Somos Criaturas (4)

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Conexão

Estamos navegando pela série de pregações sob o título SER HUMANO, e refletindo sobre a nossa humanidade à luz das Escrituras Bíblicas Vimos que essa humanidade é uma condição comum a todos nós.
Mas que condição é essa? O que realmente nos faz humanos e nos liga uns aos outros?
Genesis 1:27 NVI
27 Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
A partir da narrativa da criação, no primeiro capítulo de gênesis, vimos somos criaturas e que reconhecer essa condição é reconhecer uma aspecto importante de nossa humanidade. Então, destacamos duas ideias importantes para nossa conversa sobre a humanidade:
Nossa existência não é um acidente, mas um movimento criativo e intencional da parte de Deus.
A assinatura de Deus está em nós, isto é, fomos criado à imagem dele.
Esses são dois aspectos definidores para o significado sobre o que é ser humano e sobre a dignidade que essa condição confere a todas as pessoas, em todos os lugares e em todas as épocas.

Dignidade Resgatada

De diversas maneiras a condição humano tem sido negada a certos grupos de pessoas. Essa desumanização considera o outro inferior e menos digno de respeito. No decorrer da história isso fez com que diferentes grupos de pessoas fossem tratados como subumanos.
Vimos que a dignidade humana precisa ser resgatada e isso começa com o reconhecimento de uma verdade simples e poderosa: todas as pessoas foram criados intencionalmente por Deus, à sua imagem e semelhança.
Mesmo que essa imagem em nós esteja turva e corrompida pelo pecado, ela ainda é a garantia dada por Deus quanto aos direitos que temos por causa de nossa condição humana, e esses direitos não podem ser suprimidos nem rebaixados.

Pessoas Pobres

Domingo passado vimos que as Escrituras nos apresentam um Deus que age em prol de resgatar e manter a dignidade de sua criação, a começar pelos mais vulneráveis, e as pessoas pobres que não tem como prover o mínimo para sua sobrevivência fazem parte desse grupo.
Vimos algumas leis do antigo testamento, olhamos para o ministério de Jesus e acompanhamos os passos da igreja em busca dos movimentos produzidos pelo amor ativo de Deus pelas pessoas pobres.
Encontramos leis que pedem o perdão das dívidas, vimos Jesus agindo em completa empatia em prol das pessoas pobres, e ouvimos o eco que tudo isso gerou nos primeiros dias da igreja, produzindo interesse e ação para que as pessoas que se rendiam a Jesus fossem cuidadas em suas necessidades.
Também lembramos nossas próprias experiências no desafio de suprir as necessidades uns dos outros:
Ajudamos nossos irmãos que perderam renda na pandemia;
Socorremos pessoas que passaram por crises financeiras repentinas;
Apoiamos nossos irmão que precisavam de formação acadêmica para se recolocar no mercado de trabalho;
Temos ajudado pessoas que eventualmente precisam de auxílio para o pão de cada dia;
Socorremos uma irmã que precisava de uma cama especial;
Ajudamos na reconstrução de uma casa queimada pelo fogo;
Fizemos isso de forma coletiva e muitas outras coisas individualmente.
Entendemos que o amor de Deus pelas pessoas nos convida a trabalhar com Ele no resgate da dignidade da pessoa pobre, e a reconhecer em todas elas a Imago Dei; todas elas alvos do amor de Deus, demonstrado na cruz do calvário, com a morte de Cristo.

Idosos

Hoje vou falar sobre outro grupo de pessoas que sistematicamente tem tido sua dignidade humana ameaçada: os idosos. Entre outra fontes, valho-me aqui da transcrição de uma palestra feita pelo teólogo alemão Erhard S. Gerstenberger, no primeiro encontro de dirigentes de ancionatos da IECLB, realizada em Gramado/RS em 1978.
De acordo com as leis brasileiras atuais, uma pessoa é considerada idosa quando completa 60 anos. Por essa régua, estima-se que o estado da Paraíba tenha hoje mais de 500 mil idosos, sendo que 80 mil deles têm acima de 80 anos (os mais idosos). Já segundo a ONU a pessoa é considerada idosa quando completa 65 anos.
Nos últimos 10 anos, no Brasil, a parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 11,3% para 14,7% da população. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% no período. Assim, vem-se confirmando a previsão de vários estudiosos, de que a população brasileira está envelhecendo. E não é diferente no contexto de nossas igrejas.
Há um conjunto de fatores que tem produzido esse crescimento, entre eles taxas mais baixas de fecundidade, mais acesso a medicamentos e assistência médica, avanços na medicina, melhor nutrição e maior compreensão dos problemas que afetam a pessoa idosa.
Essa realidade tem despertando muita gente para pensar e repensar a forma com que os idosos tem sido tratados. Aqui na Paraíba e Brasil a fora, milhares de instituições foram criadas para amparar idosos nos dias finais de suas vidas.
Esse é um movimento que tem pretendido minorar a condição de abandono da pessoa idosa, isso é muito bom, mas nem sempre essas iniciativas são eficazes em resgatar a dignidade esquecida daqueles que já não parecem relevantes para a sociedade.

Uma pergunta

O que temos nós a ver com isso? Há algo a ser dito por parte daqueles que seguem a Jesus sobre a condição de vida dos idosos e a perda da dignidade humana daqueles que já foram ativos e relevantes, mas que hoje parecem poder ser desconsiderados?
Para responder essa pergunta, vamos começar pensando em qual era a condição do idoso na antiguidade bíblica. As pessoas daquela época eram sensíveis às necessidades dos que envelheciam? E na Época no Novo Testamento, o que dizem os textos sagrados sobre como devem ser tratadas pessoas idosas?
O texto sagrado não decepciona. No Antigo e no Novo testamento ele aponta para uma sociedade em que a pessoa idosa é alvo de atenção e respeito. Vejamos alguns textos:
Leviticus 19:32 NVI
32 “Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, temam o seu Deus. Eu sou o Senhor.
Exodus 20:12 NVI
12 “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.
Proverbs 23:22 NVI
22 Ouça o seu pai, que o gerou; não despreze sua mãe quando ela envelhecer.
Isaiah 46:4 NVI
4 Mesmo na sua velhice, quando tiverem cabelos brancos, sou eu aquele, aquele que os susterá. Eu os fiz e eu os levarei; eu os sustentarei e eu os salvarei.
Proverbs 20:29 NVI
29 A beleza dos jovens está na sua força; a glória dos idosos, nos seus cabelos brancos.
1 Peter 5:5 NVI
5 Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.
1 Timothy 5:1–2 NVI
1 Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos; 2 as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza.

Guardiões da tradição

Uma das razões pela quais a pessoa idosa era tratada com deferência tem a ver ao seu papel educativo. Como guardiões da tradição, os mais velhos tinham a responsabilidade de comunicar a cultura, a fé, a sabedoria e o modo como a vida seria melhor vivida. Por isso a clareza dos textos sapienciais quanto à importância da obediência às instruções de pais e mães:
Proverbs 1:8 NVI
8 Ouça, meu filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe.
Proverbs 2:1 NVI
1 Meu filho, se você aceitar as minhas palavras e guardar no coração os meus mandamentos;
Proverbs 3:1 NVI
1 Meu filho, não se esqueça da minha lei, mas guarde no coração os meus mandamentos,
Cabia também aos idosos apresentar às gerações mais novas o significado das experiências de fé vividas pela comunidade. Com seus filhos e netos sentados em seus joelhos, eles contavam e recontavam as histórias sobre o agir de Deus. Vejamos alguns textos:
Exodus 13:14 NVI
14 “No futuro, quando os seus filhos lhes perguntarem: ‘Que significa isto?’, digam-lhes: Com mão poderosa o Senhor nos tirou do Egito, da terra da escravidão.
Deuteronomy 6:20–21 NVI
20 “No futuro, quando os seus filhos lhes perguntarem: ‘O que significam estes preceitos, decretos e ordenanças que o Senhor, o nosso Deus, ordenou a vocês?’ 21 Vocês lhes responderão: ‘Fomos escravos do faraó no Egito, mas o Senhor nos tirou de lá com mão poderosa.
Essas funções faziam parte de um mundo estável, sem grandes mudanças. A sociedade em que as pessoas idosas cumpriam essas funções era orientadas para a conservação do modo de vida. Os valores e o jeito de viver das gerações anteriores, já testado em comprovado, eram a melhor resposta para as perguntas das novas gerações.
Comparativamente a outros momentos históricos, os tempos vividos e relatados no textos bíblicos transcorreram da foram como eram esperados. Foram raras as mudanças de costume, linguagem ou estruturas sociais, isso para praticamente todos os aspectos da existência humana. Os método de trabalho, as profissões, a fabricação de armas de guerra ou de utensílios domésticos, nada se alterou. Até os costumes sobre relacionamentos familiares e sexualidade permaneceram os mesmos.
Nesse contexto, a palavra, a experiência e as decisões dos idosos eram valorizadas e extremamente importantes. Eles era o ponto de coesão para a família, a tribo e toda a nação. Quanto mais idoso ele se tornava, mais consultado ele era e mais respeitada a sua palavra. Sua experiência acumulada era fonte de sabedoria para os mais novos.
Vejamos como é descrita a morte dos patriarcas bíblicos. Em sua velhice, cada um é reconhecido e honrado como membro valioso de sua comunidade até a hora de sua morte.
Genesis 25:7–8 NVI
7 Abraão viveu cento e setenta e cinco anos. 8 Morreu em boa velhice, em idade bem avançada, e foi reunido aos seus antepassados.
Genesis 35:28–29 NVI
28 Isaque viveu cento e oitenta anos. 29 Morreu em idade bem avançada e foi reunido aos seus antepassados. E seus filhos Esaú e Jacó o sepultaram.
Genesis 47:28 NVI
28 Jacó viveu dezessete anos no Egito, e os anos da sua vida chegaram a cento e quarenta e sete.
Genesis 50:22–23 NVI
22 José permaneceu no Egito, com toda a família de seu pai. Viveu cento e dez anos 23 e viu a terceira geração dos filhos de Efraim. Além disso, recebeu como seus os filhos de Maquir, filho de Manassés.

Novos tempos

Esse contexto social, de alguma forma favorável à valorização das pessoas idosas durou até a nossa época pré-industrial (antes de 1760).
A partir das grandes mudança que ocorreram a partir dessa época com grandes transformações em velocidade jamais vistas pela sociedade, novas maneiras de pensar, pesquisar, produzir e se relacionar abalaram a estabilidade da sociedade.
Essas mudanças, rápidas e constantes, transformaram as pessoas idosas de fontes de sabedoria e conhecimento para estoque ultrapassado de opiniões dispensáveis. Muitos acham que já não vale a pena consultar os idosos, porque as rápidas mudanças da sociedade os deixaram para trás.
Suas experiências já não se aplicam, seu conselhos já não são úteis e a antiga condição de reconhecimento pela comunidade vai sendo corroída pela velocidade das mudanças. A riqueza da experiência de vida dos mais velhos, mesmo relevante, rapidamente se dissipa, não chegando a ponto de inspirar respeito e consideração.
Nesse novo tempo o idoso é colocado de lado. Raramente ele consegue compartilhar suas experiências de vida ou seu conhecimento, de forma significativa, com seu filhos e netos, como fizeram seus antepassados por milênios. As grandes e constantes mudanças lhes dificultam a compreensão dos acontecimentos e os deixam fora das discussões.
Aquele paradigma de estabilidade se desfez e a função que eles exerciam, de guardiões da tradição, é agora motivo de piada. Assim, os idosos são, muitas vezes, condenados ao silêncio e ao isolamento. Nesse ambiente há pouco espaço para se falar em respeito incondicional à pessoa idosa
No campo da fé em Deus não é muito diferente. Se antes os idosos eram considerados mestres com que se poderia aprender a respeito da caminhada de fé; de quem se poderia ouvir a histórias sobre como Deus agiu no passado, hoje pessoas mais velhas são vista com desconfiança. A fé dos pais se tornou indesejada, rejeitada, criticada e por fim abandonada.

Resgatando a dignidade

Que saídas temos a oferecer, como igreja de Jesus, à perda da dignidade humana que produz sofrimento aos idosos?
A saída que proponho é a mesma resposta tríplice que já ofereci para os desafios da dignidade das pessoas com deficiência: (1) CONFESSAR nosso pecado; (2) EXPOR nossas mentes e corações à palavra de Deus; e FAZER algo real para pessoas reais.
Em nosso próximo encontro quero explorar essa tríplice resposta e apresentar um caminho para que a dignidade da pessoa idosa encontre âncora firme na Palavra de Deus.
Também pretendo fazer sugestões práticas sobre como nos envolvermos com esse resgate de dignidade.
Que o Senhor nos abençoe e guarde.
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