria, Tiago nos apresenta a diferença entre os dois tipos de sabedoria.

Primeiro ele fala sobre a sabedoria da terra.

2.     A sabedoria da terra (14-16)

2.1 Evidências de uma falsa sabedoria (14)

A palavra que traduzimos por inveja é no original grego zelós de onde vem a palavra zelo.  Contudo, esse zelo aqui não é saudável, não é o zelo que eu tenho por minha esposa por exemplo, mas sim um zelo doentio, um zelo fanático que consome e absorve aquele ou aquilo a quem este zelo é direcionado. 

Em uma das escolas em que trabalho, existe duas garotas que não se separam em momento algum.  Elas estão sempre juntas tanto em classe quanto fora de classe.  A psicóloga da escola já percebeu um comportamento anormal nestas duas jovens.  Antes de ser alguma tendência homossexual, percebe-se que existe um zelo anormal uma pela outra.  Contudo, uma das garotas é mais dependente do que a outra.  Esta que é mais dependente talvez tente suprir suas carências na outra, aquilo que ela não possui naturalmente, e a outra sim, ela se aproxima e se projeta na outra.  Uma vez que isto acontece, ela já não mais aumenta seu círculo de amizade e qualquer pessoa que a outra menina quer se relacionar se torna alvo do desafeto e ciúmes desta. 

Tiago fala deste zelo e ainda usa o adjetivo amargo.  Isto traz um sentido mais profundo a este zelo (inveja), que pode ser interpretada como uma inveja arraigada ao ser por inteiro e que penetra todos os sentidos.  Ou seja, o coração humano é envenenado por uma inveja amarga e generalizada.  

Depois o autor fala do pecado de sentimento faccioso (ambição egoísta).  Mais ou menos o tipo de pecado encontrado em políticos e em pessoas que apenas visam seus interesses próprios.  O sentimento faccioso é aquele que não se importa com a unidade, mas apenas se importa com os interesses pessoais.  Aquele que possui um espírito faccioso normalmente quer ser melhor que os outros em tudo o que faz.  Não sabe ser humilde, não sabe ser simples, não sabe olhar para o interesse do próximo, mas apenas os dele.

Tiago diz que aquele que se comporta assim e se gaba dizendo que é sábio, está mentindo e não há verdade nele/nela.  Ele mente contra ele próprio e contra a verdade maior que é o evangelho de Cristo.

Agora imagine alguém dizendo que é Cristão, que é sábio, que tem o espírito de Cristo, mas não vive como tal.  Não controla a língua e não produz o fruto do espírito.  Apenas confessa algo que não vive.  Este não tem a sabedoria do alto, mas sim a sabedoria terrena.  Este mente contra a verdade e traz escárnio ao evangelho de Cristo. 

E aqui eu entro na questão do jeitinho brasileiro.  O que é o jeitinho brasileiro? O jeitinho brasileiro é tão somente a sabedoria da terra posta em prática apenas para beneficiar uma pessoa ou um pequeno grupo em detrimento de outras tantas.  Infelizmente, isto já virou sinônimo de cultura e é aceito como normal em nossa sociedade. 

Depois de mostrar as evidências da falsa sabedoria, Tiago agora nos mostra a origem de tal sabedoria.

2.2 A origem da falsa sabedoria (15)

Este versículo nos mostra de onde vem a inspiração para o jeitinho brasileiro e para todo tipo de sabedoria da terra.  Primeiro o autor deixa claro que não vem do céu.  Ou seja, não é divina.  Não há como uma sabedoria que resulta em espírito faccioso e em inveja vir de Deus.

Depois ele mostra de onde ela vem.  Vem da terra (mundana), é animal (natural), e por fim diabólica (do inferno).  

Sabedoria terrena (mundana) – tudo que a bíblia considera como mundano tem um aspecto de inferioridade em relação ao que é do alto ou celeste.  Pessoas de sabedoria terrena são pessoas muito ligadas às coisas desta terra.  Não no sentido de amar o mundo, mas no sentido de ser contaminado pelo mundo.  Suas motivações são sempre inferiores. 

E quanto a igreja? Também existem motivações erradas em nosso meio?

·        Talvez a sua motivação para o ministério seja o reconhecimento por parte de outras pessoas,

·        Talvez sua motivação para ajudar a outros seja uma barganha com Deus ou com homens,

·        Talvez sua motivação para pregar o evangelho seja dinheiro.

Qualquer motivação inferior para execução de algo para o Senhor pode-se dizer que isto é sabedoria terrena ou mundana.  A pessoa pode até pensar que está se saindo bem ou que está conciliando coisas do alto com interesses pessoais, mas a Bíblia chama isto de sabedoria mundana. 

E aqui eu me pergunto, onde é que estamos sendo diferentes das pessoas do mundo se até a sabedoria deles fazemos uso? E a resposta é depressiva, pois até de fato morrermos para esse mundo e vivermos para Cristo não haverá diferença.

Isto acontece no ambiente do coração, o que não é visto por ninguém mais além de você e Deus. 

Sabedoria animal (natural) – aqui a palavra no grego é psichikos.  Este adjetivo deriva da palavra que traduzimos como alma ou psique.  Está relacionada com a parte natural humana.  É a parte que nos iguala aos animais.  É o oposto de todo o lado espiritual humano.  Aqui estamos falando de carnalidade, humanidade crua. 

Não é a toa que o livro que mais usa esta palavra na Bíblia é 1 Coríntios (4 vezes) pois lida com crentes carnais. 

Esta palavra é traduzida por carnal, animal, sensual, natural, humana, egoísta em diversas versões de língua inglesa.

Ou seja, Tiago escolheu uma palavra que refletisse o ser humano em seu núcleo, a parte que apodrece do ser humano.  É uma palavra que denota a ausência total de qualquer coisa espiritual (boa ou ruim).  Ela é apenas relacionada ao homem e sua natureza pecaminosa. 

Sabe aqueles instintos totalmente animais que temos e que compartilhamos com outros animais.  Instintos de sobrevivência, sexual entre outros.  É disto que Tiago está falando aqui.  A sabedoria de baixo é totalmente natural e carnal.

E por fim:

Sabedoria demoníaca (do inferno) – a palavra usada aqui no grego é “daimonóides” uma variação da palavra “daimonion” ou demônio que significa demoníaco ou de origem demoníaca.  Tiago aqui entra no último nível da origem da inspiração da sabedoria da terra.  Aqui é o nível mais baixo.  Não basta esta sabedoria ser mundana, ser naturalmente humana, ela também é do diabo.  Ou seja, aqueles que dela se utilizam agem de acordo com o diabo, eles agem como o diabo agiria em qualquer que fosse a situação.  Ou seja, eles pactuam com o diabo e conseqüentemente se rebelam contra Deus. 

Uma tradução deste versículo mais acurada seria:

Deus não dá este tipo de sabedoria às pessoas.  Este tipo de sabedoria é a que as pessoas do mundo têm.  O Espírito de Deus não a dá.  Ao contrário, ela vem do próprio diabo.

Depois de mostrar as evidências e a procedência desta sabedoria, Tiago passa a falar sobre as conseqüências do uso desta sabedoria na vida das pessoas.

2.3 Conseqüências da falsa sabedoria (16)

Aqui Tiago mostra as conseqüências negativas que esta sabedoria causa.  A palavra grega para confusão é a mesma que foi usada no capítulo 1:8 para a pessoa de mente dividida e no capítulo 3:8 quando usada para a língua como algo incontrolável. 

Em 1Cor 14:33 Paulo, falando do mal uso dos dons espirituais aos coríntios diz, “porque Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz...” Esse contraste entre a confusão e paz é o mesmo que podemos fazer entre a sabedoria terrena e a sabedoria do alto.  A terrena causa confusão enquanto a do alto causa paz. 

Algumas versões traduzem esta palavra como caos, tumulto, ou desarmonia.  Ou seja, aqueles que fazem uso desta sabedoria, são causadores de problemas, pessoas que vivem arrumando confusão. 

Além de confusão, os que fazem uso da sabedoria da terra também são pessoas que praticam a maldade.  Pessoas que deliberadamente fazem o mal. Não necessariamente o mal do tipo matar, esquartejar e colocar os pedaços em uma maleta, mas toda espécie de mal ou crueldade. 

Neste contexto de Tiago o mal é com certeza fazer mau uso da língua, não cuidar dos mais necessitados, querer dizer que é sábio sem ser, etc. 

Em 2 Cor 5:10 Paulo diz, “Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal.”    

Por isso devemos ter muito cuidado, pois, as conseqüências do uso da sabedoria da terra serão julgadas por Deus no grande dia do juízo.  

É importante olharmos para estas duas conseqüências da sabedoria da terra e fazermos uma auto-análise. 

Se em nossa vida há muita confusão e se nos deleitamos na maldade ou somos considerados pessoas de práticas más, sem dúvida nenhuma temos inveja e queremos ser melhor que os outros e conseqüentemente fazemos uso da falsa sabedoria.

Tiago aqui encerra sua apresentação da sabedoria da terra ou falsa sabedoria e nos apresenta a contra partida desta sabedoria, ou seja, a sabedoria do alto ou verdadeira sabedoria.

3.     A sabedoria do alto (17-18)

3.1  Lista dos frutos da verdadeira sabedoria (17)

A partir deste momento, Tiago vai listar os frutos ou aquilo que deve ser demonstrado na vida daquele que se acha sábio, a partir da sabedoria do alto.  Aqui, estes sete adjetivos devem ser característicos não apenas de indivíduos que buscam a sabedoria do alto, mas também de comunidades que professam o nome de Jesus. 

Não adianta apenas vermos estas características em pessoas isoladas, se não vemos isso na comunidade em geral. 

Os sete adjetivos são:

Puro: a pureza aqui está relacionada com a pureza de Deus.  Deus é puro e sua natureza é pura, limpa e pureza agrada a Deus. 

Salmos 73:1, diz “Verdadeiramente bom é Deus para com Israel, para com os puros de coração.”

Mateus 5:8, diz: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.

1 João 3:2,3 diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos. E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.”

Portanto, quem despreza a pureza despreza a Deus.  Aquele que se diz cristão e não tem uma atitude de pureza para com a vida, com as pessoas, este tem lutado contra a natureza divina, pois Deus é puro.

Por isso a sabedoria do alto é pura, pois provém de um Deus puro.

Pacífica: Neste sentido, a sabedoria do alto é oposta a terrena porque produz paz enquanto a terrena produz confusão (vs16). 

Paz aqui não é ausência de guerra somente, mas Tiago faz um uso de paz, mas parecido com a palavra hebraica Shalom.  Para os judeus, shalom era algo que abrangia o ser por completo. Trazia total satisfação para o ser e era ao mesmo tempo uma forma de harmonia entre os homens. 

A sabedoria do alto é de paz, faz paz, trás satisfação e completude no homem que a tem. 

Amável: a idéia aqui é de gentileza, de suavidade, de benignidade.  A sabedoria do alto não é rude, nem áspera, mas gentil e benigna assim como Cristo é benigno e manso.

Compreensiva: sabe quando uma pessoa quer ouvir a outra e se deixa convencer sem a insistência de querer sempre ter a última palavra?  Assim é a sabedoria do alto, ela é compreensiva, conciliatória, amiga.  O seu interesse não é impor sua vontade, a sua mente é aberta e ela é sensível a situação das pessoas.

Você nunca vai ver um sábio verdadeiro querer vencer um argumento, pois ele tenta sempre compreender o outro lado ou até mesmo aceitar o argumento do outro para não entrar em conflito. 

Cheia de misericórdia e bons frutos: a verdadeira sabedoria provém de um Deus misericordioso e, portanto faz daquele que a possui uma pessoa cheia de misericórdia.  A palavra grega aqui também pode ser traduzida como compaixão.  Ou seja, a sabedoria verdadeira traz compaixão por aqueles que sofrem, aqueles que Tiago menciona no cap. 2:15 (se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia). 

Essa compaixão é forte o suficiente para movê-lo a ações práticas produzindo bons frutos. 

Aqui entra um aviso àqueles que não são e/ou não querem ser misericordiosos.  Tiago 2:12, 13 “Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade; porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso.”  

Aquele que não for misericordioso para com o próximo irá ser julgado sem misericórdia.  Aqui entra a lei “na medida em que julgardes serás julgado”, ou seja, se não fores misericordiosos não recebereis misericórdia. 

Quando oramos a oração do Pai Nosso dizemos: “Pai, perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido

Contudo, no versículo 14 e 15 do cap. 6 de Mateus diz: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas.

Ou seja, haverá ocasiões em que Deus agirá conosco na mesma medida em que agimos contra nosso próximo.

Mas a verdadeira sabedoria é misericordiosa e produz boas ações, bons frutos.

Imparcial: aqui vemos que a verdadeira sabedoria não toma partido.  Ela está do lado da verdade.  A verdadeira sabedoria é justa.

Sincera: aqui a palavra grega traduz literalmente como sem hipocrisia.  A sabedoria do alto não é hipócrita, mas sincera, genuína.

Em suma: A verdadeira sabedoria é na verdade tentar andar como Jesus andou, amando a Deus, fazendo o bem, amando e servindo o próximo, e santificando-se.

E por fim, Tiago reafirma a importância da paz e do pacificador para a sabedoria verdadeira.

3.2 Bençãos para quem pratica a verdadeira sabedoria (18) 

Tiago mais uma vez retorna a questão da paz.  Para Tiago, o sábio é aquele que não somente evidencia pureza, é pacífico, amável, compreensível, cheio de misericórdia e bons frutos, imparcial e é sincero, mas também semeia em paz boas obras para colher justiça. 

A nossa vida é uma vida de plantar e colher.  Colhemos aquilo que plantamos e se não plantarmos as sementes certas, não colheremos os frutos certos.

Aquele que plantar obediência à sabedoria de Deus colherá justiça. 

Em Mateus 5:9 diz, “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

Oremos.

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