Somos Criaturas (2)

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Começamos domingo passado uma nova série de pregações sob o título SER HUMANO, e estamos refletindo sobre a nossa humanidade à luz das Escrituras Bíblicas
Conexão
Vimos que essa humanidade é uma condição comum a todos nós. Uma realidade da qual não temos como fugir. Mas que condição é essa? O que realmente nos faz humanos e nos liga uns aos outros? O que é ser humano?
Genesis 1:27 NVI
27 Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
A partir da narrativa da criação, no primeiro capítulo de gênesis, vimos que somos criaturas. Reconhecer essa condição é reconhecer nossa humanidade. Destacamos duas ideias principais muito importantes para o restante dessa nossa conversa sobre humanidade:
Nossa existência não é um acidente, mas um movimento criativo intencional da parte de Deus.
A assinatura de Deus está em nós. Fomos criado à imagem dele. Isso define nossa humanidade.

Dignidade Resgatada

De diversas maneiras a condição de ser humano tem sido negada a certos grupos de pessoas. É o processo de desumanização que considera o outro menos digno de respeito. Essa desumanização chegou a tal ponto no decorrer da história que muitos foram considerados seres sem alma, inferiores aos demais humanos.
Os deficientes já foram considerados sem alma
As pessoas negras já foram consideradas sem alma
Os índios já foram considerados sem alma
O bebê que meche no útero da mãe, sem alma
Os criminosos, desalmados não merecem viver
Os idosos, como quem já não é mais gente
Para cada um desses grupos foram criadas explicações e justificativas desumanizantes para justificar moralmente tratamentos subumanos.
Não podemos ficar calados. A começar de nós mesmos precisamos resgatar a dignidade que conecta toda a raça humana: fomos criados intencionalmente por Deus à sua imagem e semelhança.
Ainda que essa imagem em nós esteja turva e corrompida ela é garantia dada por Deus de que os direitos que temos por causa de nossa condição humana não podem ser suprimidos nem rebaixados. Não há justificativa para aceitarmos que isso seja feito com a gente nem de fazermos com os outros.

Deficientes

Durante a história da humanidade, ser uma pessoa com deficiência já foi motivo considerado legítimo para se rebaixar e suprimir os direitos de alguém, inclusive o direito à vida.(1)
Na Grécia antiga, filósofos como Platão e Aristóteles, em suas obras mais famosas (A República e A Política), recomendavam à morte por abandono as crianças disformes. Aos Espartanos não interessavam as crianças que não pudessem se tornar guerreiros poderosos, portanto crianças com deficiência ou fracas eram mortas. Na Roma antiga as leis não eram favoráveis às pessoas que nasciam com deficiência. Aos pais era permitido matar afogadas as crianças que nasciam com deformidades físicas. Aqueles que não conseguiam fazê-lo abandonavam seus filhos em cestos no Rio Tibre, ou em outros lugares sagrados.
Na Idade Média a população ignorante da Europa encarava o nascimento de pessoas com deficiência como castigo de Deus. Os supersticiosos viam nelas poderes especiais de feiticeiros ou bruxos. As crianças que sobreviviam eram separadas de suas famílias e quase sempre ridicularizadas. A literatura da época coloca os anões e os corcundas como focos de diversão dos mais abastados.
Em um de seus muitos pontos cegos, o reformador Martinho Lutero justificou moralmente o infanticídio afirmando que as pessoas com deficiência mental não possuíam natureza humana (desumanização) e eram usadas por maus espíritos, bruxas, fadas e duendes, assim ordenou que crianças com deficiência mental fossem mortas por afogamento.
(1) https://www.ampid.org.br/ampid/Artigos/PD_Historia.php.
No Brasil, em pelo menos 13 diferentes etnias indígenas, crianças recém nascidas têm suas vidas tiradas pelas próprias mães por razões diversas. Crianças com deficiência física, gêmeos, filhos de mãe solteira ou fruto de adultério podem ser vistos como amaldiçoados dependendo da tribo e acabam sendo envenenados, enterrados ou abandonados na selva. O ato é moralmente justificado pela crença de que a vida só chega à criança na primeira mamada; antes disso ela não seria um ser vivo.
https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/12/tradicao-indigena-faz-pais-tirarem-vida-de-crianca-com-deficiencia-fisica.html

Antigo Testamento

O que temos nas Escrituras sobre essa questão? Não há como aprofundar o tema numa reflexão de domingo à noite, mas quero destacar alguns textos que considero importantes:
Leviticus 19:14 NVI
14 “Não amaldiçoem o surdo nem ponham pedra de tropeço à frente do cego, mas temam o seu Deus. Eu sou o Senhor.
Deuteronomy 27:18 NVI
18 ‘Maldito quem fizer o cego errar o caminho’. Todo o povo dirá: ‘Amém!’
O direito à vida foi estabelecido nos 10 mandamentos pela ordem Não Matarás. Jesus, depois, ampliou esse direito à vida, explicando que há muitos tipos de morte que podem ser impostas às pessoas e que nenhuma delas é aceitável. Pois bem, as pessoas com deficiência estão incluídas nesse direito amplo à vida apresentado nos 10 mandamentos e explicado por Jesus.
Mas nestes textos que lemos há algo específico, em que pessoas com deficiências são destacadas. O tratamento dado a elas deve ser respeitoso e de uma forma que facilite suas vidas e não crie mais dificuldades. O direito à vida aqui é um pressuposto, é um fato consumado; o que se trata aqui é sobre oferecer qualidade de vida: não amaldiçoem, não ponham pedra de tropeço, não façam errar o caminho.
Há um contraponto importante no texto de Levítico que precisa ser destacado. Neles somos chamados a temer a Deus. A recomendação é a seguinte: em vez de tornar a vida das pessoas com deficiência ainda mais difícil, temam a Deus. É impossível não conectar esse chamado ao temor a Deus ao fato de que na pessoa com deficiência temos alguém à imagem e semelhança de Deus. Um ser humano com direitos inalienáveis.
Outro aspecto desse temor a Deus é o fato de que ele é Senhor, isto é, ele é dono de tudo e de todos. Tudo pertence a ele, portanto lembre-se de Ele mesmo sairá em defesa daqueles que se acham indefesos e ameaçados.
As Escrituras não deixam dúvidas de que o Senhor está ao lado dos fracos, dos indefesos, dos vitimados, dos oprimidos, dos esquecidos e dos desprezados. Ele lutará por todos que encontram desprezados e abandonados e o melhor é nos juntarmos a ele nisso.
Isaiah 35:4–6 NAA
4 Digam aos desalentados de coração: “Sejam fortes, não tenham medo. Eis aí está o Deus de vocês. A vingança vem, a retribuição de Deus; ele vem para salvar vocês.” 5 Então se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; 6 os coxos saltarão como as corças, e a língua dos mudos cantará. Pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo.
Esse é um texto messiânico. É um chamado à esperança na salvação que virá do Senhor. Ele fala aos sem alento, àqueles que já desistiram de pedir tratamento digno e respeito. O Senhor pede que eles sejam fortes e não fiquem com medo. Porque a retribuição justa de Deus virá sobre aqueles que suprimem ou rebaixam os direitos dos seres humanos criados à imagem e semelhança dele!
E quem são esses, cujos o direito de ser humano está ameaçado? Certamente há muitas pessoas nessa condição. Aqui Isaías faz um recorte para destacar as pessoas com deficiência: cegos, surdos, coxos e mudos são os seus representantes.
Ele anuncia que a realidade limitante das pessoas com deficiência será transformada, e que isso é parte da salvação de Deus. Por isso, quando o messias de Deus estiver reinando, os cegos voltarão a ver, surdos a ouvir, coxos a saltar e o mudos... esses cantarão. Que cena maravilhosa o profeta nos ajuda a ver!

O ministério de Jesus

Matthew 11:4–5 NVI
4 Jesus respondeu: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: 5 os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres;
Quando Jesus, o messias a quem Isaías se referiu, exerceu seu ministério entre nós, foi possível ver uma amostra do que será a completa restauração da humanidade. Ao ser indagado por seu primo, João Batista, se ele era aquele que eles esperavam, Jesus pintou o mesmo quadro descrito pelo profeta. A diferença é que não era mais apenas uma esperança. As coisas já haviam começado a acontecer.
São inúmeros os relatos nos evangelhos sobre sobre pessoas com deficiências que foram restauradas, tanto em seus corpos como em suas almas: Bartimeu, o cego; o paralítico de Cafarnaum; o homem com a mão atrofiada; o paralítico em Betesda; o garoto surdo-mudo; os dois cegos da Galiléia. Eles são o prenúncio daquilo que um dia será a plena restauração de nossa humanidade.

Os passos da igreja

Acts 14:8–10 NVI
8 Em Listra havia um homem paralítico dos pés, aleijado desde o nascimento, que vivia ali sentado e nunca tinha andado. 9 Ele ouvira Paulo falar. Quando Paulo olhou diretamente para ele e viu que o homem tinha fé para ser curado, 10 disse em alta voz: “Levante-se! Fique em pé!” Com isso, o homem deu um salto e começou a andar.
A igreja em seus primeiros passos continuou dando amostras de que a salvação de Deus implica na restauração do ser humano em sua plenitude. Da mesma forma que acontecia com Jesus, cada corpo curado, cada alma restaurada era como uma seta, apontando para o tempo em que seremos seres humanos completos, inteiros, plenos.

O que nos cabe hoje?

Nós, os que cremos em Jesus, fomos chamados nele a nos juntar a Deus na transformação que devolve à pessoas com deficiência a dignidade de sua humanidade. O que nos cabe hoje? Há muita coisa que pode ser feita.
Confissão
1 John 1:8–10 NVI
8 Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
Penso que a primeira coisa que precisamos fazer é confessar a Deus nosso pecado. Precisamos reconhecer que não temos nos importado tanto quanto deveríamos com as pessoas com deficiência.
Não adianta, como disse João, dar explicações esfarrapadas, porque se ficarmos dizendo que não somos pessoas assim tão ruins, porque fizemos isso ou aquilo naquele dia, perderemos a oportunidade sermos perdoados e refazermos esse capítulo da nossa história.
Devemos ir à presença de Deus e dizer que as angústias e os sofrimentos das pessoas com deficiência, que têm limitações em expressar sua humanidade não tem sido algo com o que temos nos preocupado tanto quanto deveríamos. Temos que confessar ao Senhor se isso for uma verdade.
Mudar os óculos
Romans 12:2 VFL
2 Não sejam mais moldados por este mundo mas, pela nova maneira de vocês pensarem, vivam uma vida diferente. Então vão descobrir a vontade de Deus para vocês, isto é, o que é bom, agradável a Ele, e perfeito.
Além de confessar, precisamos nos dispor a mudar a forma como vemos as coisas, o mundo e as pessoas à nossa volta. Precisamos ser transformados pela exposição à Palavra de Deus, de maneira que nossa maneira de pensar seja renovada.
Por exemplo, domingo passado e hoje apresentei um conjunto de lentes novas para seus óculos: (1) a existência das pessoas neste mundo não é um acidente, mas um movimento intencional da parte de Deus. Isso confere dignidade a todos.(2) Todos fomos criados à imagem e semelhando de Deus. A assinatura dele está em nós. Isso confere dignidade especial a todos.
Troque as lentes. Deixe de lado as lentes do preconceito e do descaso, jogue fora as lentes da arrogância e da autossuficiência, jogue no lixo as lentes da sabedoria própria e deixe que essas verdades encharquem sua mente ao ponto de moldarem o seu jeito de viver.
Fazer algo
1 John 3:18 NTLH
18 Meus filhinhos , o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de ações.
Por fim, faça algo real. Este mundo está farto palavras de amor e carente de ações de amor. Faça algo real, capaz de mudar a realidade das pessoas.
Olhe para sua atividade profissional. Como você pode tornar menos difícil a vida das pessoas com deficiência?
Olhe para sua família e amigos. Você é um construtor de atitudes de respeito e apoio a pessoas com deficiência?
Seu filhos têm sido ensinados sobre respeitar, ajudar e defender pessoas com deficiências?
Você tem amigos com deficiências?
Olhe para si mesmo. Você tem algum tipo de deficiência? Já parou para pensar porque é difícil pensar e falar sobre sua própria deficiência? Porque você a esconde?
E no trânsito, você respeita as vagas para pessoas com deficiência? Cadeirantes têm vagas exclusivas, o que significa que você não pode parar “bem rapidinho”.
Você já viu que na praça de alimentação dos shoppings há mesas exclusivas para pessoas com deficiência?
Olhe para os nossos encontros aqui. O que você tem feito para facilitar o acesso de pessoas com deficiência ao evangelho da salvação em Jesus Cristo? Ou você não tinha pensado nas dificuldades que eles enfrentam?
Quero concluir lendo a resposta de Deus a Moisés, quando foi chamado a ir ao Egito, guiado por Deus para libertar o povo. Moisés argumentou com Deus dizendo que ele tinha errado de irmão. Arão é que era o cara; ele Moisés, era uma pessoa com deficiência, acometido, talvez, de algum nível de gagueira.
Exodus 4:11 BKJ 1611
11 E o Senhor lhe disse: Quem fez a boca do homem? Quem fez o mudo, o surdo, o que vê ou o cego? Não fiz eu o Senhor?
O Senhor que criou a todos nós, mais ou menos deficientes, não mede nossa dignidade por elas; nem limita o que podemos fazer por elas.
Por isso ele nos convida a nos juntarmos a ele na restauração desse mundo. A valorizar, preservar e lutar pela dignidade humana das pessoas com deficiência. Não importa se somos tortos, se nos falta um pedaço, se somos lentos, se não enxergamos, se nos falta a fala ou qualquer outra coisa. Diante de Deus estamos inteiros. Somos inteiros. Seres humanos criados por ele a sua imagem e semelhança, que é a marca da nossa humanidade.
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